Medo e/o medo do medo

Para melhor compreensão do que digo a seguir começo por citar: “Encontro-me desesperada, sem forças para nada e cheia de medos, até de Deus tenho medo. Tudo me parece sem sentido e duvido de tudo o que faço. Tenho sentimentos de culpa e a necessidade de controlar tudo, ser perfeita. Tudo me foge debaixo dos pés. Levei uma vida sempre adaptada, sem problemas. Antes ouvia e aconselhava os outros e agora quero repetir e contar continuamente os meus medos e não confio em nada. Um abraço. Sua antiga aluna. S”

Medo e o medo do medo

Querida estudante amiga:

A ti, pessoalmente, queria dizer-te: tu és uma pessoa muito rica e prendada. Exteriormente tudo parece estar bem em ti mas no fundamento da tua alma há lá uma fonte inesgotável onde muitas energias quererem expressar-se e fluir na tua vida com naturalidade. Parece que tu não queres que a vida te apresente surpresas. Procuras defender ou esconder algo importante em ti que quer sair mas de que tu tens medo. Tu repeles inconscientemente algo em ti e deste modo o fluxo da vida é interrompido ou sai aos soluços.

Agora passo a responder-te duma maneira geral atendendo a que também outras pessoas das tuas relações poderão ler isto para poderem perceber a tua situação. Além disso há uma outra pessoa que conheço com problemas semelhantes e que poderá também aproveitar da leitura do que escrevo. Por isso falo do problema em geral do problema da obsessão para te poderes situar e verificar o que te poderá servir. Referir-me-ei um pouco mais detalhadamente à ideia de Deus porque esta me foi referida por uma outra pessoa neste contexto, e por detrás da ideia de Deus esconde-se a ideia de nós mesmos como reflexo na formação da própria identidade.

O que apresentas exige a visita dum psicólogo e para começar dum psicoterapeuta para também poderes ser medicamentada com remédio.

Em ti parece irromper uma enxurrada de forças e de vitalidade incontrolável e que te metem medo porque te ameaçam querer tirar-te do ambiente do repetitivo habitual. Tu tens vivido amarrada às regras e aos hábitos. Agora que surge a chance de te desenvolveres mais surge o medo da mudança. O impulso de abrir as portas do teu eu à riqueza que roja do teu mais íntimo leva-te a reagir com medo, a trancar as portas.

Tu viveste amarrada à corda dos outros e agora sentes-te extraditada. No mais profundo de ti mesma o totalmente outro (Deus) libertador bate à porta e tudo treme em ti. E na falta do totalmente outro sentes-te entregue à necessidade pura, à necessidade de segurança.

O desespero é um grito à procura de solo fixo em ti mesma, um lugar onde colocares os pés para poderes andar segura. O problema é que talvez esperes a segurança vinda de fora. A vida exige de ti um salto no obscuro onde será possível o encontro com o totalmente outro, um tu no qual possas entrar numa relação dialogal e então passares a ser a formadora de ti mesma na confiança que te vem do encontro profundo. Tu queres dar um salto em solo sólido, o salto na água mete medo porque exige mais de ti, a confiança. A base do problema está na falta de confiança; se ainda há confiança em Deus esse deus corresponde a um deus mesquinho demasiado preocupado com a tralha: um Deus retalhista porque te mete medo e talvez castigue. Troca-se a sua abertura e total potencialidade por uma imagem estática, segura a que se poder agarrar (agarrar-se a uma ideia traiçoeira de Deus). Então em vez de nos agarramos a Deus que é a total abertura (água) agarramo-nos a uma ideia fixa dele ou a uma perfeição segura, à ideia que dela temos. Confiar em Deus seria um risco de se seguir caminho sem ter a que se agarrar. Deus não dá garantias e a pessoa que sofre quer agarrar-se a garantias, paraíso, saúde, casamento… Porque a imagem de Deus é dinâmica e portanto com inseguranças e implica o imprevisto, a contínua mudança, o futuro aberto do nosso eu, em momentos difíceis tendemos a agarrar-nos à segurança duma ideia, uma ideia de Deus à medida da nossa necessidade ou doença. Criamos mundos paralelos legitimados pela ideia e assim nos agarramos de ideia em ideia, de facto em facto porque a confiança absoluta no totalmente outro, diferente (Deus) tornar-se-ia perigoso e demasiado instável. Deus não quer que nos agarremos a ele mas que andemos por nós. Ele é o fundamento, o chão em que podemos pôr os pés. Só partindo dum sentimento da confiança podermos ter força para ousar o novo, a mudança. Não estamos cá para a vida, a vida é que está cá para nós. Infelizmente normalmente não somos habituados a ouvir-nos nem a dar expressão aos nossos sentimentos nem à criatividade em nós. Somos habituados a agarrar-nos a ideias julgando assim adquirir segurança sobre a vida através do pensar e do agir à custa da repressão da intuição e da criatividade. Falta a confiança incondicional criativa exigindo-se do mistério e de Deus algo fixo e palpável. Ele porém não pode ser reduzido a forma, a modelo; a sua grandeza está na relação moderativa entre um eu e um tu.

O sofrimento vem dum complexo moral muito estreito que conduz ao escrúpulo. Em vez dum ambiente de confiança há um substrato de culpa que conduz ao medo que se torna numa constante ameaçadora. Este pode chegar a tornar-se numa nuvem cada vez mais escura que tenta ocupar o espaço aberto no eu profundo a despertar. Se a situação se agrava a pessoa passa a ser um juiz muito duro para consigo mesmo que se castiga. Se faz algo que pensa ser errado castiga-se duplamente porque experimenta o seu ser como um ser culpado em vez de ver a falha – culpa como elemento da vida, tem como inimigo o perfeccionismo. Então não se atreve a ser agressivo não aceitando a agressividade própria nem a dos outros. Para a evitar refugia-se por vezes na solidão. Aí dá lugar a uma ideia de perfeição que leva ao alheamento da vida e ao alheamento dos outros. O medo impede a entrega, o desprendimento, o verdadeiro relacionamento. O seu sentimento insurge-se contra uma atitude confiante aberta e contra a liberdade. A sua consciência exige de si e dos outros o máximo, quer perfeição em tudo. A sua vida torna-se como uma teia de aranha onde se mantém preso, prendendo. Se a doença avança a pessoa torna-se num juiz. A segurança do julgamento e do papel compensa o medo. Tudo é reduzido a regras e normas num mundo inflexível e sem compromissos. Muitas vezes perdem-se no detalhe, têm medo de decisões espontâneas. São muito exactos e correctos em tudo. Têm uma grande exigência moral num mundo que consideram perverso. Como querem controlar tudo não confiam para não perderem os cordelinhos das mãos.

Ao fim e ao cabo querem-se preservar, desejam defender-se da mudança agarrando-se à perfeição ou a coisas muito concretas. Trata-se de se agarrar a normas exteriores, ao conhecido, na prisão da própria ordem. Evita-se o novo, o espontâneo, o mundo sentimental por ser inseguro, flexível. Flexibilidade torna-se numa ameaça a um mundo objectivo, o mundo exterior de normas ou ideias seguras a que se encontra. Por isso adia continuamente a acção perdendo-se nas ideias. Para não arriscar fazer algo mal fica-se pelo mundo das ideias sem passar à prática. Quem não age não erra! Como se encontra prisioneiro do dualismo verdadeiro ou falso, bom ou mal na sua instância dum eu exterior (Pai, Deus, Norma) que o obriga a julgar e a ser julgado continuamente. Não quer dar um passo sem saber onde põe os pés. Uma experiência inconsciente de que tudo muda aliada a medos existenciais amplia o medo perante a mudança e o desenvolvimento. Talvez a experiência infantil de que tudo depende do esforço e de que não há perdão possa ter condicionado por demasiado controlo, sentimento de vergonha, demasiada acentuação nos resultados. Exigências excessivas através de expectativas familiares perturbam muitas vezes a confiança original. Então a criança aprende demasiado cedo a desconfiar de si elaborando o seu ego nas convicções e nas regras dos outros sem lugar para a espontaneidade que foi castigada numa fase demasiado cedo e substituída por regras ou normas morais.

Estas pessoas são muito agradáveis, fazem tudo pelos outros esquecendo-se a si mesmas. São ordeiras, de confiança, trabalhadeiras, objectivas, constantes, responsáveis e persistentes no que fazem e dizem.

Na crise tu trocas as tuas potencialidades, a possibilidade em ti pela necessidade. A possibilidade (uma tua outra expressão de ti mesma que quer ser libertada) encontra-se aprisionada. Então agarras-te à alternativa do teu eu criativo a uma rotina perfeccionista de ordem exterior no âmbito da culpa e do perfeccionismo. E na exigência de se ter tudo sob controlo corre-se o perigo de se cair num ciclo vicioso repetitivo. O medo passa a ter uma função de auto-defesa do status quo, contra a necessidade de mudança. O medo do medo está tão longe do objecto (necessidade de mudar algo na sua vida) que causa o medo que se torna autónomo vivendo dele e para ele mesmo. Ao fim e ao cabo as energias que se gastam com o medo não são empregues na liberdade e criatividade confiante que lutam por vir à tona. O facto de se querer tudo na mão e de se sentir responsabilizado por tudo é um problema de não perdoar e não querer ser perdoado.

Para evitar a fixação no medo é bom fazerem-se exercícios de eutonia e massagens. Estes e trabalhos com o próprio corpo ajudam a desenvolver sentimentos e a desatar os nós das sensações. Estas pessoas precisam dum programa e de louvor nas suas acções espontâneas. O seu problema é o controlo de tudo, não se deixarem perder, tal como a pessoa que com medo da água vai nadar. O medo da vida, da vida nova contrai as potencialidades vitais espontâneas. Não se deve prestar atenção aos sintomas. Na sua conversa com uma pessoa terão de ser levados a reconhecer que na sua expectativa duma receita estão em atitude de defesa e não abertos ao novo que quer irromper. É importante deixar viver as fantasias.
De resto recomendo a leitura do livro “Gesundheit für Körper und Seele” de Louise L. Hay. Este livro também se encontra traduzido em português. Já o recomendei a muita gente e recebi uma reacção muito positiva dos que o leram. No livro encontra-se uma referência biográfica da autora que também é muito interessante e pode ajudar muitas pessoas em períodos difíceis da vida. Ele é muito prático.
Minha querida, tudo o que há de bom para ti.
António Justo

António da Cunha Duarte Justo

À vida desregrada segue a penitência

Na Idade Média os grandes pecadores, na Quarta-feira de cinzas a seguir ao Carnaval, vestiam um vestido tipo saco polvilhado com cinza que traziam até poderem entrar de novo na igreja na Quinta-feira Santa. Os outros católicos recebiam cinza na cabeça. Assim se introduz o tempo do jejum em que se renuncia à carne e ao álcool. Hoje é feita uma cruz na testa e assim se iniciam os quarenta dias da Quaresma que termina com o Domingo de Páscoa.

Este rito corresponde a um sinal exterior da vontade de se mudar. A cinza recorda a transitoriedade da vida e a necessidade de ver a morte como algo natural, como parte da vida sempre em mudança. A consequente atitude de pena/arrependimento pelo mal feito era a tentativa de disciplinar os instintos a que se tinha dado rédia solta. Para isso recorre-se à renúncia da carne e de prazeres exagerados.

O tempo da paixão culmina com a morte de Jesus na Sexta-feira Santa. Os 40 dias recordam o retiro de Jesus no deserto. É um tempo especial da purificação interior do corpo para uma melhor concentração nos valores espirituais. Corpo são e alma sã. Um processo em que corpo e alma se encontrem em equilíbrio sem que um viva à custa do outro. A saúde do corpo e da alma está nas nossas mãos.

Com o jejum, a religião, como com outras tradições, pretende ajudar o ser humano a levar uma vida equilibrada. Hoje, que se têm calorias em demasia, a renúncia a comidas demasiado fortes, a chocolate e semelhantes ajuda também a perder-se alguns quilos que se têm a mais.

Hoje há um culto em torno do corpo – a onda Wellness. Se exagerado pode tornar-se na continuação do Carnaval a outro nível. As curas através do jejum ou mesmo da fome provocam já no corpo um sentimento de libertação e ajudam ao alívio de sofrimentos como reumatismo e alta pressão.

O jejum ajuda também a regrar vidas desregradas. Há pessoas que não conseguem controlar o comer e o beber. Tradições e acções em grupo ajudam no sentido de oferecerem um ambiente propício ou de darem uma oportunidade que a nível individual seria talvez difícil de planear no trotar da vida. A experiência do jejum individual ou em grupo é salutar: uma oportunidade para o corpo e para a alma. Há pessoas que durante os 40 dias renunciam a carne, álcool, produtos lácteos e ovos. Outros não renunciam a carne mas fazem uma semana de jejum bebendo durante o dia agua e chá e à noite um caldo de legumes.

Ao renunciarmos a algumas coisas libertamo-nos para outras. A vontade torna-se mais forte também. Uma consequência da renúncia, do jejum é mais alegria na vida. Então come-se e bebe-se, vive-se mais conscientemente. A auto-consciência sente-se mais fortificada. Importante é que tudo o que se faz não seja forçado, seja à vontade. A renúncia só tem sentido em função duma mudança, sem o sentido duma obrigação imposta do exterior. A renúncia tornar-se-á mais satisfatória se nos dirigirmos à vida e ao próximo duma maneira positiva. O jejum pode ajudar-nos a sentirmos a criação e o ambiente duma maneira mais consciente.
António Justo

António da Cunha Duarte Justo

Europa Central Europeíza Os Problemas Migrantes

Imigrantes na Espanha

Até há pouco os imigrantes na Espanha ainda eram bem-vindos, mas até quando?
Enquanto a economia explodir ninguém se questiona e possíveis problemas serão ignorados.
Entretanto com quatro milhões de estrangeiros legais e cerca de um milhão de ilegais já começam a surgir problemas nas cabeças de alguns espanhóis. Com o aumento de ilegais a xenofobia receberá um surto. Para 48% dos espanhóis já é mais preocupante a imigração do que o desemprego.

Se tivermos em conta o crescente florir da economia é para admirar que haja já uma percentagem tão alta de cépticos, apesar de não haver um verdadeiro debate político público sobre o assunto. É uma tradição das elites europeias varrerem os problemas para debaixo do tapete. As gerações vindouras que se arranjem.

A confrontação com a população espanhola dar-se-á quando a recessão económica começar.
A necessidade de forças de trabalho aliada à falta de procriação motiva ainda a economia e a política a não tomarem o tema a sério. Além disso exigir-se-ia muita diferenciação na discussão o que não convém à esquerda nem à direita. No negócio com a imigração têm a ganhar interesses ideológicos e económicos partidários à margem do povo. O problema não está tanto no fenómeno das migrações mas na imigração de culturas que se afirmam na contradição com a cultura de acolhimento.

Na Alemanha o antigo chanceler alemão Helmut Schmidt já reconheceu o erro cometido pela política em termos de imigração.Esta criou problemas insolúveis para futuras gerações. Então os alemães eram demasiado finos para fazerem os trabalhos sujos e para se sujeitarem a terem filhos. Para isso estavam os estrangeiros à disposição. Quem se apodera da política e quem determina não são os interesses do povo mas as intenções duma economia internacional que só é fiel ao lucro.

Entretanto formou-se na Alemanha uma sociedade paralela muçulmana impermeável. A política e os detentores da opinião pública fazem como a avestruz metendo a cabeça debaixo da areia e cedendo cada vez mais a exigências para a religião islâmica que em contrapartida não cede nos seus países à abertura a outras religiões ou práticas modernistas nem está disposta a integrar-se.

Dado que a concorrência no mercado de trabalho espanhol ainda não é tema descuram-se os problemas sociais e políticos de amanhã. O eu conta é o pão e a imigração de pobres não faz concorrência à burguesia de hoje, pelo contrário, serve-a com trabalho mais barato na construção, na agricultura, com criadas e pessoas disponíveis no serviço à terceira idade. Por outro lado compensa a falta de crianças deixando recursos livres para os políticos poderem distrair o povo com assuntos de eutanásia, aborto, casamentos de homossexuais, etc.

O problema surgirá, logo que se chegue a uma recessão económica, entre a classe trabalhadora mais dependente e os estrangeiros. A economia e a política estão interessados apenas no crescimento económico momentâneo, o que conta é apenas a produção e contribuintes pagadores de impostos e contribuições sociais. Segundo o cálculo feito pela investigação da Universidade Autónoma de Barcelona, o rendimento anualmente por cabeça de 0,6% reduzir-se-ia sem o contributo dos estrangeiros que vivem em Espanha.

É natural que as grandes potências europeias que hoje se sentem desorientadas e sem solução para os problemas laterais da imigração não querem ficar sozinhas na Europa com o problema. Estão interessadas em generalizar os problemas a outras nações a nível europeu. Querem que a responsabilidade se torne anónima, por detras de legislações eurpoeias. Países da periferia, com o desenvolvimento económico e os interesses de internacionais, começam agora a cometer os erros que responsáveis políticos da Europa central confessam terem cometido quando se encontram longe dos microfones e das câmaras de televisão.

A Europa Central abdicou já de encarar o problema das sociedades paralelas de culturas árabe e turca. Limita-se a ceder paulatinamente às exigências das lobies daquelas sem qualquer contrapartida. O problema é para ficar devido à sua capacidade de multiplicação e ao direito à reunião de família que se revela justo mas por outro lado a fomentação dos problemas pela porta traseira atendendo a que quase só casam com pessoas genuínas do país de origem dos pais, ainda não poluídas pela cultura ocidental e se casam com gente estranha exigem que esta se converta ao Islão.

Naturalmente que essa população migrante é também ela vítima do capitalismo e duma política de habitação fomentadora de gettos e continuando vítima dum religiosismo subjugador e controlador.

Em nome do capitalismo e do internacionalismo põe-se tudo à disposição. Neste sentido o primeiro-ministro Zapatero certamente que irá mais tarde reconhecer a ingenuidade da sua política, tal como fizeram outros políticos da Europa central.

É escandaloso que no século XXI tal como nos tempos da escravatura se continue a explorar o homem pelo homem com a sua comercialização. Em vez de se criarem infra-estruturas humanas nos países de origem obrigam as famílias a desenraizarem-se e a viver de maneira desumana nos arrabaldes das grandes cidades. E, tudo isto, em nome do apoio ao desenvolvimento dos países pobres. Por outro lado subsidiam a lavoura europeia arruinando a agricultura dos países pobres que assim não podem concorrer a nível de mercado com os preços dos produtos agrícolas europeus. Esta forma de capitalismo feroz destrói não só as pessoas mas destrói também as culturas.

À catástrofe humana que se esconde por detrás das odisseias dos emigrantes ilegais de África juntar-se-á a catástrofe social que resultará daqui a alguns anos duma política social, económica e cultural irresponsável. Os protagonistas da democracia de hoje criam agora situações insuportáveis para imigrantes e autóctones donde surgirão os melhores caudilhos contra a democracia. Uma mobilidade querida só em serviço da economia e um internacionalismo de ventre revelar-se-ão nos melhores promotores de fascismo.

António Justo

António da Cunha Duarte Justo

Kosovo: uma região rebelde – um passo em direcção do fascismo?

O Parlamento sérvio não está de acordo com as propostas das Nações Unidas no que respeita à carta que deve reger o Kosovo. O seu reconhecimento viria a ter como consequência a independência daquela província que não tem o mínimo de condições para se poder tornar independente.

O Kosovo é uma província da Sérvia com dois milhões de habitantes dos quais 100.000 são sérvios e o resto albanos.

O governo de Belgrado e os partidos com assento no parlamento são contra o processo de autonomia porque, embora esta região seja a zona mais pobre da Europa, ela foi o berço da nação e da cultura sérvia com muitíssimos conventos e igrejas. Em 1389 na batalha em Amselfeld contra os turcos começa a influência islâmica na região.

As nações unidas (UNO) estão envolvidas no processo desde a intervenção da Nato no resto da Jugoslávia em favor da população muçulmana contra o presidente de Estado Milosevic. Desde então (1999) esta província ficou sob a administração da UNO. O presidente da Finlândia Martti Ahtisaari foi encarregado de organizar um plano para o status do Kosovo. Este propôs uma “soberania controlada” para o Kosovo.

Formalmente permanecia uma província de Belgrado, praticamente porém seria independente. Uma missão internacional deveria permanecer no Kosovo. À semelhança da Bósnia-Herzegovina deveria ter um representante com largos poderes que lhe possibilite a intervenção nos acontecimentos da política do Kosovo. Estariam previstos direitos protectores da minoria dos cossovares sérvios, sendo reservados lugares para eles no parlamento.

Para protecção dos sérvios deverão ser fundadas novas comunidades em que estes possam ter voz determinante na polícia, na escola e nos tribunais. A república mãe Sérvia pode apoiar financeiramente a minoria sérvia desde que o dinheiro seja distribuído através das repartições públicas nas mãos dos albanos.

Apesar disto os albanos do Kosovo protestam porque o que querem é tornar-se pura e simplesmente um estado independente. Em consequência última seria um estado a viver à custa da comunidade internacional.

Uma solução deveria ser a entrada de Sérvia na União Europeia. O processo de integração foi interrompido pelo facto da população sérvia e o governo de Belgrado estarem reticentes quanto ao tribunal para crimes de Guerra da UN não entregaando os ex-generais Karadzic e Mladicor de quem se não sabe o paradeiro. Belgrad tem dificuldades em colaborar com uma Europa que como invasor contribuiu para a sua divisão. Por outro lado esta Europa só parece estar interessada em evitar conflitos adiando-os para mais tarde. Umas maneira de assegurar e justificar o empenho militar no mundo?

Prevê-se que em Março o Conselho da Segurança da UNO pretenda a independência de facto do Kosovo ao que o presidente russo Putin se oporá.

No Kosovo encontram-se estacionados 17.000 soldados de 35 nações. No caso da independência do Cossovo a presença internacional terá de continuar para proteger os direitos da população não albana.

Comentário
A concessão da independência aos albanos (muçulmanos) implicaria naturalmente a sua hegemonia e a aniquilação da minoria cristã sérvia e tudo isto a ter de ser subsidiado ainda continuamente pela comunidade internacional que teria de estar presente. Uma situação paradoxa! A história faz um jogo maluco.

Antigamente através da colonização interna dos grupos rivais criava-se ordem dominando a lei do mais fortes sobre os mais fracos. Hoje através da intervenção externa da Europa numa acção militar arbitrária sobre o antigo resto da Jugoslávia impede-se de facto a colonização interna mas favorece-se a colonização religiosa através da política de multiplicação, de procriação atendendo à potência procriadora do sistema islâmico. Este só aceita viver sob o jugo dos infiéis enquanto for minoria. No momento em que alcance a maioria declara o território como território do Islão passando este a dominar.

Neste sentido os sistemas democráticos ajudam-nos nas suas pretensões hegemónicas. Tenha-se em consideração o desenvolvimento do Islão na região depois de 1389; o exemplo da Turquia que no princípio do século XX tinha uma população em que 25% da população era cristã, sendo esta hoje quase inexistente e continuando a ser perseguida. O processo hegemónico na África e noutras regiões do mundo em prol da hegemonia muçulmano é mais que notório apesar de se encobrir muito nos meios de comunicação social. É o problema entre judeus e palestinianos em que estes através da política de multiplicação conseguirão mais cedo ou mais tarde infiltrar-se em Israel de modo a tornarem-se a maioria com a consequente implantação do sistema islâmico.

O problema de hoje é que sociedades abertas, como as nações de cariz ocidental, são muito vulneráveis perante sistemas fechados como é o caso árabe e islâmico. Como para eles a nação é a religião, esta é que determina a sua territorialidade e o seu ser.

Através duma revolução afável mediante a formação de guetos e da redução da mulher a máquinas de produção de filhos conseguem de maneira dócil o que os bárbaros conseguiram de maneira bruta com o império romano! Os extremistas muçulmanos já falam da Europa muçulmana. Nesta Europa vivem 30 milhões de imigrantes muçulmanos em cresimento rapido. A sua vitalidade e convicção parecem dar-lhes razão. A paz europeia não poderá ser comprada à custa de forças militardes distribuídas pelo mundo. Tem de se preocupar com a integração dos muçulmanos e ajudar todos os de boa vontade a progredir e a sair dos guetos. Eles constituem um grande enriquecimento numa Europa cada vez mais impotente a nível vital. O Kosovo poderia ser um exemplo da boa relação entre cristãos e muçulmanos.

António Justo

António da Cunha Duarte Justo

Incesto – dois irmãos juntam-se e geram quatro filhos

Na França não há pena judicial para o incesto e na Alemanha espera-se a decisão do tribunal constitucional para se saber se as relações sexuais entre familiares do primeiro grau e o casamento entre irmãos serão peníveis.

É a eterna questão de Édipo que teve 4 filhos com a sua mãe. Na Alemanha avaliam-se em 10.000 pessoas fruto de relações incestuosas.

Em Leipzig dois irmãos que antes não se conheciam juntaram-se e tiveram já quatro filhos. Patrick (hoje com32 anos) que depois duma odisseia passada em lares para crianças consegue descobrir a sua mãe e conhece pela primeira vez a sua irmã Susann (hoje com 22 anos). Meio ano depois morre a mãe e o amor nascido do encontro entre os dois irmãos cimenta-se.

Juntam-se e têm filhos sendo Patrik, por isso, condenado pelo tribunal a dois anos de prisão. Uma vez cumprida a pena de novo têm uma filha agora de dois anos. De novo à pega com a justiça apelou para o tribunal constitucional, aguardando decisão deste.

O seu advogado argumenta que a lei além de constituir uma usurpação do direito fundamental de autodeterminação vai contra a liberdade de opção em questões de sexo e de organização da vida familiar. Para o defensor o incesto não está na origem de problemas na família como antigamente se cria sendo pelo contrário a consequência de problemas familiares. Argumenta também que os riscos hereditários provenientes de relações incestuosas não constituem argumento dado não haver proibição de relações sexuais a pessoas com doenças hereditárias. Patrick já se esterilizou porque quer viver com a irmã.

A tradição comum de todas as religiões considerarem o incesto como tabu corresponde a uma necessidade de protecção importante da família e da espécie.

Em tempos em que todos os tabus sexuais caem ainda faltava este da relação sexual entre pais e filhos e entre irmãos.

A proibição universal do incesto em todas as religiões é importante porque debaixo da proibição se esconde a ideia de protecção, dignidade e respeito. Protecção contra as doenças genéticas hereditárias que resultam de relações incestuosas. Protecção dos filhos e da intimidade e da paz na família. As crianças estariam indefesas perante os pais. Hoje é por demais conhecido o crime com crianças vítimas do abuso sexual de pais e as consequências psíquicas de que as vítimas sofrem.

O ser humano é tanto mais livre quanto mais conseguir não ser vítima ou objecto dos seus instintos e necessidades exageradas. Confunde-se liberdade com libertinagem à margem da responsabilidade social e natural. Dá-se uma desnaturalização do órgão que em vez de passar a existir em função dum organismo ou de um todo, em função duma necessidade telelógica, passa a existir em função de si mesmo como acontece com o tumor canceroso.
Não será que nos encontramos a caminho do embrutecimento? Os nossos avós ainda sabiam que “valores eram verdades morais mergulhadas no sagrado”. Uma sociedade desorientada não quer saber de medidas de orientação para o comportamento e menos ainda de normas. Estas cheiram a responsabilidade ou a bafio religioso.
António Justo

António da Cunha Duarte Justo