Uma Cultura a gerar Filhos de Ninguém – O Ocidente

Sapatinho de Natal > Santa Claus > Pai-Natal

 

António Justo

Quando era pequenino quem trazia as prendas de natal era o menino Jesus; de 24 para 25 de Dezembro, pela calada da noite, ele colocava-as na lareira junto aos sapatos.

 

Com a comercialização da sociedade foi-se impondo o Pai-Natal (Papai Noel), vindo do Polo Norte num trenó; um homem rechonchudo, alegre e de barba branca vestido de vermelho e com um gorro caído virado para a terra. Os americanos protestantes (USA e Canadá – não inclinados para o culto dos santos) e propensos ao capitalismo, em vez de importarem da Europa a tradição católica do menino Jesus e do sapatinho à lareira ou do São Nicolau, criaram a figura do Pai-Natal, em 1860, à imagem da tradição nórdica do S. Nicolau. A substituição do bispo, que oferecera a sua grande herança aos pobres, pela figura do Pai-Natal, foi comercializada nos meados do século XIX pela empresa Coca-Cola. Pai Natal é a substituição secular do “Menino Jesus”

 

“Menino Jesus”, São Nicolau (Santa Claus), Pai-Natal, são nomes que se dão à personagem que traz os presentes na Véspera de Natal, (24 de dezembro), ou no dia de São Nicolau (6 de Dezembro).No Natal faziam-se prendas para lembrar a oferta de Cristo à humanidade; como fomos prendados continuamos a prendar os outros.

 

É interessante verificar, duma perspectiva sociológica, como cada época e povo cria/transforma as suas tradições à medida da sua alma e do seu ideário central. Este torna-se como que a estrela de Belém atrás da qual todo o mundo corre. As exterioridades folclóricas permanecem as mesmas; muda apenas o seu conteúdo cada vez mais feito de superficialidades, a nível de massas.

 

Se observamos a natureza tudo se desenvolve do interior para o exterior. O exterior chama a atenção para a vida interior a ser transmitir. Nos tempos em que a preocupação do ser humano com suas instituições se centrava mais nos bens interiores e na comunidade, as suas instituições preocupavam-se com a integração do novo na sua alma.

 

A Igreja Católica, no seu contacto com os povos bárbaros, respeitava o cerne das suas crenças procurando integrá-las no seu firmamento metafísico. Assim, num processo de aculturação e de inculturação dava profundidade e resposta aos mitos de povos e culturas, integrando num conceito global diferentes arquétipos da sociedade e do Homem. Nos mitos (arquétipos) encontra-se a simbologia plastificada da realidade humana para além do momento histórico. Por isso a verdade mitológica é mais real/verdadeira que a verdade histórica; esta é apenas o resultado do agir no sentido da concretização dos mitos.

 

Uma cultura a gerar filhos de ninguém

 

Com a acentuação da modernidade e do secularismo tem-se dado o processo inverso, iniciando-se assim a exoneração da cultura ocidental. O comércio apodera-se dos mitos cristãos para os desmiolar num processo de secularização desespiritualizadora para os instrumentalizar em seu benefício. Neste processo, em vez de um procedimento de enriquecimento e de interiorização no sentido da continuidade comunitária dá-se o contrário, a mera exteriorização sem ligação ao interior, apenas centrada no sentido da parcela e do momento. Só conta o embrulho que deslumbra o mundo. Tal como o protestantismo expressou o início do fim da cultura medieval agrária (fim do domínio dos países latinos) e o início do domínio nórdico baseado mais no fomento do capitalismo (do direito do indivíduo contra a comunidade), observa-se hoje o início da destruição da cultura ocidental através do globalismo financeiro. É preocupante dar-se conta dos paralelos entre a relação protestantismo-catolicismo como indicadoras do início de uma nova era no século XVI e a relação cristianismo-secularismo da actualidade, como início do abdicar da civilização ocidental e o início de uma sociedade anónima orientada pela pseudo-ética de um utilitarismo universal. Encontramo-nos no início do fim.

 

Os símbolos religiosos são substituídos por símbolos comerciais centrados no negócio e já não no ideário cristão. Deixam de ser arquétipos (modelos da alma e da civilização) para se tornarem símbolos do capital e do comércio ao serviço de necessidades artificiais. A relação humanista dá lugar à relação comercial. Ao ignorar a sua bondade inicial interior, o Homem torna-se a sua própria fera.

 

Na análise que aqui faço apenas me limito a referir um pequeno aspecto cultural, um sintoma limitado mas sintomático da autodestruição sistemática duma grande civilização que parece odiar-se a si mesma.

 

Quem melhor quiser conhecer a alma das civilizações e das culturas observa-lhes os seus mitos, a sua alma. A autodestruição da civilização ocidental é imparável ao reduzi-la ao seu aspecto de permuta económico-comercial e que se torna patente na substituição do Nicolau pelo Pai-Natal. O São Nicolau tinha uma mitra com a ponta a indicar para o céu e a ponta da barba a apontar para a terra; tinha o corpo em posição direita a indicar respeito e relação com a transcendência e o bastão da autoridade. Nicolau é o símbolo da autoridade não autoritária que proporciona lugar para o crescimento dos outros de modo a tornarem-se adultos.

 

Sem o poder e a influência que representa a propaganda Coca-Cola, o Pai Natal não teria transferido tão depressa os países protestantes. Hoje ele tornou-se na expressão da sociedade de consumo em que vivemos. O Pai-Natal, não vem do céu, vem dos países frios do norte e é expressão dos valores da nossa sociedade. Em vez da tiara simbolizadora da espiritualidade e do alto, o Pai Noel traz um gorro vermelho virado para o chão. Tem as proporções corporais de uma criança de três anos e um nariz grosseiro batatudo a puxar para baixo; é infantil, com um saco aos ombros pronto a distribuir o seu conteúdo. Deixou de ser um arquétipo da alma para se tornar a documentação duma sociedade de consumo em regressão.

 

A Vida do Presépio é Espírito ainda não materializado

 

Uma sociedade sem mitos empobrece e é abafada; uma sociedade sem natal é escura e sem perspectiva transcendente; natal é o tempo do dar à luz, é o tempo dos símbolos e dos contos de fadas e das crianças. (“Se não mudardes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus” (Mat.18.3).)

Não se trata de recordar apenas algo que aconteceu no passado. O mito é uma verdade e não uma fantasia (Na linguagem coloquial a palavra mito é usada como algo fruto da fantasia). Mais importante do que o acontecido no passado é a verdade do que está sempre a acontecer, ontem, hoje e amanhã, em diferentes dimensões. Mito é teologicamente algo/verdade sempre a acontecer em nós e na comunidade.

 

O Evangelho fala apenas do nascimento de Jesus na “manjedoura de um curral” em Belém e de pastores e magos (três reis) que o visitam. Na descrição da infância de Jesus mistura-se a realidade da História com a realidade das metáforas.

 

A procura de um lugar para a criança divina, longe da terra natal, é naturalmente uma metáfora. A alma não é oriunda da terra, nós vimos de outro lugar e não somos deste mundo. O mundo não é um albergue afável e quente. No nascimento virginal acontece algo completamente novo e inexplicável (Também aparece no budismo e no taoismo). Jesus é também o nosso arquétipo e como tal mostra que também nós temos uma mãe terrestre e ao mesmo tempo temos origem celeste, somos seres espirituais. Esta origem espiritual foi por nós esquecida. No nascimento virginal o pai é espiritual e como tal desconhecido. Jesus conhecia o seu Pai. O pai de todos nós é em certa medida o grande desconhecido. Somos todos filhos de Deus e a nossa vida é uma busca do grande desconhecido! A pessoa de fé vive da ressonância da presença divina em si e no mundo, ela tem a consciência de a ter presente no seu interior.

 

Há a verdade histórica e a verdade da alma e espiritual. A criança divina no presépio não se relaciona apenas à realidade histórica do seu nascimento (Belém/Nazaré) mas é também símbolo e garantia da criança interior em nós.

 

A criança não nasceu em casa, na própria terra; foi nascer em terra distante. Para que nasça algo novo em nós teremos de abandonar os velhos hábitos, teremos de abandonar a nossa casa, a segurança do dia-a-dia que não é albergue nem lar definitivo. Na pobreza do espírito, depois de despidos do nosso saber, das certezas e opiniões, depois de nos tornarmos pequeninos e depois de ter morrido o poder e a violência de Herodes em nós, então seremos o presépio onde a criança surgirá. A criança divina não ameaça nem usa poder. Não podemos continuar a esconder Jesus como fizeram os seus pais a caminho do Egipto (metáfora), numa fuga contínua ao perigo. Possuímos o sangue real. Jesus provém dos tronos de David e de Deus.

 

Em cada um de nós dorme uma criança, o eu original. A verdadeira realidade é invisível e só acessível pelo coração. O caminho é estreito. Para se chegar ao fundo da gruta, ao reino da criança divina em nós, vale a pena tentar ultrapassar a barreira do medo em nós, deixar o estresse, para chegar onde tudo é bom, onde nos sentimos bem e como feitos e envolvidos em muitas realidades. A nossa criança interior encontra-se atafegada em nós por medos e certezas, por fugas e corridas, vive amedrontada pelo barulho das nossas razões e opiniões. Jesus, o divino infante, encontra-se na concha do nosso interior, ele é a natureza da nossa ipseidade à espera de ser ouvida. Do fundo do reino da verdade, a divindade quer falar, quer ser ouvida, já não através da cabeça mas no silêncio do coração. Em cada um de nós encontra-se prisioneira a outra parte de nós, a nossa parte divina, onde a criança definha à espera de ser ouvida.

 

António da Cunha Duarte Justo

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Reforma complementar para quem tem Filhos?

A Alemanha pensa no Futuro mas a União Europeia não

Portugal a caminho da Santa Casa da Misericórdia

 

António Justo

 

Os sistemas de Reforma actuais castigam quem tem filhos, metem a mão na carteira dos reformados e não estão aptos para o futuro.

 

Segundo os meios de comunicação alemães, embora o património (superavit) do fundoalemão de pensões conte com um superavit de 31 bilhões de € no fim de 2013, o futuro das pensões não é estável. Cada um terá de assumir responsabilidade quanto ao seu futuro não podendo o Estado arcar sozinho com tal encargo.

 

Apesar da imigração de gente nova para a Alemanha, segundo estimativas, no futuro, o fundo de pensões precisará de grandes subsídios de fundos fiscais do Estado. Fala-se já desde 1980 na necessidade de seguros privados como segunda coluna das reformas.

 

Para, no futuro, não haver aumento de contribuições para a reforma, o Info-Instituto de Munique apresentou uma proposta de solução. Segundo o seu presidente, Prof. Werner Sinn, daqui a 20 anos, um trabalhador empregado terá de financiar dois reformados numa Alemanha que actualmente concebe 8,1 crianças por 1.000 habitantes.

 

Maiores encargos para trabalhadores sem filhos

 

A reforma actual, que corresponde a um salário médio de 46%, não poderá ser mantida; o Instituto conta com a sua descida para 30% em meados deste século, o que corresponderia à previdência social (assistência aos pobres) de hoje. Por isso o Instituto quer maiores encargos para trabalhadores sem filhos. Na realidade os impostos e contribuições já atingiram, há muito, a barreira da dor! Sinn quer que os filhos que entrem em emprego remunerado, paguem, paralelamente para o actual sistema, uma contribuição complementar que iria beneficiar a reforma dos pais reformados (por outro lado a contribuição destes seria compensada pelo Estado).

 

Quem não tem filhos, para conseguir uma reforma digna, teria de investir ou pagar para a segunda coluna de pensão (um seguro privado) com 6 até 8% do seu rendimento (ilíquido), até porque não suporta a carga com a educação dos filhos. Quem tem filhos recebe um aumento de pensão financiado por todos os trabalhadores. Quem tem mais de três filhos não precisa de contribuição complementar. Assim prevaleceria o velho sistema complementado pela segunda coluna da previdência privada. Pessoas mesmo pobres sem filhos viveriam da previdência social. Prevalece porém o problema de quem tem salários baixos que então terá pensão baixa. Esta proposta iniciaria uma política boa para a família.

 

“Uma sociedade que pretende ser provida na velhice tem que poupar ou criar filhos que a abastece… Um filho que tenha descendência, com uma média de vida de trabalho, contribui, ao longo da sua vida, para o fundo de pensão, com mais 77. 000 € do que custa, segundo o Instituto”(Cf. http://zu.hna.de/rente).

 

 

Na Alemanha, o Tribunal Constitucional obrigaa política, neste momento, a contemplar para as mães o direito de cerca de 50 € de reforma por filho, dado as mães serem o fundamento do sistema de pensões.

 

Irresponsabilidade duma EU sem projecto de futuro

 

O impacto do défice demográfico e a ganância antissocial da plutocracia que temos compromete seriamente não só o futuro das pensões mas o futuro da civilização.

 

“Sauvegarde Retraites” mostra, através de um estudo, as dimensões que explicam a catástrofe que nos espera. A fraca natalidade e o esbanjamento para as elites tornam as reformas cada vez mais inseguras. A EU, para dar lugar à entrada de funcionários de novos Estados-Membros (Polónia, etc.) manda funcionários de outros países que vão receber entre 12.000 e 14.000 € mensais de reforma depois de 15 anos de serviço sem pagamento de quotas e 340 empregados vão para a reforma antecipada com uma pensão de 9.000 € mensais. Mais ainda, um Supervisor Adjunto da Protecção de Dados depois de quase dois anos de serviço passa a receber uma reforma de cerca de 1.500€ mensais, o equivalente ao que recebe um assalariado francês do sector privado com uma carreira profissional de 40 anos. A mesma EU recomenda para o vulgo dos Estados-Membros o alongamento das carreiras profissionais de actualmente 40 para 42 anos em 2020.

Um funcionário das instituições da EU, sem qualificação específica, recebe cerca de 3.000 € de reforma.

 

Não há fé que consiga ter estômago para isto: a EU fiscaliza os Estados obrigando-os a apertar o sinto e, por seu lado, concede aos seus tecnocratas reformas sumptuosas, enquanto aumenta o tempo de serviço para os cidadãos normais.

Uma sociedade sem crianças morre e o recurso à imigração como meio de compensação da falta de nascimentos vem também criar problemas de integração graves, quando se trata de imigrantes de cultura muçulmana.

A EU experimenta em Portugal a destruição da classe média para depois a poder estender aos outros países membros!

Portugal a caminho da Santa Casa da Misericórdia

A EU e com ela a sociedade ocidental encontram-se em plena fase de autodestruição e em intensa preparação do seu enterro. Não se trata apenas duma luta contra a classe média ou contra um Estado. A sua exercitação dá-se já na Grécia e em Portugal.

Portugal prossegue, desde o 25 de Abril uma política adversa a quem tem filhos e destrói-se ao provocar a emigração dos seus melhores filhos! Em Portugal, o abono de família é miserável, fomentando, quando muito, as mães da camada desfavorecida da sociedade. As pensões, em Portugal, contra todas as garantias do Estado, são diminuídas a partir de 670 €, devido à má administração do Estado. Apesar disso, Ex-gestores de bancos falido recebem dezenas de milhares de € de reforma.

A inflação é superior à taxa de juros concorrendo para um futuro incógnito e com piores perspectivas

Para termos a ideia do que está a acontecer em Portugal dou o exemplo de uma colega minha que se aposentou há 2 anos e 6 meses com um ilíquido anual de 32 746 €, ficando então a receber anualmente um líquido de 25 900 € encontrando-se agora com um líquido anual de 18 360 €. Perdeu um líquido de 7.540 € anualmente. O maior roubo está a acontecer na classe média. Em Portugal está a experimentar-se na classe média o que a ditadura económica poderá mais tarde impor aos países mais fortes da EU.

Muitas das pessoas em situação delicada gostariam de abandonar Portugal para tratar da vida mas já se encontram sem forças para a recomeçar noutro ponto do planeta.

As pessoas procuram reduzir as despesas onde é possível, até porque a inflação continua, e a eletricidade, a água e a gasolina estão sempre a aumentar. Está-se a preparar a recessão, planeada por políticos e por uma política irresponsável que não tem ideia de para onde vai!

António da Cunha Duarte Justo

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NELSON MANDELA – UMA LENDA NOS MEANDROS DO PODER

Uma voz da Consciência no Deserto

António Justo

 

Com Nelson Mandela, a voz da África produziu um eco harmónico no mundo, na luta contra o racismo (regime-apartheid) e no fomento de uma sociedade arco-íris mais justa.

 

Nelson Mandela encarna o grito de África pela libertação e justiça; é um luzeiro que se apaga na idade de 95 anos, a 05.11.2013, sendo ao mesmo tempo filho e pai da África do Sul.

 

O condutor da revolução dos negros contra a ditadura dos brancos filiara-se em 1944 no movimento da resistência ANC (African National Congress). Tinha o objectivo de criar uma África do Sul em que a cor do rosto não contasse, propagava a desobediência civil pacífica e o ataque às infraestruturas do regime branco.

 

Com o massacre de 1961, do regime branco contra os negros, em que a polícia matou 69 demonstrantes pacíficos e perante a proibição do ANC, Mandela radicaliza-se e funda o grupo militante “Lança da Nação”. O “inquietador” Mandela protela aqui a sua atitude de paz e torna-se assim o líder da ala armada do movimento de libertação ANC.

 

Em 1962 é aprisionado, sendo posto em liberdade, 27 anos depois, pelo presidente de Klerk em 1990; este declara ao mesmo tempo o fim do Apartheid e levanta a proibição do ANC. Em 1993 Mandela e de Klerk recebem o prémio nobel da paz. Em 1994 Mandela foi eleito presidente da república e em 1999 renuncia ao poder e distancia-se da política. No seu mandato, preocupara-se com a reconciliação e desenvolveu projectos e iniciativas de repartir terras e distribuir casas baratas aos negros pobres.

 

A política parece não ter espaço para heróis da liberdade nem para pessoas honestas e sinceras. Numa África constituída por sociedades paralelas não se torna fácil a governação. A insatisfação surgiu ainda na presidência de Mandela e aumenta cada vez mais.

 

O governo-ANC que durante os últimos 19 anos tem liderado os destinos do país e que prometera postos de trabalho, igualdade e o fim da pobreza depara-se com a insatisfação generalizada de negros e brancos. Mais de 50% dos jovens encontram-se desempregados e as infraestruturas da nação em mau estado. É lamentável que o ANC confirme hoje todos os clichês dos preconceitos de racistas brancos.

 

A corrupção e a falta de consciência democrática escurecem o futuro da África do Sul. O actual presidente, com quatro mulheres, embora tivesse sido companheiro de Mandela na luta, lidera o país no meio da corrupção.

 

Mandela certamente que entrará no rol da História de grandes homens como Luther king, Ghandi, Oskar Schindler e Aristides de Sousa Mendes.

 

Mandela foi influenciado pelo amigo de longa data Walter Sisulu, testemunhando: “Nasci para ser um governante, devido à minha ascendência, mas Sisulu ajudou-me a perceber que a minha verdadeira vocação era servir o povo”. Tentou ser sempre livre provando esta qualidade num momento em que o poder o queria comprar, respondendo: “só as pessoas livres podem negociar”.

 

O legado político de Mandela não encontra terreno fértil nos meandros do poder. Resta esperar que a África não só produza políticos como Mandela mas que volte a produzir grandes homens da cultura como Agostinho de Hipona e Tertuliano.

 

António da Cunha Duarte Justo

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A China investiga as Causas do Progresso ocidental

A Solução será cristianizar o Socialismo

 

António Justo  

China, o grande gigante, acorda e quer compreender a razão do progresso ser conduzido pelo Ocidente e não ter sido originado pela China. O economista do governo chinês, Zhao Xiao (赵晓), tem-se dedicado ao estudo desta questão. (http://www.danwei.org/business/churches_and_the_market_econom.php). A China começa a reconhecer o Cristianismo como fonte do progresso ocidental. Por isso vai abrindo as portas ao cristianismo e teme cada vez mais o islão.

 

Zhao Xiao (赵晓) chega à conclusão que a causa do progresso ocidental(desenvolvimento económico-financeiro e seu papel de liderança mundial) está no cristianismo que fomentou a ciência, a técnica e o capitalismo. O cristianismo ao criar uma cultura da confiança num Deus que é verdade e amor fomenta a virtude e domestica as tendências humanas baixas e da corrupção. Educa para a dignidade humana e ao colocar como ideal o amor ao próximo e ao definir o próximo como o que está fora do grupo, esforça-se por deitar abaixo os muros do egoísmo e o fanatismo dos grupos fechados.

 

Assim, o cidadão não é niilista e a pessoa é soberana. O desenvolvimento de corpo e alma é parte inerente ao seu ideário. A Igreja católica foi a mãe das universidades, com mestres e alunos de vários países, uma inovação institucional na história da humanidade que apressou o desenvolvimento das ciências humanas e das ciências naturais.

 

No mestre de Nazaré encontra-se o fundamento da soberania individual; por sua vez, a Igreja Católica lançou as bases de uma sociedade global de humanismo integral.

 

Da actual Cultura da Batota, da Corrupção e da Sorte

 

Zhao Xiao (赵晓), na sua observação comparativa tem a oportunidade de observar uma sociedade que, embora de matriz cristã, se encontra num momento de desbaratamento da sua ética interior, para seguir um pragmatismo niilista e vácuo, de caracter oriental, que contradiz a kénosis cristã, onde o vazio do sepulcro é promessa de esperança e ressurreição e não de retrocesso e negação.

 

O turbo-capitalismo e o socialismo materialista, numa aliança desgraçada, destroem sistematicamente o património ético humanista cristão que levou tantos séculos a construir.

 

Na fase culturalmente destrutiva em que a Europa se encontra, a relação pessoal é substituída pela relação técnica cronometrada e a relação individual pela relação burocrática,sem dedicação pessoal. Tudo actua em função de tempo e do lucro.

 

O globalismo ocidental é anticristão e abandona Deus, com tudo o que Ele representa, para se afirmar como cultura da batota, da corrupção e da sorte. Esta cultura acarinha os pecados capitais da cultura ocidental: Avareza (ambição), Ira (sede de vingança), Gula, Luxúria, Soberba (arrogância),Preguiça, Vaidade.

 

Vai sendo tempo de se iniciar uma disputa séria sobre as consequências de um socialismo e de um capitalismo selvagens que em nome da liberdade, da fraternidade e da democracia se têm apoderado dos Estados e aproveitado do cidadão mediante a deturpação da pessoa.

 

Consequentemente, o melhor meio de defesa do progresso será a cristianização do socialismo. O melhor caminho que a China poderá encetar será imbuir-se, à sua maneira, de cristianismo, para poder dar continuidade à obra europeia!

 

António da Cunha Duarte Justo

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União Europeia contra o Patriotismo das Nações – O Porquê da Crise!

Da Monocultura latifundiária pragmática contra a Pluralidade do Habitat cultural

António Justo

Enquanto países asiáticos e de cultura árabe se vão arranjando numa estratégia de autoafirmação apostando na força da sua identidade cultural (patriotismo cultural da comunidade muçulmana, da Rússia, da China, da Índia), o Ocidente e em especial a União Europeia esvaem-se num “patriotismo cosmopolítico” baseado na filosofia económica globalista e na moeda como tecto metafísico do conglomerado. A negligência da filosofia enciclopédica e da ética cristã humanista coloca a EU numa posição favorável para negociar a integração da Turquia na EU e para se autoafirmar hegemonicamente no âmbito económico e militar; por outro lado, essa negligência revela-se ingénua num mundo em formação em torno das culturas. Para mais quando em democracia o povo é o elemento importantíssimo em questões de estabilidade política e este elabora a sua identidade em torno de espiritualidades.

Por outro lado, a União Europeia encontra-se num dilema ao impor-se um patriotismo cosmopolítico sem ter ainda alcançado uma consciência de patriotismo europeu, vendo-se, para isso, interessada em destruir os patriotismos das nações europeias e tradições culturais específicas (Patriotismo é uma virtude ao contrário do nacionalismo!). Quer-se construir uma soberania europeia masculina, sem alma, procurando para o efeito fomentar-se uma condição de povo anónimo. A anonimidade popular e a destruição da soberania política das pátrias europeias conseguem-se através do fomento de uma filosofia política relativista (pensar correcto) e pragmatista. Em nome da diversidade cultural, a política exige dos seus cidadãos a deslealdade para com a própria cultura e a renúncia a símbolos cristãos. A EU encontra-se na fenda entre os patriotismos e os nacionalismos. Também o seu missionarismo político em favor dum cosmopolitismo político democrático não tem dado resultado, como se observa no norte de África, pelo contrário, as rebeliões fortaleceram o fascismo. A ideia do globalismo corresponde a uma filosofia católica original mas para a qual o mundo ainda não está preparado. Há razões, mais que suficientes, para nos questionarmos se a praxis turbo-capitalista aliada à estratégia marxista serão o melhor meio para se impor o globalismo (Neste aspecto, a China estaria já numa posição vantajosa).

O modelo da Europa para o mundo encontra-se numa crise profunda de valores e de sentido; cada vez lhe falta mais a congruência cultural e consequentemente a visão e motivação. Uma política de rejuvenescimento da europa através da imigração revela-se míope e perigosa devido aos grandes contingentes de muçulmanos que embora com imensa juventude se revelam contraproducentes devido à sua vida determinada pelo gueto religioso e hegemónico; enquanto o cidadão europeu não encontra motivos para se definir em termos de identidade europeia, os imigrantes muçulmanos que constituem a maioria dos imigrantes afirmam-se em termos de fronteira patriota religiosa. A classe política, para evitar conflitos populares adopta uma política pragmática em relação às exigências daqueles, implicando o recuo em relação a posições laicas e risco num contexto de reivindicações políticas no futuro.

O fomento dum “cosmopolitismo enraizado” como pretende Kwame Anthony Appiah no sentido do desenvolvimento de um burguesismo mundial, não se revela possível, numa EU em que a natalidade muçulmana supera qualquer crescimento estatístico de nativos em relação a outras confissões religiosas e seculares. Segundo estatísticas sérias, a explosão demográfica muçulmana aponta para o desenvolvimento da Europa no sentido de uma Eurábia. O politicamente correcto cala isto para não amedrontar o povo, já preocupado; é um facto que as estatísticas demográficas possibilitam previsões científicas mais exactas que quaisquer outras. As guerras do Ocidente em países árabes só alimentam a ganância económica e fomentam a imigração árabe para a Europa. Quem se encontra cada vez mais desenraizado na EU são os países europeus e não os guetos muçulmanos que sofrem, na própria terra,  por verem as suas aspirações hegemónicas contrariadas pelos Estados Unidos da América que, por razões estratégicas fomenta a rivalidade entre as confissões muçulmanas dos Sunitas e dos Xiitas.

O mutismo intercultural e inter-religioso entre as nações é mais que sintomático da impossibilidade dum encontro a nível de direito moral. O relativismo cultural e ética só pega nas nações ocidentais. As vitórias do secularismo europeu contra o cristianismo transformar-se-ão em vitória do extremismo religioso muçulmano e doutros extremismos dentro dos muros europeus. Temos a melhor lição na primavera árabe que, em nome da liberdade e dum certo relativismo, se tem revelado como um serviço ao absolutismo religioso. Estas nações para chegarem ao tal cosmopolitismo precisariam de um desenvolvimento económico, cultural e social como se deu na Europa dos anos 60 aos anos 90 e na luta cultural provocada pelo protestantismo do séc. XVI e mesmo assim comportar-se-iam diferentemente porque são portadores de uma outra antropologia e sociologia. A sua sociologia assenta em princípios contrários aos da sociedade de características ocidentais. Não é sem razão que a Turquia, Egipto, etc. contrariam o fomento de cristãos nos seus quadros estatais superiores e noutros países muçulmanos, se chega a considerar os cristãos como espiões dos USA.

Só quem está interessado num pragmatismo de consenso superficial poderá passar por cima da realidade em que a Europa vive; facto é que a realidade internacional e do desenvolvimento global assentam nas culturas e especialmente nas suas filosofias que são as religiões; o sistema económico é apenas uma consequência da razão filosófica destas. Há que explorar e contextualizar melhor o capitalismo e o socialismo que, como filhos pródigos do judeo-cristianismo têm instabilizado uma mundivisão, que, purificada de excessos e na complementaridade, poderia servir de modelo para um globalismo mais justo.

Gregor Gysi, o número um do partido comunista na Alemanha, é um ateu declarado, e disse algo notável num programa da TV alemã: “Foi um fracasso histórico dos comunistas perseguir o cristianismo. Pois a essência dos cristãos: amor ao próximo, igualdade (diante de Deus) e a observância dos mandamentos são muito semelhantes aos ideais do comunismo.” 

Sempre me admirei por irmãos se combaterem, pelo simples facto de um olhar muito para o céu e o outro olhar demasiado para a terra. Uma simples olhadela não determina a realidade e não faz de um, espírito, nem do outro, matéria! Torna-se importante não esquecer que também a verdade é feita de céu e terra. E o mais importante para a europa é a sua união cultural e deixando de se autodestruir em guerrilhas ideológicas de leigos contra fiéis par reconhecerem a própria riqueza na numa relação de complementaridade.

O pensar baseado no politicamente correcto tem fomentado uma discussão teórica e uma tolerância infantil mais interessadas em encobrir os problemas, do que em ajudar a resolvê-los duma forma humana e justa. Há monstros a dormir nas sociedades que ressurgirão no momento em que as crises políticas se generalizarem. O movimento secular e o cristianismo de expressão moderada serão os que mais sofrerão as consequências da falsa política social e económica que se seguiu depois da última grande guerra.

A procura de valores globais, como sugere Hans Küng , exige mais da política do que ela está disposta a dar. De faco, o seu mero recurso a um pragmatismo de políticas locais, limitadas a dar respostas locais aos problemas populacionais e interculturais mais urgentes, sofre de miopia. Aqui empanca o tal cosmopolitismo que, sem teto metafísico, quer viver de capelanias de pontos de vista limitados, fomentadores de cabeças viradas para uma terra, cada vez, menos mãe. É verdade que a consciência para a gravidade da situação surge no foco e não na periferia e os problemas da humanidade continuam a ser focados como problemas abdominais.

Quer-se uma ética urbana para um mundo, na grande maioria, rural e estranho a intelectualismos e a éticas generalistas ou de nível elevado. Não há uma sociedade mundial tal como não há um biótopo mundial. A coerência dos biótopos sociais não pode ser alcançada por uma rede económica frágil e injusta, nas mãos de poucos e à margem duma literatura mundial. A natureza continua a mostrar, na sua inter-relação de biótopos naturais como protótipo dos “biótopos” culturais. Para já, seria apressada a ideia de querer, sob a mesma atmosfera, igualar as diferentes regiões climáticas (culturais) sem atender às suas especificidades, e para mais num tempo em que as tendências hegemónicas das culturas entre si ainda são tabu ou apenas relegadas para o sector económico ou religioso. Neste sentido é absurda a ideia de que o negócio universal e a moeda se possam transformar em elementos criadores duma identidade global. A ideia de um cosmopolitismo político torna-se numa estratégia para distrair intelectuais. Como se pode defender a floresta quando nela não só se cortam e arrancam as árvores mas também destrói o seu húmus cultural?

A moderna missionação ocidental com o seu centro de gravidade na democracia e nos direitos humanos, não se revela tão eficiente como seria de esperar, dado, duma sociedade para a outra, sociológica e antropologicamente, mentalidades e modos de vida, se revelarem quase antagónicos. O conceito duma sociedade aberta para se chegar a um cosmopolitismo não se encontra aferido, nem à sociedade ocidental, porque a empobrece culturalmente, nem às outras sociedades porque as não respeita. É preciso trabalhar no sentido duma terceira via. A lusofonia oferece uma oportunidade para se trabalhar neste sentido. Para isso fica o apelo da História no sentido de se superar a humilhação envergonhada e a exaltação orgulhosa.

O cosmopolitismo, em via, mostra erros sociologicamente análogos aos da revolução industrial do séc. XIX e XX, focalizado num materialismo ideológico (marxismo) e prático (consumismo) expresso na economia financeira internacional fomentadora duma mentalidade proletária de aspiração burguesa a florescer num globalismo financeiro mundial que tudo reduz a mercado de clientelismo anónimo. Isto conduz a um pragmatismo sem horizonte destruidor de qualquer fé política ou religiosa que não se subordine ao pensar do correcto oportuno. Com uma fachada liberal destrói biótopos culturais e espirituais para criar um novo habitat de género latifundiário e de monocultura proletária.

A Europa encontra-se num grande impasse; destrói sistematicamente a sua identidade ao colocar a economia financeira como leitmotiv da civilização. Isto é constatável se observamos o seu pragmatismo selvagem que não reconhece na Constituição os seus pilares éticos do judeo-cristianismo, do direito romano e da filosofia grega para se abrir ao desconhecido e à anarquia do voto do braço erguido. A ganância económica e o lucrativo negócio com as armas justificam uma imigração selvagem criadora de grandes problemas para as gerações futuras e a destruição de aquisições humanas que se pensavam irreversíveis.

(Que uma sociedade aberta como a europeia renuncie a fronteiras é consequência do seu desejo de se formar como bloco perante outros blocos. O seu maior erro está, porém, em renunciar às colunas que constituem a civilização ocidental. O trágico está na irreversibilidade da situação que se criou já não baseada numa filosofia consistente mas no imperativo do pragmatismo factual que segue um liberalismo económico desrespeitador de tudo o que é pessoal e cultura adquirida. Devido à sua proximidade com a Europa e à, cada vez maior incapacidade de discernimento dos povos europeus, a longo prazo, a beneficiada desta filosofia pragmatista, será a cultura árabe, a não ser que se forme nela uma camada social média abrangente, fruto duma revolução religiosa cultural, à imagem da revolução protestante na europa, que a liberte de restrições religiosas a nível de ética e hábitos e em que a antropologia ganhe relevância sobre a sociologia.)

Necessita-se uma política antropológica contrária à ideologia económica monetarista e ao liberalismo vencedor desencarnado. Naturalmente que o reconhecimento do outro também mexe com a própria identidade; esta revelou-se a vantagem da civilização ocidental perante outras civilizações: uma abertura com significado e sentido. Nesta base será possível determinar novas políticas. Johan Baptist Metz, fundador das Novas teologias políticas, defende a valorização da Autoridade do Sofredor na humanização do mundo. Neste sentido, seria óbvia uma ética que reconheça o rosto da verdade nos pobres e que distribua a riqueza pelos continentes.

Não se trata de criar identidades submersas mas de integrar a própria diversidade na unidade duma realidade integral à maneira da complementaridade da verdade expressa na fórmula trinitária.

Daqui resultam direitos e deveres – responsabilidade ética – de cada um perante todos e de todos perante cada um (pessoa simultaneamente individuo e colectivo). A pessoa alcança um caracter universal e, como parte dele, é portador da sua dignidade. Há que voltar à reflexão cultural. A redescoberta da fórmula trinitária poder-se-ia tornar numa plataforma da complementaridade das partes num grande todo sem lugar para hegemonia duma cultura/religião sobre a outra, dado a diversidade natural e cultural serem a melhor condição possibilitadora de desenvolvimento individual e colectivo. Torna-se urgente a formulação de uma política do diálogo intercultural neste sentido.

A apreensão da realidade, tal como a sua moldação, depende do ponto de vista ou da perspectiva, como dizem os jesuítas. A sabedoria está em reconhecer a complexidade das diferentes necessidades e usos. Uma anedota relativamente inofensiva, que li no “manager magazine” 10/2013, conta que um beneditino, um dominicano, um franciscano e um jesuíta se encontravam a rezar na Igreja. De repente, apagam-se as luzes. O beneditino continuou a rezar firmemente as orações do seu breviário, porque ele sabia-as de cor. O dominicano quer liderar um debate sobre a luz e as trevas na Bíblia. O franciscano louva  Deus por ter dado a escuridão ao povo. E o jesuíta levanta-se e vai mudar o fusível. Todos têm razão, na medida em que agem em função do todo. A atitude pragmática do jesuíta revela-se eficiente e apresenta-se como uma perspectiva duma realidade que se modela diferentemente.

©António da Cunha Duarte Justo

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