As Multinacionais do Capital – O novo Cavalo de Tróia


Nações Reféns do Sistema Polvo dos Dinossauros das Finanças

António Justo

O cavalo troiano, enquanto os cidadãos dormem, vai-se inserido dentro das muralhas das nações. Os mercenários ganham terreno de dia para dia. Protege-os a lei da guerra: a lei do mais forte. Em consequência da crise, os estados estão a efectuar a privatização da sua prata da casa que é comprada por multinacionais a caminho do monopólio. Em vez de se tentar democratizar a economia assistimos ao processo inverso de alienação do poder nos dinossauros (Dinos) da economia.

Por outro lado deparamos diariamente nos Media com uma realidade encenada, em que a opinião publicada aponta para um alvo mas a Realidade acontece em outros lugares. Os “dinos” globais querem um mundo unipolar (americano) pelo que apostam todas as suas cartadas no impedimento do surgir de contrapolos.

De momento todo o mundo se preocupa com o Euro quando se deveria preocupar com o Dólar. Uma tempestade num copo de água, pelo facto de a EU ser forte embora enfraquecida pela praga dos especuladores mundiais e de egoísmos nacionais.

Uma das razões da intervenção dos USA no Iraque terá sido o facto de Sadam Hussain ter tornado pública a ideia de assumir o Euro como moeda mundial de referência em substituição do petrodólar.

Actualmente, a União Europeia (EU) tem um défice orçamentário de 4% e os USA de 10%. A quota de desemprego em 2011 na EU é de 7,5%, a dos USA é de 9%. A dívida pública da EU é de 88% do PIB e a dos USA é de 100% do PIB. Os USA encontram-se mais endividados que Portugal.

Americanização da Europa e do Mundo

Não é de admirar que os USA façam tudo por tudo por impedir que o Euro se torne forte e concorra como Dólar na qualidade de moeda mundial de reserva. Isso revelar-se-ia catastrófico para os USA. Também por isso o horrendo capital mundial, nas mãos de poucos, usa as agências de rating como lança avançada para defesa dos seus interesses económicos, equacionados nos dos USA. As agências de rating tornaram-se num órgão de controlo económico-político-social para defesa das multinacionais do capital e num instrumento contra a emancipação que surge da base. Têm a vantagem de possuírem conhecimento interno de que podem abusar. (Curioso é o facto dos países da EU terem uma cláusula legal pela qual aceitam as análises das agências rating como critério de avaliação do estado das economias). Também o modelo duma Europa forte, apesar da sua componente social, não convinha; daí tornar-se óbvia a guerra internacional contra o Euro. Uma Europa forte e social poderia tornar-se num “mau exemplo” de justiça social, para outros continentes, o que perturbaria a oligarquia do dinheiro, para quem ideias sociais e humanistas constituem um estorvo num processo de americanização do mundo.

 Na Europa é cada vez mais evidente a guerra das multinacionais financeiras contra o trabalhador, contra a democracia e contra os Estados. Quer-se a socialização da pobreza a todo o custo e a globalização da miséria. Os vencimentos dos cargos de cimeira (sector Bancos, Energia e multinacionais) dos países pobres foram propriamente igualados aos dos países ricos (medida fomentadora do espírito mercenário e de traidores dos interesses regionais) e ao mesmo tempo assiste-se, na base da pirâmide social, a um processo de igualização dos ordenados pelos dos países mais pobres. Já se chega ao extremo de se encontrarem pessoas a trabalhar na gastronomia ganhando 5 Euros à hora na Alemanha e 3 euros em Portugal. Querem o lucro à custa da honra e da miséria. O colonialismo e a exploração passaram a não ter rosto, tornaram-se anónimos e por isso irresponsabilizáveis.

A globalização está-se a revelar como destruidora de Estados e contra os progressos adquiridos na Europa. Assistimos, laboral, cultural, democrática e socialmente, a um retrocesso. O ensino também é proletarizado nas escolas e nas universidades especializa-se de modo a um técnico ser dependente da máquina que serve. (Pensar faz doer e quem pensa tem poder, daí limitar o saber…). Os estados controlam cada vez mais descaradamente o cidadão, com uma administração centralista, em nome dum terrorismo latente. O próprio parlamento europeu encontra-se marginalizado pelo activismo dos chefes de governo puxados pela trela das dívidas e dos juros usurários do imperialismo do capital e pelos seus boys nas instituições de poder mundial. Os Bancos e as Bolsas com as suas agências de rating passaram a fiscalizar os Estados, invertendo-se assim os termos. Os mercados financeiros, não são regulados, os seus donos consideram o mundo como um casino, onde o seu lucro se adquire à custa do azar dos outros. Estamos numa situação em que o capital anónimo se tornou num polvo monstro que suga o espírito e o corpo das nações. Só se criam instrumentos de controlo em favor do capital como a troika, faltam projectos de fomento de crescimento. As medidas, a nível económico, em curso apenas dão continuidade, por outras vias, às antigas guerras europeias entre o centro e a periferia. Onde a inteligência não chega domina a esperteza.

Com a queda do muro de Berlim e das ditaduras de Leste a política ajoelhou. Não foi capaz de se organizar e antecipar aos “dinos” das finanças que se tornaram numa supra-estrutura global com mais poder que as políticas nacionais. Eles escondem-se à sombra de organizações como o Banco Mundial, FMI, OMC, etc.

Os juros usurários são uma forma de violência estrutural sustentada. A OMC (com 147 Estados) pretende a liberalização total e assim legitimar o poder dos mais fortes. Estes são formados pelo escol encoberto das nações. Criam a liberdade para o capital e cercas para os emigrantes.

Cavalo de Tróia já dentro das Muralhas da EU

Tróia era uma cidade mitológica bem organizada e rica da antiguidade. Os gregos, seus vizinhos, que eram muito fortes e ambiciosos, ansiavam pelos seus bens. Mas as muralhas de Tróia eram muito altas. Um dia aproximaram-se para a assaltarem. Perante a longa resistência troiana pensaram numa artimanha: construir um grande cavalo de madeira, deixá-lo junto às muralhas com alguns mercenários lá dentro e fingir deixar o cerco da cidade. Os troianos, admirados, pela retirada do exército grego mais se admiraram ainda com o grande cavalo de madeira deixado pelo inimigo junto às muralhas; os troianos pensando que este era um sinal de rendição dos gregos, fizeram rodar o cavalo para o interior das muralhas, muito embora sob os protestos dum velho sacerdote. Pela calada da noite, quando os troianos dormiam, os mercenários gregos saíram do ventre do cavalo, abriram as portas da cidade; então os soldados gregos entraram vencendo e escravizando os troianos.

Na Europa dos anos 60-80 viviam também vários povos em paz empenhados na construção duma democracia cada vez mais humana; viviam sem muralhas e tinham uma rede social que amparava os mais fracos num espírito de subsidiariedade. Aqui, praticamente todos tinham trabalho com férias satisfatórias, assistência social e possibilidade para viajarem pelo mundo. Tornaram-se tão fortes que até conseguiram despertar a inveja dos países socialistas vizinhos e do capitalismo de cunho americano. Entretanto a União Soviética caiu e a Europa fomentou a construção do seu burgo. O Mamom Dólar gerou um filho ilegítimo, o Mamom Euro. Desde aí não há paz no Olimpo

As aves de rapina internacionais começaram a sitiar cada vez mais o burgo europeu. Entraram no seu espaço através dos Bancos e de multinacionais onde abrigam os mercenários nacionais.

Os moradores do burgo entraram em pânico e os países encontram-se agora em situação de medo; vendem, ao desbarato, a prata da casa, que tinham amealhado durante dois mil anos. O medo tolhe as pessoas não deixando que aqueçam o ânimo na fogueira da esperança. Por todo o lado se fazem sentir os ventos gélidos da injustiça e o alto gralhar dos dinos num horizonte encoberto.

O medo não deixa filhos, mata a esperança. Ele é o chicote enrabado de liberdade na mão dos poderosos. Por isso os donos invisíveis da sociedade espalham o medo (estratégia do amedrontamento) que tolhe e leva a pessoa a fugir (a regredir) e a abandonar os direitos sociais e cívicos adquiridos.

A Estratégia do Cavalo de Tróia serve-se de mercenários

O dinheiro não tem alma, nem família, estado nem nação; tem apenas escravos. Chama-se Mamom e alimenta-se da despersonalização, servindo-se dos seus sacerdotes que o cultuam nos santuários das bolsas-bancos e em suas capelanias multinacionais.

Os oportunistas, na sua estratégia de marginalização sistemática da sociedade, atacam a classe média e não só destroem os contractos de trabalho dos trabalhadores, como até querem apagar neles a ânsia de justiça. Numa sociedade em que os modelos são corruptos já pouco faltará para corromper… Os “dinos” roubam e as estrelas despem-se da moral.

Culpabiliza-se o mais fraco pela sua situação apelidando-o de menos inteligente. O neoliberalismo é anti solidário e anti-humano. Não conhece pessoas só lucro usando como laçada o eufemismo da globalização. Os donos do mundo mercantilizam a pessoa, tudo em termos de lucro e de mercadoria no mercado livre. Ao substituírem Deus pelo Mamom, mataram a pessoa em nome do indivíduo. O próximo passo é destruir as nações em nome da globalização.

 

Os políticos deixaram-se comprar atraiçoando a ideia europeia e o humanismo universal, procurando postos nas multinacionais (mercenários comprados a troco de ordenados horrendos, tornam-se traidores dos seus biótopos sociais); os trabalhadores, por sua vez, sentem-se açamados pelo medo de perderem o que têm; para não perderem o emprego cedem os direitos adquiridos. A pobreza e as bancarrotas são socializadas em favor dos ricos. Os novos demónios não conhecem a dignidade. A dignidade já não é símbolo de autoridade. Os imperativos morais são sistematicamente destruídos. Trabalha-se, a longo prazo, para a sustentabilidade da miséria espiritual e física.

 

Nalguns sectores desprotegidos, onde a moral ainda vai à igreja, já começa a valer mais pedir ou roubar do que trabalhar. A juventude manifesta-se medrosa e conformada com uma sociedade uniforme, tipo quartel em que a diferença se nota apenas na farda da música que se consome e no mercado colorido de opiniões em saldo. Tem sido educada para um realismo factual inculcado pelas forças anónimas vigentes contra a inovação e contra a mudança. Inovação quer-se apenas tecnológica, não humana, nem social.

Também o imperativo moral e as constituições das nações perdem a sua validade. Em questões de direitos humanos reserva-se, para os grandes, o direito de veto. O pensamento individual é substituído pelas fábricas de pensamento. Tudo, cada vez mais, na mão dos formadores da opinião anónima ao serviço dos “dinos”; tudo na mão de sociedades de irresponsabilidade ilimitada.

No momento de mudança em que nos encontramos, as camadas lúcidas das sociedades deveriam exigir que a democracia directa e o princípio da regionalização fossem introduzidas nas Constituições dos países como objectivo importante a atingir. Só assim se poderia impedir o fenómeno de destruição dos biótopos e ecossistemas naturais, individuais, sociais e culturais, em via.

António da Cunha Duarte Justo

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Carta aberta ao Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros Paulo Portas


Contra o Encerramento do Posto Consular de Frankfurt – A Decisão em cima dos Joelhos

A notícia do encerramento do Vice-Consulado de Frankfurt tem provocado ondas altas na comunidade. Parece estar a dar-se um atentado à razão e a demonstrar-se a falta duma estratégia financeira de Portugal, ao abandonar Frankfurt, o centro financeiro europeu. No passado os Postos consulares não tinham em grande conta a vertente económica. Querer acabar com Frankfurt em nome da nova política é contraditório. 

Apresento a carta aberta da Dra. Dina André aos Media como uma voz que desejaríamos não fosse mais uma voz no deserto.

Carta aberta ao Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros Paulo Portas

Com conhecimento a suas excelências: Presidente da República, Primeiro-ministro, Ministro das Finanças, Ministro da Economia e do Emprego, Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas , Secretário de Estado Adjunto e dos Assuntos Europeus

Dina Maria Batista Correia André

Friedensstr. 71 F

63071 Offenbach am Main

Tel.: 0049 69 888992,

E-mail: dina.andre@gmx.net     9 de Dezembro de 2011

 

Excelência,

 

é com “temperança, perseverança, confiança e vontade de conseguir” que uma cidadã portuguesa, residente em Offenbach am Main (estado de Hesse), está empenhada em demover o Sr. Ministro, da sua decisão de encerrar o vice-consulado de Frankfurt. Considero que é um erro colossal encerrar a representação de Portugal, numa cidade que é considerada o pólo económico da Alemanha, sendo esta a dinamizadora da economia europeia.

 

 

É com “temperança” que me atrevo a fazer-lhe as seguintes perguntas:

–              Sr. Ministro, Dr. Paulo Portas, considera que Frankfurt não é uma cidade estratégica para a promoção da internacionalização das empresas portuguesas e para a captação de capitais estrangeiros para Portugal?

 

–              Quais foram os critérios utilizados para tomar a decisão de encerramento?

 

É com “perseverança” que gostaria de elucidar o Sr. Ministro que Frankfurt é a cidade da Alemanha com o maior número de representações consulares (cinquenta Consulados Gerais, quarenta e cinco Consulados Honorários, seis Consulados e um
Vice-Consulado).

 

É com “confiança” que lhe posso assegurar que este número de representações consulares na cidade de Frankfurt não é por acaso.

Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros, Dr. Paulo Portas, como estratega político, arguto e inteligente, ao decidir encerrar o Vice-Consulado de Frankfurt, só pode ter como objetivo estratégico futuro, a reabertura de uma representação diplomática portuguesa nesta cidade, ou seja, um Consulado Geral. Só nesta perspetiva se compreende o seu novo modelo de diplomacia económica, que segundo as suas próprias palavras irá “responder com a maior eficácia a este desafio absolutamente essencial” para Portugal.

 

É com “confiança” que me atrevo a insistir na defesa de uma representação consular em Frankfurt para que esse desafio seja bem sucedido, em prol de Portugal e da diáspora portuguesa.

 

Excelência, é com “vontade de conseguir” que a decisão do Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros, Dr. Paulo Portas, seja reconsiderada, reavaliada e bem reflectida. Estamos cansados de reformas irrefletidas, “em cima do joelho”, com muito “show” e que não servem para nada.

Estamos saturados de reformas sem “visão estratégica”, feitas em nome da poupança mas que em nada a honram.

 

Sr. Ministro, Dr. Paulo Portas, seja o modelo, o exemplo e cumpra realmente o que prometeu aos Portugueses, quando estava na oposição: sirva Portugal, dignificando a diplomacia portuguesa na Europa e no Mundo, respeitando a diáspora, a cultura e a língua portuguesas.

 

Estou certa de que, assim, os Portugueses responderão, com “temperança, perseverança, confiança e vontade de conseguir” ao apelo de S. Exa. o Sr. Presidente da República, recentemente feito nos EUA.

 

Com os meus melhores e respeitosos cumprimentos,

Dina Maria Batista Correia André “

Pelos ventos que correm do MNE tem-se a impressão que Frankfurt fechará mesmo. Frankfurt morre com dignidade para, em breve, poder ressuscitar.

António da Cunha Duarte Justo

Porta-voz do Conselho Consultivo do Vice-consulado de Frankfurt

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Repensar Portugal / o Ocidente – Activar a Lusofonia

A Hora da Lusofonia está a chegar (2)

(Continuação)

António Justo

Preparar uma “ínclita geração” como impulsionadora da lusofonia.

Portugal foi a primeira nação europeia a estar completa; numa união íntima de terra-povo -cultura, exercitou, logo de início, a sua vontade na resistência à força leonina, à lança muçulmana e nas labutas com o mar. Deste esforço viu brotar no seu seio a flor da alma europeia: o saber de experiência feito; espírito este gerado durante séculos no seio das ordens e expresso no lema “ora et labora”. A doxia aliada à praxia, especialmente na ordem beneditina e dos templários (depois Ordem de Cristo),gerou Portugal e frutificou nos Descobrimentos. Hoje, quando se fala em Portugal, Brasil, Angola, etc., estão-nos subjacentes os ecossistemas sociais do grande biossistema cultural que é a Lusofonia. O Brasil poderia assumir hoje, a nível de Lusofonia, a missão que Portugal assumira em relação à Europa nos tempos da sua juventude. Outrora as cidades organizaram-se em torno das catedrais; hoje em torno das grandes culturas.

Sem esquecermos a lei orgânica e o valor dos diferentes ecossistemas sociais, é de assinalar que já não nos encontramos na fase das consolidações nacionais mas na fase dos agrupamentos regionais/culturais. À superfície a crise mostra que nos encontramos não só na fase de especulação e de desregulação dos mercados financeiros, mas sobretudo num processo de desregulação das cabeças e das nações, numa intenção de tornar civilizações e povos subservientes a interesses anónimos. Estamos em plena mudança.

Este fenómeno será difícil de ser sentido por países que, através da colonização externa, foram impedidos de realizar a colonização interna e se encontram hoje, debruçados sobre si, num estado de independências e sociedades frágeis. Este processo prolongou-se na na Europa durante 1.500 anos.

Naturalmente que hoje como ontem os países fortes impedem uma formação natural de ecossistemas sociais/nacionais, opondo-se à colonização interna em nome de interesses económicos e a pretexto hipócrita do humanismo (intervenções) como se fez directamente na Líbia e se faz de maneira discreta em todo o norte de África. O que acontece nestes países a nível político/militar realiza-se nos países surgentes a nível económico contra a ecologia e ecossistemas cada vez mais violados. Começa-se por violar a natureza, depois o pensamento e finalmente as consciências.

Também as sociedades não europeias seguirão a evolução natural de formações nacionais para “constelações postnacionais”, reunindo-se em grupos de interesses à semelhança da EU, NATO, Liga Árabe, etc. Na fase de desenvolvimento em que nos encontramos, o lugar do futuro já não se deixará circunscrever a territórios nacionais; passará das cercas nacionais para as cercas culturais de diferentes territórios. Para isso, à semelhança do que acontece no direito internacional em que direito internacional quebra direito nacional, também no caso do espaço lusófono serão necessários acordos que possibilitem a imposição dos interesses dum valor maior (o espaço lusófono) sobre o interesse privado nacional. Esta visão não parece ainda ser aceite socialmente mas corresponderá a um organigrama ideal que se imporá com o desenvolvimento do tempo e da consciência social. A sua realização pressuporá uma ideia aberta de Estado de Direito, subjugada por uma política pragmatista de factos consumados que se imporá, tal como tem acontecido com a União Europeia, através do esvaziamento imperceptível das soberanias nacionais em favor dum bem maior que é a formação, a longo prazo, duma confederação europeia. Esta missão tem sido assumida pelos tecnocratas e regentes das diferentes nações.

No caso da organização da supra-estrutura “Espaço lusófono” pressupõe-se convenções intergovernamentais altruístas e iniciativas de base com organizações e programas supranacionais. Precisa-se duma ideia a longo prazo e duma estratégia comum. Não seria inteligente, que os políticos portugueses, demasiadamente fixados em Bruxelas, perdessem de vista, aquilo que lhe deveria ser mais sagrado: o espaço lusófono e a defesa dos seus interesses mesmo à custa de interesses regionais europeus. (Seguir o exemplo duma Alemanha mais interessada em integrar no espaco da EU os seus vizinhos próximos enquanto que os mediterrânicos se preocupam pouco com os vizinhos do norte de África). Desperdiçar a força populacional e estratégica dos países da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) com 8 países e com cerca de 250 milhões de cidadãos e constitui um espaço linguístico-cultural extremamente rico e que ocupa o 5° lugar no mundo, seria miopia e um grande erro histórico, mesmo em termos comerciais. (Em vez de se defender, o espaço lusófono encontra-se à pilhagem do turbo-capitalismo internacional e de nacionalismos estrangeiros fortes. ) Depois das tribos vieram as nações e agora estamos na hora das culturas/civilizações. O meu amigo, Dr. Jorge Rodrigues, escreve no seu blog http://comunidade.sol.pt/blogs/jorgepaz/archive/2011/09/28/CPLP_3A00_-o-futuro-contr_F300_i_2D00_se-hoje_2100_.aspx :“ Se a CPLP fosse um Estado (federal ou confederal?) seria em área o 2º maior do mundo, a seguir à Rússia e com a China logo a seguir”. A lei da evolução aponta nesta direcção.

O espaço lusófono, para assumir uma missão civilizacional importante na História, à imagem do Portugal de outrora, terá de tomar consciência de si e formular um ideal comum. Só assim poderá assumir a bandeirância espiritual da civilização do século XXI, tal como Portugal fez do século XIV ao XVI.

Outrora os países europeus encontravam-se numa crise cultural achando-se divididos por guerras militares e religiosas; hoje, a União Europeia, numa crise cultural também, encontra-se de cabeça amarrada pela crise económico-financeira e demasiadamente preocupada consigo mesma, esgotando-se, desorientada, em guerras financeiras.

Por outro lado paira no ar um desejo de mudança, sente-se a ânsia duma nova maneira de ser e de estar no mundo: no sentido duma vivência mais intuitiva e integral, no sentido duma ortopraxia mística. O espaço lusófono muito rico em ecossistemas biológicos e culturais reúne os melhores pressupostos para dar expressão ao novo sentir e “dar novos mundos ao mundo”. Para isso urge o cultivo duma visão, duma vontade e dum ideário comum, embalados no berço da lusofonia que é o conjunto de identidades culturais, ligadas pela língua que vai de Portugal ao Brasil, do Brasil a Angola, a Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Macau, São Tomé e Príncipe, Timor e às diversas comunidades de língua portuguesa espalhadas pelo mundo.

Portugal, se quer ganhar rosto na Europa, terá de se redescobrir luso com o seu típico espírito humanista e universalista aprendido nos bancos godos e católicos da nação nascente e depois alargado no contacto com os diversos povos do mundo. Não se trata de sermos portugueses, religiosos ou ateus, trata-se de nos encontrarmos com a nossa alma universal em todo o lugar presente num processo metamórfico sob as cores do biótopo natural. A nação, e depois o espaço postnacional lusófono, além dum ideal, precisa duma missão histórica a cumprir, uma metafísica que lhe dê projecção e sentido. No espaço lusófono tornar-se-á óbvio conhecer e espalhar nas escolas e nos meios de comunicação o saber sobre escritores e pessoas que reúnem em si a consciência e a memória do seu povo, numa dinâmica de intercâmbio e de fomento da consciência do nós, do saber-nos “irmãos” brasileiros, irmãos moçambicanos, etc.

(continua)

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo, Pedagogo e Jornalista

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Cimeira de Bruxelas – A EU e o Euro sairão fortificados

Cimeira de Bruxelas começa hoje  em Pulgas

 

Merkel não se encontra muito preocupada com o estilo político e por isso já deixou perceber que esta cimeira não se poderá limitar a troca de meras simpatias descomprometidas. Prevêem-se rajadas fortes para a cimeira esperando-se conceitos muito concretos, porque se não os houver o tempo depois dela revelar-se-á muito tempestuoso para todos. O epicentro será a Alemanha e Franca. São os dois que determinam o estado do tempo na EU. A experiência, de terem sido arrastados por Atenas e afins, mais os empertiga agora a eles. Merkel no seu egoísmo suave quer acabar com os puros egoísmos nacionais. Não será fácil atendendo ao facto dos ingleses só verem a sua perspectiva e a dos americanos e muitos outros já sentirem a água nas orelhas. Trata-se nesta cimeira de salvar a zona euro e impedir a bancarrota de alguns Estados. Um empreendimento difícil. Para isso os chefes de governo teriam de se transformar num governo económico que impõem nos seus países o que determinam juntos. Os Estados, que, de facto, já se tornaram sombras de si mesmos, terão de delegar ainda mais poderes na EU, desmiolando ainda mais as soberanias. De facto, as nações também já não têm competência para resolverem, sozinhas, os seus problemas. Há problemas que são universais e que as ultrapassam e que lhes fogem.

Não chegará uma política de poupança se não forem dominados os mercados financeiros. Uma Agência Rating europeia já há muito deveria ter surgido. Para já bastaria, a nível de lei retirar os direitos que se concederam às Rating alheias, que defendem o seu monopólio e dos seus em favor do dólar contra um Euro forte que lhe mete medo pela concorrência fática que se tornará.

A crise foi provocada por grandes e pequenos. Muitos aproveitam-se dela hoje tal como antes dela se aproveitaram todos da abundância de dinheiro. É preciso fazer investimentos nos países fracos, doutro modo asfixiarão nas próprias dívidas. A providência social é a que mais sofre. Os direitos dos trabalhadores são reduzidos enquanto a especulação dos accionistas põe em perigo Estados e a economia de mercado social, que era um exemplo para os outros continentes.

Na Alemanha, governo e oposição engalinham-se cada vez mais. Na Alemanha fala-se do documento desenvolvido pelo presidente do conselho da EU (Herman Van Rompuy), pelo chefe da Comissão (José Manuel Barroso) e pelo presidente do Grupo Euro (Jean-Claude Juncker) como típico “saco de truques de Bruxelas”. Estes procuram adiar os mecanismos da crise contra a intenção forte de alemães e franceses de estruturar melhor a zona euro. Se as coisas corressem como o governo alemão quer a cimeira transformar-se-ia num conclave à semelhança da eleição papal, em que, depois de longas reuniões com vaporadas do fumo negro da crise, surgirá por fim o fumo branco e a frase do  habemus euro.

A Alemanha tem medo de ser desqualificada pelas agências Rating, caso a Europa não dê passos decisivos na solução da crise; quer salvar o Euro a todo o custo.

No meio destas turbulências os chefes de governo têm marginalizado os actores e o papel de Bruxelas. A intenção de rever os Tratados Europeus é muito controversa e penso que irrealista. A EU ir-se-à construindo, pragmaticamente, à margem do povo e da democracia; finalmente o povo aceitá-la-á. A crise ajudará a dar à luz os Estados Unidos da Europa.

António da Cunha Duarte Justo

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Bênção de Homossexuais

A Excepção faz parte da Regra

António Justo

No sentido de proteger relações duradoiras, a Igreja Evangélica de Kurhessen-Waldeck,  passou a abençoar pares de sexo igual (homossexuais). Nesta Igreja passa-se, oficialmente, a dar a bênção a pessoas homossexuais. Com a bênção, a união de parceiros recebe caracter confiável e permanente, tornando-se, ao mesmo tempo, em sinal contra a troca frequente de relações ad hoc. O sínodo evangélico deste Estado reformou também a lei do serviço paroquial para párocos, abrindo assim as portas a párocos homossexuais. 80% dos sinodais aprovaram o texto e os restantes 20% votaram contra ou abstiveram-se.

 

Apenas um problema de luta entre maiorias e minorias? Uns advogam a leitura acrítica de textos bíblicos, outros, o humanismo e o progresso.

 

Para uns estas medidas significam um afastamento da instituição da tradição bíblica sacrificada ao espírito do tempo. Para eles a Igreja nunca poderá aprovar uma prática “contra-natura” e fechada à vida. Por outro lado a Igreja faz casamentos de pessoas em idade fora do ciclo da reprodução.

 

 Alguns argumentam que a Igreja só condena a homossexualidade mas que tem compreensão e caridade pelos homossexuais. Assim, colocam os homossexuais numa situação de coitadinhos. Se se aceita os homossexuais mas não se aceita que eles pratiquem a sua homossexualidade, significaria que teriam de ser celibatários e de renunciar ao amor íntimo (parceria amorosa). Para um homossexual, porém, a sua maneira de amar é sentida como natural e para cumprir o preceito teria de viver contra a sua natureza.

 

A questão torna-se mais difícil num tempo em que há frentes muito duras escondendo-se, por trás de movimentos homossexuais organizados globalmente, grandes forças de agressão contra a Igreja Católica.

 

Há homossexuais que vivem em contínuo conflito escondendo a própria homossexualidade perante a sociedade e perante a Igreja. Isto leva homossexuais crentes a viver com o problema ou a afastarem-se da Igreja. Muitos homossexuais têm uma tendência especial para a religiosidade, dado viverem em si, de maneira especial, uma parte da feminidade. Os homossexuais católicos são obrigados a ter uma perturbação na sua relação com a Igreja instituição.

 

Segundo C.G.Jung, cada pessoa tem em si potencialidades masculinas e potencialidades femininas com correspondentes tendências homossexuais escondidas e não vividas, o que torna o combate de uns e de outros mais aferrado.

 

A bênção é também uma consequência da misericórdia divina a ter em conta na pastoral. Irmana-nos a todos a luz e a treva. O que de um lado parece luz revela-se do outro lado treva e vice-versa.

 

Sob o ponto de vista pastoral deveria, cada comunidade, cada pároco poder decidir, a partir da situação concreta, a possibilidade da bênção. Todos precisamos do amor de Deus e duma comunidade. O cristão e o não cristão não devem julgar uma outra pessoa pelo facto de ela ser homo ou heterossexual. “Por que olhas o cisco no olho de teu irmão e não enxergas a trave que há no teu? …Não julgueis e não sereis julgados” – dizia o Mestre.

 

Seria óbvio aceitar a realidade de que, muitas vezes,  o homossexual, com a sua inclinação natural, tal como o heterossexual, se encontra e vive em harmonia consigo e com o mundo. Porque criar desarmonia onde ela não está? Na natura tal como na cultura há regras e excepções a elas. Porque não aceitar concretamente a regra de que não há regra sem excepção? A tarefa da Igreja não se pode esgotar no seu aspecto didáctico-pedagógico. A pastoral, no encontro das pessoas, no terreno, não se pode esvaziar na defesa da ortodoxia mas sim integrá-la numa orto-praxia. Moral não é nenhuma mordaça, é apenas um capítulo do grande livro do cristianismo.

 

Deus criou o mundo, Deus criou homossexuais e heterossexuais e verificou que tudo era bom. Só assim poderemos viver e celebrar a paz. Só assim nos encontraremos todos em casa.

 

A característica comum a todo o humano é a fragilidade, são as faltas a todos comuns. No momento em que as não tivéssemos deixaríamos de ser humanos, de sermos reais. Somos peregrinos num mundo peregrino, não vale a pena sobrecarregar a mochila que cada um traz ou a dos outros com pesos que impedem o caminhar em conjunto. Quem me legitima a limitar Deus e a moral à sebe do meu pensamento se ainda não descobri sequer quem sou eu? Porque não meditar e verificar que aquilo que combatemos fora de nós (no outro) é o que temos dentro de nós? O combate distrai-nos de nós mesmos (da nossa ipseidade), impede-nos de nos descobrir no outro e de acariciar o outro em nós. Isto não é cristão

 

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo católico

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