25 DE NOVEMBRO – A PEQUENA CORREÇÃO AO 25 DE ABRIL

A narrativa do 25 de Abril tem sido, intencionalmente, uma história não só mal contada, mas sobretudo adulterada e por isso também não tem havido interesse em tematizar os motivos que provocaram o 25 de novembro. É óbvio que uma tal discussão poderia levar o povo a pôr-se questões que comprometeriam muitos dos actores do poder e poderia conduzir ao descompromisso de muitos dos propagandistas partidários.

A sociedade portuguesa com o 25 de abril passou a ser controlada pela esquerda, vivendo no equívoco de que o pensar transmitido pelos órgãos de informação corresponde à normalidade do pensar e não a uma realidade manipulada transmitida. Passou-se a valorizar o progressismo marxista e a desdenhar de valores conservadores e assim a viver numa sociedade com dois pesos e duas medidas com peso dominante à esquerda.

Apesar de ter grandes intelectuais, a sociedade portuguesa não teve a oportunidade de assistir a um discurso controverso e equilibrado de valores de esquerda e de valores da direita conservadora, ficando assim condicionada ao pensar esquerdista. Na ribalta televisiva têm figurado sobretudo os acólitos de um Abril do sol vermelho e protagonistas das coordenadas de um Estado cativo. Como resultado temos uma mentalidade popular que não anda longe do pensamento único.

Atualmente assiste-se a contrarreações políticas o que é muito natural e saudável numa sociedade que foi sistematicamente desinformada e na consequência deturpada.

O 25 de Novembro veio corrigir um pouco a direção da história portuguesa, mas as instituições políticas e a generalidade dos órgãos estatais continuaram a manter o objetivo mencionado no prólogo da Constituição Portuguesa, cuja finalidade é fazer de Portugal uma sociedade totalitária socialista.

O seguidismo que justamente se condena no regime de Salazar continua a ser o mesmo no novo regime político; só mudou de cor! É o vírus do “Maria vai com as outras” e que os poderosos da globalização hoje mais que nunca propagam sistematicamente de cima para baixo.

A propósito da História mal contada:

https://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2010/04/revolu%C3%A7%C3%A3o-do-25-de-abril-uma-hist%C3%B3ria-mal-contada.html

Documentação: https://www.facebook.com/cristina.miranda.505/videos/1760237748120274

Cotextualização: https://www.youtube.com/watch?v=UxmQdJj71WE

Torna-se fatídico o destino das populações ao serem induzidas e condicionadas a seguir o pensar ditado pelos sedutores do poder.

A política vive da tensão natural entre esquerda e direita (algo progressista e algo conservadora) para a cristalização do bem de ambos os lados. Só uma tensão possibilitadora de uma relação benévola entre os dois polos pode dar resposta ao desafio da mudança de maneira a servir convenientemente o bem-comum.

 

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

 

A DIREITA NACIONAL E SOCIAL GANHOU AS ELEIÇÕES NA ÁUSTRIA

Os eleitores europeus manifestam o seu descontentamento e até repúdio com o atuar dos seus governantes, como se tem verificado também na Alemanha e agora na Áustria, castigando os tradicionais partidos do arco do poder.

O partido FPÖ (Partido da Liberdade) acaba de vencer as eleições legislativas (29.09.2024)  na Áustria com 29,2% dos votos; os conservadores (ÖVP) conseguiram o segundo lugar com 26,5%; por sua vez,  o partido dos sociais-democratas do centro-esquerda ficaram em terceiro lugar, com 21% dos votos.

O FPÖ, tal como o AFD na Alemanha, o CHEGA em Portugal, o Rassemblement National na França, o Primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán e outros, é conservador e critica a política de imigração da EU, o centralismo das “elites” em Bruxelas, o bloqueio económico e a intromissão da NATO e da UE na guerra da Ucrânia.

O Establishment, hipocritamente, fala do contínuo avanço da ultradireita na Europa reprimindo a realidade ao não falar que o avanço dela se deve à má governação (pelos vistos incorrigível) na União Europeia que também tem seguido partes perigosas da agenda 2030 no sentido de desumanizar as relações dos cidadãos e das empresas para mais facilmente se estabelecer um dirigismo político global e a subordinação do dia-a-dia a empresas globais.

Partidos do arco do  poder, em vez de mudarem de rumo, limitam-se a propagandas  de desacredito da extrema-direita evitando a discussão objectiva dos assuntos críticos que esta apresenta; deste modo, os rivais do poder estabelecido se vão  transformando no centro-direita da Europa;  vão conseguindo a maioria porque as populações se sentem obrigadas a tornarem-se mais críticas em relação ao um sistema político de elites que se sentem mais comprometidas com agendas globais do que com a defesa dos interesses do cidadão e do país; povos e estados encontram-se cada vez mais entregues a grupos e organizações globais sob o manto da ONU.

Surgem assim grupos contestatários que atemorizam os poderes instalados que arrogantemente seguem um curso devastador contra a pessoa humana e contra as comunidades.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

UCRÂNIA FOMENTA CISMA ORTODOXO AO PROIBIR A IGREJA ORTODOXA RUSSA (IOU-PM) NO PAÍS

Maldades da Guerra e dos Belicosos

Na Ucrânia a Ortodoxia cristã encontra-se atualmente dividida entre a Igreja Ortodoxa Ucraniana autónoma (IOU-PM) sob a jurisdição do Patriarcado de Moscovo e a Igreja Ortodoxa Ucraniana autónoma (IOU) sob a jurisdição do patriarca de Constantinopla. Apesar de deserções, a IOU-PM ainda conta com cerca de 10.000 a 12.000 paróquias (cerca de 68% de todas as comunidades cristãs ortodoxas do país). Tem uma forte presença sobretudo em regiões do Leste e do Sul da Ucrânia. Por sua vez a IOU contava em 2023 com aproximadamente 7.000 a 8.000 paróquias.

O presidente Volodímir Zelenski que advoga uma «independência espiritual» total, para a Ucrânia, viu a sua vontade confirmada em lei pelo parlamento ucraniano que aprovou a proibição da Igreja Ortodoxa ligada ao Patriarcado de Moscovo (IOU-PM). A lei (de 21/08/2024) que proíbe atividades à IOU-PM contou com o voto de 265 dos 450 deputados do parlamento (39 a mais do que o mínimo necessário). As comunidades terão nove meses para romper com o Patriarcado de Moscovo da Igreja Ortodoxa da Rússia. Temos também a nível de religião o povo ucraniano dividido entre si.

O patriarcado de Moscovo reagiu afirmando que “a proibição visa expandir a perseguição do regime de Kiev à Igreja Ortodoxa Ucraniana e a clara violação dos direitos humanos internacionalmente reconhecidos no domínio da liberdade religiosa”.

Também o Conselho Ucraniano das Igrejas e Comunidades Religiosas da Ucrânia reflecte a nível eclesiástico o nacionalismo do regime ucraniano ao apoiar a proibição da Igreja Ortodoxa russa (UOK), que é acusada de se ter tornado “cúmplice dos crimes sangrentos dos invasores russos contra a humanidade”, de santificar as armas de destruição maciça e de apoiar a destruição do Estado, da cultura e da identidade ucranianos (1).

As duas igrejas são expressão e testemunho da divisão do povo ucraniano que devido aos interesses geopolíticos rivais entre a Rússia e os EUA-EU-NATO viu perturbado o seu crescimento orgânico e natural na qualidade de povo ucraniano quer como Estado unitário quer como Estado federal.

Segundo a InfoCatólica “A ilegalização dos ortodoxos leais a Moscovo, que são a maioria dos ortodoxos ucranianos, poderia aprofundar o cisma ortodoxo ao ponto de o tornar praticamente irreversível. Seria o maior cisma no seio das Igrejas Ortodoxas desde a sua rutura com Roma (2).”

A Igreja Ortodoxa da Ucrânia (IOU) foi reconhecida como autocéfala pelo Patriarcado Ecuménico de Constantinopla em 2019, deixando de pertencer à jurisdição de Moscovo para passar à de Constantinopla (3). Deste modo se rompeu com séculos de união e supremacia do Patriarcado de Moscovo sobre o cristianismo ortodoxo na Ucrânia. Tudo isto acontece à margem dos ucranianos ortodoxos praticantes que querem manter-se fiéis à religião ortodoxa tradicional (ligada ou não ao Patriarcado de Moscovo). O sentimento anti russo fortaleceu o desejo de uma igreja nacional independente, especialmente após o conflito entre Rússia e Ucrânia. Nem todas as igrejas ortodoxas ao redor do mundo reconhecem a IOU. A Igreja Ortodoxa Ucraniana não canónica – Patriarcado de Kiev (IOU-PK), fundiu-se com a IOU. Desde a sua criação em 2018, a IOU tem-se afirmado como igreja ortodoxa nacional (patriótica), especialmente nas áreas mais anti Rússia. Muitos ucranianos que anteriormente pertenciam à IOU-PM passarem para a IOU por razões nacionalistas e de identidade nacional.

As relações entre as duas principais igrejas ortodoxas na Ucrânia são tensas devido a questões de identidade nacional e de geopolítica.

A Igreja Ortodoxa Ucraniana autónoma (IOU-PM) sob a jurisdição do Patriarcado de Moscovo tinha ficado ligada a Moscovo mesmo após a independência política da Ucrânia. A IOU-PM tem perdido influência, paróquias e fiéis, especialmente em regiões mais ocidentais e centrais da Ucrânia, onde o sentimento anti-Rússia é mais forte.

A lei ucraniana instrumentaliza a religião pois a proibição da (IOU-PM), corresponde, de facto, a uma nacionalização da espiritualidade e ao mesmo tempo a um ataque à existência da minoria russa da Ucrânia e ao povo ucraniano que em geral quer continuar sob a jurisdição do patriarcado de Moscovo. É um caso verdadeiramente embaraçoso e fatídico para todas as partes, o facto de a religião estar a ser mais uma vez a fazer parte de uma guerra na Europa (4).

Na Ucrânia, políticos nacionais e internacionais agem de forma sorrateira e enganadora do seu próprio povo e da comunidade europeia.

Como se constata a guerra, de um lado e do outro, só conhece o poder e a violência como maneira de afirmar os próprios interesses. Por isso é característica de todo o poder político marginalizar toda a instituição que lhe faça sombra porque só um povo abandonado a si mesmo – sem instituições de interesse e de defesa – pode ser totalmente manipulado pelos interesses organizados no sistema.

 

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do tempo

 

(1) Temos assim a versão eclesiástica do nacionalismo ucraniano, irracional e totalitário.

(2)  https://www.infocatolica.com/?t=noticia&cod=50200&utm_medium=email&utm_source=boletin&utm_campaign=bltn240819

(3) O Santo Sínodo presidido pelo Patriarca Bartolomeu I decidiu “revogar o vínculo jurídico da Carta Sinodal do ano de 1686, escrita em função das circunstâncias da época”, que concedeu “o direito ao patriarca de Moscou de ordenar o metropolita de Kiev”, “proclamando e afirmando a sua dependência canônica da Igreja Mãe de Constantinopla”.

(4) O sistema político ucraniano reprime sistematicamente a minoria russa na Ucrânia; primeiro, proibindo jornais em russo, partidos pro-rússia, depois criando uma Igreja Ortodoxa nacional e agora, por lei, proíbe a Igreja Ortodoxa (UOK) que está sob o Patriarcado de Moscovo.

 

Ucrânia entre imperialismo russo e ocidental : https://www.triplov.com/letras/Antonio-Justo/2014/ucrania.htm

Até a Arte se torna Vítima da Política: https://triplov.com/ate-a-arte-se-torna-vitima-da-politica/

Relações Igreja-Estado na Rússia: https://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2022/05/rela%C3%A7%C3%B5es-igreja-estado-na-r%C3%BAssia.html

SAUDADE

SAUDADE DE SER

Hoje sou ontem, sou o dia de amanhã,

Nos olhos carrego imagens que se vão,

Vivo a dor de um começo sem fim,

Como rio que corre, sem mar na visão.

 

Sou filho de mãe, de pais que são filhos,

A surgir no estar, sem nunca ser,

Uma nuvem perdida nos mares tranquilos,

Retalhos de vida, sem ter o que ter.

 

Que resta do mar, senão o bramir

Do braço na espuma, que não quer partir?

O destino de existir num ser sem cessar,

É dor de saudade, de ser sem chegar.

 

Sombra que busca a luz, sem razão,

No mistério do ser, no engano da visão.

Palmilha do eterno, que sou afinal,

Uma nesga de vida, à procura de alvará?

 

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

A PALAVRA/VERBO E OS SEUS COMPLEMENOS

“No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus… e ela se fez Carne.”

Deus começou por falar fora do tempo; um “tempo” divino em que a Palavra era um processo em potencial, capaz de ganhar forma, mas ainda não formatada; um estado em que ser e existência não se diferenciavam no devir latente. O ser e a existência coexistiam, indissociáveis, no kairós do tempo sem tempo. Para que o ser se tornasse existência, era necessário moldá-lo em espaço e tempo. Foi nesse surgimento que a Palavra encontrou o seu eco no espaço e no tempo.

A palavra de Deus começou a ressoar na natureza, na voz do homem e dos povos, nas várias línguas e biótopos da natureza e da cultura. Foi então que o eco de Deus se tornou existência, e a existência tornou-se o Eco de Deus.

O som da linguagem está na origem de todo o devir. No entanto, o devir só se completa quando o som retorna à Palavra que o gerou. Em todo o humano e em todo o universo, ouve-se e sente-se o eco da Palavra divina original, em constante expansão. Diante de tão grandioso Eco, a alma humana procurou resolver o hiato entre a palavra e o eco, entre o Criador e a criação, encontrando-o no modelo e padrão da realidade humana e cósmica: Jesus Cristo (a Palavra encarnada e a carne tornada Palavra).

A linguagem humana, como elemento de ligação e diferenciação, contém em si a energia primordial do caos, que, através da afirmação da contradição, tenta dar forma à Palavra, recorrendo à analogia numa tentativa de compreender o enigmático.

O destino fatídico da humanidade parece ainda não ter percebido que o eco da Palavra se manifesta de maneiras diferentes, assumindo, em cada ser, lugar e tempo, um som distinto. Esse som (eco divino) expressa-se na frequência do coração, do intelecto, da ciência, da religião, da política e de cada indivíduo, como uma ressonância única de um mesmo som. O trágico da questão é que cada eco se confunde, tomando-se por Palavra, em vez de reconhecer que é apenas uma ressonância da frequência de uma realidade que nos ultrapassa.

Encanta-me sentir a ressonância de um som brilhante ao amanhecer e sombrio ao anoitecer! Para mim, tanto a nível pessoal quanto alegoricamente para toda a humanidade, acredito que a fórmula de toda a realidade, tanto no nível da Palavra (o espírito) quanto no nível do Eco (a criação), é Jesus Cristo.

Em Jesus Cristo, o ser e a existência, o espírito e a matéria, reúnem-se. O eco que lhe dá forma é o amor, aquele paráclito que possibilita unir o conteúdo à forma, o criado ao não-criado, superando assim a dualidade que a condição humana e nossa linguagem expressam. De outro modo, continuaremos todos a viver sob a sombra dos escombros da Torre de Babel.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

Ver versão poética em http://poesiajusto.blogspot.com/