As Multinacionais do Capital – O novo Cavalo de Tróia


Nações Reféns do Sistema Polvo dos Dinossauros das Finanças

António Justo

O cavalo troiano, enquanto os cidadãos dormem, vai-se inserido dentro das muralhas das nações. Os mercenários ganham terreno de dia para dia. Protege-os a lei da guerra: a lei do mais forte. Em consequência da crise, os estados estão a efectuar a privatização da sua prata da casa que é comprada por multinacionais a caminho do monopólio. Em vez de se tentar democratizar a economia assistimos ao processo inverso de alienação do poder nos dinossauros (Dinos) da economia.

Por outro lado deparamos diariamente nos Media com uma realidade encenada, em que a opinião publicada aponta para um alvo mas a Realidade acontece em outros lugares. Os “dinos” globais querem um mundo unipolar (americano) pelo que apostam todas as suas cartadas no impedimento do surgir de contrapolos.

De momento todo o mundo se preocupa com o Euro quando se deveria preocupar com o Dólar. Uma tempestade num copo de água, pelo facto de a EU ser forte embora enfraquecida pela praga dos especuladores mundiais e de egoísmos nacionais.

Uma das razões da intervenção dos USA no Iraque terá sido o facto de Sadam Hussain ter tornado pública a ideia de assumir o Euro como moeda mundial de referência em substituição do petrodólar.

Actualmente, a União Europeia (EU) tem um défice orçamentário de 4% e os USA de 10%. A quota de desemprego em 2011 na EU é de 7,5%, a dos USA é de 9%. A dívida pública da EU é de 88% do PIB e a dos USA é de 100% do PIB. Os USA encontram-se mais endividados que Portugal.

Americanização da Europa e do Mundo

Não é de admirar que os USA façam tudo por tudo por impedir que o Euro se torne forte e concorra como Dólar na qualidade de moeda mundial de reserva. Isso revelar-se-ia catastrófico para os USA. Também por isso o horrendo capital mundial, nas mãos de poucos, usa as agências de rating como lança avançada para defesa dos seus interesses económicos, equacionados nos dos USA. As agências de rating tornaram-se num órgão de controlo económico-político-social para defesa das multinacionais do capital e num instrumento contra a emancipação que surge da base. Têm a vantagem de possuírem conhecimento interno de que podem abusar. (Curioso é o facto dos países da EU terem uma cláusula legal pela qual aceitam as análises das agências rating como critério de avaliação do estado das economias). Também o modelo duma Europa forte, apesar da sua componente social, não convinha; daí tornar-se óbvia a guerra internacional contra o Euro. Uma Europa forte e social poderia tornar-se num “mau exemplo” de justiça social, para outros continentes, o que perturbaria a oligarquia do dinheiro, para quem ideias sociais e humanistas constituem um estorvo num processo de americanização do mundo.

 Na Europa é cada vez mais evidente a guerra das multinacionais financeiras contra o trabalhador, contra a democracia e contra os Estados. Quer-se a socialização da pobreza a todo o custo e a globalização da miséria. Os vencimentos dos cargos de cimeira (sector Bancos, Energia e multinacionais) dos países pobres foram propriamente igualados aos dos países ricos (medida fomentadora do espírito mercenário e de traidores dos interesses regionais) e ao mesmo tempo assiste-se, na base da pirâmide social, a um processo de igualização dos ordenados pelos dos países mais pobres. Já se chega ao extremo de se encontrarem pessoas a trabalhar na gastronomia ganhando 5 Euros à hora na Alemanha e 3 euros em Portugal. Querem o lucro à custa da honra e da miséria. O colonialismo e a exploração passaram a não ter rosto, tornaram-se anónimos e por isso irresponsabilizáveis.

A globalização está-se a revelar como destruidora de Estados e contra os progressos adquiridos na Europa. Assistimos, laboral, cultural, democrática e socialmente, a um retrocesso. O ensino também é proletarizado nas escolas e nas universidades especializa-se de modo a um técnico ser dependente da máquina que serve. (Pensar faz doer e quem pensa tem poder, daí limitar o saber…). Os estados controlam cada vez mais descaradamente o cidadão, com uma administração centralista, em nome dum terrorismo latente. O próprio parlamento europeu encontra-se marginalizado pelo activismo dos chefes de governo puxados pela trela das dívidas e dos juros usurários do imperialismo do capital e pelos seus boys nas instituições de poder mundial. Os Bancos e as Bolsas com as suas agências de rating passaram a fiscalizar os Estados, invertendo-se assim os termos. Os mercados financeiros, não são regulados, os seus donos consideram o mundo como um casino, onde o seu lucro se adquire à custa do azar dos outros. Estamos numa situação em que o capital anónimo se tornou num polvo monstro que suga o espírito e o corpo das nações. Só se criam instrumentos de controlo em favor do capital como a troika, faltam projectos de fomento de crescimento. As medidas, a nível económico, em curso apenas dão continuidade, por outras vias, às antigas guerras europeias entre o centro e a periferia. Onde a inteligência não chega domina a esperteza.

Com a queda do muro de Berlim e das ditaduras de Leste a política ajoelhou. Não foi capaz de se organizar e antecipar aos “dinos” das finanças que se tornaram numa supra-estrutura global com mais poder que as políticas nacionais. Eles escondem-se à sombra de organizações como o Banco Mundial, FMI, OMC, etc.

Os juros usurários são uma forma de violência estrutural sustentada. A OMC (com 147 Estados) pretende a liberalização total e assim legitimar o poder dos mais fortes. Estes são formados pelo escol encoberto das nações. Criam a liberdade para o capital e cercas para os emigrantes.

Cavalo de Tróia já dentro das Muralhas da EU

Tróia era uma cidade mitológica bem organizada e rica da antiguidade. Os gregos, seus vizinhos, que eram muito fortes e ambiciosos, ansiavam pelos seus bens. Mas as muralhas de Tróia eram muito altas. Um dia aproximaram-se para a assaltarem. Perante a longa resistência troiana pensaram numa artimanha: construir um grande cavalo de madeira, deixá-lo junto às muralhas com alguns mercenários lá dentro e fingir deixar o cerco da cidade. Os troianos, admirados, pela retirada do exército grego mais se admiraram ainda com o grande cavalo de madeira deixado pelo inimigo junto às muralhas; os troianos pensando que este era um sinal de rendição dos gregos, fizeram rodar o cavalo para o interior das muralhas, muito embora sob os protestos dum velho sacerdote. Pela calada da noite, quando os troianos dormiam, os mercenários gregos saíram do ventre do cavalo, abriram as portas da cidade; então os soldados gregos entraram vencendo e escravizando os troianos.

Na Europa dos anos 60-80 viviam também vários povos em paz empenhados na construção duma democracia cada vez mais humana; viviam sem muralhas e tinham uma rede social que amparava os mais fracos num espírito de subsidiariedade. Aqui, praticamente todos tinham trabalho com férias satisfatórias, assistência social e possibilidade para viajarem pelo mundo. Tornaram-se tão fortes que até conseguiram despertar a inveja dos países socialistas vizinhos e do capitalismo de cunho americano. Entretanto a União Soviética caiu e a Europa fomentou a construção do seu burgo. O Mamom Dólar gerou um filho ilegítimo, o Mamom Euro. Desde aí não há paz no Olimpo

As aves de rapina internacionais começaram a sitiar cada vez mais o burgo europeu. Entraram no seu espaço através dos Bancos e de multinacionais onde abrigam os mercenários nacionais.

Os moradores do burgo entraram em pânico e os países encontram-se agora em situação de medo; vendem, ao desbarato, a prata da casa, que tinham amealhado durante dois mil anos. O medo tolhe as pessoas não deixando que aqueçam o ânimo na fogueira da esperança. Por todo o lado se fazem sentir os ventos gélidos da injustiça e o alto gralhar dos dinos num horizonte encoberto.

O medo não deixa filhos, mata a esperança. Ele é o chicote enrabado de liberdade na mão dos poderosos. Por isso os donos invisíveis da sociedade espalham o medo (estratégia do amedrontamento) que tolhe e leva a pessoa a fugir (a regredir) e a abandonar os direitos sociais e cívicos adquiridos.

A Estratégia do Cavalo de Tróia serve-se de mercenários

O dinheiro não tem alma, nem família, estado nem nação; tem apenas escravos. Chama-se Mamom e alimenta-se da despersonalização, servindo-se dos seus sacerdotes que o cultuam nos santuários das bolsas-bancos e em suas capelanias multinacionais.

Os oportunistas, na sua estratégia de marginalização sistemática da sociedade, atacam a classe média e não só destroem os contractos de trabalho dos trabalhadores, como até querem apagar neles a ânsia de justiça. Numa sociedade em que os modelos são corruptos já pouco faltará para corromper… Os “dinos” roubam e as estrelas despem-se da moral.

Culpabiliza-se o mais fraco pela sua situação apelidando-o de menos inteligente. O neoliberalismo é anti solidário e anti-humano. Não conhece pessoas só lucro usando como laçada o eufemismo da globalização. Os donos do mundo mercantilizam a pessoa, tudo em termos de lucro e de mercadoria no mercado livre. Ao substituírem Deus pelo Mamom, mataram a pessoa em nome do indivíduo. O próximo passo é destruir as nações em nome da globalização.

 

Os políticos deixaram-se comprar atraiçoando a ideia europeia e o humanismo universal, procurando postos nas multinacionais (mercenários comprados a troco de ordenados horrendos, tornam-se traidores dos seus biótopos sociais); os trabalhadores, por sua vez, sentem-se açamados pelo medo de perderem o que têm; para não perderem o emprego cedem os direitos adquiridos. A pobreza e as bancarrotas são socializadas em favor dos ricos. Os novos demónios não conhecem a dignidade. A dignidade já não é símbolo de autoridade. Os imperativos morais são sistematicamente destruídos. Trabalha-se, a longo prazo, para a sustentabilidade da miséria espiritual e física.

 

Nalguns sectores desprotegidos, onde a moral ainda vai à igreja, já começa a valer mais pedir ou roubar do que trabalhar. A juventude manifesta-se medrosa e conformada com uma sociedade uniforme, tipo quartel em que a diferença se nota apenas na farda da música que se consome e no mercado colorido de opiniões em saldo. Tem sido educada para um realismo factual inculcado pelas forças anónimas vigentes contra a inovação e contra a mudança. Inovação quer-se apenas tecnológica, não humana, nem social.

Também o imperativo moral e as constituições das nações perdem a sua validade. Em questões de direitos humanos reserva-se, para os grandes, o direito de veto. O pensamento individual é substituído pelas fábricas de pensamento. Tudo, cada vez mais, na mão dos formadores da opinião anónima ao serviço dos “dinos”; tudo na mão de sociedades de irresponsabilidade ilimitada.

No momento de mudança em que nos encontramos, as camadas lúcidas das sociedades deveriam exigir que a democracia directa e o princípio da regionalização fossem introduzidas nas Constituições dos países como objectivo importante a atingir. Só assim se poderia impedir o fenómeno de destruição dos biótopos e ecossistemas naturais, individuais, sociais e culturais, em via.

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

www.antonio-justo.eu

Carta aberta ao Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros Paulo Portas


Contra o Encerramento do Posto Consular de Frankfurt – A Decisão em cima dos Joelhos

A notícia do encerramento do Vice-Consulado de Frankfurt tem provocado ondas altas na comunidade. Parece estar a dar-se um atentado à razão e a demonstrar-se a falta duma estratégia financeira de Portugal, ao abandonar Frankfurt, o centro financeiro europeu. No passado os Postos consulares não tinham em grande conta a vertente económica. Querer acabar com Frankfurt em nome da nova política é contraditório. 

Apresento a carta aberta da Dra. Dina André aos Media como uma voz que desejaríamos não fosse mais uma voz no deserto.

Carta aberta ao Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros Paulo Portas

Com conhecimento a suas excelências: Presidente da República, Primeiro-ministro, Ministro das Finanças, Ministro da Economia e do Emprego, Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas , Secretário de Estado Adjunto e dos Assuntos Europeus

Dina Maria Batista Correia André

Friedensstr. 71 F

63071 Offenbach am Main

Tel.: 0049 69 888992,

E-mail: dina.andre@gmx.net     9 de Dezembro de 2011

 

Excelência,

 

é com “temperança, perseverança, confiança e vontade de conseguir” que uma cidadã portuguesa, residente em Offenbach am Main (estado de Hesse), está empenhada em demover o Sr. Ministro, da sua decisão de encerrar o vice-consulado de Frankfurt. Considero que é um erro colossal encerrar a representação de Portugal, numa cidade que é considerada o pólo económico da Alemanha, sendo esta a dinamizadora da economia europeia.

 

 

É com “temperança” que me atrevo a fazer-lhe as seguintes perguntas:

–              Sr. Ministro, Dr. Paulo Portas, considera que Frankfurt não é uma cidade estratégica para a promoção da internacionalização das empresas portuguesas e para a captação de capitais estrangeiros para Portugal?

 

–              Quais foram os critérios utilizados para tomar a decisão de encerramento?

 

É com “perseverança” que gostaria de elucidar o Sr. Ministro que Frankfurt é a cidade da Alemanha com o maior número de representações consulares (cinquenta Consulados Gerais, quarenta e cinco Consulados Honorários, seis Consulados e um
Vice-Consulado).

 

É com “confiança” que lhe posso assegurar que este número de representações consulares na cidade de Frankfurt não é por acaso.

Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros, Dr. Paulo Portas, como estratega político, arguto e inteligente, ao decidir encerrar o Vice-Consulado de Frankfurt, só pode ter como objetivo estratégico futuro, a reabertura de uma representação diplomática portuguesa nesta cidade, ou seja, um Consulado Geral. Só nesta perspetiva se compreende o seu novo modelo de diplomacia económica, que segundo as suas próprias palavras irá “responder com a maior eficácia a este desafio absolutamente essencial” para Portugal.

 

É com “confiança” que me atrevo a insistir na defesa de uma representação consular em Frankfurt para que esse desafio seja bem sucedido, em prol de Portugal e da diáspora portuguesa.

 

Excelência, é com “vontade de conseguir” que a decisão do Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros, Dr. Paulo Portas, seja reconsiderada, reavaliada e bem reflectida. Estamos cansados de reformas irrefletidas, “em cima do joelho”, com muito “show” e que não servem para nada.

Estamos saturados de reformas sem “visão estratégica”, feitas em nome da poupança mas que em nada a honram.

 

Sr. Ministro, Dr. Paulo Portas, seja o modelo, o exemplo e cumpra realmente o que prometeu aos Portugueses, quando estava na oposição: sirva Portugal, dignificando a diplomacia portuguesa na Europa e no Mundo, respeitando a diáspora, a cultura e a língua portuguesas.

 

Estou certa de que, assim, os Portugueses responderão, com “temperança, perseverança, confiança e vontade de conseguir” ao apelo de S. Exa. o Sr. Presidente da República, recentemente feito nos EUA.

 

Com os meus melhores e respeitosos cumprimentos,

Dina Maria Batista Correia André “

Pelos ventos que correm do MNE tem-se a impressão que Frankfurt fechará mesmo. Frankfurt morre com dignidade para, em breve, poder ressuscitar.

António da Cunha Duarte Justo

Porta-voz do Conselho Consultivo do Vice-consulado de Frankfurt

antoniocunhajusto@googlemail.com

Repensar Portugal / o Ocidente – Activar a Lusofonia

A Hora da Lusofonia está a chegar (2)

(Continuação)

António Justo

Preparar uma “ínclita geração” como impulsionadora da lusofonia.

Portugal foi a primeira nação europeia a estar completa; numa união íntima de terra-povo -cultura, exercitou, logo de início, a sua vontade na resistência à força leonina, à lança muçulmana e nas labutas com o mar. Deste esforço viu brotar no seu seio a flor da alma europeia: o saber de experiência feito; espírito este gerado durante séculos no seio das ordens e expresso no lema “ora et labora”. A doxia aliada à praxia, especialmente na ordem beneditina e dos templários (depois Ordem de Cristo),gerou Portugal e frutificou nos Descobrimentos. Hoje, quando se fala em Portugal, Brasil, Angola, etc., estão-nos subjacentes os ecossistemas sociais do grande biossistema cultural que é a Lusofonia. O Brasil poderia assumir hoje, a nível de Lusofonia, a missão que Portugal assumira em relação à Europa nos tempos da sua juventude. Outrora as cidades organizaram-se em torno das catedrais; hoje em torno das grandes culturas.

Sem esquecermos a lei orgânica e o valor dos diferentes ecossistemas sociais, é de assinalar que já não nos encontramos na fase das consolidações nacionais mas na fase dos agrupamentos regionais/culturais. À superfície a crise mostra que nos encontramos não só na fase de especulação e de desregulação dos mercados financeiros, mas sobretudo num processo de desregulação das cabeças e das nações, numa intenção de tornar civilizações e povos subservientes a interesses anónimos. Estamos em plena mudança.

Este fenómeno será difícil de ser sentido por países que, através da colonização externa, foram impedidos de realizar a colonização interna e se encontram hoje, debruçados sobre si, num estado de independências e sociedades frágeis. Este processo prolongou-se na na Europa durante 1.500 anos.

Naturalmente que hoje como ontem os países fortes impedem uma formação natural de ecossistemas sociais/nacionais, opondo-se à colonização interna em nome de interesses económicos e a pretexto hipócrita do humanismo (intervenções) como se fez directamente na Líbia e se faz de maneira discreta em todo o norte de África. O que acontece nestes países a nível político/militar realiza-se nos países surgentes a nível económico contra a ecologia e ecossistemas cada vez mais violados. Começa-se por violar a natureza, depois o pensamento e finalmente as consciências.

Também as sociedades não europeias seguirão a evolução natural de formações nacionais para “constelações postnacionais”, reunindo-se em grupos de interesses à semelhança da EU, NATO, Liga Árabe, etc. Na fase de desenvolvimento em que nos encontramos, o lugar do futuro já não se deixará circunscrever a territórios nacionais; passará das cercas nacionais para as cercas culturais de diferentes territórios. Para isso, à semelhança do que acontece no direito internacional em que direito internacional quebra direito nacional, também no caso do espaço lusófono serão necessários acordos que possibilitem a imposição dos interesses dum valor maior (o espaço lusófono) sobre o interesse privado nacional. Esta visão não parece ainda ser aceite socialmente mas corresponderá a um organigrama ideal que se imporá com o desenvolvimento do tempo e da consciência social. A sua realização pressuporá uma ideia aberta de Estado de Direito, subjugada por uma política pragmatista de factos consumados que se imporá, tal como tem acontecido com a União Europeia, através do esvaziamento imperceptível das soberanias nacionais em favor dum bem maior que é a formação, a longo prazo, duma confederação europeia. Esta missão tem sido assumida pelos tecnocratas e regentes das diferentes nações.

No caso da organização da supra-estrutura “Espaço lusófono” pressupõe-se convenções intergovernamentais altruístas e iniciativas de base com organizações e programas supranacionais. Precisa-se duma ideia a longo prazo e duma estratégia comum. Não seria inteligente, que os políticos portugueses, demasiadamente fixados em Bruxelas, perdessem de vista, aquilo que lhe deveria ser mais sagrado: o espaço lusófono e a defesa dos seus interesses mesmo à custa de interesses regionais europeus. (Seguir o exemplo duma Alemanha mais interessada em integrar no espaco da EU os seus vizinhos próximos enquanto que os mediterrânicos se preocupam pouco com os vizinhos do norte de África). Desperdiçar a força populacional e estratégica dos países da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) com 8 países e com cerca de 250 milhões de cidadãos e constitui um espaço linguístico-cultural extremamente rico e que ocupa o 5° lugar no mundo, seria miopia e um grande erro histórico, mesmo em termos comerciais. (Em vez de se defender, o espaço lusófono encontra-se à pilhagem do turbo-capitalismo internacional e de nacionalismos estrangeiros fortes. ) Depois das tribos vieram as nações e agora estamos na hora das culturas/civilizações. O meu amigo, Dr. Jorge Rodrigues, escreve no seu blog http://comunidade.sol.pt/blogs/jorgepaz/archive/2011/09/28/CPLP_3A00_-o-futuro-contr_F300_i_2D00_se-hoje_2100_.aspx :“ Se a CPLP fosse um Estado (federal ou confederal?) seria em área o 2º maior do mundo, a seguir à Rússia e com a China logo a seguir”. A lei da evolução aponta nesta direcção.

O espaço lusófono, para assumir uma missão civilizacional importante na História, à imagem do Portugal de outrora, terá de tomar consciência de si e formular um ideal comum. Só assim poderá assumir a bandeirância espiritual da civilização do século XXI, tal como Portugal fez do século XIV ao XVI.

Outrora os países europeus encontravam-se numa crise cultural achando-se divididos por guerras militares e religiosas; hoje, a União Europeia, numa crise cultural também, encontra-se de cabeça amarrada pela crise económico-financeira e demasiadamente preocupada consigo mesma, esgotando-se, desorientada, em guerras financeiras.

Por outro lado paira no ar um desejo de mudança, sente-se a ânsia duma nova maneira de ser e de estar no mundo: no sentido duma vivência mais intuitiva e integral, no sentido duma ortopraxia mística. O espaço lusófono muito rico em ecossistemas biológicos e culturais reúne os melhores pressupostos para dar expressão ao novo sentir e “dar novos mundos ao mundo”. Para isso urge o cultivo duma visão, duma vontade e dum ideário comum, embalados no berço da lusofonia que é o conjunto de identidades culturais, ligadas pela língua que vai de Portugal ao Brasil, do Brasil a Angola, a Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Macau, São Tomé e Príncipe, Timor e às diversas comunidades de língua portuguesa espalhadas pelo mundo.

Portugal, se quer ganhar rosto na Europa, terá de se redescobrir luso com o seu típico espírito humanista e universalista aprendido nos bancos godos e católicos da nação nascente e depois alargado no contacto com os diversos povos do mundo. Não se trata de sermos portugueses, religiosos ou ateus, trata-se de nos encontrarmos com a nossa alma universal em todo o lugar presente num processo metamórfico sob as cores do biótopo natural. A nação, e depois o espaço postnacional lusófono, além dum ideal, precisa duma missão histórica a cumprir, uma metafísica que lhe dê projecção e sentido. No espaço lusófono tornar-se-á óbvio conhecer e espalhar nas escolas e nos meios de comunicação o saber sobre escritores e pessoas que reúnem em si a consciência e a memória do seu povo, numa dinâmica de intercâmbio e de fomento da consciência do nós, do saber-nos “irmãos” brasileiros, irmãos moçambicanos, etc.

(continua)

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo, Pedagogo e Jornalista

antoniocunhajusto@googlemail.com

copyright in

www.antonio-justo.eu

 

A Hora da Lusofonia está a chegar (1)

Assumir de novo a Bandeirância da Civilização Ocidental

António Justo

Como reacção ao meu artigo “Falta de Cultura da Europa face a outras Culturas mundiais – Europa Berço da Cultura jurídica da Humanidade” recebi, dum digníssimo professor duma universidade de Lisboa, o seguinte reparo: “Penso que, na apreciação dos três pilares europeus, lhe faltou a identificação de um quarto: o braço armado da projecção lusitana da Europa”. O Professor tem razão e motivou-me a reflectir sobre o assunto e a dedicar alguns textos ao tema, sob o meu ponto de vista.

Status quo da Situação ocidental

Se do encontro da fé de Israel, com a razão filosófica dos Gregos e o pensamento jurídico de Roma nasceu o grande projecto cultural europeu, o seu agir ganhou expressão, a nível global, no “peito ilustre Lusitano”.

Os descobrimentos são, certamente, o quarto pilar da cultura europeia, o pilar do saber de experiência feito que Portugal soube concretizar. Sagres resumiu o saber (doxia) europeu e tornou-se no lugar da ortopraxia. Portugal ao saber-se Europa descobriu-se mundo. Por isso onde se encontra hoje um lusófono lá pulsa a alma toda do mundo.

Conseguiu-o porque resistiu ao espírito oportuno do tempo indo-se assim “da lei da Morte libertando”, como bem descrevia Camões n’OS LUSÍADAS dos descobrimentos. O alemão R. Schneider, grande conhecedor da alma portuguesa, diz no seu livro “Camões / Philipe II”p.120 “nos Lusíadas não se trata apenas dum povo, mas sim da Humanidade”. Sim, da humanidade que actuava no Portugal de então. Camões canta a alma portuguesa (ainda inteira) que, não se deixando levar pelas lutas/modas de reforma particularistas de então, manteve a visão filosófica cristã global da humanidade, cultivada à sombra das ordens na tradição de Carlos Magno, longe dos interesses meramente individualistas.

Portugal foi outrora o primeiro a expressar e a realizar o sentir e a pujança do ser europeu tal como hoje é o primeiro a expressar a sua fraqueza. Hoje como então Portugal é o palco de pontos altos da mudança. Outrora virada para o exterior e hoje de volta, para depois da crise moral e cultural se encontrar.

A Europa medieval, aquela velha árvore que depois de ter estendido as suas raízes às diferentes civilizações até então vividas, floresceu no Renascimento. Desta florescência surgiu o ramo protestante, que começa a afirmar mais o valor do indivíduo, do eu (factor emancipador, a individuação) enquanto o catolicismo continuou a acentuar mais o valor da comunidade. Dois polos necessários, na vida social, que se encontram hoje em radical conflito. De facto, a Idade Média, que é mãe, comunidade, é nós, deu à luz o eu (individuação). Este ao tomar forma no movimento emancipatório protestante sente a necessidade de se afirmar contra a mãe. Mãe e filho afastam-se. Hoje temos uma europa de filhotes sem mãe, que se extenuam no seu cacarejar e na contemplação das próprias penas. A Europa ao combater a maternidade torna-se infecunda e assim sofre o mundo todo. Não suportamos a diferença nem a coexistência de extremos, num condicionalismo de reduzir e simplificar tudo a dimensões uniformes e rectilíneas.

O ressentimento dos deuses germânicos contra Roma, no Renascimento, deu lugar ao desejo de liberdade que se fora articulando através da Idade Média e culminou na ruptura protestante com Roma. Assim se iniciam grandes convulsões religioso-político-sociais, e surge um novo sentir da vida, uma nova ordem económica, o capitalismo. A Europa rejuvenesce e transforma-se na procura de diferenciação e emancipação. A vertente protestante culminou no iluminismo, na proclamação da constituição dos USA e depois na revolução francesa e no enfraquecimento das monarquias. Esta importante vertente do desenvolvimento da Europa afirma o eu (a individuação) recalcando o espírito comunitário, o nós. Se na Idade Média a consciência individual ainda vivia em parte sob o manto da letargia institucional (nós à custa do eu) com o movimento emancipatório que ganhou forma no protestantismo começa-se a afirmar o eu (indivíduo) à custa do nós (comunidade). (Este movimento, encontra, actualmente, o seu extremo macabro no capitalismo liberal que reduz a pessoa a ego mercantil e transforma a essência do ego numa metafísica de consumo deixando o ser humano cada vez mais só no deserto do seu egoísmo.)

Com os descobrimentos, enquanto na Europa os países se ocupavam consigo mesmos, Portugal já adulto (numa Europa ainda adolescente) assume em plenitude a mundivisão católica e burguesa, aliando-a ao desejo do novo e do “saber de experiência feito”. Portugal precoce realiza o ideário europeu que florescia então nos jardins da Lusitânia. A Europa alcança, através das viagens portuguesas (descobrimentos), um novo panorama do mundo. Este em vez de afinar os espíritos do sentir universal deu lugar à afirmação dos egoísmos nacionais e ao instinto colonizador. Em vez do sentimento do nós católico e universal temperado pelo outro polo, o protestantismo, apenas este encontra expressão na afirmação particular seja a nível estrutural seja a nível individual. A Europa afirma-se na divisão, o norte contra o sul, o politeísmo contra o monoteísmo mitigado. O mundo, à imagem da Europa, afirma-se então na divisão e no contraste em vez de integrar os polos contrários como pretendia o eclectismo complementar da alma portuguesa expresso pela ínclita geração. O despertar dos individualismos nacionais leva à afirmação do particular sobre o comum. Impõe-se a ganância à curiosidade, projecta-se a puberdade contra a maturidade. Os deuses do norte vingam-se contra os do sul. O politeísmo intelectual e político, então iniciado, tudo justifica, restabelece a mentalidade bárbara, não reconhece pai nem mãe, chega-lhe o bordel.

Chegamos a um ponto de puberdade negadora duma tradição que lhe deu o ser e que é levianamente negada por uma sua parte. Esta não está consciente de que a negação provém da acentuação exagerada do outro polo que constitui a sua afirmação, o seu ideário. Entretanto o espírito emancipatório acentuou-se de tal modo que reprimiu o aspecto comunitário, só quer machos, a feminidade/maternidade constitui obstáculo ou é sufocada pelas estruturas vigentes, demasiado masculinas. Quer-se uma sociedade sem comunidade, querem-se filhos sem mãe. O ressentimento que hoje se expressa contra instituições, especialmente contra a EU, contra a Igreja católica, é o mais visível sintoma dum individualismo exacerbado que não conhece pai. O politeísmo da opinião não suporta a procura da verdade no sentido da unidade, circula em torno de si mesmo sem conhecer o sentido linear ascendente da evolução natural, individual e cultural.

A crise actual é uma crise cultural e moral duma civilização que perdeu o seu ideário; é o resultado da acentuação do eu contra o nós, do objecto contra o sujeito. Socialismo e capitalismo sofrem do mesmo vírus epocal. Todo o mundo sofre em consequência da crise espiritual europeia que vendeu a alma ao Mamon para continuar a afirmar o seu polo individualista. O capitalismo exagerado machista foi-se afirmando à custa da comunidade até ao extremo de hoje se afirmar contra ela, não tendo escrúpulos em destruir os próprios Estados.

Os países lusófonos, em vez de assumirem a nova mudança de consciência individual e histórica deixam-se destruir, sem tecto metafísico, seguindo sem reflexão própria os novos deuses e cultos que, de maneira anónima, em nome da emancipação se afirmam contra uma comunidade que albergue todos na complementaridade. A lusofonia, para assumir a bandeirância do progresso, tal como o Portugal de outrora, terá de descobrir-se a si mesma e de consciencializar-se e assumir o tecto metafísico que dê consistência à sua acção.

Outrora, enquanto os povos da Europa combatiam pela definição de suas identidades políticas, Portugal, que já tinha encontrado a sua identidade nacional, pôde dedicar-se à tarefa original de levar ao mundo o espírito europeu. A bandeirância que fez nascer Portugal é a mesma que o torna adulto e o leva à expansão. A revolução axilar do renascimento que explode por um lado no protestantismo na procura duma individualidade que se expressa no capitalismo e no espírito cívico, afirma, por outro lado, o seu carácter global (católico – aspecto comunitário) na continuidade espiritual da escola de Sagres.

Hoje encontramo-nos numa época axiomática da História na qual a crise não é só de ordem estrutural/mental mas espiritual. Os fundamentos que deram origem à grande árvore da civilização ocidental são descurados e as suas raízes sistematicamente amputadas. Em vez de nos preocuparmos com o que deu vida a esta árvore, serramos nela o próprio ramo em que nos encontramos. Depois da insónia desta crise surgirá porém o sonho que renovará o mundo; até lá os ventos da contradição continuarão a destruir pontos altos da nossa civilização.

Ao ressentimento dos deuses germânicos, com o seu espírito capitalista, sucede-se agora o ressentimento socialista aliado à derrocada dum capitalismo liberal injusto que, como um polvo, procura abrir os seus tentáculos num globalismo aniquilador de nações. Junta-se a feiura do turbo-capitalismo à fealdade do comunismo materialista na tarefa de reduzirem as estruturas de Estado a seus veículos de ideologia trituradora da pessoa.

O mito da Europa como vaca degenera-a agora em touro de cobrição. Como um touro de olhos fechados sai do curro ocidental para dominar o mundo, destruindo a cultura que lhe deu o ser, não respeitando os ecossistemas culturais. É verdade que as “constelações postnacionais” de que fala o filósofo alemão Habermas já não podem resolver os seus problemas sozinhas pressupondo isto o abandono de individualismos nacionais e culturais mas sob o tecto metafísico civilizacional que lhes deu o ser.

Se o desejo de individuação, no renascimento, deu lugar à “monolatria” protestante, o modernismo volta ao politeísmo anterior à civilização. Deixou-se de considerar o mundo como um conjunto de ecossistemas sociais com as suas leis e ordem inerente para os transformar em biótopos individualistas em que as divindades se sobrepõem umas às outras tornando notórias as fracturas a nível ideário, estrutural e pessoal. A nível ideário e cultural assiste-se à batalha do politeísmo contra o monoteísmo. Se o conflito surgido do renascimento (dois modelos de vida sob o mesmo teto metafísico) era expressão da força dum sistema e duma vivência, a crise a que assistimos hoje revela-se decadente (sem sentido, destroem-se modelos à margem dum ideário colectivo que justifique tal actuação). O saber deu lugar à opinião fundada em castelos no ar. A nação deu lugar a estados à mercê de mercenários que em nome duma europa mal-entendida se afirmam. Estes, para se sentirem mais à vontade mandaram a cultura ocidental para rua sem qualquer guardachuva espiritual. Resultado: chuva ácida nos biótopos naturais e nos ecossistemas culturais.

O capitalismo e o socialismo, dois filhos pródigos do cristianismo, depois de terem provocado grandes buracos no ecossistema espiritual ocidental, parecem, não querer voltar à velha casa paterna onde, juntos, a poderiam renovar, engrandecer e projectar. Preferem seguir o poder da monocultura masculina islâmica e a desorientação do politeísmo oriental. Nestas, o indivíduo encontra-se indefeso, à chuva, e sem privacidade com a própria divindade. Desprotegido e desalojado dos ecossistemas sociais, fica mais disponível para o mercado e aberto a ideologias baratas e a uma oligarquia anónima mundial.

Enquanto o espírito europeu envelhece, no Brasil e nos países da lusofonia, a antiga vontade poderia erguer-se. A lusofonia surge como lugar duma nova missão no mundo. Nela se podem congregar os anseios do velho Portugal com as ânsias das novas gerações. Como parte do legado, visto da perspectiva portuguesa temos o espírito universal católico, e os escritos de Camões, de António Lopes Vieira,  de Fernando Pessoa, etc. Não chega apostar apenas em ideologias, estas passam como os ventos entre a alta e a baixa pressão, é preciso ter-se presente o eixo que tudo suporta e dá continuidade a quem conta com o futuro; para os lusófonos, este eixo é o cristianismo com a sua perspectiva mística do triálogo. A filosofia e a espiritualidade cristãs terão de, num processo de aculturação e inculturação, se tornar num verdadeiro tecto metafísico do mundo da lusofonia. Neste sentido será necessário manter o modelo católico calibrado com o espírito protestante. A bandeirância outrora assumida por Portugal na Europa espera por ser assumida e renovada por todos os países da lusofonia. A nova bandeirância já não será de carácter expansionista para o exterior mas para o interior, da quantidade para a qualidade num espírito integrativo e de complementação num processo de integração de espírito e matéria, de ecologia e tecnologia. A força em toda a natureza vem de dentro para fora muito embora seguindo o chamamento da luz; o mesmo se diga dos ecossistemas culturais e dos seus biótopos humanos. Não podemos continuar a cultivar árvores repelindo a floresta.

No passado dominou o princípio dialéctico (um sistema de pensamento redutor elaborado na contradição/dissecação) como princípio de pensamento e da realidade que se reflecte na nossa maneira de organizar a sociedade e a vida individual numa espécie de dicotomia entre indivíduo e sociedade, superior/inferior, sujeito/objecto. O novo pensar será trinitário equacionando o problema dos contrastes num triângulo circular ascendente. Numa cadeia de relações infinitas dum contínuo tornar-se, num processo espiral ascendente que transcende o espaço e o tempo na dinâmica da união que se não limita a um estado momentâneo mas se expressa na sua dinâmica relacional, numa nova Realidade que engloba o real aparente despetreficando-o para um estado fluido, para lá do momento e das amarras da definição que são o espaço e o tempo. A relação torna-se então processo pessoal e não estado, deixando de ser objectivável no todo e no particular. A Realidade desinforma-se para se consciencializar do ser in do processo in-formar. Então a relação torna-se pessoal, é tornar-se, essência relacional; o in (do in-formar antes e depois da forma numa dinâmica de pai-filho-paráclito) da a-perspectividade resolve a aparente contradição matéria-espírito, indivíduo-sociedade, eu-tu, na dimensão da vivência superadora da alternativa através do paráclito. O indivíduo passa a ser pessoa e a sociedade a ser comunidade. Nós só exercitamos a perspectiva funcional da relação e por isso petralizamo-la numa ou noutra identidade. Em Jesus cristo exclui-se a exclusão mútua de matéria e de espírito. Nele (JC) torna-se visível uma unidade dinâmica do tornar-se da petrificação (J) e do fluido (C); a relação duma com a outra possibilita-se num processo de mudança concretizado na relação pura (o paráclito). Aqui dá-se já não um progresso quantitativo (estados), negador do anterior ou afirmador do posterior, mas uma dinâmica da relação pessoal (de ipseidade) em que o outro participa do espírito comum a toda a realidade em relação. A base constante é a divindade subjacente a tudo, a todos comum, num processo universal sem funções dado a relação ser pessoal num eterno tornar-se (“eu sou o tornar-se”, dizia Deus a Moisés) para lá do acontecer. A oposição dialéctica do eu/tu, eu/objecto resolve-se na realidade trinitária dum eu-tu-nós. Passamos a não ter apenas o diálogo como o contrário do monólogo, como relaç1bo entre objectos, mas o triálogo como integrador do diálogo, do monólogo e do “objecto” num processo de sujeito-sujeito. A dialéctica passa a ser integrada como momento do processo e a não ser vista como realidade ou espelho da mesma. Isto tem como consequência uma outra forma de vida e de estar superadora duma pedagogia, duma política e duma economia meramente objectivadora.

Uma nova filosofia da vivência e de Estado pressuporá a união da filosofia com a mística, uma aplicação prática da filosofia trinitária.

A Hora da lusofonia está a chegar, precisam-se faróis por todo o espaço lusófono. Para isso terá de coadjuvar-se modernidade e tradição, maternidade e filiação, o indivíduo passar a ser pessoa e a sociedade a ser comunidade. “O espírito do mundo desce ao Brasil e abandona a América iankye. A China cairá brevemente com a sua crise demográfica e é preciso preparar a Lusa- áfrica pela mobilização do Brasil”, confessava-me o amigo. (continua)

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo, Pedagogo e Jornalista

antoniocunhajusto@googlemail.com

copyright in

www.antonio-justo.eu

Carta aberta ao Senhor Ministro Dr. Paulo Portas e aos Senhores Deputados – Frankfurt é Símbolo e Programa e o Vice-consulado de Portugal também


Frankfurt – a Capital financeira e económica da Europa – é Símbolo e Programa

 

Com conhecimento a suas excelências

O Presidente da República

O Primeiro-ministro

O Ministro das Finanças

 

Conselho Consultivo junto do Vice-Consulado de Portugal em Frankfurt

Zeppelinallee 15, 60325 Frankfurt am Main

C/o António da Cunha Duarte Justo

Porta-voz do Conselho Consultivo

Tel.: 00049 561 407783,

E-mail: a.c.justo@unitybox.de                                          2 de Dezembro de 2011

 

Excelência,

A reestruturação da Rede Consular Portuguesa levada a cabo pelo PS em 2009 foi “cega” e a reestruturação, em via, revela-se também incoerente e injusta. Frankfurt está a ser vítima de algo irracional: o governo PS despromoveu Frankfurt para Vice-consulado para promover o escritório consular de Osnabrueck a Vice-consulado e agora o governo PSD/CDS-PP quer encerrar os dois. Foi esquecido que Frankfurt – a Capital financeira e económica da Europa – é Símbolo e Programa.

 

Uma reestruturação de envergadura implicaria um novo perfil de diplomata, uma redefinição de hierarquia e de estratégia de intervenção operacional e uma delegação de poderes não tão condicionada a modelos tradicionais jurídicos anteriores à União Europeia. Um novo organigrama das instituições e uma redefinição de serviços bem como órgãos de controlo isentos exigem mais tempo para concretização. O tempo de postos feudais necessita de ser questionado para começar a fazer parte do passado. O mesmo se diga quanto às organizações de reivindicação sindical.

 

A escala de poderes e de competências, nem sempre coincidentes, pressupõe um fio condutor que concilie o ideário de Estado e a sua acção numa interligação hierárquica de serviço e eficiência com órgãos de controlo exteriores ao poder executivo.

 

A indigência em que Portugal se encontra poderá levar a uma remodelação na hora, em cima dos joelhos.

 

A desconsideração por Frankfurt será tomada como símbolo de negligência da economia portuguesa e base de desmotivação para jovens portugueses de espírito inovador que lutam também por um Portugal respeitado e eficiente. Portugal não pode continuar a viver só da sua imagem. A dignidade do próprio Estado a ser representada e a eficiência de serviços ao serem aferidas às novas exigências de modernização não podem emperrar nas barreiras duma burocratização técnica de subalternização e de mero economicismo. Urge substituir títulos pomposos e maneirismos por conteúdos e competências humanas e técnicas com base na funcionalidade, operacionalidade e transparência.

 

Quando os políticos falam em manter presenças consulares, isso não ajudará nem o país nem os utentes, pois poderá tratar-se de um serviço meramente documental limitando-se a pouco mais do que a emissões de cartões de cidadão ou passaportes, que qualquer cidadão que se desloque a Portugal poderá ali tratar. O serviço consular é muito mais que isso. Onde fica a parte humana e onde ficam as intenções de diplomacia económica tão apregoadas pelo senhor ministro? Se algo houvesse a alterar relativamente à Alemanha, seria despromover consulados e consulados-gerais, racionalizar custos de instalações e pessoal.

 

Frankfurt é a capital não só financeira como também económica da Europa e, a justificar isso está o facto de ser Frankfurt onde estão o maior número de consulados estrangeiros. O vice-consulado de Frankfurt serve também 30.000 portugueses em três Estados federados na Alemanha: Hessen, Renânia-Palatinado e Sarre. O número de actos consulares de Frankfurt aumentou ultimamente mais de 30%.

 

Frankfurt preenche todos os objectivos conhecidos a que o senhor ministro se propõe nesta reestruturação, tal como prestar um bom serviço às comunidades emigrantes que consequentemente enviam as suas economias para o país.

 

Pretende-se passar o VC Frankfurt para a jurisdição de Estugarda, uma cidade de província, comparada com Frankfurt. Naquela cidade há apenas 12 consulados-gerais (incluindo o de Portugal), bem como 45 consulados honorários e 12 consulados. Em Frankfurt há 50 consulados-gerais, 45 consulados honorários, 6 consulados e um vice-consulado (o português). A lógica da governação portuguesa parece andar ao contrário da lógica dos outros. Será que os decisores do nosso país são mais espertos que os dos restantes 44? Não contando com todos os outros consulados aqui radicados que são mais de 100. Quanto a Estugarda o senhor cônsul-geral está para atingir a idade de reforma, podendo também aqui poupar-se um posto de cônsul.

 

Também relativamente à evolução do comércio externo de Portugal, Frankfurt será crucial para o investimento estrangeiro e para a sede das empresas portuguesas (a economia de Hessen cresceu no 1º semestre deste ano 4,3%). É em Frankfurt que está sediada a Federação dos Empresários Portugueses na Alemanha (um diálogo com o seu presidente poderia criar condições de instalações consulares vantajosas), as feiras, o Banco Central Europeu e tudo o mais que já se tem vindo a argumentar.

 

Alguém acha que há cidade na Europa estrategicamente mais importante que Frankfurt, excluindo as capitais? Só a palavra “Frankfurt” é programa e dá resposta a todos os critérios.

 

Uma forma adequada e justa de resolver o problema seria reparar o erro cometido em 2009. Naturalmente que cônsules, conselheiros e embaixadores deveriam ser medidos pelo que produzem e não apenas pelo cargo que tudo parece justificar.

 

Há alternativas ao encerramento de Vice-consulados: Despromover consulados e consulados-gerais para Vice-consulados; controlar a produtividade dos postos consulares, comparar as estatísticas dos actos consulares entre eles, poupar nas instalações (é escandaloso o que Portugal paga de renda por mês pelas instalações em Berlim – segundo consta cerca de 60.000 euros mensais, só pelas instalações), poupar no pessoal superior e substituí-lo por pessoal médio. Em Frankfurt os custos de arrendamento podiam ser reduzidos para metade.

 

Outras razões, que não as de poupança e de racionalização, levam ao fecho do Vice-Consulado de Frankfurt. O Senhor Ministro Paulo Portas e o Senhor Secretário de Estado José Cesário estão a ser mal-informados.

 

O encerramento de Frankfurt e de Osnabrück não fecham por razões económicas, porque, com uma gestão mais racional, quase se suportariam a si mesmos. Para isso seria necessário também actualizar a tabela de emolumentos consulares de uma forma justa. Neste momento há actos que exigem dos funcionários várias horas de trabalho e não custam nada ao cliente. Por exemplo o reconhecimento das sentenças de divórcio e respectivos averbamentos aos registos de nacimento dos utentes! As certidões de nascimento e casamento em Portugal custam 20 euros. Na tabela consular continuam a custar 16,50 euros.

 

O senhor ministro disse no parlamento que, com os encerramentos, consegue poupar na rede diplomática 12 milhões de euros em 2012. Em vista ao que se poderia poupar nas instalações e administrações portuguesas, a quota-parte de poupança na Alemanha ainda parece pouca, em relação ao que se poderia poupar se se apostasse numa poupança racional e no trabalho produtivo. Uma opção neste sentido manteria certamente Frankfurt. Na Alemanha poupa-se nos pobres para deixar os grandes viver à grande e à francesa! Nestes, nos diplomatas que custam ao erário público 12 a 20 mil euros por mês, é que se deveria poupar mais. Reduzam-se imediatamente os subsídios mensais de representação e de residência em 50%. 7.000 Euros de subsídio de representação mensal para um senhor cônsul é um escândalo, não falando já do subsídio de residência. Para uma remodelação de poupança inicial bastaria uma despromoção de cargos em favor de trabalhadores de actividades produtivas e controladas.

 

Não dá para acreditar que o senhor ministro Dr. Paulo Portas encontre razões sérias para encerrar o Vice-consulado dum lugar estratégico e único como o de Frankfurt. O “lobby” dos diplomatas está a vencer mais uma vez e o senhor ministro a perder e Portugal a perder também. A reestruturação, no caso da Alemanha, longe de se revelar como uma reestruturação por motivos económicos, ao proceder à extinção dos dois vice-consulados (Frankfurt e Osnabrueck) manifesta-se arbitrária extinguindo vice-consulados quando estes fazem praticamente o mesmo que um Consulado-Geral e custando metade deste; nos consulados e embaixadas poder-se-ia poupar a parte do leão em dinheiro.

 

O senhor ministro está a ser mal informado sobre a importância do Consulado em Frankfurt e a ser levado pela grande força que são os diplomatas de carreira (cônsules e embaixadores), e certamente pela burocracia da Direcção dos Serviços Consulares, numa tentativa de defenderem postos de trabalho superiores contra postos de trabalho dos trabalhadores consulares. Certamente deixou-se também, na fase inicial, impressionar pelo sindicato das embaixadas e consulados que só saltou para a arena no momento em que viu o vice-consulado de Osnabrueck ameaçado.

 

Hamburgo, que tem apenas 8.000 portugueses, tem um cônsul, um vice-cônsul e ainda outro funcionário superior está a ser poupado. Porque não reduzir, entre outros, também Estugarda a Vice-consulado, porque não se racionaliza o pessoal da Embaixada e os gastos com o imóvel? Porque não se alarga a zona de atendimento do VC de Frankfurt ao norte da vizinha Baviera? Não se justifica mais que um único Consulado-Geral por país.

 

No final da manifestação de 5 de Novembro contra o encerramento do VC de Frankfurt, alguns manifestantes sugeriram novas formas de protesto, formas mais espectaculares, tais como, ocupação simbólica do vice-consulado, manifestações em cadeia à frente do Vice-Consulado, assumidas rotativamente pelas associações. Recolhemos quatro mil e tal assinaturas contra o encerramento, que aguardam audiência para entrega à Presidência da República.

 

Senhor Ministro, seria mal continuar a tradição de poupar no pessoal barato para continuar a gastar no pessoal de luxo que para lá de algumas espertezas quase só deixa despesas. A dignidade dum país prova-se na capacidade de trabalho e na justiça social; a dignidade mais que ser representada, precisa de ser vivida.

 

A decisão de encerramento, a ser levada avante, deixaria uma grande amargura na população e uma dúvida da racionalidade da gestão portuguesa. Num futuro próximo o governo teria de rever a sua posição.

 

António da Cunha Duarte Justo
Porta-Voz do Conselho Consultivo do Vice-Consulado de Frankfurt