REVOLUÇÃO DO 25 DE ABRIL: UMA HISTÓRIA MAL CONTADA


O Povo Português não gera Revoluções

António Justo

As revoluções portuguesas são comoa ponte de Lisboa. Antes do golpe de estado chamava-se “Ponte Salazar” depois passou a chamar-se“Ponte 25 de Abril”. Apenas mudam a fachada e a lata. O povo, tal como o rio Tejo, cansado de inúmeras voltas e de tantos despejos, sempre pacífico e adaptado, tem permanecido igual a si mesmo, ao longo da História: vagaroso mas internacional(1).


De época para época, alguns insatisfeitos do sistema, os filhos dos senhores do regime, provocam um golpe de estado, apoderam-se dele e mudam-lhe o nome. Povo e golpistas conhecem-se de ginjeira: aquilo a que dão o nome de revoluções, pouco mais se trata do que da troca de nomes, dum acerto de contas e de acomodação à história dos vizinhos; o mérito do acontecimento está em dar ocasião à necessidade do povo festejar e aplaudir ou, quando muito, resolver alguns deveres de casa esquecidos. Os actores sabem que a injustiça não é boa mas a justiça seria incómoda. Optam então pela vida dos dos “brandos costumes” sem a preocupação de fazer justiça.


Arranjam um nome monstro para justificarem as suas acções e branquearem as suas intenções. No caso do 25 de Abril, um grupo de cretinos (2) aplicou ao regime autoritário de Salazar o nome explosivo de fascismo, metendo-o (internacionalizando-o) assim no mesmo rol de Franco, Mussolini, Hitler e Pinochet. Então, a nação inteira passou a dar-se conta do monstro e resolveu dar caça ao fantasma. Este vai recebendo cada vez mais atributos até que passa de lobo a Minotauro. A partir deste momento o povo perde a ideia passando a viver do medo do labirinto. Entretanto vão surgindo alguns lobitos e o povo vai distraindo o medo no “Jogo ao Lobo”!


O país da Europa com as maiores desigualdades sociais entretém-se em argumentações opiniosas deixando as coisas importantes para os nomes engordados em nome das classes desfavorecidas. Já habituado à humilhação e à atitude governativa arrogante e distante, o povo servil, filho da “revolução da liberdade” até aceita a censura em nome da democracia. O estado português já há séculos não tem povo, chega-lhe a população. A população já há séculos que abdicou de o pretender ser, contentando-se em viver na sombra da Face Oculta do Estado. Deixou o palco da nação aos dançarinos do poder!


O 25 de Abril passou – A Revolução está por fazer

Golpistas abusam do Nome Revolução

Com o golpe de estado de Abril, o regime autoritário é acabado no meio da guerra colonial. O povo português, o que quer é esquecer a guerra e os políticos o que querem é a confusão para se poderem organizar e não terem de assumir responsabilidade pela traição dos interesses da nação, dos retornados e do povo nativo. Segundo o reconhecido historiador José Saraiva, o abandono das províncias ultramarinas constituiu “a página mais negra da História de Portugal”. Disto não se fala; reduz-se a história a folclore e a governação ao jogo do rato e do gato…


O 25 de Abril assenta em pés de barro. Fez um golpe de Estado e deu-lhe o nome de revolução. Os seus actores não pensavam em revolução. Foram surpreendidos pelos acontecimentos que eles próprios provocaram e alguns, entre eles, (especialmente Otelo S. de Carvalho) serviram-se do comunismo/socialismo para legitimarem e darem uma projecção histórica ao movimento dos oficiais descontentes. O 25 de Abril foi um golpe de Estado que surgiu de motivos pessoais e antipatrióticos de alguns, mas nunca uma revolução. O novo regime começou mal e com actos inglórios tal como acontecera na implantação da república. Mas disto não deve rezar a História, o povo precisa de festa e os governantes de distarcção. Não importa viver, interessa é ir-se vivendo!


O programa MFA (Movimento das Forças Armadas) pretendia Democracia, Descolonização e Desenvolvimento. Os primeiros dois anos foram uma confusão maluca. Tudo era facho e qualquer jovem adolescente se armava em guarda de comícios, por vezes até de metralhadora na mão. Recordo que quem tinha um emprego bom, ou uma casa digna, logo era apelidado de “facho”, pelo povo gozador, num misto de atmosfera de inveja e admiração. Depois com a nova constituição tudo ficou camarada e irmão: camarada de facho na mão!


Os partidos, sem mérito, passam a viver do prazer de terem organizado as suas fileiras. Desfavorecem a politização do povo para fomentarem o partidarismo e um discurso público dirigido à conservação do poder.


Entretanto, o povo sente-se humilhado e deprimido; o seu sentimento de identidade definha, sendo compensado apenas no sentimento duma grandeza promissora dos irmãos da lusofonia e da madrasta União Europeia. O sentimento de identidade nacional baseado no cristianismo, na cultura nacional e na ideia das grandezas dos descobrimentos não agradam às novas elites internacionalistas. A má experiência do povo com a própria elite, sem sentimento de nação nem de povo, leva-o a sentir-se apenas como inquilino anónimo de alguns senhores da praça pública, dos canonizados da democracia. Sente-se filho de pai incógnito!


Portugal continua preso numa mentalidade de arrendatário de ideologias e senhorios mercenários que o povo tem de acatar para ir vivendo! Portugal, apesar de golpes de estado e de pseudo-revoluções, continua a sofrer na pele a experiência de outrora: a experiência dos ingleses senhores das quintas do vinho do porto que viviam na Inglaterra e tinham em Portugal os seus feitores portugueses a cuidar dos seus interesses. O Estado português tornou-se numa feitoria de alguns mercenários. Daqui vem a sabedoria portuguesa que, muitas vezes, diz: “ isto é para inglês ver”.


As nossas elites intelectuais não são em nada inferiores às europeias. O problema está no seu individualismo e na sua falta de consciência de povo, e de espírito colectivo! As elites políticas vivem do nome, interessando-se, a nível de país, apenas por terem Lisboa, como sala de visitas de Portugal onde elas podem receber vaidosamente os amigos. Colaboram com um internacionalismo interessado em destruir as nações para depois poderem surgir como salvadores e implantar um governo mundial de burocratas e tecnocratas contra os biótopos nacionais.

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O povo, antigamente, sofria sob a bandeira do trono e do altar; hoje sofre sob a lama das massas a toque de caixa partidária que segue o ritmo das multinacionais.


A grande diferença: Hoje o povo não se pode queixar, porque os seus opressores vêm do seu meio e parte deles são eleitos democraticamente.



Já Ovídeo escrevia nas Metamorfoses: “O destino conduz os de boa vontade e arrasta os de má vontade”. Com a celebração do 35° aniversário do golpe, já seria tempo de Portugal ir à cata dos de boa vontade!…


O aniversário do golpe de estado poderá deixar de ser um pretexto para se tornar numa oportunidade. Urge descobrir a nação e ter a vontade de se assumir como povo. O grande povo e a nação valente que “deu novos mundos ao mundo” tem-se manifestado incapaz de se descobrir a si.


Um Estado é como uma planta. Se adoece, os parasitas cobrem-na facilmente. O país tem-se modernizado; não tem inimigos nem ódios mas encontra-se apático e doente. Depois do golpe de Estado, o fanatismo republicano e o oportunismo continua a tradição da “apagada e vil tristeza” dum conservadorismo míope e dum progressismo cego! Os cães de guarda do Estado contentam-se em morder e em ladrar alto e o rebanho atemorizado lá se vai movendo no respeito à própria lã que vê nos dentes deles!


Acabe-se com o louvor do golpe e dos golpistas. Não notaram ainda que a revolução se encontra, desde há séculos, por fazer! Para nos levarmos a sério teremos de descobrir primeiro o povo e a nação. Então seremos capazes de enfrentar as desgraças históricas, sejam elas progressistas ou conservadoras. Há que aceitá-las, para nos podermos mudar e assim mudar o rumo português para o bem-estar de todos, nacionais e estrangeiros. Para isso precisam-se mulheres e homens adultos! “O povo unido jamais será vencido”, cantam as sereias, na certeza de que ele se embala na música e não se descubre como povo! Não vale a pena o queixume. Quem se queixa é pobre ou não pode! Trata-se de mudar mudando-se! A nação precisa de todos.


António da Cunha Duarte Justo


(1) Salvaguardem-se as diferenças regionais da população. Esta é muito diferenciada e rica, tal como os seus rios e a sua paisagem!

Ulisses o Modelo do Homem Ocidental


Ulisses ou a Mediania

António Justo

Conta a lenda que Ulisses, numa viagem à península ibérica, fundou no Tejo a cidade Olissipo, hoje Lisboa.


Ulisses foi um rei lendário de Ítaca e grande herói do cerco de Tróia onde se distinguiu por excepcional coragem, prudência e sagacidade.


Ele é a figura central da Odisseia (parte da Ilíada) onde Homero ( 700 a.C.) conta a viagem de Ulisses, no seu regresso de Tróia para a pátria. Até chegar à sua terra Ítaca, na Grécia, teve muitas aventuras e dificuldades. A odisseia dura dez anos.


Aportado à ilha da deusa Circe, esta advertiu-o dos perigos que o esperavam ao longo da sua viagem. Falou-lhe do perigo das Sereias que “com suas vozes enfeitiçantes criavam o desejo ansioso de escutá-las sempre” e alertou-o para os monstros Sila e Caribdes. Apesar de avisado, Ulisses conta, com tristeza, que Sila, o monstro das seis cabeças, atacou o barco “e em cada uma das suas bocarras ávidas sumiu-se um dos meus companheiros”.


A viagem é o símbolo da vida de cada um de nós e Ulisses é o símbolo do homem que acorda para a vida, desperta para si mesmo. Circe (a inteligência) ajuda a prever os perigos.


Ulisses, depois de ter vencido os outros, acorda para si e para a vida adulta, começa a viagem de regresso; põe-se a caminho, na procura da sua terra. A sua terra (Ítaca) significa o seu eu (a descoberta da sua pessoa). A viagem significa o seu caminho (currículo), a sua vida. Ulisses procura, na vida, o seu eu mais profundo (a ipseidade).


Geralmente as pessoas passam a vida sem se descobrirem a si mesmas, são levadas a distrair-se com o que aparece e acontece no seu caminhar; confundem o ter com o ser, conseguem apenas o caminho do combate até Troia. Fazem o que os outros mandam ou esperam delas. Subjugam-se às necessidades imediatas ou superficiais, procurando compensar desilusões com ilusões. Mesmo na escola não aprendem a aprender, nem a conhecerem-se a si mesmas. Aprendem coisas sobre as coisas para melhor poderem servir os interesses daqueles que guiam a sociedade e aprendem competências para se poderem safar na vida com um emprego.


Ulisses, para se conhecer bem a si mesmo, quer investigar a realidade até ao fundo e as ilusões que a acompanham. No seu caminhar descobre que o sentido não vem das coisas (de fora) mas que ele é que dá sentido às coisas (o sentido vem de dentro). A autoridade é ele.


Ao aproximar-se da ilha das sereias que, com o seu canto, o queriam desviar do seu caminho, Ulisses deu ordem aos marinheiros para o amarrarem ao mastro do navio e tapou os ouvidos dos companheiros com cera. As Sereias gritavam bem alto: “Não fujas, Ulisses, generoso Ulisses, Ulisses famoso, honra da Grécia! Pára defronte da praia, para ouvir a nossa voz.” O barco de Ulisses, porém continuava a sua rota. De facto todo o mortal que até aí passara pela ilha das sereias não tinha conseguido libertara-se delas, não chegando mais a casa, à sua terra. Ulisses, com a sua táctica, conseguiu gozar da melodia das sereias e ao mesmo tempo não se arredar do caminho da sua vontade. A sensualidade e o espírito, o exterior e o interior são integrados no Homem com inteligência e vontade. Sem uma meta acompanhada da razão e da vontade não se vai longe.


Para não ser dominado pelas influências exteriores (ilusões) e para se poder tornar ele mesmo compromete-se com algo superior. Não chega seguir só a linha horizontal da vida (o instinto, a opinião ocasional); Ulisses amarra-se, com a ajuda do próximo, ao mastro do navio que significa a linha vertical, a esfera superior que lhe dá força para ser livre muito embora reconhecendo-se como parte do todo. Assim pôde saborear o prazer da música e a beleza das sereias. Manteve, ao mesmo tempo, a sua liberdade sem se perder nelas. O seu eu profundo conseguiu dominar o seu ego superficial, impedindo que o barco, seu corpo, se perdesse nas bocarras ávidas de Sila.


Ulisses dignifica o corpo e o espírito! O seu eu adulto, orientado pelo espírito da liberdade, consegue viver na harmonia dum corpo são em alma sã.


Os cristãos chamam a esse espírito da liberdade e da união de tudo em todos, a aquisição da natureza de Cristo. Nela a corporeidade (Jesus) complementa-se na espiritualidade (Cristo); nela se acaba com a polaridade dos contrários, com a polaridade de espírito e matéria.


A Odisseia prepara-nos o caminho para a realidade da complementaridade de instinto e vontade, sentimento e razão, de corpo e espírito. Nós somos ao mesmo tempo actores e espectadores da vida. Para descobrirmos o nosso verdadeiro eu temos que descobrir o mundo em nós, não nos limitando ao ser de espectadores.


A sociedade Oriental está mais virada para o destino, subjuga-se mais à natureza, deixando-se viver mais no nós, na família, no grupo. A sociedade Ocidental fixa-se mais na afirmação do eu e da vontade; não aceita o destino, quer a emancipação do Homem, quer transformar o mundo. Por isso o Ocidental criou toda uma tecnologia que o ajuda no alcance da meta que se propõe.


A vida é esforço e compromisso! Com Ulisses não há crise!


António da Cunha Duarte Justo

Jornalista Livre

https://antonio-justo.eu/

NOS MEANDROS DO SEXO


SOCIEDADE SEXISTA MELINDRADA

António Justo

Segundo a revista Psychologie Heute, de Março 2010, “na Alemanha anualmente há, aproximadamente, pelo menos 300 a 600 casos de contactos sexuais entre psicoterapeutas e pacientes”. Por muito que isto seja lamentável devido à relação de dependência do paciente para com o terapeuta, não é legítimo estigmatizar os psiquiatras e psicólogos, como a imprensa tenta fazer com os padres. A Universidade de Colónia investigou 77 vítimas de terapeutas verificando que 86% das vítimas eram femininas. Das 77 vítimas 30% já tinham sido vítimas de abusos sexuais na infância. 71% dos terapeutas eram homens com uma idade média de 47 anos. Na Alemanha, segundo a lei, terapeutas que tenham relações sexuais com pacientes tornam-se puníveis. O abuso sexual está na ordem do dia na nossa sociedade.

O abuso sexual de menores nas famílias, independentemente da Pedagogia Reformista, alcança percentagens impensáveis. O sofrimento das vítimas prolonga-se, geralmente, por toda a vida. A libertação sexual e a luta contra os tabus sexuais não deve criar e alimentar o tabu do sofrimento e a escravidão sexual que graça como praga social. Os crimes de alguns padres poderá ter a vantagem de alertar a sociedade a não desviar o olhar e não se tornar cúmplice com o que acontece nas famílias, nas escolas, nas prisões e na justiça. A maioria do abuso de menores dá-se no seio familiar.

É verdade que também na Igreja as vítimas foram ignoradas. A Igreja perdeu de vista as pessoas, ao calar-se e ao desviar o olhar dos abusos. O amor e a confissão não podem levar ao esquecimento das vítimas. Não se justifica porém a campanha intensiva dos Media durante semanas contra a Igreja.


Também nas escolas públicas estatais cada vez mais se tornam públicos casos de abuso de crianças por parte de professores. Associações de Pais e de Educadores na Alemanha exigem a criação de Hotline para o caso de abuso sexual nas escolas, para que crianças vítimas se possam manifestar sob anonimato. Continua discutível se a Hotline será domiciliada no Ministério da Educação ou numa repartição de aconselhamento independente.


Uma disputa séria chama a atenção para a necessidade de se centrar a discussão na situação pessoal da criança. Segundo a Comissão europeia, pelo menos 10 a 20% das crianças menores de 14 anos sofreram de abusos sexuais. Bruxelas quer agravar sanções contra a pedofilia nos estados membros.


Para se ter uma ideia da campanha tendenciosa contra a Igreja e a instrumentalização ideológica dos casos de pedofilia na Igreja, basta referir as estatísticas da USA onde em 42 anos 958 padres católicos e pastores protestantes foram acusados de abuso sexual de menores, tendo sido 54 condenados.


O que é de admirar é o facto de serem referidos mais casos de pedofilia entre pastores do que entre padres. Também, contrariamente ao resultado de investigações científicas, se procura estabelecer uma conexão causal entre celibato e abuso de crianças.


No mesmo espaço de tempo foram condenados 6.000 professores de ginástica e treinadores desportivos na USA. Disto ninguém fez notícia. A campanha secularista contra o cristianismo tenta deslegitimar a moral da Igreja católica na sua diaconia em hospitais e escolas… Estão-se marimbando para os réus ou para as vítimas. Um laicismo agressivo e militante propaga a ideia de que as crianças se encontram em perigo nas escolas da Igreja. Esquecem que, pelo facto de haver pedófilos na escola do Estado, ninguém diria que a escola é um perigo.



Do Fanatismo Religioso para o Fanatismo Ideológico

Também o ressentimento dos adversários da Igreja conduz ao esquecimento das vítimas. A rede de propaganda é de tal ordem e tão cerrada que, qualquer pessoa com formação média poderá constatar, sem mais, a lavagem ao cérebro do cidadão, em via. A acção coordenada de campanhas cíclicas anticristãs a nível de toda a União Europeia são o melhor testemunho da boa organização e das redes de uniões secretas, grupos marxistas materialistas e ateus. Para isso bastaria fazer-se um estudo comparativo dos títulos de todos os meios de comunicação social, em todos os jornais da Europa; quase se repetem. Quer-se, a todo o custo uma União laicista baseada num republicanismo jacobino. O capitalismo e o progressismo não admitem rivais!


O fanatismo que na Europa já parecia ter superado renasce com a União Europeia no fanatismo secularista e partidário contra a Igreja; desvia assim a atenção do cidadão, da criação duma sociedade base cada vez mais pobre e da bancarrota dos Estados. A pretexto de alguns padres pedófilos, a opinião publicada na TV, Internet, rádio e jornais fomenta o preconceito de que a igreja é o vale dos hipócritas e dos pedófilos. A má consciência e a má intenção são capazes de tudo!



Os militantes do fanatismo em vez de coordenarem forças, com todas as pessoas de boa vontade, em defesa das vítimas e dos oprimidos aproveitam-se dos crimes de alguns para incriminar toda uma instituição. A eles só lhes importa assunto para fomentar o seu poder seja à custa de quem for. A igreja já ultrapassou o seu fanatismo religioso militante, agora encontramo-nos, a nível europeu, na era do fanatismo militante secularista e ateu. Sabem que o povo mais desacautelado, é inocente, se deixa levar! Muitos aproveitam-se do carrossel dos média e outros aproveitam a boleia. Por isso falam da responsabilidade da Igreja e calam a responsabilidade dos criminosos, como se estes fossem menores. O cardeal alemão Karl Lehmann diz num artigo do DIE ZEIT: “já há muito que se procura a culpa primeiramente no colectivo e quase sempre no Sistema”.


Apoio a Igreja mesmo que ela não me apoie a mim. Antes combatia a instituição eclesial como era moda nos anos 70. Tenho experiência a nível de Igreja e de alguns partidos. A Igreja, nalguns pontos, a nível superficial, é retrógrada; porém, a nível da visão do Homem e da sociedade (cf. Encíclicas da doutrina social da Igreja) é, de longe, mais progressista e avançada que qualquer partido. A sociedade só conhece dela o folclore e aquilo que lhes importa para se afirmarem à sua custa. A Igreja é, ao mesmo tempo, pecadora e santa como toda a pessoa de boa vontade. Já os Padres da Igreja falavam da Igreja “casta prostituta “. A Igreja, como instituição, é tão pecadora e tão santa como a sua comunidade, os seus membros. Estes são homens e mulheres com tudo o que lhes pertence: o bem e o mal.


Os fariseus secularistas cospem no farisaísmo da Igreja; o mal está presente em toda a parte mas na Igreja brilha mais. Por todo o lado cheira a próximo. Ela é prostituta mas só ela é mãe e pode proteger e guardar o tesouro da fé cristã; sem a mae, com a morte do indivíduo, morria a tradição. A fé mantém-me na Igreja. Eu manteria a fé na Igreja de Jesus Cristo, mesmo sem a instituição. Admiro na Igreja a adoração dum Deus que é todo Homem e dum Homem que é todo Deus.


Precisamos de crentes e ateus, precisamos de todas as vozes que clamam à terra, vozes que clamam ao céu, para juntos tornarmos o mundo melhor!


A doença da pedofilia, no dizer dos peritos, é muito difícil de diagnosticar e corresponde a uma inclinação profunda e incurável. Pedófilos exploram a necessidade de dedicação das crianças.


António da Cunha Duarte Justo

Alemanha, Jornalista Free


ENTRE A PALAVRA E A IMAGEM


Por um Discurso mais Feminino

António Justo

“Nada de novo sob o Sol” diziam já os antigos. Isto não nos deve impedir de, à sombra das imagens, nos aquecermos no fogo das palavras e nelas aumentar o espectro das perspectivas.

No princípio estava o Verbo que é mais que a palavra. Ele, mais que abstracção, é acção na complementação, é encarnação. O verbo, o logos é biótopo, é ao mesmo tempo razão e natureza, abstracção e experiência do todo, no sentido do todo (Alfa e Ómega), para lá dum simples ordenar de letras do alfabeto. Da palavra surgiu a cultura, numa metamorfose esforçada contra a natura.

A interpretação da realidade numa dinâmica (sentido) de palavra contra a imagem, de masculino contra o feminino, de cidade contra o campo, tem sido redutora duma realidade que é Verbo. A imagem é a-perspectiva e aponta para a fonte profunda da cultura.

Primeiro está a imagem e depois vem a palavra. A imagem é indutiva, parte da experiência directa enquanto que a palavra é dedutiva, resultando duma elaboração intelectual emancipada. Pelas duas se pretende apalpar e expressar a realidade, as duas são informação, encontrando-se numa relação de autonomia complementar.

Primeiro está a imagem que encobre muitos conceitos. Sem a palavra o conceito não seria dado à luz e ficaria submerso na imagem, perdido na ramagem da floresta primitiva, reduzido ao ulular da selva animal. O pensamento torna-se num andaime de que as palavras são os ferros. A imagem cria a necessidade do suporte.

A língua vive das suas metáforas tecidas de imagens. Por detrás das palavras escondem-se imagens, as ideias. As ideias são para Platão imagens protótipo, são as coisas do mundo das aparições, dos fenómenos. Para Kant são os reguladores do esforço humano, provenientes da razão, sem realidade objectiva mas que possibilitam a construção de imagens fechadas do mundo, ultrapassando a possibilidade da experiência nas ideias de Deus, liberdade e imortalidade.

Na imagem eu não falo, sou falado… ela é o lugar da poesia e da religião. O discurso não se forma numa roleta das palavras ao gosto dum linguarejar unidimensional masculino. A palavra só é verdadeira, se encarnada. Não chega a informação do sémen (a palavra) é necessária também a imagem, o útero que lhe dá consistência. Só assim ela é completa, é verbo. De resto, reduziríamos a palavra a uma tautologia do quem esteve primeiro, o galo ou a galinha, se quem está na origem é o esperma ou o óvulo. Não passaríamos de guarda-livros da vida!  Entre o Esperma e o Óvulo encontra-se uma outra Dimensão da Realidade.

Sem a matriz da selva, sem a fantasia não haveria agir humano, nem arte nem mitologia. A geração, a criatividade dá-se na união e não na divisão. A sociedade patriarcal, a civilização, domina mediante a afirmação exagerada da palavra contra a imagem. A palavra real emancipa-se, da imagem, abstraindo-a mas mantendo ao mesmo tempo uma relação de filiação com ela. É uma relação de necessidade que leva o espírito à gruta, o espírito ao corpo gerado pelo espírito e ao mesmo tempo transformado em lugar de nascimento da divindade. Aí, o ser integra o estar, num processo de ser, ao mesmo tempo parido e parturiente. No eu da minha palavra reúne-se o grito, a ressonância do encontro, o intermédio, o sentido surgido entre imagem e palavra. De mim vazio, entrelinha, torno-me imagem e grito (palavra) do mundo para com ele nascer no outro, à luz do encontro trinitário, na complementaridade do eu e do tu a expressar-se no nós sempre a acontecer.

O eu e o tu ganham forma e transcendem-se no nós. O eu, tal como a palavra que o consciencializa, pressupõe não só a voz mas também o eco no tu, na imagem dum eu primordial. Imagem e palavra encontram-se em correlação, tal como praxis e teoria, tal como mulher e homem, matéria e espírito, tempo e espaço, natureza e cultura, na coexistência e interferência complementar, sempre a caminho e a gerar uma terceira dimensão, na relação do todo integral.

O andaime é veículo, diríamos, é a lógica que não se deixa reduzir à palavra porque faz parte da imagem. Antes da palavra está o balbuciar, o gaguejar do pensar que é a expressão das dores de parto, da noite sem sonho, no dormir do estar sem ser, para depois começar a sonhar e a aparecer. No grito treme, ao mesmo tempo, o espírito e a matéria que, nas pegadas do tempo, deixam o eco sempre repetido na palavra.

Também o mar das emoções gera as ondas do sentimento. Emoção, sentimento e palavra são diferentes níveis de expressão duma realidade comum. Veículo e veiculado encontram-se em relação de necessidade mútua.

A realidade da árvore não se deixa definir pelas folhas como as folhas não se definem pela árvore. O mesmo se diga do pensamento e das palavras. O andaime não se deixa limitar a veículo; ele faz parte integrante dum processo vivo. A palavra, como o ferro do andaime, realiza, desde que enquadrada no processo de que ela se torna também mensageira. Se olho para a folha vejo também ramos e talvez uma perspectiva da árvore.

A palavra realiza-se e redime-se na medida em que revela ou dá acesso ao conceito, à ramagem da árvore e a conduz à imagem inicial. A palavra é mais que código, mais que veículo.

A Palavra petrificada para o Povo no Deserto do Sinai

É verdade que a Sarça-ardente de Moisés (1.400 a.C.), sem a palavra dos Mandamentos, neste caso, uma espécie de materialização do espírito, não expressaria a Verdade da Sarça ardente, do Mistério. Moisés, o iniciado, que experimentou o mistério que o prostrou, manifesta a sua sombra na força da imagem, na realidade do fogo. A Verdade experimentada por Moisés só podia ser transmitida, duma forma distante, democratizada através da palavra, dos mandamentos, ao povo. A sua experiência do todo (Verdade) prostra-o por terra, desfigurando-o.

Moisés não confia no povo e resiste a Deus, não reconhece no povo a capacidade de se subordinar à religião nem ao direito. Desfigura-se e reconhece depois que a integralidade da verdade (Realidade) pode encontrar o mais elementar acesso a ela através da janela da palavra, nos mandamentos. Não chega a mera palavra; esta tem de se espiritualizar num processo de errar pelo deserto da vida antes de atingir a Terra Santa, que Moisés mesmo depois de 40 anos (uma vida inteira de procura) não chega a atingir. O primeiro degrau no acesso à verdade dá-se pelas palavras, a folhagem do pensamento. A realidade (verdade) em fluxo na Sarça-ardente só se torna acessível à generalidade através da experiência (de Moisés) petrificada nas palavras e deste modo adaptada ao receptor. O povo não tem acesso directo à imagem e menos ainda à realidade que prostrou Moisés. A verdade transcende a sua petrificação nas pedras do Sinai e nas pedras do cérebro. Ela é dinâmica como a Sarça-ardente sempre em processo a acontecer. Por isso há que despir as palavras da “mentira” que as envolve, tirar-lhe a ilusão das pedras da lei. O processo de libertação da “escravidão do Egipto” pressupõe o ajuntamento e a subida ao Sinai. Mesmo a lei libertadora não garante a chegada.

Se a palavra é a janela do conhecimento a imagem é a janela do sagrado. Entre os dois acontece a realidade. Pela janela da palavra descortina-se o irromper da paisagem do mistério, de que também ela faz parte. Ela fica no limiar do Segredo e do Espírito. Não somos só filhos incógnitos do pensamento, do “penso logo sou”. Ao eu – imagino da selva segue-se o eu – falo, o eu sou em sociedade. Este foi o grande caminho especialmente do Ocidente que frutificou nos direitos humanos e que precisa da referência oriental à imagem, à mãe. Primeiro está a paisagem do nós e depois o indivíduo nela. Este ao sair dela tem a possibilidade de se reflectir dentro do diálogo e em diálogo passar ao triálogo. Somos filhos do mistério e com ele continuaremos a ser definidos. Pela palavra temos acesso ao mar do mistério mas ela é apenas a sua onda. A palavra sem a imagem é vida em segunda mão. A Palavra (Verbo, não é só sujeito e objecto) é acontecer, é processo tal como o esperma e o óvulo na dimensão dum ventre a dar à luz. Ela não pode ser reduzida a um flatus duma verdade meramente espacio-temporal, a uma crosta da crosta. A palavra seria então a objectividade enquanto que a imagem a subjectividade duma realidade para lá das duas.

Os caminhos do Homem marcam a sua presença na selva da realidade à maneira de caminhos feitos sobre o alcatrão da palavra que em contexto de imagem se pode tornar também realidade. A palavra, ao mesmo tempo pegada e caminho em “contexto” deveria transcender os holofotes da lógica dialéctica redutora e determinista, de causa – efeito, para atingir uma Realidade, não só de diálogo (dialéctica pura do “ou… ou”) mas sobretudo de triálogo (trinitária) do “não só… mas também”. Esta será o pressuposto duma nova cultura, dum novo mundo.

O Verbo é a Informação ainda não formatada

O mundo físico é uma expressão fenomenal (uma forma da Realidade), tal como o pensamento (um molde da realidade física).

A palavra vem do pensamento, o pensamento vem da imagem e a imagem vem da informação não formatada (Verbo), da verdade de gerar ou enformar. Se, por um lado, se dá o processo evolutivo espiral ascendente, por outro lado, temos o momento do processo descendente, da Palavra que se encorpa num processo trinitário e não apenas numa dimensão linear de afirmação pelo contradição dual. A Realidade que é a divindade interage na relação Pai, Filho e Espírito. No princípio era o Verbo… O Espírito seria analogicamente o princípio criador maternal. Em Jesus encarnou a Palavra e com ela a carne entra num processo de espiritualização, expressa na natureza de Cristo, onde se transcende a consciência espacio-temporal, a consciência bipolar do bem e do mal.

A fixação na palavra, tal como a fixação na imagem, aprisiona a realidade a uma vertente. Uma cultura quanto mais iconoclasta é mais masculina se torna. Quanto mais puro o monoteísmo mais machista é!

Imaginação é a força que está por detrás do poder de abstracção, a inteligência. Ideia é representação no palco do conhecimento. A relação abstracta, se por um lado é libertadora por outro é redutora, meramente binária, o mundo e eu.

A dialéctica afirma-se pela contradição quando a estrutura da Realidade e do diálogo é trinitária, como a teologia previa e a física quântica parece confirmar. Esta superou o determinismo e o mecanismo dogmático da física clássica. O processo é complexo não se deixando reduzir à realidade do plano bidimensional da coisa (outro), do eu e da consciência, quer próprio quer do outro. Eu sou mais que ser com. O meu estar com o estar do outro possibilita a minha presença, a vivência de não só estar mas também ser. A presença do outro leva-me a ser. Ser o espaço entre o meu estar e o estar do outro numa correspondência tripla Eu-Tu-Relação (mais que vivência/ideia): Pai-Filho-Espírito. Husserl também constata que para lá do nível da realidade “plana” se encontra a “dimensão da espiritualidade viva”. O espírito humano revela-se na língua pela possibilidade de dizer tu. Revela-se na capacidade de reconhecer um tu, no limiar do “pecado” de Adão e Eva, como reconhece a Bíblia. O reconhecimento leva à fala que permite então o encontro. Oh feliz culpa!… No argumento e contra argumento, cada interlocutor reduz a coisa à sua imagem fixa, cristalizando-a na própria diferença, ou aspecto, truncando-a da imagem viva que é movimento.

Discurso Masculino contra o Feminino

Através da imaginação ultrapassa-se a situação real, encara-se a realidade para lá da via causa efeito. Para lá das palavras e das ideias encontram-se imagens, panoramas da alma. Por isso se queremos mudar sentimentos e comportamentos recorre-se a imagens.

A comunicação acontece no âmbito verbal e não verbal. A zona mais próxima ao sentimento é a das imagens; a primeira apreensão da realidade talvez se dê através da inteligência emocional. A imaginação é a chave para secções da personalidade. A imaginação é um instrumento que pode desenvolver a atitude racional. Nas câmaras da cave do nosso cérebro encontram-se armazenadas as mais diferentes imagens, à imagem de pinturas rupestres, que uma vez estimulados deixam representar a cor local de então como se fossem filmes reais. Ao pensar criam-se associações ligadas ao panorama da imagem.

A parte esquerda do cérebro é responsável pelo pensar lógico, de orientação causal e determinista, tem a competência da língua e da actividade verbal, como ler, escrever, matemática, decorar e processos analíticos. É o centro do pensar racional, ao mesmo tempo ordenador e orientado para uma meta.

O hemisfério cerebral direito tem a competência da compreensão de imagens. Não é lógico, e corresponde a uma visão de conjunto, criativa, global, de carácter fotográfico panorâmico, de carácter intuitivo emocional numa relação de indução. Esta parte cerebral é desprezada a nível escolar, político e económico e mesmo no sistema de pensamento, dando-se mais importância à inteligência racional (carácter mais masculino, firmamento) do que à inteligência emocional (carácter mais feminino, terra). Repete-se o defeito da dialéctica na relação entre Realidade e ideia. Assiste-se à ciência contra a arte e contra a religião, ao patriarcado contra o matriarcado. É o hemisfério cerebral esquerdo contra o direito. Continua-se no diálogo rectilíneo, quando o a realidade é complementar e acontece em triálogo.

Podemos fazer uma comparação extrema para a apreensão da realidade. A parte esquerda do cérebro podíamos designá-la do homem em nós e a direita de mulher em nós. Imaginemos que homem e mulher se encontram num extremo dum jardim sem caminhos e querem atingir o outro extremo. O homem chega naturalmente primeiro! Ele com o seu pensar lógico só via o fim (o firmamento) pisando muitas das flores e arbustos para lá chegar rapidamente. A mulher chegou mais tarde mas não estragou e chegou mais rica porque pode descrever muitas das flores e arbustos que observou ao contornar. Ela tem a visão individual e quer manter o todo intacto, o seu estar é um estar em relação. O homem tem a visão abstracta, tem no sentido a meta, provoca a dor mas consegue chegar mais rápido, o seu estar é distante.

A Escola, o Estado, o Pensamento e até a Religião, continuam a cultivar uma cultura masculina, um discurso exclusivo do “ou…ou” quando a Realidade é integral, necessitando nós duma cultura do “não só…mas também.” As duas forças juntas conseguem reunir o princípio da selecção e da colaboração (osmose) numa parceria de complementaridade em relação de igualdade. Trata-se de ver o mundo não só segundo uma dimensão de uma perspectiva (masculina ou feminina, dedutiva ou indutiva) mas também da dimensão a-perspectiva, porque a perspectiva é sempre redutora, tal como a definição. A paz e a harmonia no sentido evolutivo realizam-se então na dança da mulher e do homem, da imagem e da palavra, num processo contínuo de emancipação dos dois, num jogo de ejaculação e gestação, de tensão e relaxe. Na complementação dos dois se dará à luz uma nova realidade, uma cultura da paz e não da guerra. A estratégia a seguir será o reconhecimento da complementaridade da feminilidade e da masculinidade de forma equitativa.

© António da Cunha Duarte Justo

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