Ancara faz Chantagem instrumentalizando o Fluxo dos Refugiados para a Europa

O GOVERNO DA TURQUIA “NÃO OFERECE CONFIANÇA”

António Justo
A Turquia, como se vê no ataque terrorista em Istambul a turistas e na guerrilha curda está a colher os frutos de uma política de confrontação e oportunismo que tem seguido especialmente desde que o partido de Erdogan orienta os destinos do país. A Turquia causou, em parte, o afluxo incontrolado de refugiados, tornando a Europa vulnerável e sujeita a chantagem. Também por isso conseguiu receber 3 mil milhões de euros da EU para ter mão nos refugiados.

O especialista alemão em Médio Oriente e em terrorismo, Doutor Guido Steinberg, afirma em entrevista ao HNA 14.01.2016: “O afluxo de refugiados, do ano passado (2015), devemo-lo, pelo menos em parte, a uma decisão consciente do governo turco, de abrir as fronteiras para Grécia para criar problemas aos europeus”…

A Turquia tolera o ISIS prestando-lhe “apoio passivo” desde 2013 permitindo que use o seu território como região de retiro: “não só todos os combatentes estrangeiros do mundo árabe, mas também os da Europa e do resto do Ocidente, usaram a Turquia como área de preparação… A Turquia não é de confiança, como mostra o seu comportamento em relação ao ISIS e a outros jiahdistas… A Frente Nusra e Ahrar al-Scham (uma espécie de Talibans) recebem apoio da Turquia”, afirma o especialista. Além disso os seus ataques às zonas curdas da Síria e do Iraque, sob o subterfúgio de atacar o ISIS, são situações que apontam para o uso impróprio dos bombardeamentos.

Deste modo a Turquia age contra os interesses da Nato, de que é membro e mina também os interesses da UE. Naturalmente o quase milhão e meio de refugiados que entraram na Alemanha em 2015 provocam tantos problemas à Alemanha que esta terá de implementar estratégias efectivas, a nível internacional, que fomentem a riqueza nos países produtores de emigração e não se reduza à acumulação de problemas, estabelecimento quotas de refugiados para os diferentes países da UE.

A UE precisa da Turquia devido à sua posição geográfico-estratégica, à quantidade de turcos na Alemanha, e também para o combate ao terrorismo e para a regulação do fluxo de refugiados. A Turquia tem um grande potencial de chantagem em relação à Europa (sua presença migratória e refugiados) e à Nato (instrumentalizando-a indirecta e militarmente também contra os Curdos). Também é facto que os Curdos refugiados especialmente na Alemanha, França e Holanda apoiam economicamente os seus irmãos de luta na defesa da liberdade e da independência. Enquanto não for organizado um Estado curdo resultante dos curdos a viver nas regiões fronteiriças de alguns países não haverá paz na região. As potências têm sacrificado o povo curdo a interesses nacionais e estratégicos.

Agora com o atentado de Istambul, por razões económicas, o governo turco ver-se-á obrigado a agir mais decisivamente contra o ISIS: o turismo turco recebe da Alemanha dez milhões de turistas por ano.

O presidente Recep Erdogan tem feito tudo pela islamização da Turquia (continuando também a discriminar os cristãos) e contra o projecto de secularização do estado iniciado por Atatürk fundador do Estado turco. Erdogan tirou o poder aos militares, impediu o movimento democrático no país, rescindiu o contrato de tréguas com os curdos, fomentando assim a guerra civil e prosseguindo uma política externa pró-árabe e anti-israelita.
A Turquia quer fazer história com o “Estado Islâmico” (ISIS)
António da Cunha Duarte Justo

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António da Cunha Duarte Justo

Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

4 comentários em “Ancara faz Chantagem instrumentalizando o Fluxo dos Refugiados para a Europa”

  1. Fiquei surpreendida com tantas afirmações deste texto como a da chantagem feita pela Turquia. Não a imaginava tão ativa no conflito.
    Já se sabe se foi mesmo o ISIS que provocou o ataque bombista contra os turistas alemães em Istambul?
    Se tiver sido o ISIS não se entende porque haviam de atacar na Turquia prejudicando a Turquia (levando a ter
    menos turistas) se a Turquia os tolera prestando-lhes “apoio passivo”. Bom, tu afirmas que a Turquia não é confiável.
    Então também não o é para o ISIS, daí que eles atacaram. Quem te parece que o ISIS quis atingir: os alemães ou a Turquia?
    Os alemães por eles se terem posto contra o ISIS, os turcos poque atacam os curdos dizendo que querem atacar o ISIS…
    Como é que a Turquia quer fazer história com o ISIS? Estou confusa mas acho que não é para menos com tantos
    “jogos políticos”…

    MManu

  2. Confusão! Dela vive melhor quem pode, os poderes instalados. Querida colega, se todos fossem como tu, querendo ir ao fundo das questões, o mundo viveria mais em paz, porque virado mais para a razão de argumentos e menos para opiniões fomentadas apenas pela emoção.
    A Turquia tem o problema com os Curdos que quer dominar e tirar o direito a existência própria no seguimento do que fez com os cristãos. Inicialmente os cristãos eram 25% da população e agora são cerca de 0,02% da população. Com os curdos que ao empenharem-se na luta contra os sunitas (ISIS) a Turquia sente-se incomodada porque por um lado está interessada em combater os xiitas e em combater os Curdos não só na própria região mas também nas regiões dos países fronteiriços. Enquanto a EU e os USA estavam interessados em combater o ISIS e o governo Sírio, a Turquia (membro da Nato) estava interessada em instrumentalizar as armas da Nato em seu benefício (combate aos Curdos). A Alemanha admoestou-a mas pouco valeu. Quanto ao ataque bombista de Istambul, uma hora depois dele já o governo turco pretendia saber quem era o assassínio. É importante que nos primeiros tempos a opinião pública navegue na incerteza porque em qualquer caso quem ganha é apena o ISIS e entretanto tudo se esquecerá através de um outro atentado. Se fosse um Curdo estava mal porque muitos alemães deixariam de passar férias na Turquia e alertaria ainda mais para a guerra-civil na Turquia; sendo um ataque do ISIS contra a Turquia poderia corresponder a um castigo por a Turquia prometer mais eficiência na luta contra o ISIS; se tiver sido um atentado contra turistas alemães também com um só golpe o ISIS “mata duas moscas.” De qualquer maneira, a estratégia dupla da Turquia de se “unir também ao diabo” mostra que reverte em desfavor da estratégia dupla. Eu não afirmo que a Turquia não é fiável, que disse isso foi o perito que citei e que penso ser das pessoas mais bem informadas sobre o assunto na Alemanha. Penso que a Turquia quer fazer História própria com o ISIS, porque estes são os guerrilheiros da grande maioria turca que é Sunita e porque quer fazer tudo por tudo para acabar com a legítima reivindicação turca de erguer um Estado curdo composto pelo território fronteiriço dos países vizinhos onde se encontram.
    O fomento da confusão é uma estratégia de que todos os implicados (Nato, Turquia, Irão, Arábia Saudita, EU e USA) no conflito da região síria e iraquiana vivem bem, conseguindo evitar a crítica dos cidadãos dos países democráticos.
    Grande abraço
    Justo

  3. Ao dizer que os implicados na Síria (Nato, Turquia, Irão, Arábia Saudita, EU e USA) esqueci-me de dizer que também a Rússia faz parte dos interessados em ganhar trunfos no conflito entre Xiitas (Irão) e Sunitas (Isis, Turquia e Arábia Saudita). Com o regresso do Irão ao palco internacional surge na região uma poténcia antes apoiada só pela Rússia e até agora combatida pela Nato que estava interessada em afirmar a hegemonia turca na região. Daqui surgirão novos problemas: Israel tornar-se-á menos estável também. Como no fim o que interessa é o capital e a ideologia como elementos fomentadores do poder, é de crer que o Irão se deixe entrar em compromissos para se afirmar como potência económica e daqui a dez anos poder voltar aos seus programas de energia atómica.

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