A32 degrada Oliveira, Branca, Albergaria e Águeda
António Justo
A Vila da Branca encontra-se de luto. A sua riqueza de paisagem impar seria destruída, para sempre, pelo traçado da auto-estrada A32. A destruição paisagística, ecológica e patrimonial estende-se como uma nuvem negra ao longo dum trajecto completamente irracional.
Das janelas dos prédios ao longo do IC2, que atravessa a Branca, meneiam, ao vento, longas faixas de tecido preto, numa atitude de resignação amarga perante poderes e interesses que sopram de longe.
A Associação do Ambiente e Património da Branca (“Auranca”) esgota-se num activismo de conversações com políticos e autarcas locais também eles impotentes perante a prepotência do poder político de Lisboa e os seus parceiros económicos.
De facto, perante os ouvidos moucos e a cegueira dum poder político centralista, encerrado em Lisboa, que, longe das populações, decide contra a razão, contra a natureza, contra o ambiente e contra o povo, a população da Vila da Branca, tal como outras populações vizinhas, parece resignada, sofrendo em silêncio, perante aberrações económicas, sociais, paisagísticas que o novo troço de auto-estrada vem irremediavelmente causar, ao passar pelo monte de S. Julião sem respeito nem consciência pela natureza e pelo humano.
Ditaduras e despotismo só são possíveis através do medo. Quem, antecipadamente, põe luto dá o sinal de desistência! O medo perante poderes anónimos veiculados pelo centralismo megalomaníaco lisboeta, alheio ao resto de Portugal e penalizador dum Norte trabalhador só poderá ser superado por uma acção conjunta de todos perante o poder central e a AE. De facto, povo, junta de freguesia, câmara municipal são contra o projecto. Não há ninguém contra ninguém. Apenas o próprio respeito, o respeito duns para com os outros e a responsabilidade pelas gerações futura obriga todos a agir. Não nos encontramos em tempos de falsos medos nem da lisonja a que Sócrates nos quer obrigar! O inimigo está em Lisboa e nos seus acólitos!
O prémio da lisonja tem o preço da própria honra e do futuro. Se todos seguirem o caminho de Diógenes, com certeza que a A23 não será construída como planeado e reverterá ao serviço do interior, em especial de Vale de Cambra, Arouca e outras populações.
Certo dia, Diógenes encontrava-se sentado na soleira duma porta a comer um pobre prato de lentilhas. Um ministro do imperador, vendo a pobreza daquele sábio, dirigiu-se a ele e disse-lhe: “Diógenes, a tua situação é lamentável! Se aprendesses a ser um pouco submisso ao imperador e a lisonjeá-lo não terias de comer só lentilhas!” Então, Diógenes deixou de comer, levantou a cara, fixou o nobre interlocutor e respondeu: “ Lamentável é para ti, irmão. Se aprendesses a comer um pouco de lentilhas não terias de ser tão submisso e de lisonjear continuamente o imperador.”
A via do respeito próprio e da dignidade transcende as próprias necessidades e uma auto-estima vaidosa.
O preço da negação própria e o futuro da Branca e vilas circunvizinhas é demasiado alto para nos fecharmos no lamento e no luto. Mãos à obra! Todos unidos conseguiremos o melhor para todos. Para não continuarmos submersos no nevoeiro da lamentação e do luto, a palavra de ordem será: Luta em vez de luto!…
António da Cunha Duarte Justo
Habitante da Branca
a.c.justo@unitybox.de
Desculpem a gralha.Onde se lê AE deve ler-se EP.
Atenciosamente