Ecologia – Ignorância versus Dignidade das Árvores

Modelo de sociedade relvado: Sobreiros – Vítimas do olhar assassino!

Sim! Eles, os da administração da Branca (e de quantas Brancas há por esse mundo fora), os eleitos arboricidas do sítio, numa acção de golpe baixo, mataram os sobreiros centenários, lá ao lado do cemitério. (Na sorte destes sobreiros está o destino de tanta árvore maltratada e desconsiderada por essas cidades fora!) Sem piedade, envoltos no manto da indiferença geral, mandaram arrancar as árvores em cuja copa o amor e a admiração de muita gente pendia. Não os deixaram morrer de pé, aqueles monumentos solitários testemunhos da arboridade, da personalidade na paisagem. Morreram por um motivo ignóbil; para darem lugar à calidez do cemitério, e assim deixarem de ser uma provocação à morte e ocasionalmente oportunidade de sombra para visitantes.

Na cabeça o corta-relva
Sim! Lá na Branca, para deixarem os mortos na torreira, cortaram os sobreiros. Assassinados pela calada da noite, não lhes valeu a menção de protegidos por lei, nem sequer depois a recordação num jornal local, embora eles fizessem parte da imagem da Branca. Morreram incógnitos tal como acontece à relva humana. Deles só resta na paisagem a sua ausência e o sentimento ferido de quem tem respeito pela natureza!

Não, não quero ficar prisioneiro da consideração, no respeito pelos desrespeitadores.
Eles, sem vida no cemitério da administração administram a morte. Mas, não têm culpa, não sabem o que fazem! A ignorância mata muitos inocentes principalmente quando as instituições trazem o corta-relva na cabeça!…

O dia a dia e a administração deram-se as mãos perdendo a relação com a vida, com as plantas. De tanto olharem para a mata já não vêem as árvores, cada uma das árvores; chega-lhes a ideia delas. São pessoas estudadas, cientistas, arquitectos, paisagistas, doutores: chega-lhes a ideia. Mataram o espírito da mata na árvore. A ciência, a função estragada já o não vê, usa os óculos da biologia ou os da economia. O olhar administrativo, científico não desperta para a vida para o espírito, ele divide, ele mata, assassina.

Para certa gente aqueles sobreiros eram de tal modo elevados que constituíam uma afronta à igualdade, ao moderno! Querem ver as pessoas a olhar para baixo, para o cemitério da vida! Uma árvore aponta para o céu tornando-se um perigo, uma contestação do ordinário da vida, uma exigência. (Outros também nas querem desenraizadas para que as pessoas de tanto olhar para cima tropecem na vida…). O espírito do tempo transmite uma mentalidade em que cada vez custa mais às pessoas olhar para o que as supera, como se isso constituísse um atentado à sua personalidade. Chega o olhar “clínico”, o olhar matreiro para se desenrascar da vida!

Este olhar científico, desintegrador, recebemo-lo com o leite materno citadino. A mentalidade da ciência, que outra coisa não é que o pensar da igreja secularizado, vive da classificação. A igreja classificava as árvores de criaturas, a ciência classifica-as de plantas. Assim as desenraízam da terra e impedem o olhar para o céu, a união entre céu e terra. Eles querem-nos apenas produtos, produtos desenraizados comerciáveis na praça pública da economia global.

O nosso amor elementar pela natureza perde-se e com ele aumenta o nevoeiro científico reduzindo tudo a ideias, a abstractos. No templo da escola ensinaram-nos a classificar as árvores como plantas, madeira, etc… Não ensinam a aprender a realidade, querem é cabeças cheias de imagens da realidade. Eles enganam-nos dizendo que amor é sentimento, romantismo sentimental. Mas não amor é relação, é acontecer sem passar pelo altar do intelecto onde os cientistas realizam o sacrifício…

Instrumentalizamos as árvores classificando-as à nossa maneira. Roubamos-lhes assim a alma. Na biologia classificamo-las de plantas, na economia de madeira, na teologia de criaturas de Deus. Cada um usa e abusa delas à sua maneira desenraizando-as da realidade que é a-perspeciva.

Acesso à realidade através da poesia nela inerente
Sim, o verdadeiro homem também acaricia as plantas, não as reduz a árvore de natal ou a lenha para queimar!

Aquele que tiver acariciado uma árvore e falado com ela já não sacrificará árvores sem mais. Quem ama a árvore, gosta da mata, ama o mundo. “Quem não ama o mais pequenino dos mais pequenos não entrará no reino dos céus” recorda-nos o sermão da montanha. Este prega a devoção do mundo porque sabe que nele mora a poesia e esta é a que torna o ser mais humano, isto é ajuda-o a descobrir a sua verdadeira relação. Religião e ciência deveriam inclinar-se e alimentar-se da poesia que repousa na outra lógica e na devoção do mundo. Então o Homem tornar-se-ia adulto e como tal portador do mundo em si. Perder-nos-íamos para nos encontrarmos nele e viveremos todos na amizade manifestada na experiência da relação. Então, sem medo, poderemos perder-nos e encontrar-nos no mundo da árvore e assim entrar na ressonância do amor do mundo universal trinitário.
Então tornar-nos-emos conscientes da desafinação dessa ressonância que deixa morrer a árvore, num mundo desafinado pela turvação da relação científica, económica ou teológica que troca a relação com a árvore pela relação com uma ideia dela.

Na base da turvação (e no nevoeiro científico e religioso) está a miopia do banal. O segredo do negócio está no facto de, a todos os níveis, tudo ser subjugado ao hábito, ao normal, ao ordinário factual. O ordinário quer tudo subjugado, tudo sacrificado à ordem da rotina gratificante do hábito castrante. A nossa ordinariedade reduz tudo ao preceito do pragmático ordinário. Aí não há lugar para o segredo, para o mistério. Ao eliminarmos o extraordinário da vida, o insólito, matamos o mistério e ao matarmos o mistério começamos com a eliminação do espírito das árvores para depois passarmos ao extermínio do Homem. O credo da normalidade, do ordinário, do tal real e factual, não tem limites conduz-nos à banalização total à perspectiva niilista. O niilismo do dia a dia torna-se niilismo diário no culto do vulgar, do banal! O credo niilista anula, destrói, é o último acto da ciência na sua fábrica de cadáveres. Não querem ninguém a olhar para o céu, só aceitam uma perspectiva, a da terra. Da árvore conhecem apenas a madeira, do ser humano o corpo: o uso, só cadáveres! A existência do animal é reduzida ao conceito carne, como o de árvore a lenha ou celulose. Tudo não passa de material na banalidade do dia a dia. Tudo é ordinário, o culto da banalidade não permite a festa, o outro tempo, a conexão das coisas.

O mistério da vida é o propulsor do desenvolvimento
A banalidade é alérgica ao mistério, por isso desconhece a vida, é alérgica a perguntas. Na ilusão da luta contra o mistério destroem a vida, roubam-lhe a alma. Colocam tudo na vala comum da massa. Os mais consequentes com a sua ideia tiram-se a vida a si mesmos, talvez confundam o carácter purificador dum determinado niilismo para o transformarem em credo absoluto. Chega o fascínio das ideias, não há lugar para pensar! E assim, damos os nossos passos de ideia em ideia, na auto-estrada das ideias sem tempo para notar a vida ao lado!

O mistério é o único legitimador da pergunta. Quem acabar com ele abdica de pensar, acaba com a vida. Quem encalha no mundo material só terá a resposta do não sentido porque nesse porto já não há lugar para perguntas. Mas a pergunta é que faz o homem e esta provém do mistério, a realidade de que o Homem é formado. À primeira vista um labirinto!…

A mesma turvação condiciona o espírito do ser religioso e do ser científico na sua capacidade de apreender a realidade. O tal espírito banal de semana, de vida masturbada, de vida parasita.

A árvore é relação entre céu e terra visível na analogia das raízes e das folhas. Não deve ser reduzida a mero objecto, a uma ideia. Se não desmistificarmos a ciência, reduziremos tudo a cadáveres. Então defrauda-se o ser, rouba-se à árvore a sua dignidade, a sua arboridade, o seu ser de templo de Deus.

Já passa da hora, mas talvez ainda seja tempo de recuperar o perdido. Seria sacrilégio continuar a reduzir a árvore a madeira ou a árvore de natal. Se aparece no Natal será para nos reencontrar com ela. Se aprendermos a encontrar o sagrado na árvore realizamos o mistério do encontro do céu e da terra. O caminho para o sagrado é o segredo do ser humano.
E aqui, no mistério humano é que a arboridade faz parte do humano. Então o encontro com a árvore tornará o Homem mais humano. O grande segredo do mundo, do Homem e de Deus é o relacionamento, tal como o segredo trinitário o equaciona: a relação absoluta, a individualidade do nós.

Naturalmente que o reduto niilista não suporta o sobressair das árvores. Estas superam-se nos arranha-céus a custo do estropiamento da humanidade em nós. Na arquitectura das cidades não se olha para as árvores. Os únicos sinais permitidos contra a horizontalidade vulgar é a verticalidade dos bancos.

Ao matar Deus a sociedade vulgar não aceita árvores sobranceiras. Um dia, na sua ilusão ideológica, o homem a criar terá de ter a mesma estatura para que a igualdade não seja questionada pela preguiça, pela vulgaridade. A individualidade e a diferenciação parecem ser difíceis de suportar!

Um modelo de sociedade relvado
As árvores sobressalentes, ao serem transformadas em ideias na câmara escura da razão, tornam-se símbolos do fascismo por isso é preciso cortá-las como se faz com Jesus e outras árvores crescidas. Os representantes da democracia ordinária (presente no consciente de todos os partidos), estão interessados em derrubar as árvores grandes. São as árvores fascistas e comunistas (religiosas ou ateias) que fazem sombra ou incomodam num mundo que se quer relvado! Em vez dos sobreiros centenários querem apenas arbustos ou erva rasteira, tudo em nome da igualdade, tudo ao serviço duma ideia da realidade, à margem da mesma. Aqui fascismo e democracia tocam-se!…

A mentalidade tecnocrata inclina-se ao arroteamento. No seu andar não notam a dignidade dos montes, das árvores; apenas lhes interessa o alcatrão e construções técnicas.
O domínio da banalidade não tem o campo visual da tradição e da alma encoberta nas coisas. Este espalha-se despercebido em todas as camadas sociais, tal como o espírito fascista se espalhou na época nazi.

O génio da destruição não suporta a honra de plantas e animais, não quer ninguém honrado (no máximo condecorado!). O espírito do tempo só aceita plantas rasteiras onde limpar os sapatos ou relva baixa para calcar!

Para se dar o passo do ordinário barulhento, do dia a dia ao extraordinário pacífico da bênção duma árvore, pressupõe-se uma mudança de mentalidades. Esta não pressuporia a ideia de construirmos cidades em que a arquitectura do planeamento urbano se orientasse pela altura das árvores. Bastaria um cheirinho desta ideia, já que para alguns o homem se define pelo pensar! Melhor será pensar, sentir e agir na unidade da dinâmica relacional.

António Justo
“Pegadas do Tempo”

António da Cunha Duarte Justo

Paralelismo entre a saúde das pessoas e o estado do tempo

Estima e reconhecimento
O grande rápido da vida passa com tanta veemência, com tanta energia que se não estamos atentos somos reduzidos a folhagem por ele arrastada. Um dos pressupostos, para não nos deixarmos reduzir a cena outonal duma paisagem, é uma atitude vigilante e o cultivo da auto-estima. Esta pressupõe sobretudo competência de observação e de inter-relação. Quem estiver habituado a observar e sentir com a natureza e com o corpo notará que na natureza se dão as mesmas mudanças de estado (bom ou mau) como no nosso corpo-alma. O paralelismo dos factores influenciadores é flagrante. O sol está para o bom tempo na natureza como a alegria, a boa disposição para a saúde do nosso corpo, etc. A auto-estima é fundamental na regulação do estado climático da nossa paisagem psicossomática.

Pessoas com baixa auto-estima são inclinadas a andar pela faixa sombria da vida, viradas de semblante para a terra mas de espírito ausente no sonho, fazendo juízos generalizados sobre a vida e os seus papéis sociais. Falta para elas a capacidade de se situar segundo o princípio “eu sou eu e as minhas circunstâncias”. Não se presta atenção ao específico de cada situação mas tende-se a olhar para um horizonte ideal que automaticamente nos aliena da realidade. À caça de sensações gratificantes perdemos a capacidade de nos relacionarmos.

Uma boa opinião sobre nós mesmos traz-nos mais alegria na vida mais gosto de viver e consequentemente mais sucesso. Para um aumento da auto-estima pressupõe-se a capacidade de se aceitar como se é, o que pressupõe atenção e força para reconhecer o próprio comportamento que automaticamente criticaríamos. Naturalmente que como na natureza há factores mais ou menos determinantes dum tipo de carácter tal como na natureza a proximidade dum deserto ou de um oceano são factores importantes na influência da situação do tempo, do espírito. Daí ser muito importante a observação consciente do ambiente.

Quem tem pouca auto-estima terá de procurar deixar de ser o legislador das próprias acções com contínuos julgamentos sobre si mesmo. “Não julgues e não serás julgado” vale também para nós. Não se trata de ser como se deve mas de se ser próprio, de se descobrir a si mesmo e se aceitar como se é. Esta é a base de toda a transformação e desenvolvimento.

O reconhecer e aceitar a pessoa com o seu comportamento cria nela espaço para nova realização, para a efectivação de imensas potencialidades que dormem nela. Doutro modo não deixaremos de andar com a coleira ao pescoço puxados pela trela da lei, do ideal, do que os outros poderão pensar, etc. Não nos tornamos adultos. Em nós há uma multiplicidade de comportamentos, como cães na casota à espera que lhe abramos a porta. Só que essa casota tem muitas portas com chaves diferentes. Cada chave está dependente da atenção que conduz ao reconhecimento das nossas necessidades e do sentido. Esta atenção leva-nos a descobrirmo-nos como somos, a encarar a vida de frente sem que esta seja apenas vista através do preconceito de ideias espelhadas. Estas, e o nosso eu ideal mantêm-nos prisioneiros deles mesmos. Já não sou eu que vivo, a ideia é que vive em mim.

Nós mesmos ao longo da nossa vida, além de normas inatas fomos internalizando outras criando ao mesmo tempo uma instância, um tribunal que nos dita como devemos ser e o que devemos fazer. Este tem uma função orientadora e motivadora, só que muitas vezes é irrealista exigindo mais do que se pode no momento. Pessoas com baixa auto-estima colocam os seus objectivos demasiadamente altos. É preciso muita auto-reflexão para se aceitar não ser o melhor, não se tornar escravo duma ideia, que parecendo o melhor não é o possível tornando-se ela impedimento para realizar o presente, o momentaneamente possível. Doutro modo correremos sempre arquejantes e banhados em suor atrás das nossas pretensões ou propósitos.

Geralmente não deitamos contas à vida. Não se presta atenção ao exagerado preço a pagar para se atingir certos objectivos. Muitas vezes me lembro de pessoas que no momento da morte me confiavam: tudo foi em vão! A solidão e a dor que não admitimos na vida espera-nos mais tarde na forma de desespero!

O segredo do bom viver está em pararmos, em deixarmos de correr atrás dum eu insaciável, em abrir-nos à natureza, possibilitando em nós um estado aberto de ressonância com o ser em que momentos intensivos de felicidade surgem, não pelo facto de os termos querido ou trabalhado para eles mas simplesmente por estarmos abertos, à disposição, para podermos saborear o que recebemos.

Não se trata de dar lugar à preguiça. Trata-se dum querer sem querer, um agir sem reagir. Se nos encontramos divididos entre baixa auto-estima e uma exigência ideal é natural que surja uma reacção boicote. A realidade e a ideia desqualificaram-se uma à outra. Então dá-se uma espécie de fuga irreflectida para a frente. Aí se estoira muita energia psíquica sendo natural a reacção de se querer olhar para o ar e assim iludir uma obrigação excessiva. A este estado aéreo junta-se a falta de ordem e disciplina.

O óptimo é inimigo do bom! E Roma e Pavia não se fizeram num dia…

Antrónio Justo
Pedagogo

António da Cunha Duarte Justo

Auto-realização – O seu preço

Auto-estima
O sucesso na relação com o outro, com o parceiro, depende do equilíbrio e da reciprocidade na troca de estima, serviços e sentimentos. A falta de equilíbrio leva o parceiro a sentir-se menos valorizado. Quem é reconhecido e estimado sente-se bem e reage produzindo mais e melhor, segundo mostram investigações americanas. A falta de reconhecimento conduz a depressões, diabetes, stress, doenças de circulação e do coração.

Geralmente ansiamos por um futuro melhor, por prestígio e respeito. Não chega o reconhecimento económico, é preciso também o emocional. A saúde tanto no lugar de trabalho como na família dependem da consideração tida pelas necessidades do parceiro, do subalterno. Se na relação não houver um equilíbrio entre o dar e o receber a relação torna-se doentia dando origem a atitudes de insegurança no caso de falta ou a atitudes evasivas no caso de excesso. Onde faltar a consideração e a estima aí falta o Sol, aí surge uma depressão. O desprezo, o ignorar e a crítica têm um efeito de dia chuvoso sobre o corpo e a alma. Estes, como a natureza, precisam da noite e do dia, do Inverno e do Verão para a regeneração e um desenvolvimento são.

No Outono as pessoas são mais depressivas porque lhes falta o sol que regula determinadas funções da pele e do sistema nervoso. Na paisagem do corpo e da alma humana dá-se o mesmo processo. Se se vive num ambiente de reconhecimento e estima ou num ambiente de desinteresse ou de crítica o centro do sistema nervoso reage diferentemente, lançando mais ou menos Dopamin, activando mais ou menos as hormonas do stress, o que automaticamente provoca diferentes estados de alma e do corpo, primeiro como manifestações sintomáticas para depois se tornarem em doenças psicossomáticas.

Na minha actividade de pedagogo e de familiar pude verificar que o louvor fomenta a criatividade e a alegria. Uma pessoa reconhecida e estimada sente-se realizada. Este sentimento cria novas rampas de lançamento para novas possibilidades até então encobertas. O incentivo dado no novo momento rotineiro cria novas energias. O riso e o choro têm funções purificadoras tal como o sol e a trovoada na natureza.

A psicologia diz que pessoas muito produtivas precisam de mais reconhecimento e estima. O reconhecimento é para a acção o que o oxigénio é para a respiração. Maior actividade e maior produção exigem mais oxigénio mais reconhecimento. Os homens sofrem mais com a falta de reconhecimento no trabalho do que as mulheres porque a profissão é fundamental na definição da sua identidade enquanto que a mulher vai buscar reconhecimento também a outras fontes (relação com outras pessoas, etc.).

A necessidade de ser louvado corresponde a uma necessidade fundamental de ser reconhecido como pessoa e apreciado pelas próprias capacidades e realizações. O reconhecimento torna-nos independentes. O amor porém é mais profundo e pode mesmo colocar todas as leis fora de acção.

Demasiado centrados nos problemas, geralmente exageramos com a autocrítica, que pode conduzir à preguiça. Esta às vezes torna-se cómoda. Então prefere-se viver na sombra da vida, procurando dar razão a toda a gente na auto-negação.

Em vez de examinarmos as falhas que paralisam seria interessante pôr-nos à descoberta das coisas bem sucedidas. Estas aumentam as potencialidades. A estima pela pessoa e o reconhecimento do seu agir estão na base de toda a nossa motivação e honra. O louvor revela que se fez algo com sentido

A nossa personalidade depende da imagem que fazemos de nós. Esta é uma espécie de sombra de Deus pelo que nunca está completa, é processo. A autoconfiança ou a falta dela influencia o nosso sentir e agir. A consciência de se dominar algum aspecto fomenta a tolerância de frustração e a persistência.

Quem se respeita a si mesmo, presta atenção à sua dignidade e é mais alegre e confiante, consequentemente é mais corajoso e tem mais sucesso. Como não se questiona sistematicamente aceita melhor a crítica. A base da auto-estima é o amor-próprio e a confiança em si mesmo. Estas capacidades possibilitam a fidelidade a si mesmo e o equilíbrio na relação com o outro, numa dinâmica de pergunta e resposta de seres em processo, em mudança.

A auto-estima depende muito do alimento do sentimento na infância. Se olhamos para nós positivamente e tivermos consciência de nós, sabemos que agimos a partir da própria força; esta depende também da educação. O próprio valor é mais que os trabalhos feitos. É evidente que o sucesso fomenta a auto-estima.

Demasiada auto-estima pode ser vista como orgulho e este espanta os pardais. Pelo contrário a modéstia fomenta amigos. Esta fomenta a empatia porque pressupõe a capacidade de se colocar na pele dos outros. Tudo depende também do ambiente em que nos movimentamos.
Aquele que está contente consigo mesmo, sem narcisismo, sente-se bem com os outros. Quem entra no labirinto dos sentimentos negativos precisa de muita força e ajuda para sair da crise. Um pessimista é como a tempestade a caminho. Alguns encalham facilmente nalgum buraco da história ou esbarram-se na vida dos outros.

Não há remédios fáceis para a cura atendendo a que saúde e doença são estados duma forma de vida. Há aspectos que podem ajudar a encontrar o caminho para si, como: sentido da vida, confiança, bondade e amor ao próximo (solidariedade), Autogenes Training, Imaginação, Meditação, Biofeedback, etc.

Trata-se de descobrir as potencialidades que jazem enterradas em nós. Cada um de nós é uma mina de diamantes por descobrir.

António Justo
Pedagogo

António da Cunha Duarte Justo

Saddam Hussein – Um Assassino Assassinado

Saddam foi condenado por ter assassinado 148 Schiitas em 1982.

No tempo de revoluções não se pergunta pela justiça dos processos

Crimes contra a humanidade deveriam ser julgados por tribunais internacionais. A consciência política internacional é muito paciente. Tolera crimes contra a humanidade até que surja uma revolução, uma mudança de regime. Os revolucionários que assumam a responsabilidade.

O instrumento da pena de morte como meio de implantar uma democracia é uma perversidade da democracia. É um instrumento ditador sem respeito pela vida.

A lógica parece ser sempre: quem ganha tem razão. A vingança torna-se lei. Os vencedores querem rapidez na execução dos rivais depostos para evitar que o povo pense; para oposição bastaram eles…

Internacionalmente ninguém protesta contra o assassínio apressado. O melhor trunfo é o silêncio aliviador. Assim, para já não se vem a saber muita coisa que Saddam teria para contar sobre os seus amigos de ontem.

António da Cunha Duarte Justo

Reestruturação Consular

A luta dos estabelecidos contra a política

O imbróglio administrativo
Uma instituição de serviços de Estado no estrangeiro não pode ser avaliada apenas por critérios operacionais e de serviço meramente burocrático. Ela tem de corresponder a critérios de gestão, de acção e de intervenção mais alargados. Além disso é necessário o controlo da eficiência. Esta pressuporá necessariamente iniciativas e processos desencadeados na população alvo.

Uma reestruturação consular, como pretende o governo, exige do Secretário de Estado grande força e clarividência num domínio demasiado minado e estreito.

Devido ao carácter rotativo rápido dos políticos, as suas decisões estão demasiadamente condicionadas às informações do aparelho administrativo público. Este não só emperra o processo como manipula as decisões políticas dependentes de relatórios feitos pela própria administração pública. Cai-se assim num ciclo vicioso invertendo-se os termos. A política que deveria determinar a acção administrativa passa a correr o risco de ser determinada por esta. Isto torna-se especialmente grave em bastiões do sector público onde domina a monocultura política, como na educação, de conotação politica demasiadamente esquerdista. Isto dificulta a actuação de qualquer governo independentemente da sua cor, acrescentando-se ainda os problemas das diferentes facções dentro dos próprios partidos e na administração.

As próprias inspecções que esporadicamente acontecem são efectuadas por funcionários demasiadamente penhorados pelo próprio sistema e dependentes dos subterfúgios da própria administração que possui na mão peões e trunfos de que o próprio inspector está dependente. A política decide mas quem se ri é a administração consciente de ter o folgo mais longo.

Um Estado forte precisa duma administração forte e leal mas salvaguardando-se sempre a primazia da política em serviço do Povo.

Políticos conscientes, ao serviço do Estado e do Povo, terão de recorrer também a estudos externos no seu período de formação de opinião e de decisão. O trabalho das lobies é hoje tão perfeito no sentido de criarem areais de monocultura ideológica transpartidária, que mantêm uma rede cada vez mais coerente nas várias instituições públicas: política, administração, sindicatos, conselho das comunidades, jornais de expressão migrante, associações, representantes de jornais, etc. Constata-se cada vez mais a formação duma oligarquia que ocupa os vários areais políticos e sociais que nada tem a ver com os ideais dos diferentes partidos nem com os interesses do povo: maquiavelismo individual puro. Corre-se o perigo de na consulta de diferentes instituições se ouvir apenas uma opinião. Assim não chegam os relatórios internos da administração, nem as exigências de grupos de pressão, é óbvio o recurso a relatórios ou estudos de comissões ou institutos independentes. Nas comunidades lusas da Europa as pessoas na ribalta, de quem a opinião pública e a política se servem, são tão poucas e tão pouco diferenciadas que dificultam a formação duma visão suficientemente objectiva da realidade. Assim na voz dos representantes falta geralmente a ressonância popular, atendendo a que quem fala mais que representante é uma personalidade circunstancial e demasiadamente circunstanciada. Nesta apagada e triste realidade coxia a emigração lusa na Europa e a administração pode dormir à vontade, sem perigo de que alguém a acorde. Se alguma insónia há é apenas quando aparece algum “atrevido” que lhe queira pedir contas… Portugal persiste em querer dormir a paz dos cemitérios. Se alguém ousa bater as palmas logo é condenado como perturbador da tal paz. O problema é que a paz construída pelos que vivem das manjedouras do estado se perpetua à custa das insónias do povo e dum Estado que assim não pode responder aos anseios, aos sinais dos tempos.

Neste ambiente há que perguntar-se: quem pode criticar quem? Quem serve quem? Quando se passa da hora dos acomodados para a hora dum Povo?

Opta-se pela crítica pela crítica, pelo pensar de campo ou trincheira. Na ausência de apresentar alternativas ou se engraxam os sapatos de amigos ou se atacam pessoas.

Não chega estar presente é preciso ser-se eficiente

É urgente a reestruturação de Portugal, a reestruturação de Consulados e de Embaixadas não só no que respeita ao seu aspecto organigrámico mas de redefinição de objectivos e estratégias e de tarefas do pessoal.

Não há uma relação de equivalência entre o peso da estrutura e o trabalho e acção produzida.
São demasiado altos os custo a suportar com diplomatas que primam pela ausência nas comunidades lusas e na comunidade onde estão inseridos. Que têm feito? Administrado a miséria no marasmo da Bela Adormecida?
As novas tecnologias obrigam a remodelação, simplificação e maior eficiência no trabalho. O fluxo migratório obriga à versatilidade institucional de apoio. Precisa-se da racionalização de serviços aferidos às realidades existentes.
Com a inserção de Portugal na União Europeia criou-se um outro centro de gravidade da acção política. Enquanto que na Europa as representações diplomáticas passarão a ter mais um carácter económico e mercantil, as representações fora da Europa continuarão a ter os pólos políticos e económicos como antes da União Europeia.

Uma reestruturação consular com uma consequente reclassificação dos postos consulares é mais que óbvia.

Da minha experiência com o Consulado-Geral de Frankfurt posso afirmar que a existência duma Vice-cônsul é suficiente dado que a presença do Cônsul só se terá feito notar pelos gastos. Não critico com isto o cônsul, o problema é estrutural; a estrutura não incita à criatividade nem ao empenho. Necessários são servidores no activo e não funcionários representativos. Às vezes os representativos até estorvam o trabalho de trabalhadores com ideias e elan vital (ânimo).

Uma decisão política consensual é impossível atendendo a interesses em jogo. Posições partidárias e posições do Conselho das comunidades têm em conta muitas vezes o público-alvo e não a coisa em si, pelo que não são isentos. Pior ainda quando, como acontece muitas vezes na emigração, elementos pertencentes à administração diplomática ou consular acumulam o posto de representantes eleitos ou de posições partidárias; então pesa mais o próprio interesse do que o do Estado e do Povo. Aqui tem o Secretário de Estado grande margem para poder decidir por razões de estado e de serviço atendendo à confusão de interesses vigentes. Que autoridade tem a crítica ou não crítica da chefia dum sindicato das representações diplomáticas que há anos recebe o seu ordenado pelos serviços prestados no consulado de Hamburgo sem lá estar? Com o seu ordenado o Estado podia manter dois empregados em serviço.

Importante é que se mantenha a eficiência dos serviços. Neste caso a existência duma supra-estrutura da qual dependam serviços com uma direcção de simples Chefe de Serviços ou de lojas do cidadão. Na realidade o que se precisa é de serviços do cidadão com estruturas baseadas numa filosofia mais operacional e de serviço. De facto com o mesmo dinheiro é possível servir mais e melhor possibilitando o aumento de agências e escritórios consulares. Também, como já defendo desde 1980 seria necessária mais flexibilidade para esses serviços podendo eles deslocar-se periodicamente a regiões com certa concentração de portugueses. Com poucos gastos podiam os serviços deslocar-se ao povo e além do mais criar laços. Atendendo ao carácter disperso das comunidades portuguesas porque não a criação de “consulados” itinerantes?

É verdade que a Convenção de Viena sobre Relações Consulares regula o Direito Consular. Esta ao mencionar as categorias, consulado-geral, consulado, vice-consulado e agências consulares, não legitima que se mantenha o monolítismo e a inflexibilidade por alguns apregoados. No organigrama em questão, importante é que se salvaguarde a legalidade das decisões, o serviço e o controlo orçamental. Se é verdade que confiança é boa, em questões deste género o controlo é melhor!

Há postos e honrarias a mais sem que se veja qualquer resultado a nível de ideias ou de iniciativas. Não chegam os relatórios empolados duma administração (cada vez mais fim em si mesma) tendente a justificar-se, que apenas presta contas perante ela mesma atendendo a que a rotação política é tão rápida que não permite o seu controlo eficiente. A política está sujeita a relatórios de folhas Dina 4 pacientes. É necessário o controlo da eficiência. Onde estão os planos prospectivos e de actuação anuais ou bienais feitos por responsáveis de serviços, por cônsules, por conselheiros, etc? Quer-se viver sem rei nem roque nem o diabo que lhes toque! O povo não sabe sequer porque e para que lá estão. Nada visível.

Quais os resultados a nível de realização de projectos e a nível de influência no meio, no âmbito da região consular ou estatal? Pura e simplesmente não existem. (Em 1998 pedi à Conselheira de Ensino na Alemanha que apresentasse um plano de actividades relativa à Alemanha; a sua reacção foi de incompreensão como se eu tivesse cometido um crime de lesa-majestade, atendendo que esse direito advoga apenas aos superiores hierárquicos; estes naturalmente contentam-se com os tais relatórios escritos para inglês ver!).

Não chega a mudança da organização é também necessária uma mudança das mentalidades. Portugal necessita ser reestruturado dos pés até à cabeça. Nos serviços do estrangeiro precisa menos de pessoas que vão dar passeio à sua própria honra, que passeiam a sua imagem, precisa-se mais é de obreiros de serviço, abertos ao povo concreto, atentos ao capital nas suas interligações, empenhados na cultura como forma de presença lusa e de relacionamento entre povos e multiplicadores e naturalmente inteligência para perceber o espírito do tempo e do mercado e assim reagir atempadamente.

Este é um campo minado em que os donos dos feudos declararão de persona non grata quem pretenda entrar no feudo ou apenas pronunciar-se diferenciadamente sobre o assunto. A opinião pública tem muitas vezes muita dificuldade em perceber o que está em causa atendendo a que nas instituições do Estado se aninhou uma rede de interesses de conivência entre interesses particulares e interesses de grupos instalados depois do 25 de Abril. O argumento com os emigrantes é mais uma panaceia de que se servem. Independentemente dos nomes Dr. António Braga ou Dr. José Cesário, atacam-nos apenas, sem contrapropostas criativas verdadeiramente servidoras do Povo e do Estado. Esta é em muitos casos uma guerra dos instalados adversos à mudança porque incapazes de se mudarem. Tornam-se a voz do comodismo, do jogo do empata e do princípio de Peter!

Precisamos de políticos fortes que não se verguem aos interesses sejam eles da administrarão ou de grupos de pressão. Importante é a razão, e a salvaguarda do serviço do povo. A contenção de verbas não pode naturalmente permitir o esbanjamento noutros lugares. Os 3,6 milhões poupados através da racionalização deveriam ser investidos no serviço dado os emigrantes terem sido considerados até agora apenas como fontes de receita e não como investimento. Os emigrantes precisam duma política que também os beneficie a eles. Uma política limitada a redução de custos orçamentais não se justificaria por si mesma e menos ainda num sector já de si abandonado a si mesmo.

O mesmo se diga da aplicação dos fundos da FRI (Fundo para Relações Internacionais) que por vezes se dedicam a iniciativas de carácter duvidoso.

Naturalmente que cada macaco só pode cantar no seu galho. Mas não chega espantar o próprio mal. É preciso reconhecer o sofrimento do Povo simples que não consegue um galho na árvore, contentando-se com o chão sombrio da árvore e com o olhar para os que povoam os galhos.

António Justo

António da Cunha Duarte Justo