GRÉCIA SINALIZA O INÍCIO DA FALÊNCIA DE ESTADOS


Plano de Salvação significaria nova Subvenção aos Bancos

António Justo

O Plano de Salvação para a Grécia prevê um crédito de 30 mil milhões de Euros da União Europeia (EU) e de 15 mil milhões do FMI (IMF). A Grécia tem de pagar, pelo empréstimo, uma taxa de 5% de juros à EU e de 3% ao FMI. Este empréstimo dá a possibilidade à Grécia de pagar, durante algum tempo, os juros aos bancos credores.


Mais precisamente, a Grécia vai precisar da EU e do FMI, até 2012, um crédito de 120 mil milhões de Euros. A União Europeia e os seus governos escondem aos cidadãos os sacrifícios que o Plano de Salvação acarreta consigo.


Os gregos viveram para lá das suas possibilidades com o dinheiro dos outros e usaram dinheiros da EU em pseudo investimentos. Atenas nunca mais poderá reembolsar os seus credores das dívidas que fez. Outros países também já se encontram a caminho disso. Os especuladores internacionais acelerarão o processo para mais se aproveitarem dos políticos.

No final de 2009 a Grécia devia 177 mil milhões de Euros a Bancos estrangeiros. Segundo a imprensa alemã, a dívida total grega é actualmente de 300 mil milhões de Euros. A Grécia já não consegue pagar os juros dos empréstimos. Para receber dinheiro emprestado, tem de pagar, no mercado livre, juros de 10 a 15%.

A Grécia apenas revela antecipadamente a fraude e a cumplicidade em que vivem Bancos e Estados. Ela só exagerou no modus faciendi em relação às nações “sérias”. O seu estado de asfixia, devido aos juros que tem de pagar e à falta de confiança dos seus credores, atingiu o limite. Os credores compram acções gregas porque sabem que os países europeus irão em socorro da amiga Grécia. Quem ganha com tudo isto são os especuladores porque a política já não tem mão neles.

Políticos da União Europeia atraiçoam os seus Cidadãos


A decisão de concessão de empréstimo a Atenas, feita pelos ministros da finanças da EU, viola a clausula de não auxílio na União Monetária. Consequentemente deveriam ser levantadas acções jurídicas nos países da EU contra tal propósito. Na Alemanha, o Prof. Dr. Wilhelm Hankel anunciou levantar queixa constitucional caso os Estados do Euro ou o Banco Central Europeu apoiem a Grécia financeiramente. A influência política talvez consiga iludir a Justiça.


Na realidade este plano de salvação não passa de mais uma tentativa de impedir uma crise dos Bancos que tinham comprado acções ao estado grego. Um atrevimento!…


No caso de falência do Estado grego quem perderia seriam os Bancos. Além disso causaria uma desvalorização do Euro em relação ao Dólar e outras moedas, que por sua vez iria beneficiar os estados exportadores para fora da EU. A desvalorização do Euro alegra os exportadores europeus porque podem vender nos mercados estrangeiros com preços favoráveis. Este foi um truque usado pelos chineses; mantiveram a sua moeda subvalorizada artificialmente para poderem excluir a concorrência com preços baixos e cativar os compradores. Também os Estados Unidos da Anérica queriam desvalorizar o Dólar relativamente a outras moedas para fomentarem a exportação. Todos os Estados gostam de desvalorizar a sua moeda mas não o podem fazer ao mesmo tempo porque a desvalorização duma moeda implica a valorização da outra. A única moeda contra a qual todos podem desvalorizar ao mesmo tempo é o ouro e a prata (metais nobres).



Entretanto a Grécia desespera à espera do apoio financeiro. Portugal, que luta com imensas dificuldades financeiras, irá disponibilizar 770 milhões de euros em 2010 para a Grécia. ESe Portugal conseguisse empréstimos no mercado internacional inferiores a 5% não faria mau negócio. Porém, a AgênciaStandard & Poor’s desceu a credibilidade de Portugal para o nível A –. No futuro Portugal terá de pagar mais de 5%, pelo endividamento que faz para socorrer a Grécia. Este é um negócio negativo para Portugal e estimulador dos milhafres internacionais em relação a Portugal! Para os Alemães o empréstimo seria positivo, dado eles pagarem menos de 3% pelo dinheiro que pedem emprestado. Portugal para fazer o empréstimo terá aumenta as contribuições e os impostos e arranjará meios de o ir buscar, levantando dinheiros com portagens em estradas construídas com os impostos dos cidadãos, favorecendo a especulação e a exploração de serviços subornadores, etc.


A Alemanha concederá um crédito de 8.300 milhões de euros à Grécia em 2010. Porém no caso de falência do Estado Grego os bancos alemães entrariam em crise atendendo ao capital que investiram no Estado Grego.


Apesar disso a Chanceler alemã não se tem mostrado disposta a ceder porque sabe que quem pagará a fava será, de novo, o povo contribuinte e tem medo das consequências das eleições num dos seus Estado federados, que se vão realizar em Maio. O povo é contra o empréstimo à Grécia.


Os Bancos produzem dinheiro em papel (dinheiro virtual) sem valor real que o suporte. “A maior parte do “Dinheiro” é produzido electronicamente (Girageld)” como revela o cientista de informática Elias da Silva. Todo o sistema bancário de hoje, só se baseia na confiança. Confiança de que o comerciante da esquina ao lado troque a sua nota, sem valor real, em mercadoria.


Uma firma que se comportasse como se comportam os Estados, na administração da coisa pública e nas dívidas, já há muito teria entrado em descrédito e dado falência.


Quem paga a conta é o povo e as gerações vindouras. Alguns, mas muito poucos, que se deram conta da verdadeira dimensão da crise compram ouro e prata, guardando-os bem guardados. Sabem que a maior parte do dinheiro só são números em notas, ou em transacções virtuais, sem valor real.


Os Bancos compraram grande quantidade de acções ao estado grego. Sempre que depositamos dinheiro num banco tornámo-nos credores dele e o Banco pode fazer com o dinheiro o que quiser. No momento em que se deposita o dinheiro no banco tornamo-nos credores desse banco. O dinheiro pertence ao banco e ele compromete-se a restituí-lo, caso possa.


Enquanto a Grécia pertencer à EU não pode declarar bancarrota; isto seria uma catástrofe para o Euro.

Se o mundo financeiro fosse um mundo real e sério e os políticos que dirigem os Estados se  se interessassem realmente pelo bem do Povo, teriam de deixar a Grécia ir à bancarrota. A EU teria de expulsar a Grécia da União Euro. Para começar de novo teria de roer a soga e não pagar a as dívidas a ninguém. A Grécia teria de reintroduzir a moeda nacional Dracma e recusar-se a pagar não só os juros aos seus credores como o capital emprestado. Especialistas internacionais dizem que a Grécia teria de reduzir os salários da população em 22 – 30%.


A falência da Grécia provocará um aumento drástico dos juros que Portugal terá de pagar aos Bancos internacionais. Os Bancos especularam com a Grécia para ganharem à sua custa. As aves de rapina já rondam sobre Portugal, Irlanda e Espanha, tendo estes países de pagar já maior taxa de juros no mercado bancário internacional. Já se preparam para tornar Portugal a próxima vítima


O sistema bancário é um sistema corrupto e os Estados tornam-se corruptos ao apoiarem-no tão disfarçadamente. Os Governos apoiam o sistema corrupto e são parte da corrupção. Delegaram o poder monetário nos bancos privados para depois lhes pedirem dinheiro. Um sistema que só poderá ter um mau fim.


António da Cunha Duarte Justo

Alemanha, 27 de Abril de 2010


A EU QUER LIMITAR AS HORAS EXTRAORDINÁRIAS DE SERVIÇO


RESTITUIR A DIGNIDADE AO TRABALHADOR

António Justo

A União Europeia quer reduzir as horas extraordinárias de serviço, bem como o trabalho ao Domingo.


A Comissão da EU chegou à conclusão de que pessoas que trabalham demasiadas horas prejudicam a sua saúde. Segundo o Comissário Europeu do Trabalho, 10% dos trabalhadores trabalham mais de 48 horas por semana. Isto observa-se especialmente no “sector da saúde, bombeiros e polícia”. O Comissário também quer que os 27 países membros tenham, como regra, um dia livre por semana; este deve corresponder à tradição cultural do país. As Igrejas e os Sindicatos exigem o Domingo como dia, na regra, sem trabalho.


Os lobistas, interessadas apenas no comércio e na comercialização da vida e do Homem, tinham impedido uma proposta de directiva semelhante em 2009.

Entretanto prepara-se um novo projecto de lei a aprovar nos finais de 2010. As consultas devem ser concluídas no fim do Verão.


VICTÓRIA CONTRA A COMERCIALIZAÇÃO DOS DOMINGOS NA ALEMANHA


As Igrejas Católica e Evangélica na Alemanha, para defesa do descanso dominical, meteram em tribunal o Estado de Mecklenburg-Vorpommer. Este tinha permitido a abertura das casas de negócio em 45 Domingos do ano e em 110 localidades. Com esta medoda o Estado queria fomentar o turismo da região. O Tribunal Superior Administrativo em Greitswald decidiu as favor das Igrejas. Na decisão o Tribunal argumenta que a abertura de comércios ao Domingo só pode ser uma excepção. Os sindicatos tinham-se mostrado solidários com a acção das Igrejas.


A tradição religiosa bíblica reservou sempre um dia da semana livre de trabalho para os animais e para as pessoas. Ao sábado / Domingo não trabalharás! O dia santo corresponde, na prática, à dimensão divina do Homem que não se deve perder no dia a dia.. O ser humano tem uma dimensão sagrada e uma dimensão profana, religiosa e secular, que devem ser mantidas em equilíbrio no sentido da saúde corporal e mental, tal como a sabedoria religiosa concretiza na frase: Alma sã em corpo são, os dois formam uma unidade inseparável


Na Idade Média surgem dias festivos por toda a parte, assistiu-se a um aumento incontrolável. Então, o Papa Urbano VIII reserva-se o direito de estabelecer festas (Cf. Prof. P. Dr. Joaquim Teixeira in “Festa e Identidade”.


De facto, no século XV, chegou-se ao exagero de, em cada três dias, um ser dia festivo. A autoridade queria mais racionalidade na organização da vida humana. No século XVI, os protestantes fizeram uma grande monda nos dias festivos ao abolirem as festas dos santos. A economia ganha com esta medida! O utilitarismo racionalista iluminista, de carácter anti-popular, encarregou-se da abolição de outros dias santos. Em Portugal, depois de se implantar a República, os republicanos queriam que em alguns Domingos se trabalhasse para o Estado. Dum extremo passou-se ao outro. Hoje o capital apoderou-se do Homem transformando-o em mero factor de trabalho.


A sociedade profana interessada pelo carácter utilitário do Homem e pelo lucro. Está interessada na profanação total do Homem. Querem o Cidadão à sua disposição e fazer dele um ser civil meramente servil. Actualmente, a renúncia aos dias festivos corresponde a uma desumanização do Homem e da sociedade. O cidadão não pode abdicar do seu carácter divino.


António da Cunha Duarte Justo

REVOLUÇÃO DO 25 DE ABRIL: UMA HISTÓRIA MAL CONTADA


O Povo Português não gera Revoluções

António Justo

As revoluções portuguesas são comoa ponte de Lisboa. Antes do golpe de estado chamava-se “Ponte Salazar” depois passou a chamar-se“Ponte 25 de Abril”. Apenas mudam a fachada e a lata. O povo, tal como o rio Tejo, cansado de inúmeras voltas e de tantos despejos, sempre pacífico e adaptado, tem permanecido igual a si mesmo, ao longo da História: vagaroso mas internacional(1).


De época para época, alguns insatisfeitos do sistema, os filhos dos senhores do regime, provocam um golpe de estado, apoderam-se dele e mudam-lhe o nome. Povo e golpistas conhecem-se de ginjeira: aquilo a que dão o nome de revoluções, pouco mais se trata do que da troca de nomes, dum acerto de contas e de acomodação à história dos vizinhos; o mérito do acontecimento está em dar ocasião à necessidade do povo festejar e aplaudir ou, quando muito, resolver alguns deveres de casa esquecidos. Os actores sabem que a injustiça não é boa mas a justiça seria incómoda. Optam então pela vida dos dos “brandos costumes” sem a preocupação de fazer justiça.


Arranjam um nome monstro para justificarem as suas acções e branquearem as suas intenções. No caso do 25 de Abril, um grupo de cretinos (2) aplicou ao regime autoritário de Salazar o nome explosivo de fascismo, metendo-o (internacionalizando-o) assim no mesmo rol de Franco, Mussolini, Hitler e Pinochet. Então, a nação inteira passou a dar-se conta do monstro e resolveu dar caça ao fantasma. Este vai recebendo cada vez mais atributos até que passa de lobo a Minotauro. A partir deste momento o povo perde a ideia passando a viver do medo do labirinto. Entretanto vão surgindo alguns lobitos e o povo vai distraindo o medo no “Jogo ao Lobo”!


O país da Europa com as maiores desigualdades sociais entretém-se em argumentações opiniosas deixando as coisas importantes para os nomes engordados em nome das classes desfavorecidas. Já habituado à humilhação e à atitude governativa arrogante e distante, o povo servil, filho da “revolução da liberdade” até aceita a censura em nome da democracia. O estado português já há séculos não tem povo, chega-lhe a população. A população já há séculos que abdicou de o pretender ser, contentando-se em viver na sombra da Face Oculta do Estado. Deixou o palco da nação aos dançarinos do poder!


O 25 de Abril passou – A Revolução está por fazer

Golpistas abusam do Nome Revolução

Com o golpe de estado de Abril, o regime autoritário é acabado no meio da guerra colonial. O povo português, o que quer é esquecer a guerra e os políticos o que querem é a confusão para se poderem organizar e não terem de assumir responsabilidade pela traição dos interesses da nação, dos retornados e do povo nativo. Segundo o reconhecido historiador José Saraiva, o abandono das províncias ultramarinas constituiu “a página mais negra da História de Portugal”. Disto não se fala; reduz-se a história a folclore e a governação ao jogo do rato e do gato…


O 25 de Abril assenta em pés de barro. Fez um golpe de Estado e deu-lhe o nome de revolução. Os seus actores não pensavam em revolução. Foram surpreendidos pelos acontecimentos que eles próprios provocaram e alguns, entre eles, (especialmente Otelo S. de Carvalho) serviram-se do comunismo/socialismo para legitimarem e darem uma projecção histórica ao movimento dos oficiais descontentes. O 25 de Abril foi um golpe de Estado que surgiu de motivos pessoais e antipatrióticos de alguns, mas nunca uma revolução. O novo regime começou mal e com actos inglórios tal como acontecera na implantação da república. Mas disto não deve rezar a História, o povo precisa de festa e os governantes de distarcção. Não importa viver, interessa é ir-se vivendo!


O programa MFA (Movimento das Forças Armadas) pretendia Democracia, Descolonização e Desenvolvimento. Os primeiros dois anos foram uma confusão maluca. Tudo era facho e qualquer jovem adolescente se armava em guarda de comícios, por vezes até de metralhadora na mão. Recordo que quem tinha um emprego bom, ou uma casa digna, logo era apelidado de “facho”, pelo povo gozador, num misto de atmosfera de inveja e admiração. Depois com a nova constituição tudo ficou camarada e irmão: camarada de facho na mão!


Os partidos, sem mérito, passam a viver do prazer de terem organizado as suas fileiras. Desfavorecem a politização do povo para fomentarem o partidarismo e um discurso público dirigido à conservação do poder.


Entretanto, o povo sente-se humilhado e deprimido; o seu sentimento de identidade definha, sendo compensado apenas no sentimento duma grandeza promissora dos irmãos da lusofonia e da madrasta União Europeia. O sentimento de identidade nacional baseado no cristianismo, na cultura nacional e na ideia das grandezas dos descobrimentos não agradam às novas elites internacionalistas. A má experiência do povo com a própria elite, sem sentimento de nação nem de povo, leva-o a sentir-se apenas como inquilino anónimo de alguns senhores da praça pública, dos canonizados da democracia. Sente-se filho de pai incógnito!


Portugal continua preso numa mentalidade de arrendatário de ideologias e senhorios mercenários que o povo tem de acatar para ir vivendo! Portugal, apesar de golpes de estado e de pseudo-revoluções, continua a sofrer na pele a experiência de outrora: a experiência dos ingleses senhores das quintas do vinho do porto que viviam na Inglaterra e tinham em Portugal os seus feitores portugueses a cuidar dos seus interesses. O Estado português tornou-se numa feitoria de alguns mercenários. Daqui vem a sabedoria portuguesa que, muitas vezes, diz: “ isto é para inglês ver”.


As nossas elites intelectuais não são em nada inferiores às europeias. O problema está no seu individualismo e na sua falta de consciência de povo, e de espírito colectivo! As elites políticas vivem do nome, interessando-se, a nível de país, apenas por terem Lisboa, como sala de visitas de Portugal onde elas podem receber vaidosamente os amigos. Colaboram com um internacionalismo interessado em destruir as nações para depois poderem surgir como salvadores e implantar um governo mundial de burocratas e tecnocratas contra os biótopos nacionais.

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O povo, antigamente, sofria sob a bandeira do trono e do altar; hoje sofre sob a lama das massas a toque de caixa partidária que segue o ritmo das multinacionais.


A grande diferença: Hoje o povo não se pode queixar, porque os seus opressores vêm do seu meio e parte deles são eleitos democraticamente.



Já Ovídeo escrevia nas Metamorfoses: “O destino conduz os de boa vontade e arrasta os de má vontade”. Com a celebração do 35° aniversário do golpe, já seria tempo de Portugal ir à cata dos de boa vontade!…


O aniversário do golpe de estado poderá deixar de ser um pretexto para se tornar numa oportunidade. Urge descobrir a nação e ter a vontade de se assumir como povo. O grande povo e a nação valente que “deu novos mundos ao mundo” tem-se manifestado incapaz de se descobrir a si.


Um Estado é como uma planta. Se adoece, os parasitas cobrem-na facilmente. O país tem-se modernizado; não tem inimigos nem ódios mas encontra-se apático e doente. Depois do golpe de Estado, o fanatismo republicano e o oportunismo continua a tradição da “apagada e vil tristeza” dum conservadorismo míope e dum progressismo cego! Os cães de guarda do Estado contentam-se em morder e em ladrar alto e o rebanho atemorizado lá se vai movendo no respeito à própria lã que vê nos dentes deles!


Acabe-se com o louvor do golpe e dos golpistas. Não notaram ainda que a revolução se encontra, desde há séculos, por fazer! Para nos levarmos a sério teremos de descobrir primeiro o povo e a nação. Então seremos capazes de enfrentar as desgraças históricas, sejam elas progressistas ou conservadoras. Há que aceitá-las, para nos podermos mudar e assim mudar o rumo português para o bem-estar de todos, nacionais e estrangeiros. Para isso precisam-se mulheres e homens adultos! “O povo unido jamais será vencido”, cantam as sereias, na certeza de que ele se embala na música e não se descubre como povo! Não vale a pena o queixume. Quem se queixa é pobre ou não pode! Trata-se de mudar mudando-se! A nação precisa de todos.


António da Cunha Duarte Justo


(1) Salvaguardem-se as diferenças regionais da população. Esta é muito diferenciada e rica, tal como os seus rios e a sua paisagem!

NOS MEANDROS DO SEXO


SOCIEDADE SEXISTA MELINDRADA

António Justo

Segundo a revista Psychologie Heute, de Março 2010, “na Alemanha anualmente há, aproximadamente, pelo menos 300 a 600 casos de contactos sexuais entre psicoterapeutas e pacientes”. Por muito que isto seja lamentável devido à relação de dependência do paciente para com o terapeuta, não é legítimo estigmatizar os psiquiatras e psicólogos, como a imprensa tenta fazer com os padres. A Universidade de Colónia investigou 77 vítimas de terapeutas verificando que 86% das vítimas eram femininas. Das 77 vítimas 30% já tinham sido vítimas de abusos sexuais na infância. 71% dos terapeutas eram homens com uma idade média de 47 anos. Na Alemanha, segundo a lei, terapeutas que tenham relações sexuais com pacientes tornam-se puníveis. O abuso sexual está na ordem do dia na nossa sociedade.

O abuso sexual de menores nas famílias, independentemente da Pedagogia Reformista, alcança percentagens impensáveis. O sofrimento das vítimas prolonga-se, geralmente, por toda a vida. A libertação sexual e a luta contra os tabus sexuais não deve criar e alimentar o tabu do sofrimento e a escravidão sexual que graça como praga social. Os crimes de alguns padres poderá ter a vantagem de alertar a sociedade a não desviar o olhar e não se tornar cúmplice com o que acontece nas famílias, nas escolas, nas prisões e na justiça. A maioria do abuso de menores dá-se no seio familiar.

É verdade que também na Igreja as vítimas foram ignoradas. A Igreja perdeu de vista as pessoas, ao calar-se e ao desviar o olhar dos abusos. O amor e a confissão não podem levar ao esquecimento das vítimas. Não se justifica porém a campanha intensiva dos Media durante semanas contra a Igreja.


Também nas escolas públicas estatais cada vez mais se tornam públicos casos de abuso de crianças por parte de professores. Associações de Pais e de Educadores na Alemanha exigem a criação de Hotline para o caso de abuso sexual nas escolas, para que crianças vítimas se possam manifestar sob anonimato. Continua discutível se a Hotline será domiciliada no Ministério da Educação ou numa repartição de aconselhamento independente.


Uma disputa séria chama a atenção para a necessidade de se centrar a discussão na situação pessoal da criança. Segundo a Comissão europeia, pelo menos 10 a 20% das crianças menores de 14 anos sofreram de abusos sexuais. Bruxelas quer agravar sanções contra a pedofilia nos estados membros.


Para se ter uma ideia da campanha tendenciosa contra a Igreja e a instrumentalização ideológica dos casos de pedofilia na Igreja, basta referir as estatísticas da USA onde em 42 anos 958 padres católicos e pastores protestantes foram acusados de abuso sexual de menores, tendo sido 54 condenados.


O que é de admirar é o facto de serem referidos mais casos de pedofilia entre pastores do que entre padres. Também, contrariamente ao resultado de investigações científicas, se procura estabelecer uma conexão causal entre celibato e abuso de crianças.


No mesmo espaço de tempo foram condenados 6.000 professores de ginástica e treinadores desportivos na USA. Disto ninguém fez notícia. A campanha secularista contra o cristianismo tenta deslegitimar a moral da Igreja católica na sua diaconia em hospitais e escolas… Estão-se marimbando para os réus ou para as vítimas. Um laicismo agressivo e militante propaga a ideia de que as crianças se encontram em perigo nas escolas da Igreja. Esquecem que, pelo facto de haver pedófilos na escola do Estado, ninguém diria que a escola é um perigo.



Do Fanatismo Religioso para o Fanatismo Ideológico

Também o ressentimento dos adversários da Igreja conduz ao esquecimento das vítimas. A rede de propaganda é de tal ordem e tão cerrada que, qualquer pessoa com formação média poderá constatar, sem mais, a lavagem ao cérebro do cidadão, em via. A acção coordenada de campanhas cíclicas anticristãs a nível de toda a União Europeia são o melhor testemunho da boa organização e das redes de uniões secretas, grupos marxistas materialistas e ateus. Para isso bastaria fazer-se um estudo comparativo dos títulos de todos os meios de comunicação social, em todos os jornais da Europa; quase se repetem. Quer-se, a todo o custo uma União laicista baseada num republicanismo jacobino. O capitalismo e o progressismo não admitem rivais!


O fanatismo que na Europa já parecia ter superado renasce com a União Europeia no fanatismo secularista e partidário contra a Igreja; desvia assim a atenção do cidadão, da criação duma sociedade base cada vez mais pobre e da bancarrota dos Estados. A pretexto de alguns padres pedófilos, a opinião publicada na TV, Internet, rádio e jornais fomenta o preconceito de que a igreja é o vale dos hipócritas e dos pedófilos. A má consciência e a má intenção são capazes de tudo!



Os militantes do fanatismo em vez de coordenarem forças, com todas as pessoas de boa vontade, em defesa das vítimas e dos oprimidos aproveitam-se dos crimes de alguns para incriminar toda uma instituição. A eles só lhes importa assunto para fomentar o seu poder seja à custa de quem for. A igreja já ultrapassou o seu fanatismo religioso militante, agora encontramo-nos, a nível europeu, na era do fanatismo militante secularista e ateu. Sabem que o povo mais desacautelado, é inocente, se deixa levar! Muitos aproveitam-se do carrossel dos média e outros aproveitam a boleia. Por isso falam da responsabilidade da Igreja e calam a responsabilidade dos criminosos, como se estes fossem menores. O cardeal alemão Karl Lehmann diz num artigo do DIE ZEIT: “já há muito que se procura a culpa primeiramente no colectivo e quase sempre no Sistema”.


Apoio a Igreja mesmo que ela não me apoie a mim. Antes combatia a instituição eclesial como era moda nos anos 70. Tenho experiência a nível de Igreja e de alguns partidos. A Igreja, nalguns pontos, a nível superficial, é retrógrada; porém, a nível da visão do Homem e da sociedade (cf. Encíclicas da doutrina social da Igreja) é, de longe, mais progressista e avançada que qualquer partido. A sociedade só conhece dela o folclore e aquilo que lhes importa para se afirmarem à sua custa. A Igreja é, ao mesmo tempo, pecadora e santa como toda a pessoa de boa vontade. Já os Padres da Igreja falavam da Igreja “casta prostituta “. A Igreja, como instituição, é tão pecadora e tão santa como a sua comunidade, os seus membros. Estes são homens e mulheres com tudo o que lhes pertence: o bem e o mal.


Os fariseus secularistas cospem no farisaísmo da Igreja; o mal está presente em toda a parte mas na Igreja brilha mais. Por todo o lado cheira a próximo. Ela é prostituta mas só ela é mãe e pode proteger e guardar o tesouro da fé cristã; sem a mae, com a morte do indivíduo, morria a tradição. A fé mantém-me na Igreja. Eu manteria a fé na Igreja de Jesus Cristo, mesmo sem a instituição. Admiro na Igreja a adoração dum Deus que é todo Homem e dum Homem que é todo Deus.


Precisamos de crentes e ateus, precisamos de todas as vozes que clamam à terra, vozes que clamam ao céu, para juntos tornarmos o mundo melhor!


A doença da pedofilia, no dizer dos peritos, é muito difícil de diagnosticar e corresponde a uma inclinação profunda e incurável. Pedófilos exploram a necessidade de dedicação das crianças.


António da Cunha Duarte Justo

Alemanha, Jornalista Free


PADRES A MENOS E PASTORES A MAIS


Celibato – Ontem uma Bênção – Hoje um Problema

António Justo

A Igreja Católica conta com 1.131.000.000 católicos no mundo e dispõe de 407.262 padres e de 815.237 membros de ordens religiosas (estatísticas de 2008).

As comunidades cada vez contam com menos padres. A frequência dominical diminui também. Enquanto na Polónia 40% da população vai regularmente à missa, na Alemanha, dos 25,461 milhões de católicos só frequentam regularmente a missa dominical 17%, isto é 3,492 milhões (estatísticas de 2008).

Pelo contrário, a Igreja Evangélica, onde não há obrigatoriedade de celibato para os seus pastores, vê-se obrigada a dividir um tempo inteiro  de pároco por dois pastores, com meio tempo para cada um, pelo facto de ter pastores e pastoras em superabundância. A Igreja Católica, por seu lado, encontra-se numa situação desesperada de luta com a falta de padres.

As Igrejas ortodoxas russa e gregas, nas quais os padres se podem casar, não têm problemas de formação e angariação de padres. Tradicionalmente as famílias de padres fornecem também novos padres. Os bispos são recrutados, geralmente, das ordens religiosas.

Em Portugal conta com 81,10 % de católicos. Segundo a Agência Ecclesia, em 2006 havia 2.894 padres distribuídos por 21 dioceses em 4.366 paróquias. Por cada dois padres que morrem é ordenado um. A Igreja, para responder ao problema organiza “Unidades Pastorais” com equipas de sacerdotes responsáveis por várias paróquias; além disso recorre à formação de diáconos casados.

Até ao século XX, a obrigação do celibato para os párocos revelou-se como medida inteligente, na Igreja Católica. Duma maneira geral, a Europa era constituída por uma sociedade de classes, fechadas em si mesmas. O povo não tinha acesso às classes superiores nem à cultura das elites, não podendo, por isso, assumir lugares de responsabilidade pública. As grandes famílias distribuíam o poder (postos) entre elas. O sacerdócio celibatário impedia a concentração do poder eclesiástico em famílias tendo sido, ao mesmo tempo, um elemento democrático no meio do clero, da nobreza e da burguesia.

A extensão da obrigação celibatária das ordens (clero regular) às paróquias (clero secular) possibilitou uma solidariedade entre elites e povo. O padre, que, geralmente, provinha das classes populares tinha hipótese de subir e fazer parte do alto clero. A sua presença contesta a prática secular das grandes famílias nobres/burguesas e possibilita a subida da classe desfavorecida aos postos superiores da sociedade eclesiástica, impedindo que se formasse uma oligarquia sem base popular. O povo, através do sacerdócio, trazia sangue novo e renovador à oligarquia da Igreja, solidarizando-a com o povo. Aqueles que não aguentavam com o jugo do celibato e abandonavam o seminário ou o cargo, provindos embora do povo, passavam para a sociedade secular onde ocupavam cargos relevantes e deste modo assumiam também uma presença popular nela.

Quando se fala de padres e de celibato é necessário distinguir entre os celibatários por vocação, (membros de ordens e congregações religiosas) e os celibatários por encargo aos quais a legislação eclesiástica impõe o celibato como condição de acesso ao exercício da missão sacerdotal paroquial. O celibato para os párocos foi tornado obrigatório pela Igreja Católica na idade média. A Igreja Ortodoxa não aderiu a esta medida disciplinar. Apenas exige o celibato aos bispos. A ligação do exercício do sacerdócio ao celibato não tem fundamento bíblico. Pelo contrário, a Bíblia opõe-se ao ascetismo exagerado e à proibição do casamento aos padres (cf. 1Tim3,1-13 e 4, 1-5).

Entretanto o celibato tornou-se no principal factor impedidor da abundância de padres. O benefício que o celibato traz para a estratégia administrativa é adquirido contra a integração cultural e estrutural do cristianismo nas estruturas seculares. Uma mentalidade fechada e ingénua tem levado as elites da administração eclesiástica a adiar o problema em detrimento da Ecclesia semper reformanda e da integração religiosa nas estruturas culturais. A estruturação da sociedade hodierna exige não só novas medidas em relação ao clero mas também uma nova estratégia de presença cristã nas sociedades. A sua nova reestruturação não pode ser feita apenas para dar resposta à falta de padres. O papel dos leigos numa comunidade viva consciente e activa não pode esquecer a importância do testemunho de vida e missão na sociedade em que estão inserido.

Clericalismo e anti-clericalismo são sintomas de Sociedades desintegrada

Nas sociedades nórdicas, a influência dos pastores casados e suas famílias está muito presente a nível cultural e político-social nas nações. O seu contributo cultural para a sociedade secular faz lembrar o contributo cultural de alto nível dos judeus, no seio dos povos onde se encontram inseridos. É importante constatar-se que, nos povos nórdicos, não há o anti-clericalismo que se encontra em países latinos. Isto tem a ver naturalmente com a integração social e o relevo cultural dados pelas famílias dos padres evangélicos às nações. É frequente ouvir-se políticos tomar posição em público fundamentada em princípios cristãos e isto tanto em partidos de esquerda como de direita.

Nas nações latinas, tradicionalmente de maioria católica, os padres também contribuíram muito para a cultura secular dos países; faltou-lhes porém a disputa com a vida concreta do dia a dia, o enraizamento familiar e a consequente influência. O povo nas sociedades latinas são mais indiferentes e mais dependentes da opinião momentânea do que os povos das nações nórdicas. Os filhos dos pastores evangélicos foram muitas vezes pioneiros a nível de cultura e movimentação política crítica, integrando-se nas mais diversas expressões da arte, da ciência e da religião. Deste modo a Igreja torna-se indirectamente a guardiã do progresso e ao mesmo tempo a defensora de valores tradicionais e humanos.

Clericalismo e anti-clericalismo são fenómenos doentios de sociedades mais desintegradas.

Cidadãos e crentes têm que suportar as estruturas e suportar-se a si!

DO PODER DIVINO PARA O PODER POLVO

A secularização da sociedade deu um grande contributo para o desenvolvimento social. Igrejas e museus têm vivido lado a lado. Mundo religioso e secular, povo e burguesia, embora em tensão, viviam sob o mesmo teto cultural.

Com o acentuar-se da União Europeia e do Globalismo, os antigos deuses europeus estão de volta e vingam-se contra o monoteísmo cristão. Esta religião que se afirmou na luta contra a adoração do Imperador e na defesa dos escravos e explorados parece tornar-se em estorvo para os deuses do novo Olimpo em construção. As novas elites querem recolher-se ao Olimpo para não se misturarem com o povo. A ética e moral, ligada à religião, ao dar voz aos interesses dos mais fracos, com os seus parâmetros éticos e morais, dá muita consistência à base da pirâmide social, o que não agrada aos que querem ter um proletariado de fácil manobra. Por isso o poder anónimo e desenraizado que se instala por todo o lado está interessado em destruir a identidade das pessoas e aquelas estruturas que as defendem a pessoa, pelo facto da divindade fazer parte da pessoa.

Com o processo de democratização do ensino a camada pobre já tem acesso aos lugares dominantes/dominadores da sociedade. Sobe através de sindicatos, partidos, administrações e superstruturas que imperceptivelmente dirigem a vontade e o sentir social. O poder de ontem encontra-se hoje camuflado e opera eficazmente sob o nimbo democrático. Como o polvo tem muitos braços que permitem um processo de filtração na selecção “democrática”dos seus melhores servidores. O poder polvo tem a capacidade de determinar o pensar e sentir do povo de dia para dia através duma opinião publicada nebulosa que o torna invisível e inimigo do Homem. Por isso os amigos do Homem e da democracia, independentemente do seu colorido, têm de mudar a sua estratégia, na sua maneira de estar presentes na sociedade. A Igreja, vocacionada a defender o povo, a dar voz aos que não têm voz deveria estar atenta ao momento histórico que atravessamos, que por razões de reorganização em super-potências e de globalização pretendem reduzir a pessoa a mero indivíduo e este a mercadoria. As novas elites querem um indivíduo cata-vento.

Hoje, a lei do celibato, especialmente na Europa e nos Estados Unidos, prejudica imensamente a acção da Igreja. A realidade social, através da democratização, mudou-se e o sentido e vias de solidariedade também. A presença cristã no mundo institucional e público precisa duma nova dinâmica. Na sociedade tradicional a aura social estava hierarquicamente estruturada de cima para baixo pelo que a presença eclesial reflectia esta mentalidade com a correspondente presença em lugares relevantes da pirâmide; hoje, que vivemos em tempos de democracia nominal, de poder polvo, a sua presença tem que partir da base da pirâmide, para se tornar presente nos diferentes biótopos sociais e institucionais.

A função de solidariedade e de intercâmbio social do padre deixou de ter prestígio, nas sociedades secularizadas. Por outro lado as exigências do presente, em relação à pastoral, não se limitam à consciência e ao testemunho de castidade do padre, embora nos encontremos numa sociedade sexista já em estado neurótico. Numa altura em que as famílias partidárias procuram assumir, na sociedade democrática, o papel das famílias relevantes burguesas e nobres, da sociedade antiga, lutando, por isso, contra a família tradicional, torna-se importante enobrecer o estatuto da família tradicional e fortalecer o surgir de famílias coesas cristãs e instigá-las a manifestarem a sua presença nos diferentes ramos da política e da sociedade.

A presença cristã necessita duma nova estratégia. Não chega ser-se inteligente; num mundo de espertos exige-se também esperteza. A crise sacerdotal dá a oportunidade à Igreja de se antecipar aos acontecimentos para não ser levada na enxurrada. A paróquia não pode continuar no comodismo fácil de ter um padre livre de tudo para se encontrar à disposição de toda a gente a toda a hora. Isto é egoísmo muito embora os padres que exercem a função com alegria sejam uma bênção para as pessoas com quem contactam.

Não chega já a inteligência racional, é necessária também a inteligência emotiva. Torna-se óbvio, a nível de Igreja, o fomento de famílias testemunho, comunidades de vida, que vivam a caridade, a liberdade e o amor ao próximo em contrastante com as ideologias seculares que seguem uma estratégia de instalar os seus multiplicadores não só nas estruturas do Estado e implicitamente nas estruturas sociais da igreja. A realidade da família e correspondente investimento nela é a estratégia e oportunidade nobre e duradoura que a Igreja tem para se tornar presente a nível social na estrutura do estado moderno. Este aposta na destruição da família e no fomento das grandes famílias (estruturas) partidárias. A influência e participação na vida pública dão-se hoje, principalmente, através da vida partidária, que se apoderou das estruturas do Estado e é, muitas vezes, orientada pela ideologia e pelo dogma dum pragmatismo factual à margem do povo. Uma função da Igreja actual seria mitigar e humanizar aquelas estruturas participando activamente nelas. Não se trata de ter políticos que defendam os interesses dos cristãos mas de ter cristãos na política que a humanizem e defendam a pessoa, os interesses do povo que comunga do ser pessoa. Para isso não pode continuar a considerar-se o matrimónio como concorrente da ordem sacerdotal ou mesmo inferior a ela. Se antigamente era importante o exemplo institucional hoje é importante o testemunho de vida integrada. A hierarquia precisa de se integrar na vida familiar, social e política de maneira directa e não apenas representativa. Também a instituição está chamada a responder ao apelo. Não existe uma norma normans mas uma norma normata. Na há nada definitivo. A cristologia aponta para o primado da praxis.

Sexualidade e Espiritualidade são Energias complementares

Vida sem erotismo é ausência, é frieza. De facto, a sexualidade e a espiritualidade atravessam o coração humano. A sexualidade é uma dádiva de Deus que não deve ser tabuizada nem instrumentalizada. Ela é sinal de alegria na vida.

Apesar duma sociedade sexualmente pervertida em que o comércio se apoderou da sexualidade, a Igreja não pode manipular a sexualidade dos seus padres muito embora o argumento do testemunho pese muito.

A propaganda reduz a mulher a mercadoria. A mulher é transformada em alegoria de mercadoria ao lado dum Mercedes. Este é o melhor sinal de como o mercado já colonizou o corpo da mulher com as fantasias sexuais a ele unidas. A mercadoria tornou-se mulher e a mulher mercadoria. Ela tornou-se reclame. A indústria comercializou o desejo sexual pondo-o ao seu serviço.

Toda a pessoa se encontra sob tensão entre necessidade e valores, seja qual for a forma de vida escolhida, a caminho do possível.

Maturidade afectiva pressupõe a capacidade de renúncia a necessidades e a capacidade de diferenciação entre o papel que se desempenha e a pessoa que se é. Só assim se pode observar os próprios abismos. Até ao concílio de Espanha (Elvira) era comum os padres poderem compartilhar a corporeidade com a esposa. A acentuação do ofício sobre a pessoa exige super-homens sem necessidades, condicionando a santidade do ofício à especialidade do homem padre. Em nome da independência sexual tornam-se dependentes da administração. O facto dos párocos terem feito o voto de castidade não os deve impedir de ter coragem para esclarecer o povo, muito embora a coragem seja dificultada por uma obediência mal entendida.

A igreja não pode calar-se em relação à sexualidade do padre nem pode aceitar que o sacerdote seja torturado pela sexualidade.

A sexualidade consta de relação, fecundidade, identidade e prazer. A Igreja solucionou muito bem a relação e a fecundidade, através de rituais e sacramentos. O problema do prazer e da identidade reserva-os para a controvérsia, sem lhe dar solução.

O celibato é uma forma de vida, uma opção livre nas ordens e congregações religiosas. É um testemunho especial do evangelho de disponibilidade para o espiritual. Porém o processo da incarnação e da ressurreição e o mistério da trindade não permitem apenas a visão bipolar de extremos contraditórios. A espiritualidade cristã não se esgota no diálogo ela vive do triálogo e por isso da complementaridade dos “elementos”. Esta integra a dialéctica na mística.

A obrigação celibatária do clero secular traz, hoje, muito mais desvantagens que vantagens para o povo de Deus.

Uma sociedade sexualizada faz dos celibatários exóticos levando-os ao isolamento. O exercício sacerdotal torna-se hoje mais difícil que ontem. A vida celibatária traz consigo mais disponibilidade mas acarreta também perigos, além de arrogância e de egocentrismo, na falta do elemento correctivo comunitário ou do parceiro, pressupostos necessários para haver desenvolvimento. A abstinência genital sexual não implica abstinência emocional sexual, isto tanto para casados como para solteiros. A renúncia à prática genital pode aumentar a emocional possibilitando uma maior relação com a comunidade, com os membros e com Deus; o mesmo se diga duma prática genital sexual familiar. Há muitos caminhos para chegar a Deus e nem sempre os que se manifestam mais directos são os mais rápidos!

Celibato é uma questão para adultos. Pessoas que não aceitam e não conhecem a sua sexualidade devem renunciar ao celibato. A contenção sexual é uma prática também presente no matrimónio.

Também há perturbações (fobias) da personalidade que se podem esconder no celibato. O amadurecimento da personalidade é um processo e como tal não deve ser parado em nenhum sector.

Nos tempos em que havia grande afluência de vocações sacerdotais aos seminários, os orientadores prestavam grande atenção à maturidade intelectual, psíquica e afectiva; hoje, a carência pode tornar os critérios de selecção mais laxa, o que pode ter más consequências. O padre deve continuar a ser uma instância moral, também o pode ser como casado! A instituição não pode limitar-se no mundo a ser um universo paralelo. Os padres não são criaturas sem necessidades. A natureza quer-se dominada mas não negada. A negação da necessidade implica a negação da realidade. Uma afirmação da instituição à custa da negação da necessidade pode tornar-se exploração e pode conduzir à hipocrisia e à sobranceria.

O padre caminha ao lado das pessoas. Nas missões e no meio dos pobres realizam acções heróicas. A sua entrega é total, vivem com os pobres de dia e de noite, assumem as suas preocupações. Ele é cura de almas e presencia o divino. Todo o cristão está chamado a esta missão.

O voto da castidade pode tornar-se, com o tempo, numa grande carga, numa prisão da sexualidade e é já hoje uma renúncia a fomento de cristianismo nas instituições democráticas.

A Igreja católica, num acto de angústia, viu-se na necessidade de proclamar, a 19 de Junho de 2009, um ano sacerdotal.

Com isto espera das comunidades cristãs e dos padres maior empenho. Os bispos, continuam a reagir como a avestruz que em situações de perigo metem a cabeça debaixo da areia. Em vez de analisarem o porquê da crise sacerdotal e a prescrição celibatária preferem continuar a apostar no celibato do pároco, a reduzi-lo a um perfil de desafio entre aceitação e rejeição, apesar da penúria que se alastra por todas as paróquias.

A instituição ainda não se deu conta que explora a pessoa do padre e por vezes abusa de pessoas sobrecarregadas com cargos honoríficos, que os chegam a envolver em activismos exaustivos. Naturalmente que embora o trabalho feito, não reverta em favor da instituição mas em favor da comunidade, esse facto não deve desresponsabilizar a administração no cuidado que deve ter pelos seus membros. Naturalmente que uma igreja pobre ao serviço dos pobres não tem fundos de meneio suficientes para poder fomentar uma rede de colaboradores leigos mais eficiente. Embora a fórmula trinitária seja plena em relação à dialéctica, a organização não pode fugir à realidade dialéctica da disputa de dois pólos: um pólo constante do exercício e da procura da verdade e outro variável de expressão e adaptação cultural.

REESTRUTURAÇÃO DAS COMUNIDADES CRISTÃS

A Paróquia é um Terreno em Obras

Na Alemanha, tal como em muitos outros países, as paróquias católicas e protestantes encontram-se em profunda reestruturação devido a falta de recursos económicos, a elaboração de novos perfis pastorais e à falta de párocos (no caso dos católicos).

A crise de comunidades paroquiais devida à falta de padres torna-se cada vez mais aguda. Em vez de se adaptar a estrutura pastoral eclesiástica às necessidades da comunidade, adapta-se a comunidade à falta de padres. Acelera-se um fenómeno de desenraizamento e de abandono dos cristãos das práticas litúrgicas e uma certa identificação territorial. A relação pároco comunidade dificulta-se. A comunidade de base insurge-se contra a reunião de paróquias sob um só pároco, mas em vão. O padre passa a ser um pastor de multiplicadores. Este processo oferece pouca resistência porque muitos dos párocos já só visitavam os “fregueses” quando solicitados. A necessidade em vez de se dar em favor dos membros da comunidade recorrendo-se à ordenação de pessoas casadas, de diáconos e diaconisas recorre-se à estratégia estrutural do mesmo pároco fazer serviço em várias freguesias ou em juntá-las. Naturalmente que também o reajustamento de paróquias traz as suas vantagens. Geralmente da necessidade nasce a virtude.

Com a fusão de paróquias o trabalho será mais estruturado e a rede de serviços torna-se mais lata. Por outro lado com estas medidas petrificam-se posições conservadoras que não aceitam párocos casados nem diaconisas. A lobi administrativa reduz a lamentação dos fiéis, que vêem a sua comunidade ameaçada, a um luto que passa. Mais que investir na mudança das estruturas seria de investir na vida espiritual das comunidades e na criação de Unidades Pastorais de serviços específicos. A preocupação das estruturas da igreja parece ser outra: pensa em sistemas de representação da Igreja a nível local, como se a comunidade cristã não fosse ecclesia mas fosse apenas parte duma sociedade. Enganam os fiéis com a ideia de democratização e de responsabilização dos leigos no lugar como se a comunidade não continuasse centrada no padre. Ou será que os actuais párocos são um impedimento de desenvolvimento de actividades laicas que na sua ausência se tornarão possíveis? Naturalmente que se há paróquias em que o padre só se limita à administração dos sacramentos, neste caso a subjugação dessa paróquia a uma outra parecerá legítima. Temos o Mammon e a instituição por vezes em concorrência com a pastoral e com a eclesiologia. A igreja tem uma responsabilidade ad intra et ad extra. Esta pressupõe o respeito por comunidades vivas e unidas, emocional, social e espiritualmente; essa responsabilidade deve estender-se ao pároco muitas vezes abandonado ao isolamento. Nunca é demais louvar o trabalho abnegado de assistência social e pastoral que os padres prestam ao povo e ao Estado apesar do ressentimento presente em ideologias que se apoderam do Estado e pretendem carta branca para a imposição dos seus interesses contra aqueles.

Critérios indispensáveis a uma Comunidade

Uma paróquia pode continuar a ter várias comunidades, como já acontece com os diferentes horários de missas, com diferentes músicas, diferentes públicos e até, por vezes com diferentes padres. As condições para que haja comunidade são: o seu testemunho de fé (martyria), a vivência da caridade (diakonia) e o louvor a Deus (Eucharistia) que se expressam na comunhão de todos (Communio) e se realiza e experimenta no Reino de Deus (Missio). Ecclesia (comunidade) pode naturalmente acontecer independentemente dum lugar determinado.

A revista alemã para pastoral e praxis na comunidade nº. 3 de 2010 www.anzeiger-für-die-seelsorge.de  refere o resultado duma investigação científica em que se enumeram os critérios necessários para que uma Comunidade (ou paróquia) seja viva. Os oito critérios têm que ser cumpridos simultaneamente e são: direcção que autoriza, realização (execução em colaboração) de orientação carismática, espiritualidade entusiasta, relações amorosas, estruturas convenientes, liturgias inspiradoras, pequenos grupos íntegros e evangelização relevante.

Daqui se conclui a necessidade duma planificação abrangente. Além disso purismos são inconvenientes; o “trigo” deve “crescer com o joio”; só mais tarde se poderá ver. Uns fiéis trazem e sustentam os outros. Os espaços paroquiais ou da comunidade poderão ser usados por diferentes grupos de música e de arte, canto, cursos de formação, viagens, peregrinações, exposições, e grupos de meditação e outros em situações mesmo contraditórias, projectos ligados a necessidades específicas sejam elas família, idosos, etc..

Com padres casados ou com padres celibatários o importante é que a comunidade se abra à vida e não se fixe em hábitos rotineiros mas que se reduzem a não deixar morrer alguma iniciativa. Descobrir os próprios carismas e os dos outros numa estrutura com buracos estruturais que permitam oportunidades para a actuação do Espírito Santo.

Com a reforma antecipada há muitas pessoas cristãs e não cristãs interessadas em colaborar honorificamente ou apresentar projectos.

A Igreja tem-se contentado em ver a Banda a passar

Uma atitude da sociedade secular generalizada contra os padres e a sobrecarga de trabalho leva muitos párocos a uma situação de isolamento e de solidão.

A direcção da Igreja adia o problema da falta de padres conectando várias paróquias em Unidades Pastorais sob a direcção dum só padre ou dum grupo de padres. O sacerdote vê, muitas vezes, a sua actividade reduzida a mero administrador de sacramentos e a orientador de grupos, tornando-se num hóspede de passagem, sem tempo para conviver com os membros da comunidade. O novo perfil de pároco parece corresponder mais a um Administrador duma sociedade de leis (grega) do que a uma comunidade de vida (bíblica) com uma vida inerente de “auto-suficiência”.

A estratégia de substituir padres por assistentes pastorais revela-se, por vezes, como contra-produtiva por estes não surgirem da comunidade de vida mas serem colocados por uma instituição distante apenas preocupada com problemas logísticos de administração. O recurso a padres do terceiro mundo para as paróquias, tal como faz a indústria recorrendo à imigração de trabalhadores do estrangeiro, revela-se precária. Não podem contar com uma comunidade acolhedora como no caso das ordens e congregações, o que pode conduzir a um choque cultural, ao isolamento e a depressões, como se observa em certos casos na Alemanha.

O activismo a que os párocos estão sujeitos leva-os, muitas vezes, a perder a alegria de serviço e de vida. 50% dos padres portugueses não participam em retiros nem em cursos de formação contínua: um testemunho de pobreza espiritual e de incúria.

Padres transplantados de outras culturas acrescentam à solidão do celibato o choque cultural que conduz muitas vezes ao stress emocional e à depressão. O padre vive só com os seus problemas e fica só com os problemas a ele confiados. O cargo transforma-se numa carga e o dia a dia pastoral vai-se tornando num deserto onde a fonte da fé se vai esvaindo.

O Homem não é de pau. A sua união a Cristo deve ser complementada com a sua ligação a Jesus, o Homem. No padre, como no cristão deve tornar-se transparente o espírito e a matéria, Jesus Cristo completo.

Deus age em nós e através de nós; o nosso agir tem qualidade divina (Gal.2,20). Apresentar Cristo como garante de que não há tempos de ponto morto na vida sacerdotal seria uma impertinência em relação à materialidade como se de Cristo não fizesse parte Jesus, a parte humana sujeita. A sublimação dum serviço não deve dar-se à custa dos outros, como se o leigo em comunidade não pudesse participar do mais profundo da divindade. O chamamento sacerdotal e específico não deve desresponsabilizar o sacerdócio comum do povo de Deus; eles dão-se na complementaridade. “Eu sou aquele que está aqui para vós” (Ex 3,14). “Onde estiverem dois ou três no meu nome lá estou eu”(Mt 18,20). “O que fizerdes ao mais pequeno a mim o fazeis”(Mt 25,40).Jo 17,21) (Act 2,44; 4,32).

“O sacrifício que agrada a Deus”(Ef. 5,2) não é mortificação mas sim fidelidade à carne e ao espírito no respeito de Cristo e de Jesus que formam uma unidade de matéria e espírito. Estar em Cristo não significa só estar junto dele mas estar nele na terceira dimensão (pessoa) do amor. A força de Cristo jorra em Jesus de várias maneiras. Mais que “enviados de Cristo” estamos a fluir com ele na realização trinitária. Com o Paráclito somos todos enviados a transformar-nos a nós e ao mundo no Jesus Cristo (união de matéria e espírito, 2Cor.1,21).

O serviço sacerdotal terá de ser alargado para que a acção eclesial se concretize na multiplicidade das situações da vida. Também o diaconato da mulher se tornará uma realidade. A razão precisa de percorrer, por vezes, longos caminhos até que, por fim, vence!

O dom do sacerdócio e os diferentes dons são para a comunidade. O desleixo esconde-se facilmente sob o manto da vontade de Deus, como se ela não passasse pela vontade do Homem. Deus age no leigo, no secular e no padre em diferentes funções. O cristianismo não é uma estrada num só sentido. Nele há as mais diversas mansões!

António da Cunha Duarte Justo

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