TAMBÉM A DEMOCRACIA JÁ VAI NUA

O socialismo derrubou o Estado Novo e o capitalismo vence sobre a democracia.

As revoluções liberais começam-se com a oferta de liberdade, igualdade, fraternidade e justiça. O povo, que não reflecte sobre as lições da história, vai na fita e acomoda-se. Entretanto os libertadores ocupam os postos dos depostos, dando continuidade à opressão e ao suborno, registando-se naturalmente um progresso quantitativo que não qualitativo.

No regime democrático iniciado com o 25 de Abril, tal como na primeira democracia portuguesa, faltam os pressupostos democráticos aos iniciadores da revolução.Numa e noutra não domina a razão nem tão-pouco a voz do cidadão adulto mas sim a força e a corrupção cimentada por uma mentalidade autoritária.

Assim, transformam a nação numa coutada partidária, ainda antes do povo entender o que era democracia e o que significa liberdade.

Sem uma consciência de povo nem de nação, tratava-se de sanear pessoas de postos e ocupá-los por outras. Pessoas espertas, depois de terem calcado a bandeira portuguesa no estrangeiro, importam, também agora, daí ideias a que se encostam. Não parece haver a consciência do que se é nem do que se quer. Não são personalidades que fazem a história mas a história que lhes atribui personalidade!

Mesmo hoje, depois de 30 anos de exercício, até no parlamento, não há o mínimo de respeito pelos colegas parlamentares. Causa náuseas, por vezes, observar o sorriso sarcástico e as respostas de carácter pessoais que um PM dá aos intervenientes de partidos concorrentes. Um povo simples habituado às reacções dos chefes dos seus clubes de futebol não exigem mais dos seus governantes e até pensam que a resposta ad hominem dada pelo PM é bem dada. Portugal cada vez se degrada mais para um país de adeptos e de adaptados. A realidade passa a ser projecção e a inteligência esperteza. Enfim, um povo plateia, com políticos que não estão, sequer, à altura do profissionalismo dos seus jogadores de futebol. Apenas os superam na conversa; comungam da corrupção. Consequentemente, um povo, de memória curta, já sem força para levantar a voz nem o rabo, lá se vai arrastando para as urnas do voto, na cumplicidade de jogo pelo jogo. Cada vez o faz menos convicto. Talvez o desencanto do adro político!

Fazem leis que dizem legitimadas em nome dum povo que desprezam e teimam continuar a desconhecer. Já não conta o problema da legitimação. Naturalmente que a democracia não soluciona o problema, por vezes contraditório, da decisão legitimada democraticamente e da decisão legitimada pela razão. Na ditadura a legitimação assenta no poder do ditador. Na democracia no poder do grupo mais forte, mas também não na razão. Apesar de tudo isto a democracia é um bem superior a defender-se. Os políticos esbanjam-no e maltrata-no. Deslegitimam-no atendendo à arbitrariedade da força normativa em que se baseiam. Do autoritarismo duma economia de plano passou-se para o autoritarismo da economia liberal. Antes decidia um sistema hoje o outro; ontem um de carácter pessoal, hoje um, sem carácter, anónimo.

Não se trata de colocar o problema da ditadura ou da democracia mas de ver como o Estado trata os cidadãos e como trata espacialmente os mais carenciados. Certos investimento em campos de futebol e em objectos de prestígio à custa do investimento na produção, desrespeita o povo. Investe-se na capital o que se rouba à província. Estes são, muitas vezes, investimentos para inglês ver!

Temos uma democracia que devemos defender. O que nos falta na classe dirigente são homens democratas da craveira dum Salazar dos bons tempos mas naturalmente modernizado. Faltam-nos homens que sejam capazes de cometer erros mas que se afirmem na defesa da nação e do povo. Não se trata de exorcizar o presente nem de nega-lo, mas de se não deixar ir na enxurrada.

Os políticos encostam-se à liberdade e a economia à liberdade de consumo. Chegou-se porém a um ponto em que o crescimento do consumo já não satisfaz nem é comprável por grande parte da população. Passa-se a um consumo à custa da liberdade e da dignidade. Isto porque a política se sujeitou à economia.

Os vendilhões do templo da Democracia

A democracia não parece já interessar-se pelos cidadãos que são tidos apenas como consumidores e como contribuintes. Um estado que reduz a ética do capital ao imposto sobre ele não é independente e torna-se supérfluo. Uma empresa privada faria então melhor o seu papel do que o Estado.

Uma democracia que permite que um seu cidadão ganhe tanto ou mais num mês como um trabalhador simples em toda a sua vida não merece o nome de democracia. Essas diferenças não se davam num tempo do capitalismo mais moderado. Hoje, um super-capitalismo inteligente sabe influenciar com as suas lobies a política e comprar os políticos com ofertas às suas fundações e organizações (que se podem tornar em instrumentos de lavagem de dinheiros e da compra de consciências que se dizem ao serviço do povo). É preciso expulsar os vendilhões do templo da democracia. A democracia está em perigo. A gravidade da crise é ser colocada em perigo pelos que a representam e se servem dela.

Robert Reich, no seu livro Superkapitalismus, dá pistas muito úteis para uma coexistência respeitosa entre cultura política e cultura económica no sentido de se dominar o super-capitalismo que já domina sobre a democracia.

António da Cunha Duarte Justo

Os Perdedores da Globalização: Classe Média e Trabalhadores

O Radicalismo das Sociedades por Acções

O radicalismo do capitalismo liberal com as suas leis radicais do mercado, em voga, espalha-se como as pragas do Egipto. As consequências vemo-las também nos países em vias de desenvolvimento que, em vez de beneficiarem com o Globalismo do mercado, como seria de esperar, não saem do impasse. A classe média é destruída na Europa, os pobres cada vez se assemelham mais aos pobres da América. O erário público é que tem de socorrer com biliões de Euros para impedir a bancarrota dum mercado financeiro desregulado praticado por bancos e accionistas sem moral.

Precisa-se duma política com lugar para o particular, para o trabalhador. Este, apesar de produzir grande riqueza vê os lucros da empresa serem comidos pela praga dos gafanhotos de instituições de acções, que, apesar da produtividade das empresas, as destroem para satisfazerem a ganância e o desejo de expandir à custa do pequeno. Já o Padre António Vieira dizia: “Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. Se fora pelo contrário, era menos mal. Se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande para muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos nem mil para um só grande.”

O problema é que, também, se não pode ter confiança na esquerda porque perdeu o comboio da história não tendo compreendido a nova era do globalismo. Os socialistas, por sua vez, são os melhores sacristães do turbo-capitalismo porque o promovem sem que ele fique com remorsos, ainda agarrados a ideias internacionalistas à custa da própria cultura e do povo simples. Ao Centro-direita falta-lhe uma filosofia conservadora consequente moderna e, além do mais, os países pequenos estão condenados a ver a banda passar e o que é desonrante ainda os governos a bater-lhe palmas. É preciso um capitalismo de rosto humano em serviço do humanismo e não só apenas do lucro.

A justiça social, numa economia global, tem que ser acompanhada a nível global por estruturas universais à imagem dos sindicatos que surgiram nas economias nacionais provenientes da revolução industrial.

A injustiça social e as desigualdades entre as elites e o proletário já fazem lembrar o futebol. Os espectadores é que têm de pagar os ordenados exorbitantes dos futebolistas. O que aqui acontece de livre vontade acolá acontece por obrigação. A lógica, porém, é a mesma. O Estado, ao permitir que instituições firam o nervo da honra do trabalhador, torna-se cúmplice e não merece o respeito de quem, apesar do trabalho intensivo, não ganha para ter uma vida digna. Há pessoas que apesar do trabalho ainda estão dependentes do apoio social devido aos pobres.

Na potência que é a Alemanha, o poder de compra dos trabalhadores, desde a Unificação da Alemanha, não sobe.

O pior ainda é que apesar de se assistir ao aumento da pobreza nos países ricos, não se vê uma subida correspondente nos povos em via de desenvolvimento, como seria de esperar com uma boa globalização. Os problemas continuam.

As fronteiras entre uma injustiça aceitável e uma injustiça inaceitável cada vez são menores. Naturalmente que um estado injusto vive melhor de alguns ricos e muitos pobres do que de muitos remediados e poucos ricos. O que lhe importa é o tilintar da moeda nos ministérios da economia e das finanças.

O distanciamento do Estado em relação aos seus cidadãos está a tomar proporções que favorecerão o aparecimento de grupos extremistas por todo o lugar. Os aparelhos militares terão de ser reforçados em tempo previsível.

Por enquanto, os Estados europeus ainda poderiam ter mão nas grandes multinacionais. O capitalismo nacional ainda se deixava orientar por considerações de solidariedade e de respeito para com os trabalhadores e para com os cidadãos. Os grandes accionistas não têm terra nem têm alma. Só conhecem o deus Mamon. E ao seu serviço querem o homem e a cultura como parte da sua mercadoria.

Além disso os tubarões internacionais são incontroláveis e a pontos de ganharem maior poder que muitíssimos países. Este é, além dum perigo para os trabalhadores, um perigo para as nações.

António da Cunha Duarte Justo

Salários Mínimos na Europa

Igualdade Intolerável

Actualmente, dos 27 países da União Europeia, há vinte com salário mínimo oficial, determinado pelo Estado ou por convenções tarifárias. A Alemanha e a Suiça revelam grandes desníveis havendo ordenados tarifários de 3-4 Euros por hora.

Consideram-se ordenados imorais quando estes salários correspondem a um quantitativo reduzido de 30% do que paga o Fundo de Desemprego / Social (650 euros + custas de habitação).

A argumentação de que salários mínimos oficiais aumentam o desemprego é falaz. O Luxemburgo embora tenha um salário mínimo de 9 euros por hora, tem uma quota de desempregados no sector dos trabalhadores de salário mínimo muito inferior à da Alemanha. Um salário irrelevante não incita ao trabalho.

Se consultarmos os dados estatísticos actuais da Fundação Hans Böckler verificamos que os salários mínimos oficiais actuais são muito diferentes de país para país. Assim o Luxemburgo tem um salário mínimo de 9,08 Euros por hora, a Irlanda 8,65, a França 8,44, a Inglaterra 8,20, os Países Baixos 8,08, a Bélgica 8,08, a Grécia 3,80, Malta 3,46, a Espanha 3,42, a Eslovénia 3,12, Portugal 2,41, a República Checa 1,76, a Hungria 1,51, a Eslováquia 1,46, a Polónia 1,43 e a Bulgária 53 Cêntimos.

O turbo-capitalismo é que toca a música

Na Alemanha não há salários mínimos para todos os sectores de trabalho embora o sindicato exija um salário mínimo geral de 8,10 Euros. Há sectores em que o salário é negociado entre patronato e sindicato, sendo o salário mínimo declarado por lei em ramos especiais do mercado de trabalho que têm a ver com a concorrência do estrangeiro no país. Assim quando na Alemanha apareciam muitos empreiteiros de obras portugueses, espanhóis, polacos concorrendo com empreiteiros nacionais a Alemanha criou a lei do salário mínimo para este sector. Assim tornou quase impossível a concorrência.

É sintomático o proteccionismo que está subjacente ao salário mínimo determinado pela lei alemã para casos específicos, precisamente para os sectores das obras e dos carteiros dos correios. Deste modo a Alemanha dificultou a concorrência estrangeira, impedindo mesmo a ocupação de firmas estrangeiras nas obras em território alemão (para este caso a concorrência de países com salários muito baixos é impedida em nome da moral). Na Alemanha há muita gente a trabalhar a quatro – cinco euros à hora. Estes não precisam de protecção porque se trata de exploração intra muros.

Agora, a legislação que fixa o salário mínimo para os carteiros entre 8 (para a zona da antiga Alemanha socialista) e 9,80 Euros (para a zona ocidental) vem favorecer o monopolista “Correios Alemães” perante a concorrência de firmas privadas. Os Correios alemães são assim subsidiados indirectamente e preparados para o combate no estrangeiro. (O mesmo tem feito Portugal dando oportunidade às grandes empresas para a exploração da energia foto-voltaica, não a disponibilizando ao cidadão normal!).

Também isto é Europa: medidas proteccionistas e determinação de salários mínimos em caso de concorrência estrangeira. Na Europa, o maior escândalo é o das subvenções agrárias que impedem a importação de produtos do terceiro mundo. Na defesa do egoísmo nacional todas as forças da nação se tornam solidárias. Os tempos correm bem para os monopolistas. Cada um, à sombra de leis elásticas, procura puxar a brasa à sua sardinha. Depois, hipocritamente , dão-se milhões para o apoio ao desenvolvimento.

O patronato e os liberais afirmam que quando o Estado interfere no mercado de trabalho determinando ordenados mais elevados aumenta assim o desemprego. Naturalmente que o patronato não está interessado em salários mínimos porque sabe que salários de miséria são complementados pela assistência social do Estado, sendo este um subsídio indirecto às firmas.

O turbo-capitalismo tem como aliado os estados que actuam contra a camada social média e favorecem salários de miséria abaixo. Com salários que não chegam para a sobrevivência a Alemanha consegue ter mais gente empregada e tornar as estatísticas mais jeitosas, a nível europeu. Todos os países europeus têm um medo das estatísticas que se pelam. Isso os parece mover, não a situação dum povo, cada vez mais pobre. O sistema social europeu cada vez tem menos a ver com a responsabilidade social para o indivíduo isolado. A estratégia parece ser, nivelar a pobreza europeia com a pobreza do terceiro mundo e assim evitar concorrência nos andares superiores da sociedade mundial.

O salário mínimo tem que permitir a uma pessoa garantir um rendimento que assegure, pelo menos, o mínimo para a existência. Na Inglaterra a economia floresce apesar de salário mínimo elevado. É verdade que, em contrapartida, na Inglaterra pode-se despedir sem dificuldade os empregados.

Na Europa o egoísmo está a atingir níveis insuportáveis: cada um vive para si sem se preocupar com o que acontece ao lado. Torna-se insuportável o desnível de vencimentos de gestores de grandes empresas e o dos trabalhadores.

A igualdade torna-se intolerável se uns se assenhoreiam descaradamente das fontes da riqueza e da reputação enquanto que os outros ficam a ver navios ou a chupar no dedo. Política e economia agem contra a coesão social e destroem a cultura. Não se pode justificar uma sociedade de ricos insaciáveis à custa do alargamento da pobreza e do enfraquecimento da classe média.

O turbo-capitalismo é que toca a música e tudo dança ao seu ritmo. A Europa já foi Europa e o seu futuro parece já ter sido atingido no seu passado. Agora parece restar-nos imitar a USA.

António da Cunha Duarte Justo

Tolerância – Uma estrada num só sentido?

Celebração do 2° Milenário de S. Paulo embaraça a Turquia

Tarso, local onde nasceu o apóstolo S. Paulo, fica, junto à Síria, em território que hoje pertence à Turquia. A Igreja de S. Paulo é um íman de atracção turística, para a região. Porém, para cristãos lá poderem celebrar a liturgia têm que, vez por vez, requerer uma licença das autoridades turcas para o poderem fazer. Além disso têm de pagar entrada e trazer tudo, desde as velas à cruz. O Estado tinha transformado a Igreja católica de S. Paulo em depósito militar, declarando-a como museu nos anos 90.

Agora, nas comemorações de 2000 anos do nascimento do apóstolo Paulo, os católicos querem construir em Tarso um centro de encontro para peregrinos. Esta é uma exigência embaraçosa que contraria a política cultura hegemónica da Turquia. A modernidade exige dela maior tolerância. Em contrapartida porém a religiosidade turca afirma-se na Europa, o que encoraja alguns bispos alemães a solicitarem a aceitação da construção do centro.

Na Europa as Mesquitas surgem, por todo lado, como cogumelos. Até ao presente a táctica muçulmana de exigência de direito à sua expansão religiosa na Europa tem resultado sem terem de cederem a contrapartidas. Reservam-se para si a praxis de perseguirem e oprimirem os cristãos.

O problema do exercício da religião na Turquia está no facto da religião ter sido nacionalizada e o Estado só conhecer o Islão como factor de identidade do Estado Turco. Em 1920, 25 % da população turca era cristã agora é apenas 0,1 %. Mesmo assim continua sujeita a discriminações e perseguições. A discriminação cimenta-se mediante um número específico no bilhete de identidade, que identifica o cidadão como cristão. Os cristãos são impedidos da participação em cargos médios ou superiores no funcionalismo público.

Mesmo em Istambul, antiga Constantinopla, muitos cristãos não podem manifestar a sua fé em público, como refere a revista alemã Spiegel n° 12/17.3.08: Em Istambul, “ cristãos criaram uma sala de oração numa antiga fábrica, mas, indiscutivelmente, sem sinais públicos visíveis como a cruz ou torre. A formação de pessoal eclesiástico não é possível. Conventos e seminários para padres foram fechados, há anos. Centenas de igrejas e casas da comunidade cristã foram confiscadas. Há meses o Tribunal Superior da Turquia proibiu ao “patriarca ecuménico” (bispo ortodoxo) o uso do título que tinha desde há séculos… Também não é permitido preencher as vagas por pessoal estrangeiro.”

Um pastor evangélico que tem ao cuidado 10.000 reformados alemães estabelecidos no sul da Turquia, para ser tolerado como tal, tem que fazer parte do pessoal diplomático do consulado alemão.

As perseguições têm chegado ao assassínio de cristãos. O governo desculpa-se dizendo que não há propaganda contra cristãos. Esquece-se de dizer que a intolerância religiosa ainda é inerente ao Islão, pertence à essência do seu credo, praticando a intolerância institucional, a partir do momento em que alcançam a maioria da população. Até aí fecham-se no gueto, definindo-se na demarcação. Consideram a tolerância dos cristãos como fraqueza e como cedência ao ateísmo e ao modernismo. Na Turquia até os militares advertem para o “perigo de convertidos” ao cristianismo; em 7 anos houve 344 pessoas islâmicas que se converteram ao cristianismo.

O problema é que muitas mesquitas são testemunho de pretensão de poder. Querem construir em Colónia uma mesquita maior que a catedral e que custa 25 milhões de euros sendo financiada pelo Ministério da Religião de Ankara, que se serve da organização Ditib para o efeito.

O radicalismo muçulmano tem florido na Alemanha à sombra das mesquitas, estando muitas delas sob observação.

A Alemanha só agora acordou para os problemas de carácter fascista que, através da religião tem dado oportunidade à cobertura do terrorismo muçulmano internacional. Agora a Alemanha quer que os chefes religiosos (Imames) das mesquitas sejam formados na Alemanha e não apenas como até aqui com o envio anual de 600 Imames pagos pelo estado turco. Os estados petrolíferos árabes também são pródigos no fomento da presença muçulmana através da construção de mesquitas.

Ertugrul Özkök, chefe redactor do jornal “Hüriyet” afirma:”Os turcos construíram mais de 3.000 mesquitas na Alemanha, e nós não conseguimos tolerar sequer um par de igrejas e uma dúzia de missionários”.

O problema da Turquia e da sua abertura à Europa é religioso. O Islão é a religião do estado; outras são vistas como uma ameaça ao turquismo. Um outro problema dos muçulmanos em aceitarem a supremacia constitucional dos estados em que se encontram é o facto da sua religião ser absorvente e mais que um sistema teológico ser um sistema jurídico. O problema da lealdade para com as leis dum estado torna-se muito complicado. O islão ainda não atingiu a época do renascimento. Pode ser que os muçulmanos europeus, quando os cidadãos europeus os tomarem a sério se vejam na necessidade de renovar a sua religião. O renascimento muçulmano, só poderá ser levado a efeito pelas mulheres. O sistema patriarcal e machista actual são mesmo muito cómodos para os homens. A vantagem do islão perante o cristianismo está no facto de nele vingar a lei natural (do mais forte), isto é, a lei natural foi assumida pela lei positiva enquanto que o cristianismo, na sua lei positiva, a contraria muitas vezes. A monogamia foi uma das leis positivas que o cristianismo afirmou na defesa da mulher.

Por estas e por outras a Turquia não poderá entrar na União Europeia tão depressa.

A praxis mostra que o Islão, duma maneira geral, é hegemónico e implica em si uma estratégia de luta contra o que não for muçulmano. Os povos muçulmanos não conhecem o termo de nação no sentido do Ocidente. O seu termo de identificação é o islão. Por isso se torna tão fácil a acção do terrorismo internacional entre os povos de religião islâmica. O muçulmano religioso não se integra nas sociedades onde se radica. A formação de guetos cerrados é consequência que considera a mulher e o não muçulmano impuros. Geralmente não convidam para casa visitas que tenham um credo diferente do deles. Têm os seus representantes rotineiros que, pró-forma, visitam iniciativas dos cristãos, o povo em geral não o faz. O diálogo é uma estrada de sentido único! Este comportamento e uma experiência negativa das camadas jovens com colegas turcos criará grandes problemas nas relações de convivência. Os políticos e as empresas que cometeram grandes erros na política de imigração calam-se ou colocam o testo por cima desse panelão para impedirem o mau cheiro.

A tolerância da intolerância só fomenta a intolerância. Necessita-se duma cultura do bom argumento.

António da Cunha Duarte Justo

25 DE ABRIL – UM CHEIRINHO A LIBERDADE

Uma Revolução contra a Nação – Um país demasiado pequeno para a Liberdade?

Com o 25 de Abril, Portugal perdeu mais uma oportunidade de se libertar dos coveiros da liberdade dos outros. O cheirinho a liberdade que vinha dos cravos de Abril logo cedeu o lugar ao incenso da reverência política. Os antigos Barões ressurgem entao das cinzas e vingam-se dum Portugal que nega tornar-se adulto.

O sistema partidário que apressadamente se apoderou do poder faz lembrar galinheiros de galos e galinhas chocas em que os galos conhecem o partido mas não a nação. Os partidos encafuaram a liberdade e a democracia nos seus sistemas à custa da cidadania de homens livres. Estes continuam à solta, constituindo excepções nos partidos. Carreirismo aliado ao oportunismo, fora da verticalidade e da honestidade, alimentam-se dum direitismo esquerda e dum esquerdismo direita em função de interesses pessoais ou ideológicos sem sentido de estado.

Como é tradição, desde que há partidos em Portugal, os partidos e as ideologias apoderam-se do Estado, sem consciência dele. Criou-se uma promiscuidade da política e da economia: políticos asseguram o seu baronato nas comissões de empresas, não sendo raro o caso de deputados da AR acumularem cargos sendo, ao mesmo tempo, assalariados de empresas e bancos e, para cúmulo da corrupção legalizada, fazerem ainda parte da Comissões Parlamentares de Investigação, que, por si mesmas, deveriam controlar essas empresas. Assim os “representantes” do povo se convertem em representantes de si mesmos ao serviço do oportunismo.

Naturalmente que liberdade é o direito dos mais fortes, como confirma a prática política. O problema é a desmedida. O resto é inocência ou ingenuidade!

O 25 de Abril criou em grande parte uma clientela partidária de prostitutos do poder que não sabe fazer mais nada que política partidária. Os partidos geram os seus inúteis para quem é preciso criar postos e também para dar lugar às novas esperanças do e no partido. Por isso cada vez se assiste mais a barões, antigos ministros ou secretários de estado, fazerem parte da direcção de empresas, especialmente de bancos. Estes para se fazerem valer no ambiente corrupto dos corredores ministeriais dão-lhe um posto para em contrapartida do cargo oferecido conseguirem um atalho para o centro de decisões governamentais e parlamentares. Assim também os erros dos bancos serão mais facilmente saldados com os impostos do povo. A promiscuidade de interesses privados, estatais e partidários beneficia todos os imiscuídos.

O povo não conhece outros exemplos e até se admira quando alguém os critica. Aqueles desconhecem o país real pondo-se ao serviço de internacionais. Controlam também os lugares públicos da comunicação social assegurando assim o seu burgo. Portugal parece demasiado pequeno para se poder permitir uma imprensa independente e uma consciência própria. Assim a economia e a sociedade andam atrás dos políticos em vez do contrário. Vive-se assim duma política de encenação. Um 25 de Abril que choca homens que só vivem do partidarismo terá, apesar do corpete da União Europeia, um destino semelhante ao da democracia instalada em 1910.

Da “ditadura” da Nação Império para a “ditadura” da Nação Democrática

Se Portugal dormiu durante o Regime de Salazar bem continua a dormir no Regime dos Abrilistas que além de atraiçoarem os povos das antigas colónias desmiolam o sentido da liberdade e da democracia! Um anacronismo atendendo ao desenvolvimento das nações europeias nos últimos 50 anos. No desconhecimento da realidade inter-cultural, parece passar-se em 74, depois das insónias, da “ditadura” da Nação Império para a “ditadura” da Nação Democrática. O Povo continua a ser um lameiro de engorda sem pretensões sequer a ser arbusto!

Se uns se arranjaram em nome de Salazar outros, ou os mesmos, arranjam-se melhor em nome da Democracia e da liberdade. Os slogans dos servidores do Povo de outrora apregoavam o bem da nação e a segurança, os slogans dos novos servidores do Povo anunciam o bem do povo e a liberdade. No tempo das drogas as dores são mais suaves! O tempo está bom camaleões e invertebrados! Eles prostituíram-se nas sombras do povo e da nação! Como vivem bem da prostituição, querem um país de meretrizes, à sua semelhança, mas sob a bandeira da democracia. Preferem a ignorância e a subserviência do seu povo, para melhor serem aplaudidos nos arcos do triunfo do estrangeiro ou das multinacionais. Para não tropeçarem na iniquidade declaram-na virtude. O futuro do povo é-lhes indiferente. Por isso desperdiçam a sua confiança não se preocupando com matrizes aferidas ao ideário nacional e humano.

É necessário um 25 de Abril mas equilibrado na mudança e grande no bom exemplo dos eleitos. Para isso terão de deixar de construir barricadas institucionais à semelhança dos republcanistas, para construírem pontes entre a tradição e o novo, entre os ricos e os pobres.

Os partidos automatizaram-se perdendo assim o nexo da nação. Em contrapartida, os partidos duma nação como a Alemanha conseguem, no meio dos seus interesses partidários legítimos, pôr acima de tudo os interesses da nação. Isto nunca se deu em Portugal. Por isso foi tão desastrosa a primeira república portuguesa. Portugal continua a desconhecer o primeiro princípio da sociedade de Esparta: o bem-comum da comunidade está antes do bem individual. Um serve o outro.

António Justo