O CAVALO TROIANO DE ATENAS E O CAVALO TROIANO DE BRUXELAS

Sexo e Poder a servir a Excitação – Diferença entre Gregos e Germanos

António Justo
Os gregos embrulham o poder com papel couché de sexo enquanto os germanos embrulham o poder com a sarapilheira do trabalho! Isto provoca excitação numa sociedade sem capacidade de interpretação, mas em que o escândalo é negócio.

A Alemanha e a Grécia encontram-se em luta justa mas parcial porque cada uma aposta na sua razão esquecendo que a solução viria de uma recíproca complementação.

Dinheiro, poder e sexo prometem o que não podem dar mas lisonjeiam a liberdade que, à sombra deles, perde a dignidade /virgindade.

A ambição do poder e o desejo sexual movem homens e mulheres dando-lhes uma áurea acrescentada pela prostração das massas. O poder sexy dos Varoufakis, dos Sócrates e até dos Berlusconi torna-se num elixir irresistível que move admiradoras e admiradores pelo facto de unirem o poder ao sexo e deixarem um cheirinho a dinheiro.

O poder corrompe, mas vestido de eros adquire um brilho inocente que atrai a alma e ilude o desejo de liberdade. À sombra dos poderosos, a cimentar o seu desejo de conquista, abunda também a fantasia de Cinderelas que, para subirem a escada do poder, fazem uso da sua força erótica. Ao seu desejo corresponde, por vezes, a necessidade dos poderosos solitários que, na aridez da sua ocupação, procuram, também eles, a suavidade da fêmea que lhes dá brilho e gera autoconfiança.

Sexo e poder dão brilho à tentação e movem as massas, porque garantem a contínua excitação, especialmente, se não vestidos nos fatos engravatados da tradição que dessexualizam o desejo.

O inocente sexo ajuda a vender o produto, ao mover a tentação. Na vida pública e na fachada do poder, a mistura de sexo e autoridade ainda se torna mais atractiva e deslumbrante quando a ela se junta o rastilho da esquerda. O ingrediente esquerdo torna a coisa mais atractiva porque ao sexy acrescenta a ideia da fecundidade que promete dar sustentabilidade ao progresso.

Por estas e por outras, o génio grego sente-se melindrado e o espírito protestante engravatado sente-se agravado; ao alemão frontal habituado a andar por caminhos direitos e bem rasgados custa-lhe a entender a mistura que o pacote grego encobre e porque teima tanto em andar por curvas e atalhos.

Tal disparidade de formatos leva o germano a concluir que o que o grego tem para oferecer é lábia erótica quando o germano só negoceia com produtos. Para o germano o eros não vai para a rua nem faz parte da exortação à guerra, para ele a rua é batalha e o sexo é sigilo que reforça, mas fica em casa.

Por isso a dança de gregos e germanos se torna monótona e repetitiva porque toda ela se dá em torno do cavalo troiano: uns em torno do cavalo de Atenas, outros em torno do cavalo de Bruxelas.
Todo o alarido e discórdia vêm de diferentes performances. O poder torna os instintos educados mas o sexo dá-lhe o brilho que não se quer disciplinado. O nosso mundo é todo assim, feito de políticos e poderosos que atraem mulheres e seguidores; tudo pronto a dar cambalhotas como gatos aos pés dos donos, num bulício à volta do bezerro de ouro. O dinheiro tem em si algo oculto que faz brilhar os olhos mas apaga a mente.

Também é de reconhecer que uma vida sem tentação seria vida chata e abafada em mel a que faltariam as maviosas modulações dos cânticos da cigarra.

Para não ser injusto e à maneira de conclusão, cito o sociólogo Johan der Dennen que constata: ”Também mulheres poderosas têm um apetite sexual acima da média”. Se observarmos Ângela Merkel vemos como é verdadeira e forte a excepção à regra.

O problema na UE não vem do papel couché nem da sarapilheira, o problema vem do que embrulham e o que embrulham é poder a encobrir o poder!
António da Cunha Duarte Justo
Teólogo e pedagogo
www.antonio-justo.eu

A ENCÍCLICA ECOLÓGICA EM DEFESA DA “NOSSA IRMÃ E MÃE TERRA”

A “nossa Casa comum” sente-se ferida, adverte Francisco I

António Justo

Na sua encíclica verde, o Papa denuncia a destruição do ambiente, a embriaguez do consumismo, a degradação ambiental e cultural, e a submissão da política à economia.

A encíclica Laudato Si (Louvado seja) do Papa Francisco, dedicada à ecologia e ao ambiente, põe em primeiro plano a protecção, conservação e recuperação do ambiente natural e ecológico da “nossa irmã e mãe terra”, no seguimento de S. Francisco de Assis, Padroeiro dos ecologistas. Por isso o Papa inicia a encíclica com as palavras de S. Francisco “Louvado seja” no seu “Cântico das Criaturas” que compôs em 1225 (Texto em: https://antonio-justo.eu/?p=3183).

O pontífice constata que o planeta “está a ser destruído” e estabelece uma “relação íntima entre os pobres e a fragilidade do planeta”. Dirige-se “a cada pessoa que habita o planeta” e não só aos católicos e às pessoas de boa vontade; descreve a natureza como “a nossa casa comum” apelando para a necessidade de “uma conversão ecológica global”.

Alerta para o facto de a terra parecer transformar-se num “imenso aterro sanitário” que reage com catástrofes de maremotos, furacões, desertificação de algumas regiões e inundação de outras. Apelida o planeta de “terra irmã e mãe” e atesta: “Nunca tratamos a nossa casa comum tão mal e ferido como nos últimos dois séculos… o ritmo do consumo, do desperdício e a mudança do ambiente superou a capacidade do planeta de tal modo que o actual estilo de vida só pode conduzir à catástrofe”.

O domínio absoluto da finança sobre a política

A política não deve submeter-se à economia, e esta não deve submeter-se aos ditames e ao paradigma eficientista da tecnocracia. “Qual é o lugar da política? É verdade que, hoje, alguns sectores económicos exercem mais poder do que os próprios Estados. Falta a consciência duma origem comum, duma recíproca pertença e dum futuro partilhado por todos”.

“A subjugação da política à tecnologia e às finanças torna-se visível na falta de sucesso da cimeira mundial…”. “A salvação dos bancos a todo o custo, fazendo pagar o preço à população, sem a firme decisão de rever e reformar o sistema inteiro, reafirma um domínio absoluto da finança que não tem futuro e só poderá gerar novas crises depois duma longa, custosa e aparente cura”.

Crescimento à custa dos pobres

O rápido crescimento dos países ricos acontece à custa dos pobres: “sabemos que o comportamento injustificável daqueles que consomem e destroem, cada vez mais, enquanto outros não conseguem sequer viver adequadamente a sua dignidade humana”. Uma “verdadeira abordagem ecológica sempre se torna uma abordagem social, que deve integrar a justiça nos debates sobre o meio ambiente, para ouvir tanto o clamor da terra como o clamor dos pobres”. «Tanto a experiência comum da vida quotidiana como a investigação científica demonstram que os efeitos mais graves de todas as agressões ambientais recaem sobre as pessoas mais pobres»

Propõe que se diminua o crescimento: “Por isso, chegou a hora de aceitar um certo decréscimo do consumo nalgumas partes do mundo, fornecendo recursos para que se possa crescer de forma saudável noutras partes”.

A liberdade de consumo ilude a falta de uma liberdade mais profunda

Apela para a reflexão da própria liberdade que não se esgota na liberdade de consumir como o sistema faz crer “quando na realidade apenas possui a liberdade a minoria que detém o poder económico e financeiro”. “A velocidade da mudança … contrasta com a lentidão natural da evolução biológica.”

Critica a privatização da água “recurso escasso” que não se deve comercializar porque tal como “o clima é um bem comum, um bem de todos e para todos.”

Também questiona o direito de empresas ricas poderem comprar direitos de poluir a atmosfera afirmando que “a estratégia de compra-venda de «créditos de emissão» pode levar a uma nova forma de especulação”.

“Os mass-media e o mundo digital quando se tornam omnipresentes, não favorecem o desenvolvimento duma capacidade de viver com sabedoria, pensar em profundidade, amar com generosidade.”

Património humano e cultural ameaçado

O globalismo económico liberal, em nome de uma supraestrutura (um governo do mundo, interesses económicos supranacionais, EU, USA, etc), impõe-se de cima para baixo, centralizando tudo: avassala o regionalismo e desrespeitando as identidades culturais e democráticas dos países, organicamente elaboradas ao longo de séculos. “A par do património natural, encontra-se igualmente ameaçado um património histórico, artístico e cultural”. Recorda também que existe uma “ecologia do Homem” como dizia Bento XVI que «também o homem possui uma natureza, que deve respeitar e não pode manipular como lhe apetece“.

O preço do crescimento é pago com a saúde e com o roubo à dignidade dos povos: „O homem não se cria a si mesmo. Ele é espírito e vontade, mas é também natureza”, devendo tornar o seu “estilo de vida conciliável com a defesa integral do ambiente”.

Ecologia e Cristianismo

A crise ecológica apela à “conversão ecológica”. “A espiritualidade cristã propõe um crescimento na sobriedade e uma capacidade de se alegrar com pouco”. Cita João Paulo II que diz: «Deus deu a terra a todo o género humano, para que ela sustente todos os seus membros, sem excluir nem privilegiar ninguém». E continua: “Na tradição judaico-cristã dizer «criação» é mais do que dizer natureza, porque tem a ver com um projecto do amor de Deus, onde cada criatura tem um valor e um significado.” “Toda a natureza, além de manifestar Deus, é lugar da sua presença”. «Sentir cada criatura que canta o hino da sua existência é viver jubilosamente no amor de Deus e na esperança» …” “Quando o coração está verdadeiramente aberto a uma comunhão universal, nada e ninguém fica excluído desta fraternidade”…

Em Jesus Cristo encontra-se resumida toda a realidade espiritual e material: ”o destino da criação inteira passa pelo mistério de Cristo, que nela está presente desde a origem…

“O antropocentrismo moderno acabou, paradoxalmente, por colocar a razão técnica acima da realidade, porque este ser humano «já não sente a natureza como norma válida nem como um refúgio vivente.” ” …A finança sufoca a economia real”…

“O trabalho é uma necessidade, faz parte do sentido da vida nesta terra, é caminho de maturação, desenvolvimento humano e realização pessoal… Neste sentido, ajudar os pobres com o dinheiro deve ser sempre um remédio provisório para enfrentar emergências. O verdadeiro objectivo deveria ser sempre consentir-promover uma economia que favoreça a diversificação produtiva e a criatividade empresarial”.

Inicialmente os monges refugiavam-se do mundo para viverem em meditação e oração; São Bento de Núrsia, imbuído do espírito cristão, promoveu a união da oração, estudo e trabalho manual, dignificando-o na fórmula «Ora et labora ». Francisco I: “Esta introdução do trabalho manual impregnada de sentido espiritual revelou-se revolucionária”.

“A criação encontra a sua maior elevação na Eucaristia. No Pão Eucarístico, «a criação propende para a divinização, para as santas núpcias, para a unificação com o próprio Criador».

A relação entre todas as criaturas verifica-se na Trindade, que é a matriz de toda a realidade. Penso que os teólogos do futuro, os místicos e os cientistas da física quântica encontrarão na fórmula da Trindade a fórmula do mundo e a verdadeira fórmula de toda a realidade.

O papa adianta: “Para os cristãos, acreditar num Deus único que é comunhão trinitária, leva a pensar que toda a realidade contém em si mesma uma marca propriamente trinitária”…: “O Pai é a fonte última de tudo, fundamento amoroso e comunicativo de tudo o que existe. O Filho, que O reflecte e por Quem tudo foi criado, uniu-Se a esta terra, quando foi formado no seio de Maria. O Espírito, vínculo infinito de amor, está intimamente presente no coração do universo, animando e suscitando novos caminhos. O mundo foi criado pelas três Pessoas como um único princípio divino, mas cada uma delas realiza esta obra comum segundo a própria identidade pessoal. Por isso, «quando, admirados, contemplamos o universo na sua grandeza e beleza, devemos louvar a inteira Trindade».

A encíclica do Papa foi recebida com grande entusiasmo na Alemanha enquanto nos USA se levantaram vozes críticas, certamente os que beneficiam com as injustiças do regime económico. O Papa, porém, tem de falar deste tema e criticar o sistema, (embora isto não agrade a muitos) porque o problema ecológico atinge as pessoas e as regiões mais vulneráveis e consequentemente a fome e a emigração em massas.

António da Cunha Duarte Justo
Teólogo
www.antonio-justo.eu

MAOMÉ PROFETA EM MECA E GUERREIRO EM MEDINA

Uma Solução para o Futuro: Identificar os dois Rostos do Corão

Por António Justo
Para tentar resolver o conflito inerente ao Corão (1) e às Hadith (1) e possibilitar a sua interpretação pacífica no Islão, peritos da religião muçulmana defendem que será indispensável conhecer e reconhecer os dois rostos de Maomé: o do seu período de profeta e o do seu período de guerreiro (chefe de estado), ambos incluídos no Corão. Só assim se poderá ordenar e compreender as revelações ocasionadas pelo arcanjo Gabriel que Maomé teve durante 23 anos e que se dividem nas suras de Meca e nas suras de Medina. Em Meca, Maomé acreditava poder convencer as tribos árabes que praticavam o politeísmo em torno da Caaba e poder reuni-las sob a religião do seu livro em elaboração para o povo Árabe, um livro à semelhança da Bíblia do povo judeu e do povo cristão. Os mequenses não aceitaram a sua mensagem, obrigando-o a abandonar Meca com os seus sequazes. Depois da Hégira para Medina, (Hégira = fuga de Maomé de Meca para Medina, que marca o início (622) do calendário islâmico). Em Medina, Maomé organizou-se como homem de Estado conseguindo subjugar Meca e alargar o islão. Serve-se das revelações de Medina para vincular no Corão a união de Estado e Religião. Esta estratégia revelou-se muito profícua para a época, contribuindo para a expansão do Islão em períodos posteriores.

Os Conteúdos das Suras do Corão nas Épocas de Meca e de Medina

O Corão é formado por Suras/versos que se dividem em revelações do tempo de Meca e em revelações do tempo de Medina. As suras de Meca eram curtas e dirigidas principalmente aos mequenses; as suras de Medina eram longas e dirigidas principalmente aos habitantes de Medina. Há critérios que os imames usam para distinguir umas das outras. As de Meca ocupam-se com a reverência, o temor de Deus, o castigo de Deus para os pecadores, as provas da existência de Deus, a vida depois da morte, as histórias de Maomé e eventos de gerações passadas e as suras de Medina tratam das normas da sharia, direito civil e de culto, de assuntos de governo/estado, da adesão ao Corão e da luta por Alá (jihad) e da lida com a guerra e seus despojos.

Segundo a análise da maioria dos estudiosos muçulmanos as suras de Medina são as seguintes: 2, 3, 4, 5, 8, 9, 24, 33, 47, 48, 49, 57, 58, 59, 60, 62, 63, 65, 66, 110. As restantes 82 suras são as revelações de Meca com excepção de 9:42 revelada em Tabuk e de 43:42, revelada em Jerusalém. Quanto às suras 1, 13, 55, 61, 64, 83, 97, 98, 99, 112, 113, 114 os peritos do Islão não estão certos se são suras das revelações de Meca ou de Medina.

O conteúdo entre as suras (revelações) de uma época e da outra são tão contraditórias que literatos chegam a afirmar que Deus mudou de opinião.

O antigo imame e professor de história islâmica da Universidade do Cairo Al-Azhar, no seu livro “Islam and Terrorism” adverte, sob o pseudónimo Mark A. Gabriel, que os imames recebem instruções para, na apresentação do Corão, darem mais relevo às suras de Maomé como guerreiro (as suras de Medina).

O Islão com a sua reivindicação de validade universal atrai intolerância fomentando a radicalidade dentro da comunidade islâmica em relação aos de fora do islão e, como reacção, a intolerância dos de fora em relação ao Islão. O perito em estudos islâmicos DR. Abdel-Hakim Ourghi apela aos muçulmanos para não esconderem os aspectos violentos de Maomé (Corão). Segundo refere ele, no Bonner General-Anzeiger, Maomé podia ser considerado profeta fundador de uma religião na sua fase de Meca, entre 610 e 622. “Após a sua emigração de Meca para Medina, temos a ver com um estadista que repetidamente tomou medidas violentas contra outras religiões, contra judeus e cristãos”.

De facto, o Corão e a Sharia precisam de ser submetidos a uma análise histórico-crítica para possibilitar nele um rosto mais pacífico, a valorização do indivíduo e o reconhecimento do próximo (não muçulmano) como ser com igual dignidade. Uma cultura que subjugue o indivíduo e não reconheça a igualdade da dignidade de homem e mulher, está condenada a ficar presa em estruturas sociológicas do passado, tendo de empregar a violência ad intra et ad extra para poder subsistir. Tudo o que não serve o Homem e a Humanidade tornar-se-á supérfluo. O desenvolvimento e a excelência de uma sociedade pode ser comprovado através da maneira como tratam a mulher e o indivíduo.

O mundo islâmico, principalmente através de emigração de seus fiéis em massa para a Europa, experimenta um choque de culturas, que vai, pouco a pouco, provocando, no seu meio, a autorreflexão do Islão e o surgir de pessoas como o DR. Ourghi que conseguem elevar a discussão do Corão e da Sharia a um nível filosófico, antropológico e sociológico abertos. Muitos estudiosos do Islão na Europa procuram ultrapassar uma interpretação, até agora limitada à jurisprudência e à história, para possibilitarem a criação de uma ciência teológica no sentido de iniciarem uma teologia muçulmana baseada numa abordagem científica histórico-crítica possibilitadora do seu desenvolvimento no sentido de um Islão com um novo rosto adaptado à realidade circundante e ao tempo e que possibilite uma imagem de Deus/Alá não só ligado a uma cultura mas aberto à globalidade e à multiplicidade das culturas. Para o cientista islâmico DR. Ourghi, uma renovação só poderá ser conseguida “quando o Islão não se compreender como comunidade militante que luta pelo domínio sobre todo o mundo” como apregoam as revelações e os ditos de Maomé de Medina.

O permanecer na insistência e alegação de o Islão ser o possuidor e senhor da verdade universal, (e até legitimar com ela a violência contra outras crenças) além de fomentar a intolerância, dá perenidade à perseguição e à guerrilha islâmica impedindo um diálogo aberto e não fingido com outras religiões. De facto, a grande maioria dos peritos e representantes do Islão entrincheiram-se em citações de lindas e poéticas revelações do Corão, calando a verdadeira realidade de uma estratégia baseada no Maomé de Medina. A secundar esta ideia está a prática islâmica de que uma mentira em benefício do Islão é considerada uma verdade ao serviço de Alá.

O muçulmano Ourghi critica também a hipocrisia reinante em sociedades islâmicas, atestando de moral dupla estados que têm o Islão como religião de estado, dizendo: “O ‘Islão cruel’ e a Sharia são válidos apenas para a população pobre, os dominantes não se comportam segundo o Islão.

No terceiro „Phil.Cologne“ da cidade de Bona na Alemanha, Ourghi também se expressou criticamente, sobre os organismos de tutela muçulmana na Alemanha. Segundo testemunhou as organizações coordenadoras dos diferentes grupos islâmicos, tal como a União Turco-Islâmica, são controladas por órgãos governamentais dos países de origem.

De facto, tabém isto constitui um grande problema porque impede a capacidade de integração de muçulmanos noutros países que se sentem obrigados a terem de se afirmar em contraposição às culturas de acolhimento. A abundância de dinheiro concedida por países islâmicos e magnates para a construção de mesquitas e instituições fomentadoras do islão no estrangeiro torna os países de acolhimento cegos na concessão de direitos para tais planos. Catar e a Arábia Saudita investem centenas de milhões na implantação do islão mais radical na Europa.

A ambivalência de Maomé de ser profeta para os de dentro e guerrilheiro para os de fora, possibilitou-lhe a conquista e consequente construção de um grande império muçulmano, vendo-se este hoje obrigado a procurar as melhores suras do Corão para demonstrar o seu espírito pacífico. Esta estratégia torna-se ineficiente num tempo em que cada pessoa passa a ter acesso à formação, à informação e à cultura. A evolução dos povos e das armas de combate na disputa entre religiões e culturas já não é a mesma que no passado, o que pressupõe uma mudança de estratégia. A expansão do Islão no mundo ocidental revelar-se-á como precário dado combater o saber global e, de momento, contar apenas com o apoio de forças políticas e económicas europeias que se vêem obrigadas a engolir cobras e lagartos para poderem captar o capital árabe, mas, numa outra conjuntura, facilmente mudarão de estratégia. As resoluções da Cimeira G7, na sua decisão de até ao fim do século reduzir as energias fósseis determinarão o total enfraquecimento económico dos países produtores de petróleo e de carvão.

Em tempos de globalização, manter-se preso no tempo e na cultura árabe impossibilita o desenvolvimento e a adaptação ao Homem e ao tempo; a cultura árabe, para poder acompanhar a mudança de paradigma da sociedade ocidental terá de submeter a sua religião a um aferimento científico que a torne capaz de dar resposta ao desenvolvimento do cidadão e poder viabilizar o seu contributo indispensável para a sociedade ocidental que precisa urgentemente de correcções que a civilização árabe poderia ajudar a efectivar.
António da Cunha Duarte Justo
Teólogo
In: www.antonio-justo.eu

(1) O livro sagrado do Islão. No Cristianismo temos a encarnação de Deus e no Islão a inlibração de Deus.

(2) Actos, afirmações, opiniões, aplicações do Corão e modos de vida de Maomé.

Cidadania Integração e Identidade – Maneira de estar Lusa

Fraqueza de identidade nacional faz do Português o Imigrante modelar

António Justo
O emigrante português é feito de céu e terra, movimenta-se entre cidadão e estrangeiro sendo sua bandeira a saudade onde ventos estranhos movem a recordação. Nele mora o fado, aquela dor do mundo que o torna irmão de toda a criatura e de todos os povos. Como a onda do mar sente que o seu eu se constrói a partir do nós, por isso sofre o todo na parte e goza a parte no todo. Sob o cânone luso “à terra onde fores ter faz como vires fazer”, o português torna-se num imigrante adaptado. Neste sentido, talvez o português e o brasileiro sejam dos povos menos complicados e mais agradáveis, nos países de recepção, porque reconhecem e vivem a interculturalidade na consciência de que são ao mesmo tempo onda e mar (parte de um todo). O Povo português é especialista em integração como revela a sua maneira de estar diferente da de outros povos, quer em termos de colonização quer na qualidade de imigrantes.

Presença lusa e Visibilidade da Identidade cultural

O português não é estranho nas nações onde chega porque estranha é já nele a condição. Enquanto outros estrangeiros se integram e outros constroem as barricadas dos seus guetos, o português, geralmente, deixa-se assimilar reservando a portugalidade para a alma. É do génio português ter uma cidadania alargada (ser francês com os franceses, suíço com os suíços, alemão com os alemães…), nele palpita a alma universal. O emigrante é ele e as suas circunstâncias – é cidadania sem cidade na procura de uma identidade alargada. Nas suas asas traz o longe, nos seus pés traz o perto e no seu desejo a vontade de se tornar uma personalidade implantada.

Numa sociedade de templo profanado em que cada um faz dela um mercado, seria óbvio que o português acentuasse a sua identidade e expressasse não só como indivíduo mas como povo com missão universal; é importante tornar mais visível, no âmbito das instituições, a sua característica portuguesa, de humanidade e universalidade através de maior intervenção activa social, cultural, política e empresarial. Portugal que deu mundos ao mundo precisa de reflectir a sua identidade, não acentuando tanto a ideologia que ele assimilou da França nos tempos modernos mas mais o espírito europeu que o tornou grande no mundo, ao tornar-se expressão da Europa, através dos descobrimentos e da emigração. Neste sentido, tem também na Suíça o bom exemplo de uma nação pequena, mas também ela grande por ter sabido manter viva e cultivar no seu povo, a tradição do seu génio. A comunidade portuguesa radicada na Suíça pode reconhecer na bandeira suíça aquele sinal comum característico da sua identidade que os tornou grandes e lhes concederá perpetuidade.

Toda a vida individual e cultural é processo de identificação, um contínuo fluir para a realização e para a verdade. Nascemos como indivíduos, formando pouco a pouco a nossa identidade / consciência, num acumular de camadas formadas de educação e experiência de vida que determinam o nosso ser de pessoa. A formação da identidade consciente (personalidade – aquilo que dá visibilidade) acontece de maneira privilegiada num espaço livre que proporciona vestígios individuais e culturais adaptados à geografia e à cultura em diferentes ramos de expressão.

Portugal tem de recuperar a consciência de si não esbanjando a força da tensão que o tornaria forte se não resolvesse muitos dos seus problemas apenas com o tubo de escape que é a emigração. Antoine de Saint-Exupéry constatava: “O mundo inteiro afasta-se quando vê passar um Homem que sabe para onde vai”! (Esta é a diferença que marca na migração um cidadão ocidental e um cidadão muçulmano). Aquilo que se pode revelar como fraqueza de identidade nacional e faz do português o migrante modelar não é só fraqueza é também testemunho de alma grande e de ideário universal. O português não se deixa aprisionar em termos de cultura, quer ser ele e mundo sem ser metido numa gaveta.

A nossa existência não se expressa só como indivíduos mas também como comunidade. A ignoração da identidade do povo conduz à apatia das massas e à morte da colectividade. O português, na qualidade de cidadão e de povo, continua a ter algo especial que é o seu sal, muito necessário para ajudar a temperar a vida dos povos do mundo numa consciência simples de irmãos que em conjunto querem celebrar a festa da vida.

Os portugueses no estrangeiro sobressaem pela fraqueza de identidade nacional que os torna, por vezes invisíveis onde vivem e consequentemente muito queridos em todas as sociedades acolhedoras. Enquanto outras etnias se afirmam, por vezes, pela negativa, contrapondo-se à cultura que os acolhe, os portugueses deixam-se assimilar facilmente, perdendo já na segunda e terceira geração o perfil exterior de português. Tanto a afirmação pelo gueto como o desaparecer pela assimilação não passam de extremos que deveriam ser resolvidos através de uma integração consciente na sociedade acolhedora. Não somos apenas indivíduos mas também povo. Uma política baseada na multicultura e no gueto contradiz o desenvolvimento cultural e social dos povos; este acontece num processo natural de intercultura, numa atitude aberta e benevolente de dar e receber, tal como mostraram os portugueses com o interculturalismo no Brasil. Acolhedores e acolhidos enriquecem-se mutuamente dando assim oportunidade ao desenvolvimento.

Não chega fortalecer elos pessoais de ligação urge criar estruturas

Portugal e os portugueses são portadores de uma grande cultura, não precisam de se esconder; com os descobrimentos, foi o povo da Europa que no século XIV e XV mais contribuiu para o desenvolvimento da humanidade, criando pontes entre continentes e civilizações. Daí a naturalidade de uma auto-estima que se quer mais presente num assumir de responsabilidades nas instituições culturais e políticas dos países hospedeiros. O esforço dos partidos portugueses no sentido de estarem presentes na emigração através dos deputados torna-se anacrónico se não acompanhado por uma política e uma estratégia de integração de emigrantes nas diferentes instituições dos países de imigração. Seria um equívoco centrar o discurso político em torno de quatro deputados (partidos) para a emigração e deste modo distrair o português da iminente necessidade de ele se integrar nas estruturas políticas das nações onde se encontram. Estas manifestam o grau de cidadania e de identidade dos grupos inseridos numa sociedade.

Uma identidade individual fraca enfraquece a identidade da comunidade e vice-versa. Numa altura em que a prática política europeia se manifesta doentia será preciso que cada pessoa e cada país redescubram a substância da sua identidade para poder assumir a responsabilidade e a missão como cidadãos e comunidades na construção de uma Europa à altura dos seus antepassados.

O 25 de Abril de 74, na resposta às exigências inovadoras do Vaticano II bem como à revolução 68 e à necessidade de democratizar Portugal, possibilitou novas experiências numa sociedade cada vez mais complexa a agir como colectivo no concerto das nações europeias. Como identidade colectiva histórica que sempre construiu pontes interculturais, resta-lhe consciencializar-se da sua tarefa e corporalidade necessárias em diáspora. A identidade é processo vivo, nunca acabado, entre cidadão e sociedade na construção da própria casa, da casa portuguesa, da casa onde nos encontramos e da casa universal, a que demos resposta outrora com os descobrimentos. Numa altura em que a Europa atravessa uma forte crise de identidade torna-se importante a consciencialização e fomento da própria identidade na relação com as identidades vizinhas. A diferença (identidade) é a constante natural na evolução de um todo feito de complementaridades (A Suíça é um país com uma democracia onde toda a Europa pode aprender).

Atendendo à fraca capacidade organizativa das comunidades portuguesas seria lógica uma preocupação primordial do Estado português em fomentar o associacionismo, tal como fez a Igreja nos princípios da emigração dos anos 60 na Europa. Não chega o amor dos portugueses e seus descendentes pelo país de seus pais e avós, é preciso que os governos implementem activamente a organização associativa no sentido de Portugal se tornar social e institucionalmente mais visível e presente. Não chegam elos de ligação, são precisas estruturas organizadas que possibilitem um rosto colectivo que mantem vivas as tradições e ideais do Portugal maior. Portugal é festa é celebração e como tal precisa de mais organização para melhor possibilitar uma sociedade global em festa…

Toda a sociedade civil política e religiosa deverá empenhar-se no sentido de impedir os défices de identidade. A nova geração emigrante traz pressupostos que lhe facilitariam uma maior visibilidade social. As diversas associações sociais, religiosas e culturais têm aqui uma missão de relevo de modo a preencher também o vácuo da burocracia diplomática e parlamentar. Como contraposto à ilusão política permanece a acção individual e associativa. Necessita-se mais e mais construir uma nacionalidade espiritual, o portuguesismo de rosto universal, a ser reconhecido pelo sistema político parlamentar para que nessa qualidade fomente as associações e iniciativas num agir intercultural inclusivo. Em comunidades passadas a influência da massa era esmagadora, hoje espera-se mais do indivíduo na renovação das comunidades.

A verdadeira integração dá-se na convivência do dia-a-dia com os vizinhos e expressa-se no mercado de trabalho, a nível empresarial, na cultura e na política. A identidade social organiza-se principalmente em torno da língua e da cultura (religião) o que, contudo, nos não deve levar aos exageros da estratégia árabe. Não existe uma sociedade concreta nem abstracta que se possa basear apenas num senso comum de paz, liberdade e justiça. Isto permanece um sonho que deverá levar à formação de identidades abertas nesse sentido mas nunca se conseguirá porque a identidade pressupõe a diferença. O filósofo Auguste Comte defendia a ideia de que uma sociedade sem religião não pode subsistir, desintegrando-se com o tempo nas redes da polis. De facto também a autonomia é um sonho necessário mas não alcançável. A solidão experimentada na contemplação do mar ou das estrelas cria a consciência da necessidade de um todo.

Facit: Torna-se urgente uma maior participação na vida social do país de acolhimento e na política através de uma participação activa e filiação nos diferentes partidos do país de acolhimento. Esta seria a melhor exemplo de integração, um testemunho de cidadania e uma maneira de dar rosto a Portugal.
António da Cunha Duarte Justo
in: www.antonio-justo.eu

À PROCURA DE SEGURANÇA DE ACOLHIMENTO E DE CARINHO

Vida é Sol e Sombra – um dar à Luz expresso no Eco do Grito do Nascimento

António Justo
Somos eternos peregrinos sempre a caminho e a seguir o eco do grito primordial – aquela dor que nos separou do paraíso perdido, da harmonia vaginal, e que é a ressonância da consciência de se ser algo diferente daquele albergue a que se convencionou chamar terra. Desde que Adão comeu a maçã da sabedoria, desde que Jesus abandonou a gruta de Belém, desde o nosso grito ao sair do ventre da mae, andamos (como indivíduos e como sociedade) na procura de organizar a vida de modo a sentir-nos em casa, aquele recanto onde nos sentimos acolhidos e seguros embora conscientes de que a casa não é nossa. Da casa, do lar faz parte o aconchego familiar, a língua, a religião (cultura), o trabalho, o biótopo social, rituais, tu e eu, eu e o outro.

Devido a tudo isto, acompanha-nos um sentimento de soledade, vestígio de um sofrimento devido a circunstâncias adversas e a um amigo, a uma amiga que nos falta.

A pressão de trabalho e de pessoas exaustivas esvazia o nosso interior e em casos extremos chega a levar ao Burn-out. Por isso se torna importante a conversa pessoal com um amigo, a troca de carinho, tomar iniciativas, ouvir música, fazer até exercícios de inspiração imaginativa do Sol (Deus), da bondade reconfortante e exercícios de expirar e sacudir a noite e os pensamentos pessimistas. A arte consiste em sacudi-los nalguma fogueira onde produzam labaredas que aqueçam e iluminem a existência, longe do fumo que intoxica. Somos feitos de fumo e de luz, de frio e calor. Como na electricidade o negativo pode ajudar a levar o positivo a dar luz. Para isso se realizar torna-se necessário um impulso inicial, a iniciativa de alguém, num mundo de graça à espera da Graça de alguém que acenda a minha graça para eu poder acender a graça de alguém.

Já ao nascermos gritamos lançando para fora a dor do trauma da unidade rompida, no desconforto da saída do aconchego do ventre maternal. Nesta desolação torna-se difícil encontrar o sentido, torna-se difícil ouvir a voz de quem chama por mim, de quem sabe o meu nome.

No cá fora do ventre, permanece a nostalgia da procura de uma placenta maternal que transmita calor e o encontro de uns braços que dêem segurança.

Muitas vezes o fado da vida leva-nos à procura de uma relação, de um elo que possibilite reatar o sentimento amoroso do acolhimento original; frequentemente a resposta esvai-se num ecoar afastado que repete a sensação do primeiro grito num longe distante de outeiros petrificados que se sucedem uns aos outros.

Então, os braços e as pernas movimentam-se desordenada e instintivamente na procura de alguém, para alcançar o que tinha no ventre materno. Do amor e dedicação experimentada aprenderá a integrar em si a ordem ou a desordem transmitida. Cada um de nós traz consigo as circunstâncias (o “pecado” original do pó do caminho por onde passa.

Saímos do albergue/gruta na procura de outras grutas e ao sentirmos aí carinho criamos uma segurança interior, se a não recebemos na infância talvez passemos a ser peregrinos ou forasteiros contentes ou descontentes na procura vincada de acolhimento.

O buraco não enchido pelo carinho familiar cria a ânsia de ser amado e procura no outro além da relação o carinho que não recebeu. (Muitas vezes, o próprio danificado-depressivo, cria um ambiente enevoado à sua volta num determinismo que repete o ambiente da infância – uma sensação de relação baseada na negativa; estas pessoas foram castigadas na infância e continuam a castigar-se criando, por vezes, situações que repetem a disposição e desacolhimento da infância.

O Samaritano desce do Selim do seu Pensamento

Hoje a sociedade é muito stressante para os pais criando neles má-consciência pelo facto de não terem tempo suficiente para receber e dar carinho, especialmente aos filhos.… Muitos, desiludidos de objectivos não conseguidos, passam a vida a bater à porta, de parceiro em parceiro, de albergue em albergue, à procura do que não receberam e que por vezes não podem dar.

De facto somos como uma proveta de vasos comunicantes em que o equilíbrio se adquire na troca de dar e receber numa mistura de fluidos mais ou menos cristalinos. De facto eu sou eu e o que o parceiro me possibilite que seja e o parceiro é ele e o que eu lhe possibilito que seja. Cada um espera do outro, aquilo que não tem e, porque também o outro anda à procura do que lhe falta, então chega a criar-se caminhos paralelos, onde cada qual se encastela no selim do seu pensamento. O refúgio do sentimento no pensamento projectado pode favorecer uma vida dupla que prolonga a dor que o sentimento e a falta de acção não satisfizeram. Na falta de relação próxima, da troca de carinhos, talvez por um condicionamento psicológico (narcisismo), não se criam momentos nem rituais comuns possibilitadores de laços; acontecem então monólogos em torno do ego que em vez de reconhecer a riqueza mútua da complementação, passa a recorrer à auto-afirmação pela celebração da própria dança em torno de actividades e iniciativas que o distraem da própria vida. A vida em comum para ser bem-sucedida faria lembrar o agricultor que tem muitas espécies de frutas e procura, da mistura de algumas delas, fazer o melhor sumo. Se sou maçã e se convivo com uma laranja não haverá como deliciar-se com o sumo de laranja ou, no caso de se querer fazer o melhor, observar a melhor percentagem de maçã e de laranja para obter um sumo mistura que agrade aos dois. O demasiado açúcar pode tornar-se enjoativo e o demasiado aziúme pode estragar a digestão.

Uma atitude equilibrada exige de nós humildade e altruísmo, compaixão e sintonia. Todos somos feitos de barro mas, uns e outros, podemos tornar-nos jarros onde o outro possa beber. Importante é a boa vontade e a bonomia para com o mundo exterior a nós. O Bom Samaritano (em Lucas 10:30-37) consegue encontrar o judeu a um nível que supera a inimizade secular entre os judeus e os samaritanos.

O samaritano desceu do seu jumento, acolheu e tratou o judeu que jazia ferido no chão, tratou-lhe as feridas com óleo e com vinho, símbolo da consolação, colocou-o no seu jumento (de igual para igual), e levou-o para um albergue.

O albergue é o símbolo do mundo interior do judeu, da sua ipseidade de que ele é hospedeiro no acolhimento da consolação dada/recebida. O samaritano ajudou sem tornar o outro dependente; retirou-se no momento oportuno em que o hospedado se torna senhor da própria “casa”. O salvado traz em si a salvação que deverá procurar, dentro não fora.

Em cada um de nós há uma gruta onde se encontra o pai e a mãe (Deus) à espera. Muitas vezes passamos a vida a viver em casa dos outros, à procura de nós, passando sede e frio quando no nosso interior se encontra a gruta de Belém onde os anjos estão prontos para nos receberem e aclamarem também. Aí encontramos a confiança básica original semelhante à que tínhamos no ventre materno. Então a confiança nos leva a entrar na ressonância divina, e a fé dá repouso porque nos oferece a confiança no bom fim de tudo o que fazemos ou acontece. A vida tem sentido e direcção porque nos encontramos três em comunidade e a caminho: eu e tu a seguir a Verdade.…

Uma nova situação lembra o eco do grito primordial, aquele grito que nos lançou na aventura da liberdade, condicionada também pela experiência original. No grito anunciava-se o medo de um fim que afinal se tornou no início de um caminho para uma ordem maior, saímos de uma gruta pequena para entrarmos no regaço eterno do universo. Do presumível fim veio a vida; a infinidade que atemorizava tornou-se princípio de nova vida. No fim de cada trajecto, de cada decisão há sempre uns braços abertos a receber-nos mesmo quando os não vemos por puro medo ou pelo barulho do grito. A razão é fria e distante como o universo mas Deus deu-nos o coração que tudo une e abrange com seu calor e acolhimento que a tudo confere o brilho do carinho. Não há luz que mostre o amor mas não há amor que apague a luz! Só o coração consegue derreter o gelo e produzir o fluido que une e torna visíveis as galáxias.

Encontramos espiritualidades, a caminho, que nos podem ajudar a chegar a casa e a sentirmo-nos bem nela. A segurança interior não comporta o medo que se quer agarrar a coisas fixas/seguras porque só se torna seguro quem aprende a andar por cima das águas. Nas janelas do teu interior até os véus dos teus dogmas e das certezas se esvaem. Surgimos do grito do medo mas no nosso interior e no mundo que ordenamos verificamos que há sempre uma oferta benévola, uma luz que espera por nós, que se encontra em nós. Uma vez no centro da nossa ipseidade, na nossa casa interior, descobrimos que o seu tecto é o universo e que no seu centro se encontra a divindade que nos move nele. Sinceridade e honestidade são meios que nos ajudam a chegar lá sem invalidar a tensão existente entre indivíduo e comunidade, entre a parte e o todo.
António da Cunha Duarte Justo
Pedagogo e Teólogo
www.antonio-justo.eu

PS. Texto a ser publicado em próximo livro