À Semana da Paixão segue-se a Restauração da Nação

A ALEGRIA DUM POVO PEREGRINO

À Semana da Paixão segue-se a Restauração da Nação

António Justo

O grande sábio da Idade Média, Tomás de Aquino, dizia: “Nada se consegue com êxito, a não ser que se realize com alegria!”

A atmosfera que se respira em torno do Estado e das instituições, na Europa e especialmente em Portugal é escura e depressiva. Fracasso, medo e frustração grassam no meio da população. O horizonte é curto e a visão fraca, não se descortinando já o sentido!

Nesta hora nacional ensombrada, em que estrangeiros vêem impor a Portugal a sua disciplina, será importante, mais que nunca, redescobrir o brilho do sol em nós e no nosso povo. O sol da alegria move a força da esperança tal como o raio de sol atrai o rebento. As estruturas tornam-se frias e pesadas, sem a alegria de membros que se saibam respeitados e apreciados.

A nação é um biótopo natural condicionado pelo seu clima envolvente; o biótopo cultural é codificado em sentimentos, costumes e mentalidade. Como tal, para viver, precisa do sol da esperança e da alegria de vida

Talvez, depois dum período de reflexão e de análise, o país encontre o seu sentido, não apenas num projecto político, mas numa realidade orgânica com um tecto metafísico cristão, onde todos os portugueses, crentes e não crentes, tenham lugar e se sintam em casa, protegidos dos assaltantes e das saraivadas da noite. Então, no sorriso do cidadão, brilhará o Sol da nação e a alegria será o sol a brilhar em cada irmão.

O povo tem andado ao som da música dos outros. Sem reconhecer nela a própria música, sente-se agora cansado e burlado. Procurou fora o que se encontra dentro. A alegria não se encontra na carreira, no sucesso nem na posição. Teresa de Lisieux dizia que “A alegria não se encontra nas coisas mas no íntimo da nossa alma”. Alegria é sorrir, apesar de tudo.


Na minha alegria encontra-se, de mistura, o meu carácter, as circunstâncias envolventes e a minha atitude perante a vida. Mesmo na adversidade há um contentamento interior a descobrir, longe do barulho das inquietações e dos regozijos. A alegria interior é relação; manifesta-se na relação pessoal e processa-se em diálogo de mudança. Se sentirmos com a natureza verificaremos um processo contínuo de mudança, da tristeza para a alegria, do inverno para a primavera, de incarnação para ressurreição. “Nada se cria e nada se destrói, tudo se muda” ensina-nos a física.

Às Trevas da Semana Santa segue-se o Amanhecer da Ressurreição

Para nos levantarmos e nos pormos a caminho, com optimismo, teremos de deixar de pintar o diabo nos outros. Deixaremos a inveja e o snobismo, para nos encontrarmos como povo e como nação de todos. No momento da metanóia descobriremos em nós o diabo que vemos nos outros, tornando-nos assim aptos a descobrir, em nós e neles, a divindade comum a tudo e todos. “Quem procura Deus encontra alegria”, dizia a experiência de Agostinho de Hipona, no seu peregrinar pelas sendas do mal e do bem! Então tornar-nos-emos na comunidade da alegria e, como ele, seremos o defensor do seu povo.

Nesta Páscoa de 2011, Jesus Cristo (JC) é protótipo e a realidade que integra o êxito e o fracasso, a matéria e o espírito, a humanidade e a divindade, num processo ascendente que resolve a visão bipolar e dialógica na realidade trinitária.

Em comunidade na Trindade antecipamos a Páscoa. Comunidade na Trindade significa, sempre a caminho, realizar o JC e com ele a sua presença. Então, a nação erguida, em sentimento de agradecimento da vivência do chamamento comum, participará na eucaristia universal a plasmar-se no universo, na natureza, e em cada um de nós. Não tenho problema de delegar em Cristo o que não consigo fazer no dia-a-dia. Sou não só instrumento divino, mas também parte da sua realização.

Então, de consciência tranquila, faço o que posso, só na obediência ao meu interior que reconhece também fora o JC encontrado. Isto cria paz e a alegria da ressonância com o todo numa relação vertical e horizontal. O JC torna-se a medida de todas as coisas. Não haverá superiores nem inferiores, governantes nem governados, crentes nem descrentes, mas só cidadãos a seguir o mesmo chamamento.

Então não abuso dos outros nem das coisas em meu favor. A minha alegria alimenta-se da tua, da nossa alegria! Ela cresce no serviço a ti, ao próximo. A alegria é a chave da realização.

Então, passamos a abraçar as pessoas com o sorriso; nele passamos a abraçar a natureza, num contínuo erguer de sol que tudo inebria.

Para Erich From “Alegria é o sentimento que se sente a caminho da auto-realização”. A realização de cada membro vai no sentido da ressuscitação. Ao encontrar o tesouro perdido no campo (Mt 13,44) entro na relação profunda com a natureza sentindo nela o coração do JC  a palpitar na continuação da experiência dos discípulos de Emaús (Lc 24,41); aqui, no encontro, na relação profunda acontece a alegria, num brilho de fé, que se torna no princípio interior da vida que transforma a vida e põe o mundo em comunhão. Surge uma atitude interior na experiência dos limites e, ao mesmo tempo, na experiência da presença de Deus como oferta. Realiza-se, simultaneamente, incarnação e ressurreição em processo de salvação, natal e páscoa a acontecer. Daí surge a alegria que se apega e testemunha. Como a Realidade Trinitária, a unidade plural, entramos em triálogo de uns com os outros celebrando e comungando a natureza inteira em JC, no mesmo chão da divindade. A fé torna-se em alegria que transborda tal como o amor de Deus transbordou na natureza.

Mas afinal quem é esse JC? Ele é a “água viva” que nos (Samaritana) apaga a sede de felicidade; é a “luz” que ilumina as trevas do nosso coração (cego); é a vida que nos (Lázaro) levanta da cova do medo e da morte; é a videira que faz correr em nós o elixir da felicidade; és tu, ele e eu a caminho. Na sequela Christi vivemos o equilíbrio, estamos em paz com Deus e com o mundo. Com ele e nele somos “o caminho, a verdade e a vida”.

António da Cunha Duarte Justo

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Sem Instituições não haveria Memória nem Transmissão

O Homem é o Templo de Deus e a Comunidade o Lugar da Sua Presença

António Justo

Por todo o lado, na Europa, se respira um ambiente de desconsolo e de desilusão perante as diversas instituições. Este sentimento é fortalecido pelo narcisismo muito característico do nosso tempo. Esta mistura de desilusão, medo e narcisismo leva muitas pessoas a desvincularem-se de estruturas imprescindíveis para a vida orgânica social e individual.

No universo tudo se estrutura, tudo se organiza no sentido do mais simples para o mais complicado, no sentido do caos para a ordem. No reino vegetal, como no animal, tudo se ordena e desenvolve com forças centrípetas e centrífugas, rotativas e de translação numa complementaridade de forças, sistemas e organismos. Em tudo se descobre uma matriz comum à matéria e ao espírito, ao cosmo e ao indivíduo. Por trás da ordem há um chamamento que tudo impele num sentido aberto.

Indivíduo e comunidade fazem parte do todo, como a célula e o órgão fazem parte do corpo. Deus está onde jorra a vida, a vida em floração. A fé e a esperança é como que a resposta ao chamamento, o fundamento da comunidade. A fé liga a Deus que é comunidade e liberta-nos dos cadeados e amarras e crustas do dia-a-dia. É a chave de entrada para os outros. A vida experimenta-se em comunidade! Quem se encontra infeliz terá de procurar uma comunidade.

Os países, as organizações nacionais e internacionais procuram, de maneira orgânica responder ao chamamento! A Igreja Católica (Cristianismo) e o povo judeu são os símbolos mais visíveis e mais conseguidos de resposta ao chamamento.

A Igreja, tal como cada um de nós, é, ao mesmo tempo, santa e prostituta. Encontra-se a caminho de Deus. Caminho é um momento de si mesma.

Pedro, num momento de iluminação reconheceu em Jesus (na Realidade) o que os outros ainda não tinham reconhecido: a divindade, o Cristo. Envolvido, exclama: “Tu és o Messias, o filho de Deus”. O que tu confessas está em ti, diz Jesus. Jesus revela a quem atinge esse conhecimento: “Eu te digo: Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificará a minha Igreja, e as portas do Abismo nada poderão contra ela. Dar-te-ei as chaves do Reino do Céu; tudo o que ligares na terra ficará ligado no Céu e tudo o que desligares na terra será desligado no Céu.» (Mt. 16, 18).

Pedro, a Igreja, cada um de nós, trazem em si as trevas, pelo que, noutra ocasião Jesus disse a Pedro: «Afasta-te, Satanás! Tu és para mim um estorvo, porque os teus pensamentos não são os de Deus, mas os dos homens!».

Por aqui se diz que a realidade humana e natural traz em si a lei da contradição. A nossa missão é integrar os opostos. Por isso Pedro será não só sinal de perenidade mas também um “estorvo”. A pessoa, como a instituição, integra o aparentemente oposto, o divino e o natural, a virtude e o pecado, o tempo e a eternidade. Quem se fixa num só polo revela-se irreal e fantasioso. Passa a branquear o negro da sua face na negrura que procura fora, ou procura fora o que não vê dentro! Afirma em si e na realidade só uma estacão da vida sem reconhecer as outras.

O povo como o rebanho ganha expressão no seu chefe. A natureza também atingiu o seu auge no Homem. A comunidade traz-nos os outros e abre-nos para eles. Não nos definimos apenas pela individualidade mas por esta com as suas circunstâncias. Tudo é complementar.

A Igreja memoriza e simboliza a presença espiritual na natureza e na humanidade. É uma rocha feita de muitas pedras pequenas. O rochedo é Jesus Cristo.

No Rochedo temos muitas pedras formadas de areias. Não é tão importante a diferença entre pessoas e grupos. O que conta é o amor que as une no seguimento dum chamamento comum, cuja meta é a realização da natureza humano-divina, Jesus Cristo.

O Papado, aspecto exterior, deve ser respeitado tal como se respeita uma nação. No princípio éramos hordas, depois tribos, depois nação e civilização. O corpo místico de Cristo suporta diferentes estádios e diferentes consciências.

Se os cristãos se combatem uns aos outros é porque não perceberam as Bem-aventuranças e não se deram conta da natureza de Cristo em cada um presente. Estão chamados a amar não só os cristãos mas também o próximo.

É alegre ver, no mundo, tantas igrejas cristãs ao lado do Catolicismo. Mal a hora em que se descreditem umas às outras. Estarão a merecer a frase de Jesus: «Afasta-te, Satanás! Tu és para mim um estorvo, porque os teus pensamentos não são os de Deus, mas os dos homens!». Não compreendemos então a realidade da diferença e da união!

Essa realidade manifesta-se na cruz, por vezes ensombrada com a acentuação do sofrimento. Naturalmente, imagens são condicionadas socialmente. A meta é a vida e não o sofrimento.

O crucificado resume uma história de sucesso. A cruz é uma imagem da vida e da realidade. Nela abraçamos a humanidade e o universo. Nela se reúne e soluciona a contradição, o vivido e o não vivido em nós. Na cruz reúne-se a crença e a descrença, Deus e a sua ausência, como sintetiza o teólogo Anselm Grün ao constatar: “A cruz diz que tu és abraçado em todas as tuas contradições”.

Aceitar a cruz connosco, a cruz com a Igreja e a cruz com o outro num processo de renovação é parte do caminho a fazer. Então perceberemos que Igreja é Reino de Deus. A experiência de Deus em nós e na comunidade realiza-se na matriz da cruz e da Trindade, fórmulas da vida e duma natureza que é o Templo de Deus!

Passamos a viver onde Deus vive, em nós e no próximo, em nós e na natureza! Temos a vivência no mistério. “A coisa mais bela que podemos experimentar é o mistério. É a fonte de toda verdadeira arte e ciência. Aquele para quem essa emoção é um desconhecido, que não pode mais fazer uma pausa para admirar e ficar extasiados em temor, é tão bom quanto mortos: seus olhos estão fechados.” – Albert Einstein

A Igreja representa a sociedade a caminho. Sem Igreja não há esperança. Igreja é a fé que nos une! Sem Igreja não haveria memória nem transmissão.

António da Cunha Duarte Justo

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Futebol e Política a passar Rasteira à Nação


2:1 para o Porto e Zero para Portugal

António Justo

3 de Abril foi o dia em que o FC Porto se afirmou campeão, contra o FC Benfica. Dois, para o Porto e zero, para a nação.


Neste dia, nós, que vivemos no estrangeiro, sentimos o nosso rosto corar-se de vergonha, tivemos uma fraca imagem de Portugal. Vimos a alma do povo a ferver e a aproveitar-se do futebol como ventile.


No princípio do jogo muitos “benfiquistas” atacaram a polícia. No fim do jogo, na festa do FC Porto, o Benfica, ao desligar a iluminação e activar o sistema de rega do estádio, revelou-se mau jogador e pior perdedor.


Portugal, cada vez mais perdido, não parece ter lugar para vencedores nem para perdedores. Um país inocente, em contínua campanha ideológica depois do 25 de Abril, tende a radicalizar-se socialmente. Criou-se um país de adversários com políticos que não distinguem entre período de eleições e período governamental. Como no despique Benfica – Porto, o país vive, continuamente, de cenas e encenações; vive de cenas antes do jogo, durante o jogo e depois do jogo!

No ar respira-se uma atmosfera de retaliação. Um país brando de costumes foi levado pelos governantes a uma população de ânimos acesos. O povo, distraído, dispara toda a pólvora em disparos de ânimos contra o acidental e não chega a atingir o fulcro da questão. Portugal anda enganado a viver do engano; um paraíso para oportunistas e bons chalreadores. No dirigismo político português, tal como no futebol, reina a rivalidade do artifício cultivada. Não importa a coisa em si, a sua lógica, o que interessa é o falar, só o falar dela! Para chegar a primeiro-ministro, mesmo num país de espertos, basta a retórica. Esta tem um poder feiticeiro que leva, em Portugal, um homem que levou o país à bancarrota a recandidatar-se a 1° ministro! Pobres socialistas, pobre Portugal!

A política dorme na cama com quem quer, sabe que no país a “culpa morreu solteira” e os bordéis da justiça estão ao alcance de quem sabe e pode. A política tornou-se, numa prostituta virgem, sem filhos, só com enteados. Talvez, por isso, se encontre tanta gente deserdada a correr atrás de clubes e partidos, na ânsia duma perspectiva que lhes sublime a vida e vingue a sua situação social. Neste clima o político aproveita-se do bónus do candidato num palco que recebe aplauso só pelo facto de fazer guerra ao adversário.


No futebol da democracia primária, o jogo não é reconhecido nos jogadores mas nos directores. Um dirigismo político nacional desedificante conduziu a nação a uma mentalidade do ”vale tudo” e a uma situação de “rei nem roque nem o diabo que lhe toque”.

Quem está fora de jogo é sempre o outro! Além disso, políticos falhados, economia instável, cultura social fraca levam à impunidade. Em consequência surge a raiva que leva ao desapreço de tudo e de todos, a um povo de lábios mordidos sempre a morder nos outros!…


Portugal vive num estado de ânimo de passar rasteira. A mediocridade invejosa prefere o jogo do gozo do “eu não ganho mas tu também não”! Se ganhas és ladrão e apanhas!

De resto, vinga a inércia do “não te metas nisso” do “senão és apelidado de labrego”.


A política é como o peixe: começa a cheirar mal pela cabeça.

Todos, transformados, vamos construir um país novo digno de Portugal e do mundo!


António da Cunha Duarte Justo

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Tribunal dos Direitos Humanos legitima as Cruzes nas Escolas


Crucifixo é Portador não só de Significado religioso mas também cultural

António Justo

O Tribunal Europeu para os Direitos Humanos em Estrasburgo decidiu que a afixação de crucifixos nas salas de aula de ensino público não viola a liberdade de religião; trata-se dum símbolo passivo.

Esta decisão vem corrigir uma posição de Estrasburgo que, em 2009, tinha dado razão a uma ateia italiana que via nos crucifixos de salas de aula estatais uma violação da liberdade de religião.

O governo italiano interpôs recurso argumentando que a cruz (1), em lugares públicos, para lá do significado religioso, é símbolo duma tradição espiritual que forma o fundamento da democracia e da civilização europeia.

Os juízes argumentaram que tradição não desvincula do respeito pelos direitos humanos. Recordam o dever dos Estados serem neutros e que o Estado tem o dever de garantir a liberdade de exercício das diferentes religiões e a paz na defesa da ordem pública.

Estrasburgo deixou à discrição dos diferentes Estados nacionais o decidir sobre o assunto, dado não haver consenso entre os países europeus.

CHRIST IN DER GEGENWART cita o presidente do Conselho das Conferências Episcopais Europeias, Cardeal Peter Erdö, com as palavras: “Uma vitória para Europa”;  a decisão do tribunal deixa a esperança que “a cultura dos direitos humanos não exclui incondicionalmente a cultura cristã”.

Secularização e religião devem conviver em paz. “A César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, dizia o mestre. A religião não se deixa reduzir a coisa privada; a política também não.

Naturalmente que também há uma paz dos cemitérios, tal como em Portugal, onde, um Estado, nas mãos de secularistas republicanos, arruma, pela calada da noite, com as cruzes para o privado com um mero decreto ministerial.

A cruz é e será símbolo duma civilização tecida de pecado e de graça.

(1)    A cruz é símbolo de vida, de perdão e de salvação. Ela resume a lei da complementaridade que integra a matéria e o Espírito, o sofrimento e a alegria, o divino e o humano, o horizontal e o vertical. A vida, tal como o universo não conhece o ocaso, tal como o cosmo não conhece o pôr-do-sol. As trevas que envolvem a cruz não são mais que o véu duma realidade crucial que faz do centro o seu extremo; a distância e a proximidade, no centro da cruz, revelam-se intimidade. Por trás da escuridão uma luz me conduz; tudo a caminho da luz! No encontro da noite com o dia nasce a inteligência, sorri a vida! A cruz somos nós, é o mundo, o lugar onde Deus sonha.


António da Cunha Duarte Justo

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O Presidente da República lê os levíticos à Nação


Um Portugal cívico sem Lugar para o Portugal da Excepção

António da Cunha Duarte Justo

Desiludido de políticos e politiquices, tecidas nos meandros dum sistema republicano estrangeirado, Cavaco Silva, no dia da sua tomadade posse como presidente, dirige-se ao povo dizendo: “É necessário um sobressalto cívico que faça despertar os portugueses para a necessidade de uma sociedade civil forte”. Portugal terá de se libertar dos grupos do amiguismo secreto e dum partidarismo autoritário boçal de interesses anónimos. Isto tem fomentado a partidocracia contra a democracia.

A Assembleia Nacional tornou-se cada vez mais numa instituição dos partidos à margem da nação. A administração estatal portuguesa, saneada aquando do 25 de Abril, encontra-se, também ela, infiltrada por membros, especialmente, dos partidos da esquerda.

As revoluções feitas até agora em Portugal fracassaram, porque foram feitas por mercenários eivados de ideologias sem uma incardinação no povo nem na nação. Revoluções arquitectadas por meninos-bem que elaboravam a governação do povo com ideias plagiadas primeiramente na França e na Inglaterra e depois na União Soviética, e viverem do encosto às províncias ultramarinas ou à União Europeia.

O Presidente declara com honestidade e franqueza que já não tem para onde se virar, não tendo outro recurso que não seja apelar ao povo. Este terá de fazer a revolução, revolucionando-se de forma a o seu civismo não tolerar mais o parasitismo em torno do Estado. Este atafega Portugal. Terá de deixar de ser lacaio de políticos para assumir a consciência de cidadão.

Enquanto a República não for saneada dos mercenários não terá solução

Este discurso poderia ser aproveitado por intelectuais, políticos sérios e empresários para reverem a nação e a restaurarem a partir de dentro. Com quem se não pode contar é com a maioria dos seus políticos instalados e seus boys. Estes farão a contra-revolução, a menos que as camadas jovens dos partidos se levantem para, do seu canto, servirem a nação.

Cavaco Silva concretiza a sua experiência política: “Muitos dos nossos agentes políticos não conhecem o país real, só conhecem um país virtual e mediático “. Por isso mesmo torna-se óbvio reciclar a política e os políticos portugueses habituados a fazer um discurso populista abusador dos portugueses.

Uma república que nasceu a viver do sonho foi atraiçoada pelos revolucionários (os beneméritos da revolução e seus boys) e enquanto o povo sonhava, aqueles apoderaram-se do Estado deixando a miséria na rua.

O amiguismo vive bem dum Portugal de excepção, dum Portugal da cunha e do exibicionismo.

Há muita gente que em gesto típico desabafa: “é tempo de ir para a rua”. Mas, para a rua de quem!…

Hoje até aqueles que gostavam de matar desejos ao dar a sua volta, pelas montras, começam a sentir o medo, o medo duma rua cada vez mais sombria e perigosa.

Com a palestra de Cavaco Silva os partidos atirarão alguns tiros para o ar e tudo continuará, à maneira árabe, cada vez mais na mesma. O povo, habituado a andar atrás da política Pai Natal, limitar-se-á a resmungar. Não exige nem faz. Deixa a corrupção dos mercenários continuar!

Portugal não tem solução enquanto os parasitas encostados à república forem suportados. O socialismo português dá continuidade ao espírito mafioso aprendido nas lojas e no proselitismo napoleónico que dividiu Portugal, fazendo dele um país oportuno para oportunistas sérios.

Se queremos chegar às raízes do mal das nossas elites, as universidades terão de fazer um estudo acerca do parasitismo partidário na República portuguesa e os seus pré-anúncios do séc. XIX.

Doutro modo, apesar da admoestação de Cavaco Silva, Portugal continuará “uma república de bananas governada por sacanas”.

António da Cunha Duarte Justo

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