Por António Justo
Era uma vez uma senhora que eu conhecia e se chamava Lília. Ela era tão simpática e boa que toda a gente quando a via sorria de alegria.
Na empresa onde trabalhava, era querida, como nenhuma outra, por companheiros e superiores. Era tão altruísta que compartilhava o sofrimento alheio e chegava a engolir cobras e lagartos no trato com os outros. Distinguia-se entre todos pela competência e simpatia e até bolos trazia de casa para adoçar o espírito da firma e os ânimos dos colegas nas pausas do café. Até que um dia foi necessário escolher na sua secção uma senhora para um lugar vago da direcção.
Lília que era boa mas não ingénua pensava que seria chamada a ocupar aquele posto. Com estranheza verificou que foi escolhida, para o lugar da direcção, uma outra colega menos simpática, menos talentosa e mais dura que ela.
Lília foi ter com o chefe da repartição para saber da razão de tal discriminação.
O dirigente respondeu que ela não era boa para o cargo da direcção porque era demasiado boa para com as pessoas e, como tal, teria dificuldade em impor os interesses da firma.
Moral desta história verdadeira: quem não se trata bem a si e faz tudo pelos outros prejudica-se a si mesmo e possivelmente também a outros.
Lília era uma pessoa adulta que não se preocupava consigo e estava convicta de que fora do amor não há salvação. A dor, também a tinha, mas lavava-a em casa na própria solidão, todos os dias iluminada pelo fluido da compaixão.
Amar o próximo não está em moda nem faz parte dos interesses das organizações. Lília que se sentia companheira dos injustiçados não levou a mal tal discriminação, porque ama o próximo e sente que nos encontramos num processo de mudança de mentalidades para uma nova era onde o sentido será fazer o bem.
Cada um tem uma medida para o seu viver! Para melhor ajudar os outros é conveniente não se esquecer a si mesmo porque a própria pessoa e a própria felicidade faz parte da dos outros.
António da Cunha Duarte Justo