O Presidente Francês defende uma União Europeia a duas Velocidades
Por António Justo
Os políticos não têm uma vida fácil! Têm de combater em duas frontes de batalha: no campo dos interesses da população e no dos interesses daqueles que mais influenciam o andamento do Estado; por outro lado têm de elaborar um discurso apropriado para os cidadãos e eleitores e outro discurso adequado aos ouvidos do estrangeiro. Hollande tornou-se num bom exemplo destas dicotomias.
No discurso dirigido ao exterior Hollande punha-se ao lado da Grécia e revelava-se crítico em relação à Alemanha; agora num discurso dirigido para o interior e à Alemanha, o presidente francês parece acordar e diz “Os parlamentos estão demasiado afastados das decisões. E as pessoas estão a afastar-se depois de serem tão ignoradas.” As próximas eleições já em vista (2017) obrigando-o a adoptar o discurso no sentido dos interesses da França e da Alemanha declarando-se por uma Europa de duas velocidades. Holland e Schäuble querem ver salvaguardadas as suas próximas eleições. Naturalmente por isso, Hollande advoga agora uma união financeira e parlamentar dos 6 países (França, Alemanha, Bélgica, Itália, Luxemburgo e Holanda). Isto parece ser um aviso directo à Grécia para que organize novas eleições em que iniciem a saída do euro.
Hollande reaviva o discurso original da opinião pública Alemã que levou à formação do partido AfD contra o Euro e dos que defendiam a necessidade de uma União Europeia a duas velocidades.
A UE encontra-se exausta; uma parte da opinião alemã vê, como remédio contra os problemas da Grécia e da germanofobia, a introdução da Dracma para os gregos e do Marco para os alemães. A “saída da Grécia” e de outros países da Zona Euro, ou a criação de dois tipos de euro – um duro e outro mole – que os pássaros cantavam em todos os telhados já em 2008, repete-se precisamente agora num discurso apelativo por gurus de diferentes ampliadores de ideologias. Quem seguiu a discussão de 2009 e 20010 não encontra ideia nova nos artigos dos jornais nem nos peritos. Depois do baile grego, os grandes encontram-se exasperados; talvez isso os leve a tomar outros passos apressados, na esperança de que a união dos fortes ajuda a evitar guerras duras na Europa.
Hollande parece cínico ao dizer que na “ajuda” à Grécia (na realidade uma grande ajuda aos credores internacionais) “prevaleceu o espírito europeu”. No Journal du Dimanche escolhe precisamente o 90° aniversário de Jacques Delors para pôr na ordem do dia a ideia de “um governo da zona euro e adicionar um orçamento específico bem como um parlamento para assegurar o controlo democrático”… O eixo franco-alemão parece começar a tomar contornos. Hollande repara assim as ofensas que se tinha permitido contra a Alemanha nas últimas noitadas de Bruxelas!
O Dinheiro foi passar um Dia de Férias à Grécia
O dinheiro foi passar um dia de férias na Grécia. O demasiado sol descontentou-o e logo encurtou as férias regressando a casa, ao BCE e ao FMI. A Grécia recebeu 7, 16 mil milhões de Euros do Fundo de resgate da UE e com eles pagou dívidas de dois mil milhões de euros para o FMI e 4,2 mil milhões de euros para o BCE.
Os magnates da economia ao fecharem os bancos por 22 dias conseguiram ordenar os cidadãos e discipliná-los em bichas em frente dos caixas eletrónicas dos bancos.
Que a união europeia é necessária não duvido da necessidade da UE nem da complexidade das do mundo financeiro mas o facto da sua complicação não chega para justificar quer o desconhecimento de políticos quer a apatia do cidadão e muito menos ainda a desculpa do status quo. Os bancos não são o problema mas a expressão e símbolo dele. As diferentes perspectivas do problema, sejam elas socialistas, capitalistas ou doutras istas são as diferentes visões de uma realidade maior que englobaria todas elas. Naturalmente a toda a definição corresponde uma redução!
Não será possível uma União Europeia sem custos económicos para as economias fortes nem o abdicar de direitos soberanos para todos.
António da Cunha Duarte Justo
In Pegadas do Tempo: www.antonio-justo.eu