DIGNIDADE CONSTITUCIONAL PARA A LÍNGUA


Associações alemãs insurgem-se contra a Inundação de Palavras inglesas

António Justo

Associações de protecção da língua e da cultura entregaram ao parlamento alemão 40.000 assinaturas de apoio à exigência de protecção da Língua alemã pela Constituição da República. Na Constituição deve ser registada a frase:”A língua da BRD é alemão”. Esta iniciativa encontra apoio no presidente do Parlamento.


A língua deve ser protegida como bem cultural e como “elo de união da nação” e ao mesmo tempo como “a chave para uma melhor integração”.


O emprego de palavras inglesas impede muitas vezes a clareza da língua e pressupõe que todos dominem o inglês.


Puristas da língua registam uma invasão de anglicismos na Alemanha que já atinge 7200 palavras (www.anglizismenindex.de). Querem que palavras inglesas sejam traduzidas em alemão; por exemplo mainstream por “gosto das massas”.


Na França, onde a língua se encontra ancorada na Constituição tornam-se possíveis decisões de tribunal tendentes a proteger o consumidor. Segundo uma lei de 1994 os franceses podem exigir que no seu lugar de trabalho se fale francês. Empresas internacionais usam apenas a língua inglesa sem que, documentos e programas de computador, sejam traduzidos em francês. Decisões de tribunal deram razão a queixas de Sindicatos contra firmas, como refere HNA.

Aportuguesar as palavras estrangeiras


No mundo global e virtual em que nos movimentamos não podemos prescindir de estrangeirismos. Estes são um meio enriquecedor da língua desde que não sejam assumidos directamente da língua donde provêm mas sejam adaptados ao génio da língua. Um estrangeirismo como “destacar” enriqueceu a língua trazendo uma outra conotação específica que o seu correspondente vernáculo “distinguir” não tem ou não deixa ver directamente.

Também há palavras que reflectem diferentes consciências, como a palavra “elite” em vez de “escol, fina-flor”.


Naturalmente que quem fala bem uma língua estrangeira tende, por vezes, a empregar certas palavras estrangeiras por serem mais concisas ou mesmo por preguiça em procurar termo equivalente. Por outro lado há os vaidosos que querem mostrar a sua importância e desejam distinguir-se do resto mediante o emprego de estrangeirismos. Aportuguesar os termos ingleses constitui uma tarefa importante para o enriquecimento da língua. Naturalmente, sem pressões dum lado e doutro.


A pressa moderna leva-nos a deixar pontos e vírgulas, sem olhar ao pormenor. Muitos dos termos novos pertencem a uma linguagem tecnológica precisa e fria sem a carne da alegria da imagem para saborear. Trata-se de manter o olhar atento para o vivo. Os interesses económicos desempenham grande papel no seu desenvolvimento. O português, como língua inter-cultural encontra-se sob grande pressão da concorrência. O Brasil empenha-se de maneira especial porque está consciente do seu valor económico e cultural para o Brasil.


A língua já tem categoria constitucional em 18 países europeus. A eficiência prática depende da legislação e das decisões dos tribunais.

A linguagem vernácula é dificultada por interesses económicos e por textos modernos sem preocupação pela pureza, correcção e clareza da língua. A leitura de textos clássicos é cada vez mais dificultada. O mundo cultural também não faz excepção à lei mercantil do barato. A necessidade de comercialização da língua, também através de romances feitos à pressão, torna tudo mais leve e de curta duração. As editoras precisam de nova mercadoria, para apresentar a consumidores apressados.


Numa era em que se usam cada vez mais programas de computador como correctores da língua notam-se muitas vezes substratos ideológicos na escolha e disponibilização de termos.

Cada língua transmite o seu sentimento de vida. Através da fala entramos no génio dum povo.


Ela faz parte integrante da nossa consciência. Entrar no espírito duma outra língua é como navegar noutro continente e mergulhar numa nova consciência. Daí o respeito a ter por cada língua.


António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

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António da Cunha Duarte Justo

Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

2 comentários em “DIGNIDADE CONSTITUCIONAL PARA A LÍNGUA”

  1. Caro António Justo,

    Concordo com tudo o que diz. Sem dúvida que se deve exigir dignidade constitucional para a língua. E oferecer uma educação com melhor qualidade.

    Quanto à “língua nossa”, penso que representa a identidade de um povo ou de muitos povos, entendendo eu, que aos muitos povos falantes da língua portuguesa,correspondem conjuntos dialetais ou variedades linguísticas.
    Concretamente,a “Língua Portuguesa” engloba os diferentes modos de falar utilizado pelo conjunto de seus falantes do Brasil, em Portugal, em Angola, em Moçambique, Cabo Verde, Timor, São Tomé e Príncipe. E temos que incluir nas variantes os linguajares regionais. Mesmo em Portugal existem diversos dialetos tanto no continente como nas ilhas.
    Importa que não ocorram preconceitos em relação aos falares diversos ou discriminações. Sendo a língua adequada à comunidade que a utiliza, trata-se de um sistema de comunicação que permite àquele povo exprimir o mundo físico e simbólico em que vive. Não se pode associar as variantes de uma língua ao preconceito dos que julgam mais cultos um determinado dialeto por serem de uma determinada camada social ou académica.

    Mas há que dar importancia à exigencia de que a língua tenha categoria constitucional em 18 países europeus. A Escolas terão que estar à altura. O respeito pela língua!

    Margarida

  2. Prezada Margarida
    Totalmente de acordo com o que diz.
    A Língua é um universo com muitos versus nela: Nela se encontram os diferentes biótopos que a tornam viva e rica. Nela fala e vive não só a alma do falante mas também a geografia que a circunda.
    António Justo

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