Novo Carro Eléctrico Português
António Justo
Gerentes de multinacionais, políticos das primeiras filas, jogadores das sociedades de acções e um estado reduzido à dimensão de Judas preocupado com a bolsa dos impostos, actuam como as pragas bíblicas dos gafanhotos que de tempos a tempos invadiam os campos do povo e os desbastavam com a sua voracidade indomável deixando atrás de si o desconsolo e a desorientação. O povo sofre a nível mundial. Em 1960 20% da população mais rica do mundo tinha um rendimento 30 vezes maior que o dos mais pobres. Em 1995 o rendimento dos mais ricos tinha aumentado para 85 vezes mais.
Os energúmenos cartéis internacionais da energia, os cartéis ideológicos e do poder, reduzem o ser humano a presa. O petróleo sobe constantemente nas bombas de gasolina e com ele o preço dos produtos transportados e gerados à custa de energia. O mesmo se dá com o gás, a electricidade e os produtos alimentícios. Os preços tornaram-se astronomicamente simbólicos não correspondendo ao seu valor real. O gasóleo que é um produto de terceira qualidade, em relação à gasolina, chega mesmo a ultrapassar o preço desta.
A indústria automóvel constrói carros com consumo de gasolina mais reduzido mas logo a gasolina é subida de maneira a, multinacionais e Estado, compensarem, com a subida do preço de combustível, o que perderiam com a redução de consumo.
A política desobriga-se, perante um povo também ele anónimo mas ainda sensível às palavras, promovendo actos de fé na ecologia e na defesa do ambiente. O paradoxo da situação está em o negócio florescer melhor com uma natureza doente e um cidadão precário. Os Governos não promovem o razoável para o povo e para a defesa da natureza. Limitam-se a acantonar-se na defesa do status quo pernicioso, desviando as atenções dum povo clientela com responsórios de ocasião. Jogam às escondidas falando de energias alternativas, de CO2 e de modernização criando no povo esperanças e motivação para aguentar maiores cargas e sacrifícios. Não ousam a resistência às sociedades anónimas nem ao ditado do hábito rotineiro. Naturalmente que os políticos se encontram sobrecarregados com um sistema que pressupõe forças sobre-humanas para o dominar. Para isso seria necessária a mudança de mentalidade de todo o povo. O Estado não pode limitar-se à função de impedir a violência dos pequenos, considerando tabu a dos grandes.
Novo Carro Eléctrico Português
Numa reportagem da televisão SIC, sobre a Escola Superior de Tecnologia de Viseu, foi apresentado um carro com capacidade regenerativa. Os finalistas do curso de engenharia transformaram um carro comum num carro do futuro. Este carro, com motor movido a electricidade (15 Quilovolts), significaria uma revolução nos orçamentos familiares. De facto o veículo é bastante potente e movido a energia eléctrica gastando apenas 1,20 Euros de energia em cem quilómetros.
Será que uma iniciativa cívica ou o Estado se interessarão por esta tecnologia ou deixarão que as petrolíferas com a indústria automóvel comprem a patente para ser impedida a produção e comercialização de tal veículo?
O governo engoliu e ficou mudo. Certamente que um cidadão com um carro a carregar as baterias na ficha de electricidade de casa não cabe no seu conceito de Estado para quem a sociedade humana ainda não existe. É melhor viver da administração da “apagada e vil tristeza” do factual ordinário. O Estado perdeu de vista o cidadão.
As Novas Tecnologias não interessam ao Negócio da Energia fóssil
Como se pode ver pelas notícias da imprensa, em 1996 a General Motors produziu os primeiros automóveis eléctricos (EV1) que em 9 segundos aceleravam dos 0 ao 100 Km/h. Eram silenciosos e não precisavam de tubo de escape. Eram recarregáveis com energia eléctrica em casa. Postos em circulação na Califórnia, eram alugados continuando propriedade da empresa. Findo o prazo do contrato, esta não renovou mais os contratos apesar do interesse manifesto dos utilizadores.
Em 1997 a Nissan apresentou o modelo ecléctico Hypermini, tendo a Câmara Municipal de Posade (Califórnia) adoptado este veículo para os seus empregados. Em Agosto de 2006 expirou o contrato de aluguer e a Nissan recusou-se a prolongá-lo ou a que a Câmara comprasse as viaturas. Preferiu destrui-las. Em 2003 a Toyota produz o veículo eléctrico RAV4-EV. Também neste caso, em 2005 expiraram os contratos de aluguer não tendo sido prolongados. Os lobbies das companhias petrolíferas não querem, ganham mais com a guerra e com a poluição.
Preferem os carros híbridos com bateria interna eléctrica porque, no fim de contas, gastam tanto como os carros convencionais.
O problema é que com eles, a América, o Japão e a União Europeia não podiam meter a mão tão funda no bolso do consumidor. A socialização da energia solar foto-voltaica também não lhes interessa, a longo prazo, porque o consumidor se tornaria independente das multinacionais monopolistas da energia e do Estado. Este porém certamente que logo compensaria a perda de entrada de impostos com a alternativa de nacionalizar o sol, submetendo-o a um imposto a pagar pelo cidadão!
O Tipo Cidadão Cliente
Somos geridos por poderes anónimos que transformam os governos em bonecos. Estes bem esperneiam mas até agora em vão.
Os seus detentores vivem melhor das palavras e dum povo proletário na impossibilidade de resistir. O progresso quer um povo desenraizado dos biótopos naturais, um povo citadino acorrentado já não à natureza mas às cadeias do poder.
Substituíram as paisagens naturais pelas paisagens ideológicas e pela propaganda consumista reduzindo o povo a massa e o cidadão a cliente em que os produtos se tornam os únicos factores de identidade. O cidadão cliente vive assim da mais valia simbólica e emocional. Tornou-se acomodado, incapaz de resistir, porque se encontra aquartelado nos bairros dos prédios altos das cidade e das pressões factuais faltando-lhe, por isso, a terra debaixo dos pés para se poder afirmar autonomamente.
O povo vive incomodado mas os Estados e os Partidos ainda vão vivendo bem, uns do encosto às multinacionais os outros do encosto ao Estado. Em segredo os Governos parecem esfregar as mãos de contentamento com cada aumento de preço dos produtos. Então os impostos jorram nas caves ministeriais.
Vive-se num estado de anarquia económica e de servilismo político em que nada é normal.
A corrupção organizada oficial e oficiosa cria uma atmosfera apocalíptica. A virtude, como centro de dois extremos, deu lugar ao vício dos extremismos. Tem-se a impressão que a democracia não consegue já manter as bocas democráticas que criou. A Praga dos Gafanhotos vive da Mentira da Defesa do Ambiente
Instala-se cada vez mais uma cultura parasitária que vive de rituais do pensamento e da liturgia da propaganda que se tornou o ópio do povo no controlo do consciente e inconsciente na estratégia de implementação duma consciência proletária consumista.
Assim o povo, vislumbrado pelo brilho dos medos, distraído e desorientado com a desinformação instalada, acabrunha-se perdendo a capacidade que fez dele homem/mulher: a capacidade de reflectir e resistir.
António da Cunha Duarte Justo