Numa época em que o globalismo é acto de fé para a economia, por todo o lado rumoreja o ventre nacionalista. O nacionalismo não é doutrina passada. Hoje ele continua muito presente. As tendências nacionalistas, tal como os outros nacionalismos europeus, têm o seu fundamento na ideia do Estado Nacional.
As tendências nacionalistas chegam até à revolução francesa que deu lugar à nação francesa moderna. Por toda a Europa se desenvolve a concepção do Estado Nacional baseado na ideia de unidade de povo, de estado e de território.
O nacionalismo nasceu com a ideia da homogeneidade nacional da autodeterminação e da pureza étnica. Nos séculos XIX e XX alcançou o apogeu e as últimas convulsões nos Balcãs, com a problemática do Kosovo são uma consequência atrasada.
Norbert Elias afirma em “Die Welt” (22.11.2007) que o nacionalismo é “o sistema de fé mais poderoso dos séculos XIX e XX”. De facto, esta fé secularista deu origem às maiores tragédias de toda a história. Centenas de milhões de pessoas foram vítimas directas desta perversidade humana.
Antes era a ideia da raça e da nação o motor da política e da economia que obrigava ao desalojamento de povos inteiros. Hoje é a economia sôfrega já não de pessoas mas de “forças de trabalho”, que dão continuidade aos problemas em curso. Cada época tem a sua ideologia legitimadora das mesmas forças continuamente presentes na história dos povos e das culturas.
A economia e o poder não olham a meios para se legitimarem. São as estruturas organizadas que determinam a acção social e a sua legitimação. O povo paga sempre, em cada época, a factura. Os seus representantes sucedem-se na administração da miséria ou da exploração.
Os políticos europeus enganam-se a si mesmos para poderem justificar o desalojamento e desenraizamento das pessoas ao serviço duma indústria e duma economia esfomeada. Numa Europa cansada e já não disposta à procriação afirma-se, sem mais, um sistema económico que instrumentaliza a pessoa e prefere manter a pobreza dos estados periféricos do mundo obrigando seu povo a emigrar, em vez de construírem as fábricas nesses países e contribuírem assim para o seu desenvolvimento económico evitarem a necessidade de se verem obrigados a emigrar, na fuga ao mal-estar. Segue-se a lei do menor esforço económico e esta tem como preço a pessoa humana. A factura a pagar pelo sofrimento de hoje será, mais tarde, muito cara e dolorosa.
Os políticos falam de multicultura e de tolerância dentro das próprias muralhas para assim desviarem as atenções do povo para os problemas étnico-civilizacionais que se acumulam nos arrabaldes das grandes cidades.
Por outro lado, dão razão ao nacionalismo e à intolerância surgidos nos Balcãs, devido à maior proliferação albana na Sérvia e ao racismo de uns e de outros. Aqui não se defende a convivências de sérvios e albanos, a tolerância entre maiorias e minorias, como se faz crer na União Europeia, mas dá-se razão ao nacionalismo e ao racismo apoiando-se a separação. Naturalmente que os problemas recentes surgidos na Bélgica e mesmo os problemas de sociedades aparentemente estáveis como a Venezuela corroboram as ideologias nacionalistas turcas, albanas, etc.
As etnias são usadas como fronteiras, como linhas de separação. Infelizmente a lei do mais forte, da economia e não da razão são as que a história continua a fazer valer como trunfo na história moderna e contemporânea. Falta a consciência do valor e da dignidade do cidadão e da pessoa.
O nacionalismo é contra a civilização; é uma arma para levar à frente interesses anónimos à custa do povo vítima.
Naturalmente que o nacionalismo tem como resultado positivo da sua chacina o alcance duma certa homogeneidade artificial. A velha Europa é o resultado dessas lutas em nome da religião, da nação, da economia, e do povo que tudo legitima. Outros povos encontram-se envolvidos em pleno processo de emancipação. Esta porém não é determinada pela própria força ou fraqueza mas pelos interesses económicos e internacionais aliados aos interesses de elites locais oportunas!
A melhor estratégia estaria numa autodeterminação interna dos povos através dum federalismo com muita autonomia mas subordinado a super-organizações responsáveis. Isso poderá realizar-se quando a dignidade humana individual de cada indivíduo constituírem um valor em si e não apenas um valor funcional.
António da Cunha Duarte Justo.
O nacionalismo… Oh, o nacionalismo! Certamente que vai estranhar uma mensagem vinda de um bobo. O meu próprio nome é Bobo, e sou a alegria de um rei bonacheirão. Sempre lhe agradou as piruetas desenfreadas que sou capaz de executar. Mas que triste vida, a minha: vivo num sótão sombrio e gelado, onde os mistérios são a própria encarnação do «Mafarrico», como diria a pobrezinha que estende a mão à caridade; e onde a solidão é domínio de um deus oculto. Para além do catre – que perdeu uma perna quando saltei de um assomo de exultação –, o meu sótão tem uma cómoda… Mas queira desculpar-me, não estou a dar seguimento ao meu intento; mas não deixam de ser agrestes os pensamentos que me ocorrem: ponho-me a cogitar (- enquanto enxergo na parede um velho retrato de um general que, ao invés de um braço, tem uma manga presa por um alfinete; retrato esse que me assalta durante os sonhos que, com atitude marcial, se agita em gritos cavernosos na ordem para avançar os seus homens -), ponho-me a cogitar, dizia eu, e não deixa de ser interessante toda essa estória do nacionalismo. Ora, o nacionalismo tem o seu estado repressivo na força dos seus líderes néscios, mas o nacionalismo que assoma das nações alvas é um hino a uma nova ordem. Mesmo a estética tem a sua quota-parte no nacionalismo, mas não vou levantar essa questão por uma razão simples: a estética do nacionalismo está latente entre gritos de ordem e o despautério dos líderes das nações. Ai de mim, digo eu, ai de mim! Sou apenas um velho truão. Dispenso política desinteressadamente. Apenas me tenho no espaldar a relembrar velhas canções que o nacionalismo despertou. Basta lembrar a alma do nacionalismo alemão e russo. Não sei… iria devanear. Mas convém dar uma satisfação, diria… Sempre achei os líderes dos homens meticulosamente hipócritas, mas creio que até uma criança pode pintar com traços elementares o carácter dos políticos. Dispenso política; a política é um imenso lodaçal onde os homens do estado se digladiam. Não fosse o homem um irrisório retrato de uma macaco…
Goggly
Tiro o meu chapeu!
Obrigado também pela arte do seu texto!
Atenciosamente
Ant´´onio Justo
Já passou imenso tempo desde que escrevi o último comentário, sempre com a esperança que me pudesse responder um dia.
Agradeço imenso a atenção que me foi obsequiada; mas não é necessário tirar o chapéu, já que a minha perspectiva sobre a política não tem qualquer valor, ainda que sou apologista de uma vida hodierna sem entraves nas relações com os homens; não é necessário tirar o chapéu, portanto, já que a perspectiva inócua que detenho sobre a política dos homens de hoje seja um imenso lodaçal, tal como mencionei no último comentário. Se por ventura fosse um homem excelso e preclaro que assistisse aos confrontos bélicos que assolam o mundo – e já não me refiro à vetusta política nacional -, então o chapéu daria panos para mangas; e quem sabe se uma política psicológica não seja já um caminho para compreender as vissitudes que acompanham as relações entre os homens… Porque eu não passo de um bobo, e a minha principal orientação é executar as tropelias que sou capaz de executar para rejubilo de um rei prazenteiro.