Uma sociedade cada vez mais injusta – Uma política reduzida a oficina de reparações

Idade de Reforma na Alemanha aos 67 Anos

A reforma completa só será possível a partir dos 67 ou depois de 45 anos de seguro aos 65 anos. Isto significa que quem nasceu em 1947 já começa a ter de trabalhar mais ou de se sujeitar a redução na sua reforma. A coligação CDU/SPD tinha determinado pôr a regra a partir de 2035 mas o Ministro para assuntos sociais Müntefering (SPD) conseguiu impor-se no Gabinete de Ministros e antecipar o prazo para 2029. A regra prevê que de 2012 a 2024 a reforma sofra o adiamento de um mês por ano e de 2025 a 2029 o adiamento da idade de reforma será de dois meses por ano. A contribuição para a reforma passará de 19,5% para 19,9% a partir do próximo ano. Certamente que as reacções a esta decisão não serão muitas atendendo à apatia a que a sociedade chegou.
As caixas de reforma foram durante muitos anos postas à pilhagem por políticos irresponsáveis que pagavam as reformas de colonos alemães retornados do leste e de refugiados com os fundos das Caixas de Reforma, mantidas pelas quotas dos sócios. A ajuda do Estado limita-se apenas a uma gota que cai numa pedra quente. Não se fale já das reformas antecipadas à custa da solidariedade das quotas dos trabalhadores. Neste caso o Estado deveria compensar na totalidade, com subvenções provindas dos impostos, os benefícios que concede com a reforma antecipada ou a quem não pagou para a caixa de reforma.
Esta medida, agora tomada, corresponde a uma diminuição substancial na reforma. Isto é injusto atendendo a que por outro lado se segue uma política de emprego dificultadora da criação de lugares de emprego a pessoas com idade a partir dos 50 anos e facilitando, por outro lado, o despedimento aos empregados desta idade. É um escândalo que o erário público, e, neste caso, os contribuintes das Caixas de reforma e os reformados tenham de subsidiar o saneamento do pessoal das firmas que, apesar de grandes ganhos, querem ainda mais à custa dos empregados para poderem investir no estrangeiro, e assim melhor concorrer com os pobres. Esta hipoteca para as gerações do futuro é irresponsável.
Naturalmente que o grande problema está no facto da nossa sociedade se ter tornado egoísta e, consequentemente, se recusar a ter filhos. A família foi explorada e continua a sê-lo. Hoje muitos dos nossos políticos, que seguem o espírito do tempo, ainda não notaram que o nosso problema não é só a falta de distribuição de trabalho e da riqueza mas também a falta de filhos. Limitam a sua acção a correr atrás da economia e as suas preocupações centram-se mais em fomentar uma política em favor de singles e de uniões gay à custa da família procriadora.
Uma sociedade com fraca natalidade chegará ao ponto de um trabalhador ter de pagar quotas para manter dois reformados. Um sistema de reforma equilibrado terá que premiar aqueles que tenham filhos. Assim as famílias com filhos deveriam ser compensadas em termos de reforma.
Há trabalhos em que o desgaste da vida é maior do que noutros. Assim, sabe-se, pela estatística, que um trabalhador vive menos 7 anos do que empregados de outros serviços; também as mulheres vivem, estatisticamente em média, mais 7 anos do que os homens.
Na fantasia dos políticos será fácil arranjar lugares de trabalho para pessoas entre os 60 e os 67 anos. Parece que vivemos numa sociedade maluca em que para se aumentarem os rendimentos das firmas e dos accionistas se despedem pessoas, deixando famílias na dependura.
Empresas anónimas exploram o homem descaradamente e sem remorsos. O turbo-capitalismo orienta-se apenas pelos lucros sempre à procura da caça, da vítima, procurando sempre lugares ou pessoas com ordenados baixos, com menores direitos de trabalhadores e se possível ainda à custa do meio-ambiente e dos subsídios europeus para os países pobres.
O poder das companhias internacionais, com sede nos países ricos serão de tal ordem poderosas que porão em perigo a democracia e em nome da globalização destruirão uma ética de trabalho e uma mundivisão cristã do Homem. Actualmente já se vai tendo a impressão que, em parte, a função dos políticos é andar atrás das empresas internacionais criando-lhe facilidades e depois seguindo-as atrás na reparação dos estragos que causaram. Enfim, uma política reduzida a oficina de reparações. Esta sociedade cada vez se despede mais dos valores cristãos da dignidade humana e do amor ao próximo que se expressava na solidariedade social e que hoje se procura desmiolar. O Homem é visto pelas ideologias como mero sujeito a ser explorado esquecendo-se que o Homem, a caminho, é fim em si mesmo e não pode ser objectivado e explorado em função do proveito e da ganância seja ela capitalista ou ideológica. Tem que se chegar a uma forma de tratamento justo em que todos contribuam para a solidariedade social independentemente de se ser trabalhador, médico, político, funcionário do estado, artista, etc.
Precisa-se uma mentalidade mais humana onde o ordenado máximo não passe de 20 ordenados mínimos, isto é que a partir duma certa quantia se fosse obrigado a disponibilizar o excesso de ganho para fundos sociais, ou sociedades em que cada um poderia criar em benefício sócio-cultural. Assim se fomentaria o mecenato e uma sociedade humana, também ela, baseada na iniciativa e na propriedade privada.

António Justo
Alemanha

António da Cunha Duarte Justo
Social:
Pin Share

Social:

Publicado por

António da Cunha Duarte Justo

Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *