Democracias ao Serviço do Fascismo?

Onde estão os protestos contra as execussões turcas?

Ontem numa editora cristã na Turquia foram executados três cristãos. Depois de amarrados de pés e mãos a cadeiras e torturados foi-lhes cortada a garganta.

A perseguição a minorias, aos cristãos, tem sistema. Há um século atrás ainda havia na Turquia 25% de cristãos. Hoje os muçulmanos são 99%. Este é um processo e um fenómeno comum aos países muçulmanos. Em todos os países conquistados deixa de haver vestígios humanos vivos das culturas invadidas ou dominadas através da proliferação.

O ano passado houve um assalto a dois padres, o fuzilamento de um outro e o assassinato do jornalista arménio em que se encontravam envolvidos polícias e políticos ultra-nacionalistas apesar da polícia de Istambul ter sido informada previamente. Responsáveis da editora cristã já se queixam há anos que as autoridades locais e os políticos incitam a população contra eles. Sintomático é o facto da execução dos três cristãos ter acontecido depois da televisão turca ter anunciado na quarta-feira anterior que a editora “Zirve” tinha distribuído bíblias.

A verdade é que a nação turca vive desde há 85 anos na mentira afirmando-se como estado laico em que as minorias cristãs e judaicas deveriam ser respeitadas. Este princípio só se encontra no papel. A identidade nacional é condicionada ao Islão. Só um turco muçulmano é um verdadeiro turco. As minorias têm que o sentir no dia a dia. Até no seu bilhete de identidade são identificáveis através dos dois últimos números. A República Turca vive bem da mentira. Confronte-se o debate sobre a sua entrada na União Europeia.

Onde estão os protestos contra as execussões turcas? Quem se tem manifestado dentro e fora da turquia? Os intelectuais e politicos só parecem estar sensibilizados e dispostos a fazer reagir e a fazer declarações quando se trata da defesa dos interesses islâmicos. Pensar faz doer e o medo pode muito!… Que os muçulmanos se calem, é já costume, mas que os povos ocidentais se comprometam, não é bom testemunho para a democracia.

A Turquia apresenta-se ao exterior como uma república laica e internamente é contra tudo o que não seja islâmico. As autoridades turcas costumam lavar as mãos sangrentas com o argumento de que são casos individuais. O Islão considera legítimos os meios empregues na expansão e defesa da sua fé. O emprego da mentira é legítimo desde que empregue na defesa do Islão. A qualidade moral duma acção depende da religião da pessoa a quem se dirige. A religião divide o mundo em duas zonas: a terra da paz (onde dominam) e a terra da guerra, o resto.

A consciência de possuírem a única religião verdadeira leva-os a exigir, de cabeça levantada nas nações não islâmicas onde vivam, os direitos vantajosos e de se fecharem em guetos até poderem impor a sua mentalidade. Os extremistas sabem-se protegidos por uma população que os não denuncia. A cumplicidade é assim legitimada democraticamente. Por outro lado nos países de imigração muçulmana a política não encontra parceiros de conversação vinculativa porque não há uma representação única dos muçulmanos. A falta de estruturas representativas leva os políticos ocidentais a fomentar conselhos do Islão que apenas têm uma função de polimento de imagem perante a opinião pública. O diálogo só conhece um sentido único: a direcção do Islão.

Na Europa a ideologia fascista muçulmana encontra-se na ofensiva. Os governos ocidentais só estão interessados em convenções económicas bilaterais marimbando-se com o trato das minorias nos países islâmicos.
Ingenuamente as autoridades religiosas cristãs preocupam-se com a realização de orações multireligiosas que ao fim e ao cabo só atingem os cristãos envolvendo algum representante de mesquita que protege assim o povo do contágio.
Se a Europa não quiser caminhar na direcção duma Cossovização a longo prazo terá de levar os muçulmanos a estruturar-se de maneira representativa e a não permitir nele o fascismo que combate no meio da própria cultura. Doutro modo, a longo prazo, a política democrática serve o fascismo das duas partes. Isto revela uma grande fraqueza do sistema democrático: o Islão é mais coerente e mais forte, pelo menos enquanto conseguir privar a generalidade do povo dos bens económicos e da ciência.

Se há sol e chuva deve haver sol e chuva para todos! Acima das instituições deve estar a pessoa humana independentemente da sua fé… O resto corre o risco de ser fascismo camuflado!

António Justo

António da Cunha Duarte Justo

Estado paternalista – Escolas Proletárias

A violência nas escolas atingiu o limite
A campanha do Ministério da Educação está a dar resultados: Nas escolas portuguesas são agredidos mais de um professor por dia, alguns a ponto de terem de ir para o hospital. A ministra diz que são casos “pontuais”. O problema é dos professores que persistem em continuar a dar más notas.

Os resultados do estudo comparativo de alunos de vários países (PISA) a nível internacional são péssimos para Portugal. A ineficiência e o abandono escolar denunciam o sistema.

O governo, num activismo precipitado, determina medidas ineficientes e descarrega a consciência na cata de vítimas que expliquem a miséria. Culpabiliza os professores responsabilizando-os pelo insucesso escolar, por darem más notas. Numa tentativa desesperada passou a castigar os docentes que derem demasiadas notas baixas à turma dos alunos.

Foi-me referido um caso típico orientador para colegas docentes em Portugal: uma professora de inglês, depois de realizadas as provas de avaliamento, verificou que mais de um terço dos alunos tinham reprovado. A consequência seria uma má nota na avaliação da professora atendendo aos maus resultados dos alunos. A professora de inglês, para não ser castigada pelos maus resultados dos alunos resolveu fazer nova prova correspondente ao nível dos mais fracos. Assim correspondeu aos interesses do ME, passando a estar todos satisfeitos e ela a ter uma boa nota no seu processo de avaliação. Isto é que é ser socialista!

Desautorização sistemática do professorado e dos mais velhos
A Ministra da Educação afirma: “queremos escolas novas” e “melhorar a qualificação dos professores”. O problema é de mentalidade e de filosofia política sendo os professores uma pequena pedra sistematicamente desautorizada no grande xadrez do ensino. Progressistas e conservadores deixaram-se levar pelos ventos marxistas que queriam um povo proletário de aplaudidores cantando e rindo.

Entretanto a Europa arreda caminho desses ideais seguindo uma política de reparação dos erros feitos. Portugal teima em viver a mentalidade ideológica dos anos 60 em processo de ser corrigida na Europa do Norte. Aquela, também na escola, atribuía a culpa aos mais velhos e o fracasso ao passado. O ponto crítico, o erro colocava-se nos outros, como queria fazer ver até a psicologia em moda. Procedia-se à desautorização sistemática do professorado na suposição de que bastaria uma formação proletária numa liberdade contrária à autoridade e à disciplina. Para o sistema chegariam alguns disciplinados e privilegiados para governar! Como o pensar é elitista abaixo com o pensar. No povo ele só estorvaria, portanto, o cidadão quer-se Zé-povinho.

Uma ideologia que desrespeita os mais idosos e a autoridade legítima despreza a experiência.
A sociedade moderna tecnológica exige grande precisão e disciplina dos seus técnicos. A política propaga outra mentalidade. A barraca é cada vez maior. Verifica-se que não chega alargar os conteúdos da primária antiga para nove anos…

A política e a sociedade querem abdicar da responsabilidade e lavar as mãos nos professores e nos pais. Os pais não estão preparados para assumir a responsabilidade que a sociedade lhes roubou. Os professores não podem assumir a responsabilidade que a política lhes furtou. A culpa morreu solteira! O problema é que a irresponsabilidade conduz ao autoritarismo

Portugal parece teimar em continuar na mentira da vida. A vida não perdoa, ela é luta, é conflituosa. Os alunos têm que aprender e saber; não chega o comprido sol das férias grandes para fazer esquecer os fracassos e as negligências… Muitas das pessoas que hoje estão bem na vida, sendo embora de origem humilde poderão testemunhar com Bill Gates, o dono da maior fortuna pessoal do mundo e da Microsoft:”A tua escola pode ter eliminado a distinção entre vencedores e perdedores, mas a vida não é assim. Nalgumas escolas … tens quantas chances precisares até acertares. Isto não se passa com absolutamente nada na vida real. Se pisares o risco, estás despedido, rua!”

O problema não está nas notas nem no aprovar ou reprovar os alunos mas sobretudo na falta de disciplina e de respeito reinante nas escolas que não permitem um ambiente sadio de trabalho. O Estado apresenta-se como um patrão benévolo que só quer filhos pródigos. Este estado ideológico não toma a vida a sério, simplificando-a e fomentando uma ideia falsa de educação baseada no pensamento de que o sucesso e a auto-estima se adquirem de graça. Não chega mandar os alunos ir aos figos ou às uvas do vizinho ou dar-lhes a ideia de que algum tio da maçonaria ou do partido no momento oportuno lhes alisará a vida oferecendo-lhes um diploma ou um cargo; temos que ensiná-los a cavar o próprio campo. O sucesso não se atinge sem trabalho. Não chega a satisfação do céu dos cargos inerentes a um mundo que se pretende proletário!

Não chega dar aos pais, aos cidadãos o direito de protestar e de votar. A factura a pagar por um Estado que se recusa a encarar a realidade será saldada pelo povo e por uma democracia cada vez mais fragilizada por um estilo de vida alienado.

A filosofia da política educativa tem que mudar. A sociedade não pode continuar a viver de mezinhas e das esmolas da União Europeia e dos emigrantes. É fundamental o fomento do respeito pelos valores humanos num mundo frio que olha para as pessoas como se olha para números ou para euros.

Seria um atentado ao povo continuar a apresentar-lhes a miragem da democracia e direitos humanos alheios ao respeito e à solidariedade.

A obra à nossa frente é de tal ordem que exige de todo o cidadão sem excepção grande empenho e responsabilidade. Doutro modo a política institucionalizada e a democracia sofrerão estragos irreparáveis.

António Justo

António da Cunha Duarte Justo

Limbo não faz parte da fé católica

O Papa Bento XVI vê a doutrina reportada a Santo Agostinho, de que as crianças e os justos que morriam sem baptismo iam para o Limbo, como ultrapassada. A ideia do Limbo corresponde à crença num lugar, ou melhor, num estado onde se encontram as almas não baptizadas dos justos e das crianças.

Na teologia a ideia do Limbo foi sempre muito questionada. Não havia uma doutrina inequívoca sobre o assunto. A teologia que defendia, para aqueles que não tinham alcançado o pleno grau de salvação, de proximidade de Deus, um estado específico, perde agora a sua vigência.

A teologia mais liberal reporta-se à vontade salvadora de Deus que chama todo o género humano a uma vida sobrenatural tendo todo ele sido salvo por Cristo.

A igreja católica conhece muitas formas de revelação, entre outras também a natureza e a história.

O aborto embora não aceite pela Igreja não deixa de ser uma triste realidade de grandes dimensões.

Com a revogação da ideia do limbo a Igreja mostra que não nega a realidade e toma partido pelos inocentes.

António Justo

António da Cunha Duarte Justo

Europa Indiferente logo Decadente

Turquia não está madura para entrar na União Europeia

Nos anos sessenta a Alemanha, a Europa, abriu as portas à Turquia porque precisava de mão-de-obra para as suas fábricas. Hoje continua aberta, e come e cala, porque as empresas alemãs têm grande interesse no mercado turco e na capacidade financeira do mundo árabe que é bom pagador.

As nações europeias possuidoras da grande tecnologia fazem o negócio e a Europa paga as favas…

A resignação de muitos tribunais alemães perante os costumes islâmicos é bastante pragmática na sua tolerância. Acreditam que a economia é que faz a fé. No caso de dúvida a fé fica para os pobres e os euros para os ricos, para os esclarecidos. Quando chegaremos finalmente a uma sociedade esclarecida?

Sintomático é o facto de a opinião pública não se colocar ao lado de mulheres e homens turcos defensores do direito das mulheres e do progresso. No caso da advogada turca de Berlim, Seyran Ates, que, por defender mulheres turcas vítimas dos seus maridos, se viu obrigada a deixar de exercer a profissão devido às ameaças contínuas dos homens, ninguém se interessou, o mesmo vai acontecendo com pessoas corajosas muçulmanas que se atrevem a defender publicamente os direitos humanos dentro da sua cultura. A solidariedade parece dar-se com os fundamentalistas e suas acções propagandistas.

Esta atitude ambígua pensada até ao fim, parece confirmar a ideia, de alguns, de que a defesa dos direitos humanos no ocidente não passa de uma armadilha para apanhar incautos. Nisto se vê que na opinião pública não há quem se interesse pelos valores da nossa sociedade. Eles estão à disposição do Euro e do mercado mesmo à custa do ser humano. Depois da morte de Deus e do falhanço comunista e fascista só parece ficar o dinheiro e, para desenfastiar, a revolução. Em tempos de transição aceita-se o terrorismo. Ninguém leva ninguém a sério.

O medo do Islão não se pode reduzir à má consciência e ao oportunismo económico. Isto desprestigia tudo e todos. O mundo ocidental tem também muito a aprender do Islão, devendo por isso levá-lo a sério e na própria transformação ajudar o Islão a transformar-se. Não caminhamos no sentido dum mundo global?

Por tudo isto os europeus não tomam a sério o extremismo turco e árabe no desrespeito pela cultura árabe e pela cultura ocidental.

Muitos satisfazem-se com a argumentação da investigação islâmica, segundo a qual, os muçulmanos manifestam um agir de subordinação hipócrita perante a política e perante o estado. Esta constatação pode ser verdadeira dentro das sociedades maioritárias; nas minoritárias tem-se visto pela história que esperam pacientemente até ao momento oportuno. Isto não fala contra eles, é mais uma estratégia de sobrevivência e auto-afirmação na luta cultural. Quem se empenha por um mundo melhor tem que realisticamente dar-se conta da realidade para a poder melhorar no respeito mútuo.

O “gueto” religioso e espiritual condur ao “gueto” social
Na Turquia não há liberdade religiosa nem em nenhum país árabe. Duma maneira geral as minorias religiosas são consideradas inimigas do estado. Na própria Turquia, que onde lhe convém se declara como sendo um estado laico a união entre política, Islão e imprensa é de tal ordem que não permite qualquer liberdade que não seja a dos muçulmanos. São campeões na deturpação dos factos. Os cristãos não são admitidos para empregos do estado. Mesmo no caso da minoria arménia que tem alguma escola privada, esta tem que ter um vice-reitor muçulmano para controlar. Uma sociedade que só reconhece o seu “gueto” religioso e espiritual acaba no “gueto” social. Um grande problema para a Turquia é o facto de identificar religião e tradição como uma só coisa. Isto, no caso de desenvolvimento, terá como consequência o questionamento fundamental da religião.

A Turquia não reconhece o direito dos cristãos transmitirem a sua fé. De 30% de cristãos no princípio do século XX hoje não resta sequer um por cento. Na execução do cristão alemão (tradutor) e dos dois cristãos convertidos ao cristianismo encontra-se a assinatura dum povo que no próprio país não tolera outros e no estrangeiro vive em gueto. A generalidade dos muçulmanos não tolera que haja missionação atendendo a que tudo é considerado inferior à sua religião; consideram naturalmente lógico o seu direito de no estrangeiro missionarem.

Nos países muçulmanos a mudança de religião significa para os muçulmanos a pena de morte. Não conhecem a maturidade da autocrítica. O assassinato dos cristãos é o fruto da discriminação e da propaganda. Assim os turcos mais abertos recebem regularmente uma advertência… A execução não acontece por acaso. O 1°. Ministro da Turquia Erdogan é um islamista que fomenta o extremismo religioso e apoia os fanáticos. A religião torna-se meio e fim do seu imperialismo fascista.

Para testarmos a hipocrisia da nossa sociedade que mede com duas medida bastaria imaginarmos que o assassínio aos cristãos tivesse sido na Europa a muçulmanos. O mundo muçulmano levantar-se-ia e os europeus fariam manifestações por toda a parte a favor dos muçulmanos. Uma questão de diferentes consciências e sistemas políticos! A tolerância europeia tornou-se indiferença e a política relativamente à convivência cultural, uma política de avestruz. O recalcamento da nossa cultura, e o relativismo cultural da nossa intelectualidade e política conduzem ao silêncio e à falsa tolerância.

A fraca identidade dos alemães leva-os a pôr à disposição a própria cultura e valores numa tentativa inconsciente de lavar a culpa colectiva numa nova identidade de abertura ao mundo. A sua compreensão pelo gueto turco talvez lhe provenha também do facto de tender a gueto quando se encontra na diáspora. Correm também o perigo de se refugiarem no papel de querer ser modelo para o resto do mundo.

A Alemanha, o El dorado para muçulmanos, tem mais de 3.000 mesquitas em aumento acelerado. Imagine-se como se reagiria na Turquia se lá se permitisse a construção de duas ou três igrejas! Haveria tumultos.Não sou contra que os muçulmanos construam quantas mesquitas quiserem na Europa. Só questiono o facto de os mesmos que constroem mesquitas na Europa serem contra que se construam igrejas nos seus países e os políticos estarem de acordo. Em parte é compreensível que estes se calem com medo de fomentar extremistas religiosos também na Europa. O facto de não haver bilateralidade, acrescentado da incúria política, poderá porém fortalecer um clima de extremismo resposta numa altura posterior.

No diálogo com representantes muçulmanos importante é informar e argumentar dado tenderem a torcer a realidade. Organizações muçulmanas exigem tolerância mas apenas a tolerância que eles pensam, a tolerância das suas coisas. Um bom método é o de fazerem perguntas.

A Turquia não está madura para entrar na União Europeia nem os europeus estão maduros para compreender os turcos. Há quinhentos anos de premei, além do mais!… Um diálogo sério e não apenas de hipócritas ajudaria as duas civilizações a aproximarem-se e aprender mais uma da outra.

António Justo

António da Cunha Duarte Justo

Educação no contexto do 25 de Abril

Arte de Educar

Ciências da Educação e o pensar correcto
A Europa tornou-se na época de sessenta e setenta o campo de experimentação dos grandes protagonistas da liberdade e da renovação. De facto urgia uma mudança radical duma sociedade formalista com estruturas e comportamentos demasiado estáticos.

Da revolta contra os caudilhos do tempo (nazismo, estalinismo, fascismo italiano, autoritarismo português) e contra a tradição surgiu uma aliança concertada de todas as forças relevantes na sociedade europeia. Políticos, sociólogos, psicólogos e pedagogos assenhoreiam-se da ribalta do poder e dos lugares charneira da sociedade. Aliam-se na luta contra a autoridade, contra o poder estabelecido, numa atitude adversa a instituições e normas portadoras da memória da tradição. Pouco a pouco fazem o seu saneamento das instituições ocupando-as. A sociedade aplaude. Em nome dum antifascismo difuso abdica-se do carácter crítico e da dúvida metódica. O espírito sadio conservador é difamado e estigmatizado, refugiando-se inseguro à margem da sociedade. Iniciara-se a época do pensar correcto alérgico a personalidades com coluna vertebral erecta. Um discorrer social leve instala-se. De modo simplicista abdica-se da análise das formas e métodos de legitimações autoritárias, o que vem servir a nova classe na escalada do poder. Muitos dos manifestantes e arruaceiros de ontem são os senhores de hoje.

Assim dum movimento anti-autoritário e anti-reaccionário foi possível instalar-se nos novos sistemas a atitude autoritária escondida sob o manto do revolucionário, do democrata, do tolerante. Em contrapartida, em relação à verdade do passado, instala-se a opinião como absoluto, o que vem servir uma praxe irreflectida. É a época das ideologias e do pensar oportuno, do conveniente. A disciplina foi desautorizada por uma pedagogia nascida da reacção anti-autoritária, contra a chamada sociedade burguesa que exaltava a obediência. As ciências da educação tornam-se veículo do novo pensar oportuno. Nas instituições de ensino mais do que especialistas queriam-se assistentes sociais…

Decepção colectiva
Na consequência de tanto à-vontade, de tanta adolescência, as sociedades europeias e a sociedade portuguesa em particular encontram-se hoje à chuva. Apesar dum relativo bem estar domina por toda a parte um sentimento decadente e de insegurança. Observa-se uma certa desorientação, no público consumidor de imagens públicas, acompanhada dum certo descrédito em relação às elites. De facto os apóstolos da liberdade de ontem confundem-se hoje, nas suas formas de actuar, administrar e governar, com os actores do passado que destronaram e estigmatizam.

Porque mantêm as rédeas do poder, continuam com o espírito ensombrado, negam a necessidade de orientação e reflexão, escondendo-se por detrás de incógnitos apontando como fundamento do seu agir para o estrangeiro e para as orientações europeias. Ofuscados em nevoeiros de ideologias irreflectidas agarram-se a bolhas empoladas de promessas de progresso e à defesa das conquistas de Abril como se estas se tivessem tornado propriedade dos novos detentores do poder e da influência. Contraditórios em si acordam os espíritos sonâmbulos do passado. Reagem como as galinhas no poleiro ao sentirem o outro galo nas redondezas.

Mundivisões subjacentes às teorias concorrentes da educação
Educar quer dizer dirigir e pressupõe a capacidade de assumir responsabilidade. Na família, na escola ou nas instituições sociais e estatais quem dirige não pode abdicar da capacidade de orientar. Também na escola o docente deve ser modelo, orientador para ser reconhecido como autoridade.

Para Rousseau o ser humano é bom. Não precisa de intervenção, carecendo apenas de acompanhamento. O desenvolvimento positivo é para ele um pressuposto natural. Esta visão tem sido orientadora na prática da política escolar.

Para a visão cristã ao contrário o género humano vive na polaridade entre bem e mal; traz em si potenciais positivos e negativos de toda a ordem. Por isso precisa de modelos comunicativos e de orientação participada para fortalecer o bem que traz em si e transformar as forças do mal em factores potenciadores de bem. O respeito mútuo gera autoridade. Aqui não se trata tanto de aplicação de ideias mas sim de vivência no relacionamento.

É ilegítimo formar-se o ser humano à base e em serviço duma ideologia ou da própria imagem. O ser humano, como imagem e participador do divino não pode ser petrificado numa imagem desejo, numa doutrina, teoria ou práxis. Só na autonomia poderá atingir um estado de consciência livre não amarrado a ideologias ou crenças sejam elas pedagógicas, científicas, políticas ou religiosas. Conduzir e orientar alguém implica em si o risco da petrificação dum sistema. A orientação acontece em processo, num decurso em que o educador desbrava o caminho do jovem para a liberdade, para si mesmo. O encontro da liberdade é porém feito pelo jovem não sendo este reduzido a objecto obrigado a seguir a liberdade que eu penso. Cada pessoa terá de descobrir, conquistar a liberdade na disputa consigo mesmo e com o mundo. Tem de se dar a si mesmo à luz. Os outros são as parteiras conscientes da sua missão.

O equívoco da esquerda
A esquerda reagiu com razão a uma sociedade e a uma pedagogia que vivia de atitudes e de virtudes petrificadas e portanto alienadoras. O problema é que a esquerda tendo embora feito uma crítica justa à sociedade burguesa caiu no erro do fundamentalismo ideológico militante, ainda reinante. Apenas substituíram umas crenças e práticas por outras caindo nos mesmos dogmatismos e oportunismos sem chegarem a perceber o espírito místico que estava por detrás da revolta. Tornaram-se cegos a guiar outros cegos!

A partir dos anos 60 a esquerda ao basear a sua imagem do ser humano em Rousseau que considera o ser humano como bom em si e a sociedade como má, inicia uma avalanche de consequências incalculáveis. A sociedade ascendente apadrinha este modelo atendendo às esperanças socialistas em curso e à revelia contra as instituições e a igreja tidas como mal e impedimento ao desenvolvimento do bem do homem espontâneo.

A nova elite abandona o indivíduo a si mesmo interessando-se apenas com a mudança e o melhoramento da sociedade. Equivocava-se ao pensar que alterando certas situações ambientais da sociedade o homem se modificaria automaticamente. Desleixa assim o essencial. Os seus actores que inteligentemente ocuparam a política, a administração do estado e os serviços continuam irreflectidamente de cabeça erguida sem ter de dar contas a um povo que apenas pressente a decadência mas já não tem espinha dorsal nem entendimento para saber o que quer nem o que se passa.

Assim, nas últimas duas gerações as crianças e a juventude foram abandonadas a si mesmas e confrontadas com formas autoritárias desautorizadas num ambiente lascivo de desinteresse. É notória a falta de participação interior. A vida agora acontece na rua, na ágora onde o que vale é a máscara. Em nome da liberdade querem-se “boys” e másculas. A sociedade civil, também no caso de Portugal, erradamente para se auto-afirmar, desautoriza a disciplina e as autoridades, mete no caixote do lixo da história indiferenciadamente autoridades e atitudes autoritárias. Ao fim e ao cabo trata-se duma sociedade experimental em que todos reagem sem saber porquê nem entender bem para quê.

É óbvio que uma educação integral e equilibrada não poderá deixar de apontar para as atitudes autoritárias nas formas de trato ou de governo, não se limitando a difamar sistemas e pessoas. Todos eles têm aspectos positivos e negativos independentemente do seu carácter manifesto ou axiomático. A atitude é formada através da experiência no currículo de cada um, não havendo uma explicação monocausal para a realidade social e individual como pretende a ideologia.

A educação terá de ser desideologizada e passar a ser assistida por uma ciência ainda a emancipar-se do pensar correcto do tempo, para, no encontro e reconhecimento do indivíduo como ele é, – no seu ser “bom” e “mau” – , possibilitar o estímulo das potencialidades no processo de desenvolvimento. Na educação é necessária uma discussão sobre o equilíbrio entre o carácter individual e social e entre as relações família e estado. Paradoxalmente o Estado liberal adoptou certos vícios dos sistemas marxistas sendo os consequentes defeitos já palpáveis no estado doentio em que se encontra a família e concludentemente a sociedade.

Revolta – o factor constitutivo de identidade
Para o educador a dificuldade estará em manter o balanço entre obrigação e liberdade. Não há caminho para a liberdade sem catarses nem subordinação. O educando terá de reflectir e dar-se conta do seu ser condicionado. A subordinação à vida no reconhecimento das suas leis não significa a abdicação de ser para a liberdade mas sim o desenvolvimento da consciência no sentido de integrar em si o todo sem permanecer rebelde, o que, neste caso, significaria uma emancipação desintegrada, superficial e anómala contra a realidade de se ser ente interrelacionado. O ser humano não é só espírito, ele é também matéria, muita matéria em processo de espiritualização.

O adolescente para concretizar o corte do cordão umbilical tem de se tornar resistente e mesmo de se revoltar, tal como fizeram Adão e Eva no processo de passagem ao estado adulto. A revolta está na essência do ser humano, a auto-afirmação perante o ambiente e a norma. Só assim se chega à própria identidade, doa ela ao ambiente, à ideia de Estado ou de Deus! A tendência de impedir a revolta em vez de a reflectir é uma reacção egoísta e exploradora por parte da sociedade e do educador de reacções primárias. Pais e professores devem estar preparados para aceitarem a revolta adolescente. Estes é que são as pessoas de relação, da autoridade, ocasionalmente representantes da proibição do comer da árvore proibida mas que transmitem ao vivo princípios morais comuns e valores como solidariedade, respeito, honestidade, afecto e responsabilidade na liberdade.

O educador tem um certo adiantamento no que respeita ao valor de certas experiências e potenciais aquisições, bem como na avaliação dos talentos e inclinações do educando. O educador consciente aprende também ele, no contacto directo com o educando, a distanciar-se dos próprios desejos e projecções no respeito pelo formando que é um original único. Não lhe pode aplicar uma forma pré-idealizada. Decide-se em diálogo, mas uma vez iniciado o caminho não se cede à primeira resistência.

No diálogo e na abertura, pode-se não saber exactamente o caminho mas na caminhada comum vão-se tornando claros os passos a seguir. Na provisoriedade, o adulto porém sabe que o que propõe é bom para o adolescente. Como adulto sei que há coisas positivas e tenho de dar segurança ao filho ou ao aluno. Essa segurança é porém dinâmica e processual, até porque o adulto não é nenhum produto acabado, e a educação é processo dinâmico.

A função do educando é dolorosa, é um processo maiêutico porque por um lado não pode abandonar o adolescente a si mesmo e por outro não deve impor a sua ideia. Educação é um sistema que envolve as duas partes em crescimento recíproco de maturação na caminhada educativa conjunta de relação e ressonância, progredindo as duas partes na experiência, não dependentes de ideias mas abertos à fantasia. Como caminhada comum há diferentes fases a transcorrer.

Concorrência entre os parceiros
Um problema é a concorrência entre a intervenção do Estado que a partir dos 16 já permite o consumo do álcool e do tabaco, além doutros direitos por que se não responsabiliza. Independentemente da função protectora do Estado, este intromete-se demais entre a criança e os pais, entre alunos e docentes. Muitos educadores para não entrarem em conflito com interpretações da lei desinteressam-se e abandonam os educandos a eles mesmos.

Na escola, como posso observar na minha actividade docente, muitos adolescentes já esperam com ansiedade por cada etapa para poderem dar-se aos excessos que a lei lhes permite, numa atitude de auto – afirmação perante os educadores e os colegas. O legislador tem uma perspectiva errada ao partir da ideia de que há um método de introdução ao consumo do álcool ou do sexo que conduza automaticamente à aprendizagem do trato regrado do mesmo. Uma escola que se limite a ensinar coisas não compreendeu o essencial que é ensinar e viver o sentido delas.

O problema põe-se sob o ponto de vista do desenvolvimento psicológico do adolescente no aferimento da experiência a fazer com a sua maturidade. Logicamente a vida é, em grande parte, o resultado de experiências e ao fim e ao cabo cada um é o resultado das suas. Isto porém não justifica a conveniência de uma experiência qualquer. Dado que cada pessoa é diferente torna-se quase impossível situar o ponto da sua maturidade para cada acção a desenvolver no seu currículo. Ensino – aprendizagem é um processo dinâmico na abertura para a liberdade.

Aqui encontramo-nos numa encruzilhada sem sinais de trânsito. A questão situa-se a nível de legitimação dos critérios de maturidade, e autonomia. Nisto cruzam-se interesses familiares, escolares, individuais, políticos, económicos e ideológicos muitas vezes em concorrência. O fenómeno torna-se mais complicado quando um estado pretensamente democrático faz tudo por tudo por manter o monopólio do ensino escolar. Isto contraria o princípio democrático e o princípio da liberdade de ensino e da liberdade de sistemas e de indivíduo.

Educar é ensinar a aprender
A educação quer possibilitar a estabilidade de auto-consciência no educando de maneira a este poder resistir com eficiência às contrariedades do dia a dia e do ser. Para isso precisa da confiança e dum espaço próprio onde se possam abrigar e recuperar forças para encarar os novos desafios. Naturalmente que o adolescente, perante as nuvens ameaçadoras do mundo adulto que repudia, poderá ter a tendência a regredir ao seio materno onde a protecção é meramente maternal ou ao seio de grupos afins. A questão a pôr será – qual o lugar de protecção será melhor: o escolhido pelo adolescente ou o oferecido pelo educador…

Os jovens encontram-se desprotegidos perante um mundo meramente mercantil que apenas está interessado em ganhar dinheiro com as suas necessidades. O Estado, por seu lado encontra-se sobrecarregado sendo inapto para a tarefa que assume por estar sujeito à ideologia de quem assume o governo e por leis de mercado a que o Estado se obriga. Tanto a configuração dos estabelecimentos de ensino bem como pedagogias e didácticas não se encontram em conformidade com os nobres objectivos do ensino em geral. Há um precipício entre a realidade e as intenções dum estado isento. Neste sentido o Estado mais que interessado em que o educando aprenda a aprender está empenhado em conduzi-lo. Por isso está mais empenhado em que o aluno aprenda coisas do em que ele compreenda o sentido delas. As últimas medidas do ME em relação à avaliação dos professores apontam mais para que os alunos andem na escola a aquecer os bancos da escola do que em que saiam delas capacitados e habilitados para a vida. Quer-se uma democratização da incompetência, apesar dos resultados das investigações PISA que documentam o estado catastrófico do nível dos nossos alunos. Educar, mais que ensinar a prender, é um processo mútuo de aprender a aprender, doutro modo constroem-se mundos paralelos: o das ideias e o da prática.

Pedagogia dos anos sessenta e setenta em função da política
A pedagogia dos anos 60 e 70 sonhava com um lugar de protecção para o indivíduo em que este, longe do medo, conseguisse experimentar e experimentar-se. Esta ciência pedagógica surgiu da reacção contra o fascismo e contra a tradição.

Queria-se uma educação em liberdade, uma nova sociedade correctora daquela que tinha levado às guerras europeias. Contra o tabu da tradição cria-se o tabu do novo, do progresso, em contra – afirmação. Acredita-se ingenuamente ou funcionalmente na verdade e na liberdade. Ao querer-se um ser humano livre como um passarinho esqueceu-se que este também tem ninho e está sujeito à assistência dos pais…

Na luta por impor novos ideais sociais para criarem uma sociedade civil secular, desvalorizaram os rituais religiosos e familiares da configuração do dia e da semana (refeições comuns e liturgia semanal) sem criarem rituais seculares substitutos. A autoridade foi questionada como se ela fosse um impedimento ao desenvolvimento. A autoridade do professor foi sistematicamente minada, questionando-se o seu carisma, submetendo-o a práticas protocolares para assim o desvincular do aluno e o tornar totalmente disponível para a ideia colectivista do Estado em voga.

(Ao contrário, a experiência de quem ensina confirma que o aluno manifesta respeito pela autoridade. Esta prática pude fazê-la já bem cedo em Bragança nos anos 71-73. No meu primeiro ano de estágio como professor procurei aplicar as teorias aprendidas na psicologia e pedagogia anti-autoritária (A.S.Neill, Virgínia M. Axline, Wilhelm Reich, Paulo Freire e outros ) introduzindo também o tu no trato entre professor e aluno. No fim do ano confrontei-me com o meu descontentamento e com o descontentamento dos alunos. No ano seguinte adoptei o método baseado na psicologia do desenvolvimento da personalidade e do comportamento de Carl Rogers tendo-se patenteado então grande sucesso e contentamento por parte de toda a comunidade escolar. O colégio era um internato e externato ao mesmo tempo com alunos internos de bom quociente de inteligência que provinham de meios degradados do Porto e de Coimbra. A estes era-lhes proibido sair do colégio sem acompanhamento atendendo ao perigo de fuga e outros. Facto é que, no segundo ano, a estes alunos já lhes era permitido passear por Izeda sem a contínua presença do professor monitor.)

Nos anos sessenta e setenta a pedagogia e a psicologia deixou-se obcecar pela ideia de liberdade individual procurando explicação para todos os maus sintomas individuais do jovem e da criança na malfazeja educação dada por pais e instituições. Isto vinha de encontro aos interesses da política que queria pôr a família e o indivíduo sob a sua tutela. Via-se nas famílias e na sociedade, que tinham sido responsáveis pela história trágica europeia, os malfeitores a combater. Na escola deu-se o mesmo processo. Ainda hoje se cede à tentação de reduzir a disciplina de história a uma disciplina de pedagogia. É enjoativa a maneira como se assiste a acções de formação para professores em que a ideologia é bebida imperceptivelmente por docentes desatentos. Uma pobreza franciscana entre pessoas todas bem intencionadas!… Seria de chorar se não fosse tão divertido!…

O mesmo se pode observar na tendência de acabar com a disciplina de Filosofia nos cursos do ensino complementar. Querem-se pessoas dóceis ao sistema com capacidade para terem opinião ideológica mas com incapacidade crítica para as questionar.

Assiste-se ao costumado jogo do rato e do gato. Questiona-se a problemática em termos de gerações o que leva a culpabilizar os mais velhos desautorizando-os. O processo ideológico da era sessenta era tão radical que envolvia todos os sectores do saber. Por outro lado a geração pós-guerra acumulou tanta riqueza na Europa central que o optimismo económico não deixava momento para se questionar a prática social.

A prosperidade fomentou uma moral longe da realidade humana, uma moral para meninos-bem filhos de pais com cargos, uma atitude irresponsável e leviana de que hoje todos sofremos.

Facilmente a reacção contra uma sociedade monolítica impeditiva de qualquer emancipação justificou oposição tão exagerada deslegitimando toda a autoridade legítima ou ilegítima.

Tal, como confessa Daniel Cohn-Bendit instala-se contra a ideologia autoritária a ideologia anti-autoritária questionadora não só da autoridade como também da ordem social.

O sonho do movimento anti-autoritário era conseguir uma forma política geralmente de cunho marxista que se impusesse por ela mesma, tornando a autoridade supérflua. Um sonho que também eu sonhei mas que não passa duma utopia. Importante é a abertura à experiência como factor corrector, pressuposto difícil para caracteres obsessivos. A experiência mostra que a legítima aspiração e exigência do ser humano para a autonomia e independência terá de acontecer numa dinâmica entre o indivíduo e a sociedade não podendo aquele viver sem esta.
O desenvolvimento é doloroso mas, nessa dialéctica, a supra-estrutura deve reconhecer na autonomia e individuação de cada membro o seu mais elevado motivo e fim.

A palavra anti-autoritário desapareceu da ciência pedagógica, permanecendo porém o direito à revolta. Seria óbvio que esta revolta passasse a ser um direito humano que assiste a toda a pessoa. O direito de tudo questionar mas não como ideologia ao serviço dum sistema político ou social, tal como acontece no pensar correcto estabelecido. Todo o pensamento deve ser corrigido pela vida.

A revolta porém não pode ser arvorada em bandeira ou no direito do adolescente perturbar a aula e não respeitar o docente. O aluno tem, no sistema escolar, meios de recurso e de auto-defesa institucionalizada.

A dificuldade é que o Estado não cria as infra-estruturas escolares com um mínimo de pressupostos para que a turma ou conjunto de turmas dum nível escolar tenham um desenvolvimento sadio numa comunidade escolar coesa. O Estado confessando-se embora democrático tem uma prática antidemocrática. Ele desresponsabiliza o indivíduo logo à partida, no seu processo de formação, considerando apenas a turma e o professor como aplicador dum programa rígido superiormente ordenado.

A auto-suficiência dos professores é geralmente questionada por uma política que não aceita o erro no seu sistema. Isto independentemente de haver muitos professores sem vocação para a profissão que exercem ou que foram obrigados a perder a aptidão que inicialmente tinham.

Numa sociedade que se quer terreno de construção não são aceites valores nem o cultivo da tradição. Antigamente dava-se importância à aprendizagem de muitas virtudes, entre elas a das boas maneiras. Uma estética do trato anteriormente aprendida também na escola tendente a formar personalidades é hoje vista como teias de aranha do passado a remover. Cortesia cheira a corte, a monarquia, a princípios. A virtude reduz-se a palavra arcaica e certos valores pelo facto de terem sido abusados na sociedade tradicional são agora vistas como impedimento ao desenvolvimento e à implementação do novo regime. Obediência cheira a burguesia, hoje quer-se subserviência. A virtude todavia é o meio de dois extremos o que proporciona um bom termo de orientação. Cortesia significa tomar o outro em consideração. Isto vai naturalmente contra a centralização no ego o que não agrada à ideologia anti-autoritária. O problema da pedagogia de ontem e de hoje permanece o mesmo: fazer da civilidade adestramento. De resto ainda resta a questão dos destinatários da educação: a mediocracia ou o precariado…

É um equívoco condicionar a liberdade do adulto à liberdade da criança como queria Rousseau e um certa tendência da psicoterapia. O problema da sociedade de hoje é que tem pedagogos a mais e personalidades a menos.

O desenvolvimento da história acontece de forma pendular de um extremo para o outro sobrevivendo sempre o meio-termo. Cada biótopo social precisa duma outra pedagogia dado esta ser relação, caminho em conjunto e este implicar encontro, identificação, compaixão.

Numa sociedade cada vez mais fria e mais sujeita à lei do mercado torna-se cada vez mais carente, mais carente também de certas virtudes de que já não se faz ideia hoje. Para reconhecer e respeitar a juventude é preciso conhecê-la primeiro e entender o seu ambiente. Um pressuposto para o desenvolvimento será abandonar a forma de pensar orientada para os problemas substituindo-a por um pensar orientado para as soluções.

António Justo
Pedagogo
“Pegadas do Tempo”

António da Cunha Duarte Justo