Juízes no papel de maus pais

Um Dia Negro para o Supremo Tribunal da Justiça

Uma educadora acusada de maltratar menores deficientes com palmadas nas crianças e de as fechar em quartos escuros quando se recusavam a comer, foi absolvida pelo Supremo Tribunal da Justiça em Portugal. A decisão do tribunal é questionável. O fundamento da decisão é vergonhoso e anacrónico. O tribunal parece partir do equívoco de que poder, força é igual a direito, justiça
O tribunal abusa do direito ao recorrer a uma generalização ofensiva para muitos pais portugueses para justificarem a sua decisão, com como se vivêssemos numa sociedade repressiva, no Portugal do século XIX. O Supremo Tribunal ao legitimar castigos corporais com argumentos pedagógicos duma “ pedagogia negra” esquece o direito à dignidade da pessoa humana, ignora a psicologia da criança e não tem em conta a sua honra.
O acórdão do Supremo tribunal vai longe demais ao afirmar: “Qual é o bom pai de família que, por uma ou duas vezes, não dá palmadas no rabo dum filho que se recusa a ir para a escola, que não dá uma bofetada a um filho…ou que não manda um filho de castigo para o quarto quando ele não quer comer?” O Supremo perdeu uma boa ocasião para estar calado. Não se trata aqui de se defender uma pedagogia repressiva ou permissiva. Aqui estarão em questão o ânimo leve com que se argumenta, uma mentalidade problemática, a falta de informação de profissionais que nas suas decisões deveriam recorrer ao parecer de peritos.
Bater é grave. Bater no rabo pode conduzir a fixações sexuais ou levar a crónicas tensões musculares e mais tarde a sofrimento de dores nas cruzes e a perturbações sexuais. O rabo está em relação com o sexo. A reacção de contracção do rabo por medo tem consequências psicossomáticas.
A decisão está na linha de comportamento do bater porque tem que ser sem considerar as más consequências que daí advêm.
Uma criança, e mais ainda, uma criança deficiente mental não vê a conexão entre o seu agir e o castigo. Pais e educadores que se vejam na necessidade de castigar deveriam primeiro reflectir se essa necessidade lhes vem da raiva, da vingança ou da fraqueza. A maior parte das vezes actuam sob o sentimento da raiva ou da vingança. Os castigos têm um valor muito limitado porque a crianças não reagem por compreensão mas por medo. Uma criança em situação de castigo não reflecte, apenas reage emotivamente e sente o sentimento do castigador. Por isso o castigo não pode actuar adequadamente. Em vez de se castigar deve-se levar a criança a sofrer as consequências do seu agir. Quem se recusa a comer não deve tomar alimento até à próxima refeição.
O castigo fomenta o medo e até a teimosia e pode reforçar a atitude porque a criança através do castigo cria uma relação com o educador. O educador, ausente e ignorador do outro, passa assim a estar presente embora de forma negativa. A dedicação negativa é melhor que nenhuma dedicação.
Certamente que já observaram a cena em que amigos ou familiares adultos se divertem e conversam à mesa esquecendo-se das crianças ao lado. De repente uma criança deixa cair um copo sem querer. Os adultos reagem mal, criticando ou compreendendo. Esta acção inconsciente da criança pretende castigar a atitude dos adultos que a ignoraram. Estes porém, em vez de compreenderem a intenção que está por baixo daquela acção, reagem só emotivamente ao castigo sem compreenderem a mensagem que estava naquela acção. Tal como o copo que caiu sem intenção também o comportamento indesejado, por exemplo, mentir roubar, fazer xixi na cama, agressividade, etc. tem sempre motivos inconscientes. A atitude das crianças que actuam inadaptadamente têm um sentido mais profundo e por isso o castigo é, em princípio, inconveniente. Castigos são de uma maneira geral desresoponsabilizadores para as duas partes. Em vez de proporcionarem um relacionamento pessoal e de levarem ao auto-domínio fomentam o distanciamento e a superficialidade. Ninguém se leva a sério. Isto tem consequências catastróficas para a nossa vida social. Não se age, apenas se reage! O mais forte leva o outro apenas a calar mas depois de ter perdido a razão. Passou-se a uma relação de objecto-objecto, contra qualquer identificação. Da situação surge apenas a experiência de que força e direito se identificam. O verdadeiro educador prescinde da força. Esta despersonaliza e provoca agressividade ou hipocrisia ou uma sociedade de adaptados de potencialidades criativas apagadas. O mau educador reage ao acto mas não à verdade que está por trás desse mesmo acto. A criança sente-se abandonada e incorrespondida. Educador e educando assumem os papéis de objectos que não os de sujeitos. Segue-se uma cadeia de reacções despersonalizadoras. As crianças refugiam-se no seu cativeiro da imaginação, da solidão…e reagem segundo a sua personalidade e a sua relação com os interlocutores. O amor e a estima, fundamento de toda a educação são ignorados. O amor e a admiração adquirem-se por identificação e não por castigo. Dão-se por internalização e imitação das atitudes e dos valores do outro, compreensão.
O infractor procura atenção que só pode ser mantida no diálogo. Uma educação adequada pressupõe uma consciência forjada não no medo mas na confiança, na autodisciplina e na própria dignidade. O educador tem de partir do princípio de que o educando actuou como actuou porque pensava agir bem. Há imensas razões para agir assim. Talvez tenha sido levado mais por um sentimento do que por uma razão esclarecida. Para fomentarmos a voz da consciência na criança temos que seguir as pegadas ténues da razão e esta acontece longe de qualquer afectividade e na resistência à cólera própria que turva a nossa capacidade de juízo. Esta forma-se sem moralismos, sem sermões nem exigências inoportunas e fora do lugar e do tempo, no distanciamento aos próprios medos e receios em relação às potencialidades futuras. A cólera do educador e o medo do educando embora irmanados no mesmo equívoco desencaminham e não reagem a argumentos. Para a criança chega-lhe o peso do presente não estando aberto ao futuro; o educador sucumbe ao peso do futuro não compreendendo o presente.
O educando procura muitas vezes o castigo inconscientemente por sentir que os educadores não o amam suficientemente. Para educadores a pena serve para descarga da cólera, de sentimentos negativos e de sentimentos de culpa e de frustrações. O castigo desobriga o infractor conduzindo ao equilíbrio entre pais e filhos, entre educadores e educandos. O medo do castigo evita e reprime o sentimento de culpa e os remorsos de consciência, os verdadeiros meios de escaramento. Por um lado o castigo liberta ou cria reconciliação por outro lado faz parte dos actos convencionais que levam as pessoas a não se levarem a sério e a estabelecerem um relacionamento impessoal (embora de carácter emocional positivo ou negativo).
O exemplo de vida dado pelos familiares ou educadores e a confiança neles são fundamentais para a determinação da educação. O educando sabe que o grau de amor dos educadores depende também do seu comportamento e de desenganos. A criança não quer renunciar ao amor pondo-se na disposição de mudar. O distanciamento corporal temporário dum educador dá tempo para reflectir e tem grande efeito no educando. Aqui os pais não castigam mas sentem amorosamente. A privação (pouco tempo) momentânea de amor (distanciamento local da pessoa para que as duas partes dominem os seus sentimentos negativos) é extremamente efectiva porque se realiza na manifestação de sentimentos feridos. Aqui a criança recorda a nível inconsciente o medo da separação dos pais no período de aleitação movendo nela mecanismos compensatórios e reacções gratificantes. Cada um, educando e educador é um ser condicionado às necessidades interiores e inconscientes. Muitas vezes os educandos pagam a factura de incapacidades, insatisfações e fracassos da vida.
Louvor, como manifestação de amor e simpatia em combinação com a privação momentânea de amor são os melhores meios de educação e tornam o castigo supérfluo. Aqui funciona a relação pessoal de Eu-Tu-Nós e não a de pseudosujeito-objecto. Todos nós somos mendigos de amor e alérgicos à crítica e ao castigo. O amor cria proximidade corporal e afectiva.
A falta de objectividade e de distância emocional e talvez a falta de pessoal e de formação profissional serão motivos para desculpar a educadora em causa. A compreensão duma situação não pode porém acontecer à custa da outra.
Neste julgamento do Supremo Tribunal tenho a impressão que os juízes se comportaram como bons pais para com a educadora e argumentaram emocionalmente em desfavor da criança tal como fazem maus pais.
Ama verdadeiramente e então podes fazer o que quiseres!

António da Cunha Duarte Justo
Pedagogo e teólogo

António da Cunha Duarte Justo

As Relações entre os Estados Unidos da América e a Europa – Dois continentes num só destino!

O que a Europa deveria aprender da América e vice-versa
O Medo da Guerra leva à Guerra do Medo.Nada fácil o papel dos Estados Unidos da América no Mundo. Nos países árabes os EUA são vistos como o reino do diabo, na América Latina e na África como opressores; na Europa como rivais e imperialistas. Apesar da Alemanha ter sido libertada e economicamente apoiada pelos americanos verifico no povo e nos alunos grande afectação contra os americanos e grande aversão contra Busch.
Naturalmente que Busch não ajuda nada a desfazer preconceitos e os media só espalham o problemático. Dá-se uma instrumentalização de Busch para efeitos políticos internos e um aproveitamento político do terrorismo, mediante uma explicação mono-causal que apresenta os atentados apenas como consequência da política americana. Com Ângela Merkel no governo talvez o clima se mude um pouco.

Identidade nacional à custa da promoção de preconceitos?
A identidade europeia não pode ser fomentada à custa da promoção de preconceitos contra os americanos. Esta necessidade de identidade europeia, os exageros do governo de Busch e o azedume duma esquerda que viu derrubados os seus sonhos do real-socialismo parecem justificar a aversão propagada contra os EUA. A coligação Verdes/SPD alemã alimentava-se da aversão contra a administração americana ao querer ganhar perfil perante a oposição e perante os países europeus. Em contexto de coligações internacionais de futuro seria miopia para os estados europeus e para os USA uma política rival.
No povo, quase toda agente se sente perita em questões americanas atribuindo todas as atrocidades a Busch no Iraque ou à sua guerra contra os terroristas. A referência às atrocidades de Saddam Hussein que, entre outras, mata, com armas biológicas, 5.000 curdos em 1988 é referida à margem e contra a vontade. (Naturalmente que a guerra nunca é justificável! Nem a do Cossovo nem a do Iraque!). Por outro lado conduzem a argumentação sem referência aos terroristas como se estes fossem pobres diabos que agem em legítima defesa; conduzem a discussão como se vivêssemos num espaço vazio sem necessidade de dar resposta para a solução dos problemas.
Islamistas resolvem todos os problemas internos atribuindo a culpa ao Ocidente. Sentem-se cronicamente ofendidos pelo mundo ocidental. Nunca se viu, porém, que a Umma se pronunciasse contra o barbarismo nas suas fileiras, nem aplicasse penas justas aos autores de atentados. O ignorar estes e outros factos na argumentação justifica indirectamente o terror.
Para contrabalançar tanta agressão contra os agressores agredidos, vou mencionar, neste texto, aspectos esquecidos e que nos podem levar a uma discussão mais equilibrada sobre os americanos. Sou do parecer que os grandes destinos da Europa para se tornarem realizáveis estão condicionados a uma estreita relação e colaboração americano-europeia e a uma redescoberta da filosofia e da tradição dos valores judaico-crisãos.

A Quarta Guerra Mundial
A 9.11.1989 deu-se a queda do muro de Berlim depois duma revolução pacífica no seio de alguns povos do leste europeu. Com este acontecimento dá-se o fim da terceira guerra mundial que foi a guerra-fria. Com o desfazer-se da cortina vermelha encerra-se propriamente um século violento, mesmo brutal na Europa e esvanecem-se ao mesmo tempo os sonhos do socialismo marxista, o que provoca, por outro lado uma grande instabilidade mundial. Por toda a parte surge então o fenómeno da guerrilha armada e intelectual. Dos antigos dois blocos resta apenas os EUA como centro de referência para a guerra e para a paz.
Enquanto que a Europa, para já, se encontra pacificada a nível regional, a América encontra-se desde 11.09. 2002 em guerra, devido ao traumático atentado às suas torres, símbolo do poder ocidental. Com o 11 de Novembro começou a quarta guerra mundial. (1)
Os Americanos desejam que os Europeus se tornem aliados de guerra contra o terrorismo. A Europa vivendo já as consequências da guerra cultural no medo e na contenção da opinião, apesar dos atentados de Madrid e de Londres prefere não falar de guerra, prefere a incerteza e a ingenuidade do não saber. Domina ainda uma atmosfera criada pela geração de 68 que legitima, em grande parte, tudo o que leve a desestabilizar a civilização ocidental.
A América plural consegue ser um país de consenso, ao contrário da Europa. Na América não há oposição contra o orçamento para a defesa que é o maior. A nação é orgulhosa da sua potência. A experiência dos Estados Unidos, depois das guerras, foi, duma maneira geral positiva. Na Europa, a experiência, depois de tantas guerras sangrentas, é contrária. A cultura da recordação bélica está muito presente, em especial a das duas primeiras guerras mundiais. Estas tornaram a Europa depressiva, insegura, desorientada e descrente. Estrategicamente continua encostada aos Estados Unidos da América mas na alma dividida entre socialismo e capitalismo. Se a América vive voltada para o futuro a Europa vive voltada para o passado. Se a cultura americana é uma cultura de esperança, a cultura europeia cultivada na praça pública é uma cultura do medo, da culpa e do ressentimento. A Europa cada vez se distancia mais da tradição universalista judaico-cristã.
A América permaneceu uma nação religiosa. Religião e liberdade andaram sempre de mãos dadas; nunca houve uma religião de Estado, também nunca houve o laicismo nem o anti clericalismo. Nos USA as religiões, comunidades religiosas, vivem na e da concorrência, tendo cada uma que se esforçar pelas graças dos seus clientes. À sexta-feira os parques de estacionamento estão cheios à volta das mesquitas muçulmanas; ao Domingo dá-se o mesmo nos parques ao lado das igrejas cristãs. A emancipação dá-se com a religião. Ao contrário na Europa o movimento de emancipação deu-se contra a religião e contra a igreja. De lembrar as lutas jacobinistas na Europa, o laicismo e as lutas religiosas. Nos Estados Unidos há uma separação institucional entre Igreja e Estado mas na vida as pessoas são religiosas. Na Europa, a sociedade livre é de maneira geral materialista agnóstica, ateia ou militante contra o cristianismo. Tenham-se presentes os objectivos dos iluminados da revolução francesa. Na USA há uma consciência religiosa civil. Todos os seus presidentes eram religiosos, enquanto que na Europa ministros da esquerda se negam a aceitar a referência a Deus no acto de juramento (ex. Chanceler alemão Schröder). A Europa tem uma identidade mais instável. Aqui sociedade civil e sociedade religiosa concorrem em vez de darem as mãos.

A Reeducação dos Povos no Sentido da Democracia
76% dos americanos deseja ver a América na chefia do mundo. Os americanos vêem a liberdade como uma oferta de Deus e sentem-se orgulhosos pela sua democracia que é o centro de atracção de pessoas de todo o mundo e um exemplo da convivência de raças e religiões sob a identidade americana. Assim têm uma relação positiva e gratificante com o sentimento patriótico. Os americanos querem liberdade, prosperidade e bem-estar para todo o mundo. Esta deve ser alcançada através da democracia em todo o mundo. As democracias não fazem guerras umas às outras! São contra o fascismo islâmico e contra as monarquias autocráticas. Embora geneticamente não tenhamos sido criados para sermos democratas os americanos acreditam na reeducação, e sentem-se confirmados com o sucesso obtido na reeducação do povo alemão. Querem exportar a democracia como os portugueses queriam exportar o cristianismo para as novas terras a descobrir.

Política de Imigração Inteligente nos USA
Enquanto a América continua a crescer em termos económicos e de população, a população europeia diminui e duma maneira catastrófica. Enquanto que a América recebe os imigrantes de países cristãos, sem problemas de identidade, a Europa recebe os imigrantes dos países islâmicos, tornando a sua identidade cada vez mais instável, atendendo que estes não se tornam europeus.
A América é uma sociedade de proprietários. Aí os imigrantes integram-se. 48% dos latinos têm casa própria e os chineses têm quase a mesma percentagem de casas como os americanos.
A emigração para a Europa é, em grande parte, uma emigração para as instituições sociais ou para serviços desqualificados, criando a concorrência a nível das camadas mais baixas da sociedade. Aqui a burguesia é a única que é servida com a imigração, podendo usufruir de criadas de servir baratas, de clientes nos consultórios médicos e nos consultórios dos advogados; com a imigração também os assistentes sociais e os professores têm mais lugares de emprego. Não há uma consciência de nação. Os partidos conduzem um discurso mais partidário do que nacional. Enquanto que uma direita está mais interessado na assimilação a esquerda fomenta mais uma política do gueto baseada na defesa de direitos de culturas estrangeiras à custa dos direitos individuais. (Um exemplo: na Alemanha as meninas muçulmanas são dispensadas de aulas de ginástica pelo facto de estas serem mistas). A imigração também é instrumentalizada como compensação duma política anti-família. Uma ideologia internacionalista, aliada aos interesses imediatos capitalistas, usaram-se dos imigrantes para os seus fins económicos ou ideológicos. Uma esquerda sonhadora ressentida contra a nação apaixona-se pelos estrangeiros na praça pública mas deixando-os sozinhos na vida, entregues à família e a quem aparecesse. Não estavam interessados em cidadãos mas sim em clientela. Irresponsáveis fomentam e defendem uma imigração de forma descontrolada. Em vez de apoiarem os imigrantes individualmente ou de seguirem uma vocação de solidariedade internacional com a camada proletária, mediante a transferência de capital e tecnologia para os países pobres ou exploradores de pobres ajudam a estabilização de regimes injustos dando guarida a incómodos ou a pobres desses países. Por um lado ajudam incondicionalmente os regimes a oprimir o povo com o apoio e a venda de tecnologia e por outro, para disfarçar a culpa fomentam o refúgio a exilados. (Recordem-se os apoios alemães e franceses com a venda de tecnologia, até bacteriológica que Hussein empregou para liquidar o povo curdo, por outro lado recebem-se de braços abertos os curdos perseguidos). Numa Europa em que os partidos não têm um sentimento patriótico aberto mas ideológico como querem os mesmos políticos que os estrangeiros se identifiquem com a nação? Um contra-senso, uma hipocrisia! Na América há uma multicultura que funciona. Lá os políticos dos vários partidos primeiro são americanos; só depois são republicanos, sociais-democratas, etc. Neste ambiente um latino sente-se latino com identidade americana. Todos os povos imigrados, mesmo os irlandeses e alemães se integraram. Na Europa é urgente a intercultura e não a multicultura, atendendo à realidade europeia com uma cultura da luta cultural (Kulturkampf).
Um dos fundamentos do progresso americano é o seu espírito criativo e religioso
A América cada vez está mais conservadora e afirma-se no cultivo de valores conservadores que a mantêm à frente do mundo. (Uma espécie de meio-termo num mundo retrógrado!) É interessante que um país conservador faz mais pelo progresso do mundo e dos povos do que os apologistas de políticas proletárias e do que os países do real-socialismo falido. Parece estranho mas na América o aborto é considerado assassínio. O democrata Clinton fala da tragédia do aborto. Se a mulher diz que a barriga é dela, então o Estado não a protege. É curioso que o presidente Busch tenha tido mais votos dos pretos e mais votantes católicos do que o presidente católico (Clinton). O aspecto religioso dos americanos torna-se visível na sua orientação para o futuro. Ninguém se envergonha de estar desempregado. Por outro lado a economia de mercado americana é mais viva do que a europeia. Os americanos são mais anárquicos. Ao contrário dos europeus os americanos vêm o governo do Estado como uma parte dos problemas e não como sua solução. Até 2040 as caixas de reforma contam com saldo positivo enquanto que na Europa, devido ao envelhecimento da população, se conta com grandes problemas; na Alemanha já querem a reforma a partir dos 67 anos e daqui a 20/30 anos a reforma passará a constituir apenas 45% do ordenado regular!
Aos Europeus falta-lhes o realismo: os políticos europeus já fazem festa quando verificam que o seu avião com patente europeia consegue voar!…
A Europa tem naturalmente uma via mais pacífica e mais social para as camadas sociais mais carenciadas. O caminho porém terá que passar pela restituição da alma europeia ao povo europeu. Um povo sem alma perde a sua identidade e destrói-se com o tempo. Não chega só viver o dia a dia nem o ressentimento relativamente ao passado, para se dar resposta às necessidades dum povo. O povo precisa de pão e dão-lhe ideologia. Também não é necessário que todos se confessem anualmente ou que vão à Igreja aos domingos. Importante é que descubram a sua dignidade de povo digno, de homens livres e não de escravos seja de qual ideologia for, seja de que poder for. Na sociedade cristã não pode haver escravos, só há filhos, só há irmãos; ela não conhece apenas os sócios, os camaradas, os parceiros accionistas; todos são próximo. Todos fizeram erros, igrejas, estados, ideólogos e políticos. Não se trata de dividir valores ou de os marralhar. Todos são necessários numa Europa reconciliada a construir numa tentativa de nos tornarmos mais Homens, mais sociedade, diria mesmo uma comunidade, uma comunidade de vida partilhada a todos os níveis, no respeito pelas ideias e formas de vida.
A Europa só tem hipótese no futuro seguindo o caminho da reconciliação entre o povo europeu e o americano. O problema é que algumas potências europeias ainda se dão ao devaneio de cultivar o anti-americanismo, motivo de orgulho e galhardia que não passa de miopia. O que é preciso é um diálogo crítico mas convergente. O SPD e os Verdes conseguiram ganhar consecutivamente duas vezes as eleições na Alemanha com propaganda anti-americana. Uma estratégia de auto-afirmação e de construção da própria identidade numa atitude antagónica perante os outros, ou na reacção do contra não é digna da herança judaico-cristã. Aqui tem dado bom exemplo a Polónia que não tem tido medo de se declarar amiga dos americanos, o que não implica abdicação da crítica. Os europeus são demasiadamente fracos para se poderem colocar à mesma altura nas relações de diálogo em mesa redonda com os americanos. Por outro lado são demasiado orgulhosos para seguirem o mesmo caminho. Os europeus não querem ser os polícias do mundo, querem apenas o proveito. O sub-servilismo europeu tem a ver com a sua dependência do petróleo obrigando a Europa a engolir cobras e lagartos nas relações com os árabes. Os americanos têm uma relativa independência do petróleo e são um povo jovem. Os europeus atormentam-se também com a má consciência no que respeita ao colonialismo. Qualquer discussão séria actual, na falta de argumentos, não abdica da difamação do passado europeu, aterrando sempre nas cruzadas ou no colonialismo. Perguntai a qualquer criança algo importante sobre a história. Não saberá! Em compensação não faltará um saber emocional sobre bruxas, as crueldades só dos cruzados e as barbaridades dos descobrimentos e colonizações. Enfim, a História ao serviço de ideologia contra a nação e contra o pensar judaico-cristao. A nação precisa mais de patriotas do que de ideologias. A luta contra o fantasma da Nação deveria já estar superada com umas aulitas de história sobre a época do absolutismo e das lutas liberais e sobre a guerra-fria entre o socialismo e o capitalismo.
O significado da luta das culturas
O terror islâmico constituirá o problema comum dos próximos quarenta anos (depois virá a China!). Ele é mais que a guerra dos pobres. Na Europa surgirão grandes problemas sociais atendendo a uma política irresponsável para com as camaradas jovens, à ingenuidade de camaradas e companheiros e a um turbo-capitalismo desumano. Uma contradição: este turbo-capitalismo global fará, porém, muito mais pelos povos pobres do terceiro mundo do que todos os programas de ajuda ao desenvolvimento que até agora se praticaram.
Os europeus andam à deriva seguindo o espírito da época. Mais nacionalistas que patriotas as nações europeias encostam-se à Europa, não por convicção mas por razão. Inclinados ao moralismo, invejosos do pragmatismo americano inclinam-se mais ao discurso elitista irreal na desconsideração de tudo o que é povo, falando embora em seu nome.
O problema do futuro para os americanos e para os europeus será o desenvolvimento da China que se arma cada vez mais podendo tornar-se potenciais parceiros ou adversários. Uma via possível do futuro não poderá continuar a ser a via dialéctica, a divergência entre as culturas, a rivalidade entre a Europa e a América, mas sim a via da convergência, da mística. A força judaico-cristã com a sua capacidade integradora e de aculturação poderá, numa nova redescoberta que passará pela mística, tornar-se a força motriz desta civilização, actualmente tão sem alma, sem um tecto transcendente. Então as nuvens negras que se descortinam no horizonte dissipar-se-ão e talvez a quarta guerra mundial se dissipe como a terceira, acabando-se então com os muros das culturas, como se acabou com o muro de Berlim.
Como mãe sem pai a Europa orienta o diálogo e os americanos fazem a política. Dialogam e oferecem conversações mas não têm nada para oferecer.
Os EUA e a EU terão que se unir no esforço duma política de normalização como foi feito com a União Soviética nos anos setenta. Só assim a guerra-fria das culturas poderá ser superada. Europeus e americanos têm de se tornar conscientes do seu papel civilizador no mundo. Uma cultura em que todo o ser humano passa a ser próximo e não rival.

António Justo
a.c.justo@t-online.de

(1) Esta guerra de culturas durará até que os países islâmicos dêem um grande passo em frente no desenvolvimento da sua sociedade, tal como aconteceu com a Europa no século 16. O humanismo Islão será provocado pelas classes intelectuais dos muçulmanos da diáspora, pela democratização do ensino nos países árabes, por uma certa independência dos países do ocidente, mediante uma política de promoção de energias alternativas ao petróleo. A verdadeira revolução islâmica será então levada a efeito pela mulher que acordará da longa letargia e obrigará a cultura árabe a reconhecer a mulher, a mãe-terra e assim criar um equilíbrio entre o princípio masculino e o princípio feminino. À sobra das lutas culturais entre a cultura ocidental e a muçulmana a China crescerá e afirmar-se-á. A Rússia entre a Europa e a China terá um grande papel nos desígnios do futuro.

António da Cunha Duarte Justo

1°. de Maio – Uma tradicao a preservar – Apesar dos vícios do sindicalismo…

O 1° de Maio é uma boa tradição. Hoje mais do que nunca se precisa de gente empenhada. Numa época em que a dignidade da pessoa se encontra em perigo porque o trabalho já não protege da pobreza e em que a pessoa é cada vez mais funcionalizada são preciso rituais que despertem e apontem para a realidade.
A comemoração deste dia tem o sentido de manter a recordação e de sensibilizar as pessoas para os direitos do trabalhador. O seu sentido provem do facto de se terem de fazer esforço por empregar pessoas e por melhorar as condições de trabalho.
Os sindicatos encontram-se apesar de tudo em crise, porque também elas estão em alguns sectores combalidas pelo mesmo vírus que corrói e corrompe instituições e sociedade. Os sindicatos são o reflexo da nossa sociedade e da economia que a domina. Antigamente o trabalho era determinado pela indústria, as grandes empresas e uma ligação vitalícia no mesmo trabalho e profissão. Hoje as pessoas trabalham em pequenas indústrias, no sector de serviços e em trabalhos dependentes inseguros ou mesmo em sectores de salários mínimos.Os sindicatos não conseguem atingir muitos destes trabalhadores ou encontram-se mesmo em concorrência com eles. Atravessamos tempos em que a luta parece ser entre os que têm um lugar de trabalho e aqueles que não têm nenhum.
Em tempos da globalização e de redução de salários é difícil para um sindicato impor tabelas de salário gerais para um país inteiro. O neoliberalismo quer dar mais direitos ao mercado à custa dos direitos do trabalhador. Em tempos da globalização porém seria importante que os sindicatos adquirissem tabelas salariais mais globais. Contra isto falam aspectos acima referidos, nacionalismos concorrentes e o próprio egoísmo dos altos funcionários dos sindicatos que constituem por vezes uma classe própria com interesses específicos e em situações privilegiadas desligadas dos filiados. (Eu mesmo posso testemunhar isto. Fui o fundador, com mais dois colegas, da secção alemã do sindicato dos professores no estrangeiro SPE / FENPROF e pude posteriormente verificar a politização partidária progressiva unilateral de pessoal mais activo e o aproveitamento político do sindicato que atraiçoou os interesses do ensino de português no estrangeiro à troca de postos administrativos para os seus funcionários mais oportunistas.) Há demasiada conivência entre funcionários sindicais e políticos. A mentalidade táctica e a estratégia de ocupação dos postos da administração pública com pessoal de dupla filiação (partidária e sindical) é um grande mal e prejudica substancialmente o bem comum e Portugal. Por vezes é mais seguida uma política de corredor proveitosa para políticos e funcionários sindicais mas prejudicial para os sócios em geral e para o bem comum. (Abandonei o SPE / FENPROF na procura dum sindicato mais dedicado à objectividade e aos interesses comuns e entrei no SNPL onde verifico ineficiência, desinteresse e inactividade).
Apesar de tudo precisamos de sindicatos, de sindicatos renovados. Antigamente um trabalhador podia exercer a sua profissão durante toda a vida. Hoje isso quase já não é possível. As pessoas são obrigadas à flexibilidade, têm que mudar várias vezes de empresa. As qualificações adquiridas já não chegam para toda a vida profissional o que terá como consequência a exigência duma nova política de qualificação. Hoje exige-se formação contínua e a vontade de aprender durante toda a vida.
As instituições padecem de falta de rectidão e de humanidade. Há situações tão aberrantes mas são cobertas pelos que vivem do sistema e os Média encontram-se demasiadamente acomodados ou encostados e dependentes.
Urge uma sociedade que ouse ser humana!

António Justo
Alemanha

António da Cunha Duarte Justo

PAPEL DOS SINDICATOS – 1°. DE MAIO

Deixar de viver de falsas ilusões
Um papel importante dos sindicatos é uma exigência ética social. Esta, com objectivos claros, não poderá deixar o patronato nem a sociedade indiferentes.
A situação económica e política em que nos encontrámos é socialmente tão precária que nem as ilusões dos sindicatos nem os sonhos de idealistas poderão ajudar-nos a resolver os problemas. Hoje urge realismo e autocrítica com estratégias bem definidas. Não chegam já as frases moralistas duns nem as lágrimas de crocodilo doutros. Nas circunstâncias actuais, a política não tem a capacidade de regular a economia de modo a evitar o desemprego. As medidas que toma apenas mudam o clima. A praga do desemprego que vem da década de oitenta ainda se acentua hoje mais com a necessidade do estado racionalizar os seus serviços. Em vez de se preocupar com a distribuição do trabalho por mais braços ainda se aumenta o tempo de trabalho para os empregados. O busílis da questão é que a concorrência internacional exige maior produtividade para se produzir a preços concorrentes de mercado.
O patronato tornou-se muito agressivo e em grande parte extremamente desumano, só orientado pelos interesses de accionistas anónimos cujos objectivos são apenas o lucro, à custa dos trabalhadores e do humanismo. A globalização actua como um turbilhão que engole indivíduos e instituições.
Os sindicatos, na defensiva, limitam-se apenas a reagir. Numa sociedade em que a ética individual e social são cada vez mais egoístas, tal como a nível patronal, não é fácil mover as massas, até porque cada vez se torna mais habitual o contrato individual à margem dos contratos colectivos. O problema crucial dos sindicatos é o facto de se terem só interessado, até agora, pelo ordenado dos sócios, pelos que tinham trabalho. Assim renunciaram a um instrumento importante regulador do trabalho – o desemprego e os desempregados. Os sindicatos, para poderem ter uma acção relevante na sociedade terão de se preocupar com o aumento de lugares de trabalho e com a formação profissional. Não se pode continuar a reduzir os lugares de trabalho e para mais à custa do erário público com regulamentação de reformas antecipadas. Não pode passar desapercebida a situação duma sociedade com 5 até 10% de desempregados permanentes. Uma sociedade que aceite isto como realidade é injusta e desumana. A dignidade humana exigirá uma nova maneira de estar e novas formas de luta. Esta é global e não reduzida a sócios ou a membros de partidos. Este tipo de solidariedade na concorrência feroz e na defesa apenas dos interesses dos sócios participa do mesmo vício que regula a acção dos “capitalistas” que combatem mas que na realidade são.
A globalizada, o humanismo exigirão a estruturação supranacional e global dos sindicatos e das instituições à imagem da supra-estrutura católica. Para isso será necessária uma politização do indivíduo mas não no sentido partidário como era comum nos anos setenta e oitenta. O tempo vai mal para os trabalhadores em tempos de dessolidarização. Neste sentido é importante recordar os tempos em que a solidariedade levava as pessoas a unirem-se. A comemoração do 1°. de Maio remonta a 1886 dia em que os trabalhadores americanos se insurgiram com greves gerais na defesa do dia de trabalho com 8 horas.

António Justo

António da Cunha Duarte Justo

Reparações no sistema social: Dinheiro para pais

A Alemanha começa a proteger a família numa tentativa de aumentar a natalidade

Os estados europeus, depois de tantas barbaridades contra a família e contra a própria cultura começam agora a concertar o que estragaram a partir dos anos 60.
A degradação familiar e a falta de filhos que assegurem a sobrevivência dos sistemas sociais obrigam o governo alemão a iniciar medidas tendentes a remediar a decadência em curso. Para isso deliberou a introdução do “dinheiro para pais”. A partir de 1 de Janeiro de 2007 devem, o pai ou a mãe, que depois do nascimento duma criança abandone temporariamente o emprego para cuidar da criança, deve receber do Estado durante 12 meses 67% do salário que recebia no seu emprego. O máximo a receber são 1800 Euros mensais. Haverá um bónus de dois meses se o outro parceiro (pai ou mãe) assumir o cuidado da criança por, pelo menos, dois meses. Este bónus é uma tentativa de ligar mais o pai à educação. No caso de marido e esposa não dividirem entre si o tempo de tomar à sua guarda o filho, então receberão, durante os dois meses de bónus, apenas os 300 euro de educação a que têm direito as famílias que não tenham um rendimento superior a 16.500 Euros.
Pessoas desempregadas ou pobres recebem 300 euros de “dinheiro para pais” durante 14 meses.
Este só pode ser considerado um primeiro passo no fomento da família até porque para só se limita aos primeiros 14 meses.
Esta medida é uma tentativa de fomentar a natalidade e levar pais e mães a participar no cuidado das crianças. Em especial, esta medida tem em vista levar pais académicos a ter filhos e não deixar essa missão sobretudo aos muçulmanos e à sociedade desprotegida.
Esquecem que a mentalidade que conduziu à desvalorização da família e à renúncia de filhos ainda se encontra muito presente em grande parte no individualismo de muitos socialistas e dos Verdes e numa sociedade tipo turbo-capitalista egoísta.

António Justo
Alemanha

António da Cunha Duarte Justo