Nova Cidadania – A Cidadania Proletária

Aulas de Educação Cívica – Aulas da Religião do Estado?
Esta semana, Rui Pereira, ministro da Administração Interna, discursou na Escola Superior de Educação de Leiria, sobre as aulas de Educação Cívica e seu significado para ” a mudança de mentalidades e a construção de um Portugal melhor”. O senhor ministro da Administração atribui ao Estado não só a missão de transmitir valores como também a de mudar mentalidades.

Isto corresponde à visão marxista dum estado proletário. Longe de qualquer visão democrática abre-se aqui caminho para o estado nacional-socialista, para o estado estalinista e para toda a forma de governo fascista. Que mentalidade quer ele e que Portugal? Não seria também oportuno a introdução duma disciplina onde se aprenda a ser feliz?!!! Isto traz água no bico. Até faz lembrar os velhos tempos da ditadura. Ou será isto um sinal de que já chegaram com o seu latim ao fim!

O direito de mudar mentalidades não pode ser reduzido a nenhuma forca social ou estatal; a mudança de mentalidade é resultante da competição de interesses, ideias e práticas no seio da sociedade. A intenção anunciada pelo senhor ministro pressuporia uma coarctação da liberdade de pensamento e de expressão. Um estado democrático que esteja consciente dos princípios em que assenta não está legitimado para impor qualquer ideologia nem tão-pouco os valores da maioria.

Que ideologia irá então ser beneficiada? Será que em Portugal a proveniência dos alunos é homogénea a nível social e de mundi-visões?

Um exemplo do fracasso duma tal ideologia que confia na estratégia dum Estado orientador, temo-lo no resultado do montão de cacos partidos deixados pelos sistemas do socialismo real e semelhantes fascismos.

Mesmo o reconhecimento comum de certos valores implica várias interpretações e aplicações em relação aos mesmos.

Em democracia quem mais ordena é o povo, ou deveria sê-lo, e não a ideologia da nomenclatura que não respeita ética nenhuma e muito menos a dignidade humana. Para ela não há povo, apenas conhecem proletários e massa desprezível. Por onde passam deixam sempre o rabo de fora! Naturalmente que têm direito de defender os seus interesses e credos; o problema é se o povo dorme. No fim teremos Estado e massa sem cidadãos.

Boçais, em nome do proletariado e do futuro de Portugal, lá vão iludindo o povo. Convencidos que para este chega um pouco de futebol, de sexo e de pão tornam-se em redutores da vida na sua acção de vulguizar a privacidade humana. Já não lhes chega a praça pública, apoderam-se da administração para imporem a sua ideologia e disciplina.

Uma democracia começa a sofrer gravemente quando a disciplina do povo permite a indisciplina dos governantes.
O que precisamos é dum Estado que garanta e defenda a prática dos valores fundamentais. Não queremos um estado crente apenas interessado em alguns aspectos meramente ideológicos da revolução liberal, da forma de governo republicana ou do exemplo estalinista.

Tirem as mãos dos professores. Não queremos ministros da administração dos professores mas sim ministros dos cidadãos. A preocupação do Governo deve ser gerir e não assumir a função de patrão. Deve naturalmente intervir mas sobretudo como árbitro.

Uma certa visão marxista superficial, mais visível nas periferias da civilização, quer um estado árbitro e jogador. As claques compra-as com benesses e camisolas atiradas à multidão. Esta mentalidade encontra-se ainda muito impregnada nalgus funcionários do partido socialista. Estes em vez de o servir, servem-se dele.
Portugal merece mais.

António Justo

António da Cunha Duarte Justo

Recepção do Dalai-Lama – Um Gesto Soberano

A chanceler alemã Ângela Merkel recebeu na chancelaria alemã o Dalai-Lama, representante dum povo subjugado e uma autoridade para budistas dentro e fora da Ásia. Dalai-Lama o chefe supremo dos tibetanos vive desde há 50 anos no exílio na Índia.

Ângela Merkel recebeu o Dalai-Lama apesar dos interesses alemães na China. Este gesto não prejudicará os imensos interesses económicos da Alemanha na China porque o regime de Pequim tomará mais a sério uma Alemanha honesta e leal.

A China faz tudo por tudo para que o tema do Tibete não apareça na ordem do dia a nível internacional. O problema porém só poderá desaparecer da ordem do dia desde que a China resolva o problema com responsabilidade. O interesse económico não se deveria impor à custa da liberdade e da democracia. O silêncio cúmplice de muitos governos ajuda o desejo da China a levar o tema ao esquecimento.

O regime chinês naturalmente que não gosta de ser recordado do mal feito. Verdade é que o olhar severo da grande estátua do Buda de Lantau (Hongkong) tem razão para continuar a olhar severamente na direcção de Pequim.

Ângela Merkel fez frente à China, mostra coragem e que a política também se preocupa com os problemas dos mais fracos a nível de ordem do dia. A Alemanha mostra com este gesto que também vive os seus valores. Não só se preocupa com o pão mas também com o espírito. Faz diplomacia pela liberdade e democracia.

As circunstâncias em que decorreu a visita do Dalai-Lama a Portugal e o comportamento do governo mostraram-se indignos dum Portugal independente e soberano. Tendo embora o socialismo um fraquinho pelos regimes comunistas, quando se encontram à frente dos governos, deveriam porém dar primazia aos interesses do Estado e da democracia.

Também a demonstração suave dos monges budistas em Birma na defesa de direitos humanos e da democracia bem como o seu grito subjacente de apelo à ajuda internacional mereceria mais empenho público e não apenas palavras bonitas e accionismos ocasionais.

António Justo

António da Cunha Duarte Justo

Universo – Uma Metáfora

Como começou o universo, de que consta e o que é que o mantém? Estas perguntas permanecem constantes em toda a humanidade e durante todos os tempos.

Cada época dá diferentes respostas às mesmas perguntas. Isto corresponde à necessidade de se querer ordenar o mundo, de querer arrumá-lo. Para uns o mundo começa com o Big Bang (Explosão inicial) para outros com Deus.

Com Nicolau Copérnico a Terra passou a ser ordenada no sistema solar. A consciência de se estar no centro do mundo foi-se. A Terra deixa de ser o centro do universo e com isto surge uma nova consciência humana. Com a insignificância da terra também o ser humano passa a ser satélite, uma função mecânica anónima. Do humanismo dá-se o passo para o materialismo. Hoje os astrónomos relegam a Terra para a periferia dum universo ao lado de muitos outros. E o ser humano onde se encontra?

A visão do universo correspondente à visão da matéria. Microcosmo e macrocosmo correspondem-se. Da matéria dos átomos passa-se às formações universais. O universo consta apenas de 1 a 5% de matéria visível e é activado por uma força invisível; os cientistas especulam sobre os 95% que faltam falando então de matéria escura e de energia escura. A força que move o universo não é conhecida; o universo está cheio do que se não conhece. Fala-se mesmo de vários universos. As imagens da realidade dos cosmólogos são tão diversas como as dos teólogos sobre Deus e o mundo. David Groß, prémio Nobel americano, afirma: “Nós mesmos não sabemos do que falamos”. Constroem-se teorias que depois se procuram provar. A investigação dos macrocosmos e dos microcosmos complementam-se.

Lee Smolin da University of Waterloo refere que “hoje a maior parte do que os teóricos publicam sobre as bases da física não se pode examinar”. É difícil encontrar provas para a nova mundivisão. A origem e a estrutura base do universo não foram ainda equacionadas em fórmulas.A física encontra-se empenhada na procura duma nova imagem do mundo, na procura da sua fórmula.

A física conhece 5 estados da matéria: sólido, líquido, gasoso, plasma (gás ionizado que forma mais de 99% do universo visível) e condensado, segundo Bose-Einstein (um estado em que os átomos participantes vibram na mesma frequência e se alcança à temperatura de -273 graus Celsius). Temperatura é energia do movimento.

O universo é uma metáfora de Deus. À semelhança dos mundos “físicos” formam-se as mundivisões.

Para a física astronómica o universo originou-se dum “ponto nulo” através da explosão original. Para a matemática o ponto é um nada. Para a filosofia ele é a medida de todas as coisas. Para a teologia cristã é Deus, que se especifica na fórmula trinitária.

O filósofo Euclides definiu já 300 anos antes de Cristo o ponto como “algo que não tem partes.” O ponto negro é um ponto infinitamente pequeno de tal modo comprimido que materialmente não existe e ao mesmo tempo contem a matéria das estrelas solares mortas. Ele é de tal modo comprimido que nem sequer luz irradia.

Chegamos a uma imagem do mundo de céu aberto em que o centro se encontra em toda a parte e se reconhece o não-material como origem do mundo material visível. Isto implica a formação duma nova consciência e duma nova mundivisão com consequências inestimáveis para o futuro.

Para Teilhard de Chardin matéria e espírito são os dois rostos do mesmo elemento cósmico, dois estados da criação. A criação é um acto contínuo da evolução biológica e histórica e “Deus é o coração de tudo, o coração da matéria…” (O cientista e teólogo Teilhard de Chardin antecipa a nova consciência que ainda continua a passar desapercebida na pós-modernidade. A mudança iniciada no séc.XX só pode ser comparada com a mudança de consciência do renascimento, só que desta vez para melhor! A globalização em curso é um fruto exterior da mentalidade nascente).

A medida da humanização do ser humano orienta-se para o ponto Ómega, a incarnação. Tudo se encontra a caminho desse ponto. Cada um, por vias diferentes, está a caminho na procura da luz que se encontra na matéria: “Eu sou a luz do mundo”.

“Consola-te, tu não me procurarias se me não tivesses já encontrado”, já sabia Blais Pascal. Agostinho juá tinha chegado à mesma experiência.

Aqui se torna latente o irromper duma nova consciência, uma nova maneira de estar no mundo que é comum à Física, à Cosmologia e à Teologia. A política ainda não despertou para a nova realidade!

António Justo

António da Cunha Duarte Justo

União Europeia – Razão e Fé

Partidos à Margem da Nova Mundivisão Científica

A Europa foi desbravada com a charrua da fé e da razão. Também Portugal, na sua fase áurea, foi à conquista do mundo, com o arado da fé e da razão, contribuindo com a sua obra colonizadora para o desenvolvimento das civilizações.

Em que se terá de basear hoje a Europa para a conquista do futuro? Na redescoberta da união da fé com a razão, na reunião da filosofia e das Ciências Naturais?

O que resta de Cristão no Ocidente? A investigação do específico religioso na cultura europeia não se pode reduzir a um trabalho de arqueologia. Exige uma tarefa de argumentação dialógica. A Europa é judaica, grega, romana, bárbara, ortodoxa, católica, protestante, revolucionária, dialéctica e mística. Dela surgiu a globalização que é o início da resposta ao espírito novo, à nova consciência do ser humano a que o século XX deu base com a superação das contradições de espaço e tempo no contínuo espaço-tempo e a superação do dualismo matéria-energia. Esta descoberta ainda não entrou na consciência política europeia.

Desenvolvimento da Consciência Europeia
No desenvolver das nações, nos seus altos e baixos, houve sempre uma linha condutora que ligou a Europa. O cristianismo manteve o culto da razão no equilíbrio polar de corpo e alma.

Com o início da época moderna no séc. XVI e a correspondente divisão das ciências e fragmentação política e religiosa, sob a égide das ciências naturais obteve-se um grande desenvolvimento tecnológico na Europa.

Galileu Galilei no século XVI dá início ao credo da nova época determinando o absolutismo da nova ciência com o seu programa:”Medir tudo o que é mensurável e tornar mensurável o que ainda não é.” Descartes com a geometria analítica e o exagero do princípio dualista realiza a separação completa de corpo e alma.

Com a passagem do pensar lógico para o pensar racionalista exagerado, o iluminismo e a Revolução francesa (e seus sequazes) querem banir tudo o que é cristão e substitui-lo pela sua nova ideologia em toda a Europa. Depois da revolução francesa afirmam-se no espaço político dum lado as forças restaurativas (socialismo e republicanismo) e do outro as forças conservadoras. Nesta época o racionalismo impõe-se à razão e à religião desembocando na praxis tecnológica e tecnocrata. A grande actividade renascentista levou também aos becos sem saída mecanicista, materialista e racionalista. A pós-modernidade procura um caminho para sair da crise. O espírito ocidental manteve-se mais num espírito católico que não cede ao dualismo e não se perdeu no experimentalismo.

No século XIX e XX o socialismo queria tornar-se o sentido da Europa. As novas descobertas da física relegam o socialismo para uma ideologia presa ainda no espírito do séc. XIX. O fracasso do sistema socialista e das ideias da geração de 68 tornam-se cada vez mais visíveis. Incapaz de se modernizar a família socialista ainda actua desesperadamente estoirando os seus últimos cartuxos. Procura, com uma determinada maçonaria, influenciar a Europa a nível da sua Constituição e instituições, bem como com intervenções autocráticas, quando se encontram em funções governamentais. Perde-se na luta cultural. O seu problema está em ter perdido o comboio da história e da ciência. Enquanto que o catolicismo muito lentamente se adapta à nova visão da ciência os credos políticos apenas se aproveitam das suas marginalidades mantendo a sua mundivisão antiquada. O seu desespero manifesta-se no militantismo dum progressismo ultrapassado contra uma sociedade de espírito cristão que, apesar de vagarosa, por não ter concorrentes sérios a nível de visões e modelos intelectuais de sociedade, está segura da sua presença no futuro da Europa e do mundo. Os democratas cristãos e os conservadores europeus distanciaram-se do missionarismo marxista mas também eles, desorientados, se deixam similarmente levar pelo mero pragmatismo.

Assim a União Europeia tornou-se numa realidade de grande sucesso à margem da ideia do ocidente cristão. No debate sobre a Europa do futuro, o elemento cristão é imprescindível. Ignorá-lo significaria a abnegação de si mesmo. Há forças ligadas à tradição extremista da revolução francesa (um certo liberalismo, socialismo e o republicanismo laicista), agarradas às velhas ideias mecanicistas, materialistas e racionalistas da velha ciência, que continuam empenhadas em desacreditar a história do ocidente. O laicismo quer declarar a religião como coisa privada. À margem da realidade mundial e dos verdadeiros ideais de democracia, desconhecem que não há liberdade sem liberdade de religião / consciência, tanto a nível público como privado. Optam por um restringimento nacional. Desconhecem a mundivisão da nova ciência e a filosofia cristã. Vivem oportunamente dos erros duma economia abandonada a si mesma.

A história da Europa seria incompreensível sem o cristianismo. A Europa tornou-se uma grandeza geográfica e política através dele. O Ocidente como toda a cultura tem os seus fortes e os seus fracos. Não se pode viver na limitação da nostalgia nem na ilusão dum mundo intacto. Política e religião têm que tomar mais a sério as descobertas da nova física no início do séc. XX. A política para dar resposta aos sinais dos tempos deve rever a sua ideologia com base na nova ciência e a religião deve acentuar o pensar místico incluído na fórmula trinitária que se encontra muito perto da fórmula física.

Um elemento que não poderá ser esquecido no espírito da Europa é também a ortodoxia.
A discussão ideológica e a tentativa marxista e racionalista laicista de impedir a referência cristã na Constituição Europeia e um certo actuar anti-cultural posto na ordem do dia, revelar-se-ão como um erro no futuro dum socialismo integral.

A declaração pelo cristianismo não implica o monopólio cristão do espírito da história europeia. O carácter discursivo do espírito grego, romano e judaico e o ideal da liberdade são aspectos vitais da identidade espiritual europeia. O cristianismo, nas suas várias expressões e o espírito europeu em permanente discurso e constante acção recíproca dos diferentes povos e sub-culturas europeias, com a sua ideia católica, são um modelo exemplar para a configuração do mundo. Isto é óbvio também pelo facto dos princípios éticos serem objecto da discussão e não garantidos pela jurisprudência ao contrário da maneira de estar islâmica e do credo comunista. A civilização cristã é, na sua essência, aberta. Uma praxis europeia com fundamentos na ética, Deus, constituição revelou-se muito oportuna. A constituição está ligada aos valores. Um preâmbulo de Magna Carta que expresse a responsabilidade, Deus, o Homem, a consciência na liberdade do desenvolvimento corresponde ao desenvolvimento da Europa através dos tempos. A Constituição Polaca seria o melhor exemplo a seguir, neste aspecto. Ela fala da responsabilidade perante Deus e perante a própria consciência…

Não há nenhum euro-centrismo na tradição judaico-cristã. As raízes do cristianismo e a sua origem estão fora da Europa. Tomás de Aquino e Alberto Magno possibilitaram a discussão com a Antiguidade. O protestantismo acentua a continuidade dos fundamentos dos primeiros séculos, enquanto que o catolicismo opta por uma apropriação na continuidade. A independência de igreja e estado é específica. A cultura cristã possibilita assim a multiplicidade das formas de vida. Ao contrário do Islão que é anti-moderno e só se comporta tolerante quando vive em diáspora; falta-lhe ainda a teologia. O cristianismo é compatível com as diferentes culturas sem condicionamento hegemónico. Esta é a vantagem do modelo europeu.

O passado europeu ainda se encontra muito presente. Ainda se não reconciliou na relação entre cristãos ortodoxos, católicos e protestantes nem com o laicismo dos ideais do liberalismo da revolução francesa. As experiências sangrentas com a revolução francesa e as guerras civis republicanas ainda se encontram muito presentes na consciência europeia.

O Vaticano II procura a reconciliação. Na verdade o berço da dignidade humana é o cristianismo, só que a instituição se preocupou demais pelo poder, pela instituição. Um pensar baixo laicista persiste em antagonizar cristianismo, liberdade e iluminismo. Nesta luta de galos na mesma capoeira perdem-se muitas penas. A Europa precisa de qualidade espiritual e de perspectivas construtivas. A fórmula é fé e razão independentemente das patologias da fé e da das patologias da razão. A razão tem que continuar a acção purificadora das patologias religiosas tal como o cristianismo terá de purificar as patologias da razão que se manifestaram na concepção do homem como um produto. Também a razão tem fronteiras como se pode ver na bomba atómica e ao passar da lógica para o racionalismo. A esquerda tornar-se-ia infiel a certos princípios que defende se continuar no combate de castelos no ar e na guerra a um cristianismo macarrónico.

O melhor sistema de relação entre igreja e estado é o modelo alemão em que há uma relação de independência na parceria. Este modelo tem naturalmente os seus quês numa nova situação com o aparecimento dum islamismo com elementos ainda incompatíveis com a democracia.
Um processo de aprendizagem estará no trato de religião e política com a liberdade. Isto pressupõe um longo processo. A experiência nos Balcãs pode ser vista como chance ou como ameaça, o nacionalismo bósnio por um lado, uma polónia vital mas muito próxima à ortodoxia por outro. O mundo cada vez se torna mais numa “aldeia” não permitindo que se desça do comboio da história.

A Europa é a alternativa ao poder todo-poderoso das ideologias. Os muçulmanos terão de se abrir ao pensamento científico. Doutro modo haverá o perigo duma Balcanização da Europa.
O laicismo religioso da Turquia fere a liberdade, não sendo compatível com a Europa. Por sua vez os cristãos não podem aceitar que a religião seja reduzida a coisa privada ou sujeita a favoritismo. Os cristãos aprenderam a lição uns com os outros. O individualismo vê o estado e a Igreja como um perigo. A esperança numa liberdade que tudo promete é vã.

A religião será cada vez mais tema. É-o já na Europa desenvolvida. O secularismo terá de se tornar mais humilde e aberto, doutro modo diminuirá bastante, falhando a sua missão. A religião, quer queiramos quer não, permanecerá uma constante evidente. A América é um exemplo em que religião e modernidade não são contradições. A religião faz parte da discussão intelectual. O relativismo ainda vigente em alguns credos político-administrativos é uma ironia acerca do próprio vazio. Na província europeia instalada em certos meios de influência portuguesa ainda se continua a viver da luta pela luta, da luta de pseudo-intelectuais contra a cultura da maioria.

As pessoas procuram Deus, segurança, salvação, comunidade, vida subjectiva expressa em diferentes atitudes. Precisa-se da diferenciação dos espíritos e de diversas modalidades de vida.

A verdade liberta-se na liberdade, ao decidirmo-nos por ela. Muitos terão de aprender a nadar na nova religiosidade. Esta não oferece garantia a ninguém. Pode ser uma chance para todos. A renascença da religião não permite o regresso ao passado apesar dos impulsos muçulmanos. A fixação na autoridade é estranha à realidade cristã e contrária ao desenvolvimento subjectivo.

Sendo o cristianismo a fonte da Europa não deve ser reduzido a arqueologia. O futuro do cristianismo na Europa depende naturalmente do seu número e do seu testemunho e o desenvolvimento da civilização ocidental dependerá da fidelidade ao espírito judaico-cristão..

A Europa foi construída na dialéctica entre tradição e inovação, entre fé e razão. Uma fé não fechada em si mesma mas sempre dinâmica no seguimento da inteligência e amparada pela razão não precisa de temer o futuro. A Europa soube integrar a revolta no seu ser, através duma sabedoria prática.

O cristianismo é também um parceiro imprescindível à União Europeia nas diferentes plataformas de diálogo entre as civilizações e as culturas. Seria miopia assentar as relações internacionais apenas nas forças militares e económicas desconsiderando o papel das ciências e da religião na formação das mundivisões.

Sistemas partidários antiquados
Só modelos totalitários se julgam capazes de dar resposta à perfeita realização humana. Todo o absolutismo abafa o homem. Nenhum futuro, nenhum Deus, nenhum ser humano pode ser encerrado num sistema seja ele político, religioso ou intelectual.

Só a investigação fundamental da ciência europeia do séc. XX conseguiu, com as descobertas de início do século, dar resposta às novas necessidades iniciando uma nova tentativa, uma nova mundivisão e método de trabalho que pressupõe uma nova maneira de estar no mundo. As elites políticas do séc. XX não compreenderam esta revolução científica e continuam fiéis às velhas ideias. Assim aqueles que antes eram símbolo do progresso tornaram-se o seu impedimento, muito embora em nome dele.

Hoje o grande problema dos nossos sistemas partidários é o facto de se manterem antiquados, continuando a aplicar a mundivisão do século XIX, o exagero iniciado no séc. XVI e cujos extremismos se manifestam no (racionalismo), no marxismo, no pragmatismo e no existencialismo.

Desconhecem a nova ciência iniciada com Planc (teoria quântica) e com Einstein (teoria da relatividade que superou o materialismo dualista). As ideologias políticas modernistas, que determinam actualmente o dia a dia político europeu, ainda se encontram prisioneiras das velhas ideias dos tempos modernos que dominaram até ao século XIX. Vivem à margem da nova ciência que superou a velha maneira de pensar racionalista e materialista.

O futuro implica, com a base da experiência da época moderna, a reactivação duma visão complementar de todas as disciplinas, procurando evitar todo o dualismo e iniciar uma nova maneira de encarar a realidade na integração da ciência naturais e humanas. Uma nova plataforma dos partidos terá que assentar numa dinâmica polar complementar. O Universalismo só será possível numa visão integral, não dualista.

António Justo

António da Cunha Duarte Justo

São Martinho – Castanhas e Vinho

No dia 11.11 S. Martinho é festejado por todo o lado. Na Alemanha é costume as crianças dos Jardins-de-infância saírem ao anoitecer para a rua. Em cortejo, a catraiada, de lanterna em punho e acompanhada pelas educadoras de infância, dá mais cor e expressão ao ambiente, cantando “Laterne, Laterne”.

As lanternas acesas, que ostentam na mão, são geralmente elaboradas pelas mesmas crianças nos Jardins-de-infância. Com este rito de preparação e encenação, aprendem a importância do partilhar bens materiais e culturais. Há lugares onde, no desfile, uma das crianças vai vestida de São Martinho montado num ponny. Para arredondar o acontecimento, nalguns lugares come-se o “Ganso de S. Martinho”

Em Portugal aproveita-se o Verão de São Martinho para se assarem as castanhas e provar o vinho novo. Nalgumas escolas organizam-se magustos. Pelo mundo fora muitas comunidades portuguesas mantêm a tradição de festejar o “Verão de S. Martinho com castanhas e vinho. Muitas vezes chegam de encomenda, trazendo, no seu luzir, o sol português!… O vinho, esse levanta o espírito e chega a fazer milagres inspirando e consolando homens e mulheres na doce fantasia sentida no horizonte da saudade comunitária. Assim se espalham e vivem tradições

O povo conta que um soldado romano chamado Martinho, num desses dias húmidos e tristes em que o vento empurra o frio e a chuva contra o povo, Martinho estava de serviço fazendo a sua ronda.

A caminho, depara com um velho desnudado a tiritar de frio, que de braço estendido pedia esmola.

O soldado Martinho, sem nada para dar, tirou a própria capa e, cortando-a ao meio com a sua espada, entrega a metade ao mendigo que quer agasalhar.

Passados momentos deixou de chover e o sol raiou como se fosse pleno Verão. Daí o costume do povo chamar aos dias quentes de Novembro o “Verão de S. Martinho”.

Martinho desceu do cavalo da sua importância para se colocar ao nível do pobre. Essa atitude acalora o próximo e o ambiente.

No gesto de Martinho, a espada, uma arma destinada a ferir e matar, nas mãos de Martinho, transforma-se num instrumento de compaixão e de amor ao próximo. É o sol a raiar na natureza e no coração!

António da Cunha Duarte Justo