Ousar o futuro

Porque não tentar tornar-nos num clube contra a entropia?
Este espaço, poderia ser encarado como uma plataforma de discussão das próprias ideias, dos próprios projectos no sentido duma sinergia de esforços na descoberta duma nova realidade e duma nova praxis. Seria pressuposto partirmos duma consciência comum de servidores do espírito, trabalhando no desenvolvimento duma nova consciência ao serviço da humanidade e da natureza, numa tentativa de desinfecção da nossa civilização e do nosso dia a dia. Em missão nobre aceitaríamos o erro como parte da realidade humana, diria mesmo, como parte da verdade. (1)
Tratar-se-ia duma tentativa de escrever e actuar que não se fixe no velho paradigma dualista subjacente ao pensar corrente e ao modo actual de organizar a vida. Tratar-se-ia duma nova maneira de organizar a vida coerentemente no sentido de se criar uma sintonia e interferência integrativa do pensar, sentir e agir. Na minha maneira de dizer poderia resumir-se em passar do existir (pensar, sentir actuar) actuar binário para o trinitário. Parte-se duma forma da realidade em que os extremos se unem e em que, analogicamente ao fenómeno da electricidade, dos pólos positivo e negativo surge uma nova expressão da realidade que é a luz. Iniciar-se-ia o caminho da descoberta duma nova maneira de pensar-sentir-agir consentâneo. Tentar-se-ia descobrir o fundamento trinitário da Realidade que constitui como que a grelha base das grandes culturas e criar uma consciência, uma mundivisao de cunho místico-simbólico (2).
Pomo-nos nas pegadas do desenvolvimento qualitativo, dum novo grau, de uma categoria superior que transcende a categoria do pensar dicotómico espírito-matéria, bem-mal.
Para isso será necessário o exercício do pensar místico (meditativo-simbólico) como pressuposto para uma nova forma de estar no mundo. Vale a pena seguir todas as iniciativas que procuram tentar um irromper o futuro. Para isso teremos de renascer para podermos mudar todas as craveiras, os critérios ou normas com que costumamos medir a realidade e pautar o nosso agir.
Ousemos tornar o futuro presente, ousemos, no respeito e ligação ao passado, quebrar as correntes que a ele nos amarram. Ousemos a liberdade na vivência duma nova ética.
Aqui dar-se-ia expressão às forças da nova consciência que aqui e acolá se torna visível mas apenas a nível individual.
O mundo encontra-se incendiado vendo-se por todo o lado as chamas da dialéctica. Só uma nova forma de estar, uma nova consciência conseguirá interferir e mudar o curso da história. Na nova consciência, nesta nova apreensão da realidade a dualidade dissolve-se, resolve-se na trindade. Aqui o sujeito já não se encontra em contradição com o objecto. Estes realizam-se na Realidade trinitária integral, no espírito que é comum às partes aparentemente isoladas ou contraditórias.
O mundo está doente connosco. Porém da febre que nos abafa poderá ressurgir um novo espírito, uma nova geração.
Vale a pena descobrir a realidade tentando ver o que está por trás dela. O homo faber o homo politicus e o homo religiosus não têm sabido dar resposta às aspirações da humanidade limitando-se apenas de forma diversificada a repetir de época para época, a cadeia do mesmo modelo, da exploração do Homem pelo Homem, numa dinâmica do divide et impera. Uma pequena parte da humanidade já se começa a dar conta do ciclo vicioso em que tem vivido e do labirinto em que se meteu. Por isso não poderá continuar por muito tempo a ser vítima e criar vítimas dando continuidade à cadeia de reacções em que se tem vivido até hoje.
Para já trata-se de criar uma nova consciência e não de criar um mundo perfeito. No novo estado tudo é processo dinâmico, tudo é relação, tal como a realidade dos três num só. Aí já não teremos de procurar o bem ou o mal lá fora, no outro, porque estes são apenas momentos materializados duma realidade única que é processo. Então poderemos dar oportunidade a um novo mundo a ser gerado e dado à luz. Para continuar no simbólico, nós já temos o exemplo do cúmulo da criação, da consumação do mundo e do passado e da concretização do futuro a priori e a posteriori em Jesus Cristo; não no da religião mas no da vida, no do cristianismo. O elemento religioso é apenas um aspecto duma realidade aperspectiva. Jesus Cristo é o resumo da revelação, do Homem e da história.
Não se trata aqui da construção dum mundo melhor mas dum mundo diferente, a caminho da verdade. Para isso torna-se importante a descoberta do gene divina no próprio íntimo, no íntimo de toda a realidade e então surgirá o fogo do espírito que arde no coração e nos levará a um olhar e ver diferentes. Da dor do parto sai a vida, surge a luz. E nós tornados então filhos da luz conseguiremos passar do deserto para a terra prometida.
Trata-se de colocar a dialéctica, a tese e antítese, numa unidade dinâmica criadora também superadora da dicotomia dos pólos Yin e Yang no sentido duma realidade tripessoal.
É superar o pensar paradoxal ou polarizador das disciplinas e das ciências para as integrar numa relação interdisciplinar na consciência que ao fixar-se o objecto de observação sobre um pólo se corre o perigo de perder ou negar o outro. No reconhecimento da dicotomia fenomenológica do ser humano, trata-se de descobrir que a variedade das cores do arco-íris se reduzem a uma cor só e embora a sua essência esteja na união, essa união só se torna fenomenologicamente perceptível na expressa da sua multiplicidade.
As feições divinas e eternas tornam-se visíveis nas formas e aparências da matéria; no âmago do nosso ser, do universo torna-se visível o espírito do todo. O que se apercebe a uma visão superficial como antagónico, como independente revela-se aqui como uma realidade única da qual surge a personificação das relações processuais entre “ser” e estar.
António Justo
Teólogo
In “ Pegadas do Tempo”

(1) Peço desde já desculpa, em relacao a este e a outros textos do passado ou do futuro por erros e muitas imperfeições que provenham directamente da minha pessoa ou que sejam devidas ao facto de escrever tudo à pressa sem tempo para rever ou repensar o que escrevo.
(2) Aqueles que seguem mais o pensar racional dialéctico, baseado nas várias materializações da realidade, da história e das filosofias como dados estáticos existentes por si mesmos, estão convidados a não se chatearem logo à partida e tentarem conceder aos interlocutores um bónus quer de erro quer de verdade na procura duma visão mística e simbólica da realidade e dos acontecimentos naturais e históricos.

António da Cunha Duarte Justo

PCP castiga Luísa Mesquita

É lamentável o modo como o partido PC trata Luísa Mesquita, deputada comunista, que embora sob a perspectiva do partido, tem sido uma mulher que se tem interessado a sério pelos problemas dos emigrantes. Embora não pertença ao meu partido, que é o do arco-íris, reconheci sempre nela muita competência, não restringindo o seu mandato a encostar-se aos consulados e a pessoas que não façam sombra… Nas discussões ela mostrava conhecer a problemática migrante por dentro e não apenas por ouvir dizer. Escutava todos e não evitava ninguém, o que já se não pode dizer do seu colega pela emigração na Europa.
Mesquita tem motivo para estar estupefacta e magoada. Os interesses do PC não serão os dos emigrantes. Estes não se deixam submeter a malhas partidárias demasiado fortes. Como castigo pela sua recusa em deixar o seu mandato a deputada só fica integrada na comissão parlamentar da saúde. Luísa Mesquita terá agora mais liberdade para dar menos ouvidos às razões do partido e seguir melhor a própria consciência! Agora poderá defender os interesses dos emigrantes em Portugal, porque aí há pouco quem os defenda!
António da Cunha Duarte Justo

António da Cunha Duarte Justo

MOZART NAS MÃOS DE FUNDAMENTALISTAS?

A Alemanha dedicou o ano 2006 a Mozart. A Ópera “Idomeneo de Sebastian Amadeus Mozart encenada por Hans Neuenfels na “Komischen Oper” em Berlim revelou-se num escândalo ao mostrar o rei Idomeneo com as cabeças decapitadas de Poseidon, Jesus, Buda e Maomé, facto este que provocou ameaças por parte de muçulmanos, levoando a Deutsch Oper de Berlim a cancelar as representações previstas até amanhã, dia 26 de Novembro, dia em que seria encenada a peça da Ópera “Flauta Mágica de Mozart. A encenação apresentada por Hans Neuenfels distorce a Ópera de Mozart colocando-a ao serviço da ideologia contra Deus.
O encenador interpreta aí a perfeição da obra de Mozart como um recalcamento, uma tentativa de reprimir a fragilidade humana contra a realidade existencial. Projecta nele a visão do ser humano como um defeito de construção. Muitos artistas, na incapacidade de criarem novos modelos, apenas reagem continuando amarrados às ideologias do século XIX sem sequer terem notado a revolução quântica e a relatividade na física do século XX. Desconhecem as exigências do novo século vivendo ainda das exterioridades consumistas dum século trágico. Encostam-se aos velhos símbolos de identificação dum país ou duma civilização, criticando-os e ridicularizando-os. Estão certos de que, ao fazê-lo, receberão as atenções dum público distraído e superficial que só reage ao escândalo. Tornou-se já moda de decadentes actuarem contra mitos e contra as coisas mais sagradas duma cultura para melhor poderem encher as caixas das bilheteiras e para se tornarem célebres. Não conhecem o sagrado, a honra, o sentido. Incapazes de relação só conseguem desligar, desordenar! Destroem os modelos das sociedades do passado sem alternativa para o futuro porque lhes falta uma visão de sociedade, um projecto. Limitam-se a recusar qualquer modelo afirmativo ou qualquer projecto de sociedade futura. Querem apenas uma realidade no seu estado primitivo, caótico e sem sentido. Encontram-se numa fase regressiva padecendo da cabeça, duma intelectualidade selectiva que não quer Deus mas apenas ídolos.

Ruminadores da verdade ao serviço do precariado
Usam e abusam dos representantes consumados duma cultura, dum povo, dos seus elementos fomentadores (referências) de identidade, como meios para se encenarem a si mesmos. Dão expressão ao acto destrutivo, ao thanatos, satisfazendo-se e limitando-se a decapitar os modelos antigos na incapacidade de criar novos. Com uma atitude adolescente só sabem protestar contra o pai ou contra a mãe que lhes deu o ser. Não se sentem na tradição criativa divina mas na intervenção destrutiva, “diabólica”. Não querem aceitar a realidade de que Mozart era de facto um compositor de Deus e para isso apresentam a arte de Mozart não como afirmação, como procura de Deus mas como um contra modelo, um projecto rival. Isso porque não aceitam que o ser humano se oriente pelo perfeccionismo, por Deus. Recusam-se a aceitar a grelha divina como a forma, a pauta em que Mozart procura lançar as suas notas.
Representantes duma cultura do precariado, uma cultura decadente, não aceitam que o homem se oriente pela ideia do bem, pela perfeição. Mozart era demasiado católico para um mundo que se quer protestante, niilista. Não aceitam um Deus humano que poderia trazer consequências para o próprio projecto humano. Não conseguiram ainda compreender que a grandeza do cristianismo é ter elevado a culpa, a falha à divindade na teologia da cruz. Só conseguem conceber o mundo em termos contraditórios de matéria espírito, de aquém-além, de bem-mal, verdade-mentira considerando-se a si mesmos como os ruminadores da verdade. Na encenação “ Idomeneo” Cristo e outros representantes das religiões são decapitados e colocados no mesmo tabuleiro porque são vistos como os responsáveis da afirmação da ideia de Deus, duma ordem no mundo. O fanatismo racionalista usa aqui os mesmos meios que o fanatismo religioso tem usado para se afirmar. Inconscientes de que são portadores do mesmo vírus que os fanáticos religiosos combatem o mundo daqueles com a mentalidade deles. Contra toda a ligação e compromisso, com o seu à parte, em Idomeneo afirmam-se como os representantes do niilismo moderno não notando que este já foi ultrapassado. Identificam toda a tradição como ilusão e no desespero duma vida não vivida cortam a cabeça aos símbolos dessa tradição. Ao desligar-se assim de todas as ligações reduzem o horizonte humano à substância original que seria o caos, que querem à sua maneira.

No Reino dos Cegos quem tem um Olho é Rei
Assim se procura minar todos os fundamentos humanos e sociais oferecendo em vez da Ilusão da salvação, a ilusão do desespero. Interpretam mal Cristo reduzindo-o a um revisor ou bilheteiro da eternidade. Não querem saber para poderem ter razão. O cristianismo não se limita a distribuir bilhetes de ida e volta para o mundo da ilusão, ele não se deixa reduzir ao folclore religioso que muitas vezes apreenderam nas paróquias ou num discurso religioso superficial que reduz o cristianismo apenas a religião. O cristianismo não adia a vida para depois, para o alem, pelo contrário antecipa-a. O adiamento parece uma constante, uma espécie de condicionalismo humano tanto na chamada vida religiosa como na laica. O ser consciente contraria essa tendência. A vida não se reduz a um jogo de excursões da vida.
Mozart quer mostrar com a sua perfeição musical a harmonia divina que resolve todos os contrastes. A cena das cabeças cortadas foi uma interpolação abusiva.
O homem moderno não suporta a perfeição. No novo século ainda rebentam os últimos foguetes do último século que nos querem prostrados no chão, de rasto na afirmação da própria negatividade, querem-nos serpente, quando o século XXI anseia por um novo homem, um novo Deus, quer reencontrar o sentido. A essência do homem é reconhecer e amar.
No fim de Novembro, Hans Neutenfels encenará na mesma Ópera de Berlim A “Flauta Mágica”. Oxalá esta não passe pelas mesmas peripécias porque passou “Idomeneo” dado que também ela se presta a muitíssimas interpretações. Além disso é uma ópera de carácter iluminista, carregada de grande simbologia maçónica podendo dar azo a uma manifestação provocante no dia a dia da luta cultural subjacente à maçonaria. Temos o teatro, o outro templo, o lugar secular, o outro lado onde o outro homo religiosus participa no rito do sacrifício: aqui imola-se, mata-se Deus. Parece que a diferença dos devotos está apenas nos lugares frequentados. Afinal a diferença não é essencial nem qualitativa. Se é verdade que é preciso limpar as teias de aranha e o caruncho da religião cristã, não é menos verdade que é necessário acabar com a arrogância racionalista que quer que a origem do mundo comece na revolução francesa e no extremismo do seu racionalismo. Este quer acabar com a memória colectiva da civilização cristã. O extremismo religioso e o extremismo racionalista (iluminista) são iguais na sua essência, na sua estratégia e nos seus fins: uns agarram-se à divindade Deus e os outros à divindade Razão. Quem separa a unidade razão-coração, a razão do coração fomenta duas ditaduras.

A alternativa à catástrofe do século XXI será a Mística
O século XXI talvez chegue a compreender e a aceitar a perfeição, (onde a harmonia dos contrários atinge a nível musical tal perfeição, a que poderíamos chamar de estagnação, o ponto da ressonância perfeita dos elementos) alcançada no terceto entre Sarastro, Tamino e Pamina da “Flauta Mágica”. Este estado da consciência é insuportável para uma cultura que no século XIX e XX observa a realidade pelo prisma do paradigma dialéctico, do contraditório. Apesar das mais diversas e contraditórias forças Mozart consegue-lhe o substrato comum na divindade do ser. Mozart resolve aqui a contradição fazendo-a desaguar na perfeição harmónica. Ele não faz senão resolver na música o que crê e misticamente experimenta na realidade da trindade, expressa na fórmula trinitária 3=1. A Realidade, a divindade, que é uma, diferencia-se para se manifestar na forma do Espírito gerador (Pai), na matéria (Jesus) que na relação se torna Matéria divinizada (Jesus Cristo), o protótipo de toda a realidade que deixa de ser antagónica e bipolar para se realizar e expressar na harmonia do espírito criativo: o eu no nós e vice-versa. Ele é o “lugar” onde se une e resolve a aparente dicotomia entre o indivíduo e o outro. Estes resolvem-se na harmonia do 1=3, não havendo mais contradição entre a personalidade e a comunidade, entre cultura regional e global; a desarmonia resolve-se através do espírito informador que é o terceiro elemento pessoal. Aqui encontramo-nos já na via mística que une razão e coração; sintoniza pensar, sentir e agir.
Nesta visão já não seria necessário transformar a beleza e a harmonia nem tão-pouco a dissonância num cavalo de batalha como se fossem inimigas e distorcidoras duma realidade que se quer bruta. Enquanto cada pólo antagónico pretender persistir e subsistir por si mesmo sem o terceiro elemento (o espírito, o Amor) nada se mudará no agir individual e social. Por isso são alérgicos ao equador, procurando viver na extremidade polar, optando pelo oposto, tal como se vê no niilismo, no espiritualismo, na música desarmónica, no partidarismo político que sendo apenas um pólo da realidade o afirmam como a visão e solução da realidade.

A Essência da Treva é a Luz
No Idealismo alemão e na música de Mozart e de Bach, a realidade atinge a perfeição superando a ideia de mundo como campo de batalha onde se trava o combate dos bons contra os maus. Há uma tentativa de integrar e revalorizar todas as forças e energias num interrelacionamento subsidiário. Quer-se descobrir a interioridade do agir, do pensar e do sentir. Essa tentativa foi contrariada pelo realismo que se lhe seguiu.
Os fundamentalistas da arte tornam-se alérgicos a uma forma perfeita repudiando a aspiração estética orientada para harmonia criacionista. A estética passa a ser vista como atentado à realidade, visto a beleza e o bem serem expressão duma ordem, duma estética estabelecida que vincula a pessoa a valores condicionadores da atitude e do agir. Numa palavra querem apenas notas musicais sem pauta e sem escala de notas, pretendendo a negação da música. A destruição da escala porém não implicou a destruição da relação factual das notas entre si, o que lhes causa problemas. Alérgicos à realidade popular e ao seu folclore vão para o outro oposto e declaram-se cacofónicos e apologistas duma música sem escala. Colocam-se no outro extremo da verdade, combatendo-a daí. Se para uns a noite é muito escura para outros o dia demasiado encandeante. Uns não vêm a realidade devido à demasiada luz outros devido à demasiada escuridão. Uns e outros não notaram que a essência das trevas é a luz…
Isto já o tinha reconhecido Paulo ao afirmar: Oh Félix culpa!… Não se trata da perfeição pela perfeição mas dum processo com sentido. A aceitação da fraqueza como elemento cultural e da comunicação é um axioma sempre presente na teologia da cruz. As nossas sombras não passam de formas de sofrimento, momentos da dor e do prazer. Se é verdade que a morte é mais natural que o amor, a força do amor é que tudo sustenta. O niilismo quer reduzir a vida à morte expressando o Eros como uma forma da morte. Se a dor nos acorda e conduz à intimidade de nós mesmos o amor relega-nos ao todo. A criatura tem de se assumir como tal e aceitar a realidade com as suas leis bem como o que as suporta.
Deus escreve direito por linhas tortas e Wolfgang A. Mozart conseguiu a ressonância humana na pauta divina.
António da Cunha Duarte Justo
Teólogo
In “ Pegadas do Tempo”

António da Cunha Duarte Justo

Crise do Estado Partidário

Foi com grande satisfação que li, na secção “comentários” ao meu artigo-reflexao “O Estado Partidário em Crise”, o texto do Prof. Dr. Luís Miguel Cunha. Obrigado pela clarividente e clara exposição.
Aproveito para salientar um aspecto que aí refere: “O muro de Berlim caiu para o lado de cá com a importação de novas nomenklaturas, que se expressam e assaltam o poder nas empresas e administrações, mas também no lado de lá reinstalando-se com novos instrumentos de opressão capitalista.
O momento hoje é de novo de combate numa encruzilhada que nos atinge ou obriga a escolher entre:
(1)a espada do fundamentalismo;
(2)a cartilha capitalista;
(3)a cidadania individualizada do nihilismo e,
(4) uma festividade que se realiza sem recursos, sem motivos de celebração, sem alegria, apenas orgásmica ou de expressão entrópica…destinada a permitir a libertação de energias ou tensões acumuladas.”
Recomendo a sua leitura a todos.
A crise é a grande oportunidade que temos. O fanatismo, a indiferença são os indicadores fenomenológicos do estado doentio da nossa civilização. Eles são apenas o toque da sirene contra a entropia a nível individual e social.
António Justo

António da Cunha Duarte Justo

Mau trato de animais!

O Supremo Tribunal alemão deu razão às queixas de muçulmanos considerando a matança ritual de animais legal, ao contrário do que instâncias inferiores tinham decidido. Esta prática (entre muçulmanos e judeus) prevê que os animais sejam mortos de maneira sangrenta sem qualquer anestesia ou atordoamento.

É legalizado um ritual que não tem compaixão pelos animais.

Conseguem ocupar mais um espaço social na Alemanha em nome da liberdade de religião: segundo a sua prescrição religiosa, a carne não pode conter sangue, para não ser impura. Se é verdade que essa prescrição religiosa se baseia no Corão também é verdade que o Corão não obriga ninguém a comer carne. Pode-se ser vegetariano. Porque vêm exigir esse direito a um país que tinha proibido essa prática quando podiam importar a carne da Turquia? O facto de se quererem afirmar mesmo em questões acidentais só ajuda a fomentar a xenofobia!

Desde há dois mil anos se sabe que não é impuro o que entra pela boca mas o que sai dela!…

Isto não deve significar um levantar o dedo contra os muçulmanos porque a barbaridade da matança de quantidades sem conta de animais se deve mais a nós Ocidentais que exageramos no consumo da carne. Além disso esses povos ainda não passaram pela época do renascimento.

Também ainda me recordo, de quando era pequeno, como os porcos eram mortos e como o sangue jorrava não falando já do esbugalhar do olhar animal e da luta do animal com a morte. Desde então aprendi a venerar a carne que como e a ser mais regrado no seu consumo… Os animais vertebrados sentem a dor como nós.

Nesse tempo não eram conhecidos ainda os novos métodos dos matadouros que poupam já muitos dos sofrimentos aos animais embora estes certamente pressintam a sua morte quando arrastados para os matadoiros.

O Supremo tribunal legaliza a desumanidade dando um passo em direcção à Idade Média e o que é pior ainda fundando a sua decisão em nome da liberdade religiosa. Os juízes enganam-se no fundamento que dão para a permissão. Ou será que querem abandalhar o religioso? Aqui não se trata do cumprimento duma obrigação religiosa mas duma prescrição para a comida. De facto não é exigida a matança do animal de maneira sangrenta. O Corão apenas proíbe o consumo de alimentos impuros (Suras 1, 168 e 5, 4) não obrigando ninguém a comer carne. Para mais a autoridade religiosa da universidade do Cairo considerou o emprego do electro-choque rápido conforme ao Corao, podendo assim, os que se orientam pela norma, renunciar à forma arcaica brutal da matança.

O mesmo se diga de touradas em que o sangue jorra e em que o animal é maltratado e morto de forma cobarde em campo.

Estas e outras tradições de barbaridade com um pouco de fantasia poderiam ser transformadas ou mesmo substituídas por práticas ou ritos mais “humanos”. Se queremos enobrecer o Homem teremos de começar por considerar e respeitar o animal tal como fazia no século XII Francisco de Assis com “o irmão burro”, a irmã vaca, “o irmão sol”…

António Justo

António da Cunha Duarte Justo