DO DITO “EM POLÍTICA O QUE PARECE É” E DA JUSTEZA DAS GUERRAS

A expressão idiomática “em política o que parece é” para ter uma perspectiva verdadeira terá que ter em vista o contexto em que é aplicada. Dado hoje a percepção pública influenciar muito os políticos, estes moldam os seus discursos de maneira a parecerem positivos e em sintonia com o que o eleitorado deseja. A frase terá a sua validade na medida em que a imagem pública (opinião das pessoas) é que irá determinar a “realidade” política separadamente do que a política faz!

Todo o espírito crítico não pode isentar a política como se fosse um sector onde não há manipulação da informação e desinformação e isto porque é da natureza da defesa de interesses criar-se aparências ou distorções para beneficiar certos atores políticos e prejudicar seus adversários.

No discurso político, a que estamos  habituados,  é notória a tendência das partes para justificarem acções hediondas e as fazerem acompanhar com rectóricas de valores éticos positivos, o que leva uns e outros a caírem numa atitude de bisbilhotice tendente a encobrir os verdadeiros interesses que se encontram por trás de muitas das acções políticas e das suas declarações públicas. Muitos políticos do topo investem na bisbilhotice pública, fazendo lembrar a dona de casa que de vez em quando lança uma mão cheia de grãos no galinheiro e deste modo cala o incómodo barulho da capoeira.

Os meus textos pretendem precisamente levar à reflexão porque nem sempre o que parece é necessariamente verdadeiro ou reflete a realidade. Importante é tentarmos sempre procurar a verdade na consciência de que não a temos (eu estou consciente que apresento apenas uma perspectiva da realidade) e por isso também estarmos conscientes das estratégias de manipulação política que podem estar em jogo tanto da parte da NATO como da Federação russa no emaranhado geopolítico em que estamos metidos e que faz prever grandes desgraças mesmo a nível mundial.

O que as parte contrárias dizem são aspectos importantes a ter em conta numa reflexão política, mas sem a necessidade de desfazer a validade de outras perspectivas!  Escrevo, não com a intenção de criar prosélitos de uma ou outra facção rival, mas para que todos participemos no discurso político público de maneira a poder-se garantir que a política seja conduzida de forma justa e responsável.

A busca de informações de fontes confiáveis exige de todos nós espírito crítico e a consciência das estratégias de manipulação política em jogo usadas pelos contraentes para imporem os seus interesses, quer de um lado quer do outro. Não se trata aqui de bagunçar a política, mas de estarmos preparados para a lermos nas entrelinhas.  Os subterfúgios de divulgação de factos manipulados (apresentados e interpretados com um objectivo em vista) e a criação de configurações simplicistas e eventos simbólicos fazem parte do negócio político.

Isso pode ocorrer através da divulgação de notícias falsas, discursos enganosos ou mesmo por meio de aparências simplistas, como ações simbólicas que parecem demonstrar comprometimento com certos valores ou questões.

Não há política de cara lavada. Não se trata de lavar a sujidade do bloco NATO com a sujidade da Federação russa, nem vice-versa. O pretendido é apresentar aspectos ou reflexões que nos nossos meios de comunicação se evitam numa meada da interpretação dos factos de tendência utilitária perspectivista.

Quanto à guerra justa trata-se de uma questão que pertence à controvérsia e não satisfaz nem a ética nem os interesses das populações porque se dá à custa de desumanidades e do preceito de vencer. Guerra justa será uma procura de justificação para uma intervenção. Costuma-se dizer que há guerra justa quando acontece em autodefesa ou em defesa de uma população oprimida o que na Ucrânia torna a coisa mais complicada do que se quer fazer crer. Um outro déficit é o facto de o povo não poder decidir de uma guerra justa, sendo isso reservado para os poderosos movidos de interesses próprios.

Quanto à guerra geopolítica a desenrolar-se na Ucrânia é uma guerra injusta também porque, no meu entender, não haverá hipótese de haver um vencedor de mãos limpas e as consequências (tidas como justas!)  serão uma guerra mundial. O que na Ucrânia aconteceu desde 2014 com a guerra civil em que foram mortos 14 mil civis e 4 mil soldados e de que não se falava e que eu em artigo de  2014 previa tornar-se num conflito mundial,  só mostra a barbaridade das partes envolvidas (Rússia, EUA, EU e os interesses de certos oligarcas ucranianos e outros a eles unidos) sem ter em conta os interesses das populações ucranianas. Segundo afirmações de políticos responsáveis ocidentais (Ângela Merkel) os acordos Minzk 1 + 2 (1) foram apenas para a EUA e a EU ganharem tempo e não para se criar paz; por isso não foi cumprido! O sofrimento humano e a destruição em via deveriam levar a parte mais humana a fomentar compromissos de paz!

Guerra só cria mais violência e injustiças; neste sentido os governantes andam todos de cara suja. O poder, o negócio e os interesses económicos são os impeditivos de iniciativas de diplomacia e de mediação. O resto resume-se em discurso hipócrita para desviar as atenções do que verdadeiramente se encontra em jogo.

António CD Justo

Pegadas do Tempo

(1) Minzk 1 + 2  abkommen https://www.bpb.de/themen/europa/ukraine-analysen/205903/analyse-faktencheck-die-umsetzung-der-minsker-vereinbarungen-zum-donbass-konflikt/

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Publicado por

António da Cunha Duarte Justo

Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

7 comentários em “DO DITO “EM POLÍTICA O QUE PARECE É” E DA JUSTEZA DAS GUERRAS”

  1. Pois…
    Eu também considero uma guerra hipócrita cheia de mentiras… cheia maquinações estudadas… cheia de teatro…
    E a par disso os países que a condenam na comunicação social são os paises que estão a obter grandes lucros com ela…
    Tapam os olhos ao povo com mentiras santas e frases enganadoras …

  2. Nos dias atuais a persuasão está cada vez mais atrelada por discursos altamente emotivos e pouco ou quase nada com toque de racionalidade, quando deveria haver um equilíbrio entre a utilização da razão/emoção num discurso com a finalidade de persuadir sobre algo. Um ministro do supremo tribunal brasileiro afirmou: “as decisões do ministro não devem ser tomadas consoante as vozes ou pedidos “das ruas”, muitas vezes devem ser contrárias e tem-se de se ter coragem para as tomar”. Queria dizer que no caso dele, não é pelas pessoas nas ruas pedirem que se mate e esfole alguém, que esse alguém será julgado e condenado pelo que a “rua” pede, mas será julgado e condenado segundo o que está em vigor pela lei, mesmo que esta contrarie a “vontade (opinião)” da rua. Mas, a informação é sempre um jogo, pois nunca vamos ter acesso ao quadro completo da informação e quem manipula sabe disso e jogo com isso para inflar ânimos e persuadir num direção por vezes muito errada. Cabe a nós sentar, escutar e refletir antes de tomar decisões.

  3. Nelson Luis Carvalho Fernandes , exactamente! Actualmente há na justiça também a tendência a envolver nas suas decisões o pensar das maiorias ou a cultura base do infractor! Assim, na Alemanha, já tem havido por delitos sexuais, o tribunal ser mais rigoroso e aplicar uma pena mais pesada a um alemão do que a um refugiado de algum país árabe. Também a justiça está muito condicionada politiicamente, o que exige grande humbridade da parte de juízes nas suas sentenças. Importante é saber-se disso para não sermos levados como anjinhos embora isso não pressuponha que nos tornemos diabinhos a juntar-se aos outros!

  4. O ocidente preparou o desenrolar do teatro. Quem acompanhou o desenrolar das intrigas na Ucrânia desde 2007 só se pode admirar como é tão fácil influenciar as pessoas. Agora percebo porque o pobre povo alemão foi levado a apoiar o seu governo encabeçado por Hitler.

  5. Manuel Campos, quem mais contribui para o crescimento da AfD são os Verdes no Governo. Infelimente a sociedade e partes dela geralmente só reagem ao agir dos governantes! A AfD é só a ponta do iceberg de uma sociedade levada à direita e à esquerda de forma equívoca! O problema social e democrático de hoje é que como nos tempos de má memória a classe governante e grande parte dos Media que a acolita fomenta uma opinião indiferenciada e faz uso das mesmas estratégias monopolizadoras de que se serve também a AfD. Regista-se por todo o lado o repetir de frases tipo mantra, tudo a engrossar a enxurrada do mainstream. Quase só se observam professos de um lado ou do outro e deste modo não se cria espaço para a discussão e análise de posições como seria de esperar de uma democracia um pouco mais adulta. Encontramo-nos agora numa Alemanha de soldados cada vez mais longe da Alemanha dos escritores: aquela Alemanha em que a Europa ainda constituía uma tradição e um projeto válido! Neste momento a Europa encontra a sua expressão quase reduzida ao discurso político, o que, no meu entender, é expressão da sua fraqueza num momento em que parece só valer a linguagem militar no sentido de formar fileiras em terreno alheio.

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