E POR QUE NÃO FAZERMOS PERGUNTAS À MANEIRA DE SÓCRATES?!

Erich Kästner dá um Exemplo

Tenho lido Erich Kästner (Escritor alemão) e gostado muito da sua linguagem! Apresento aqui um exemplo da sua maneira simples de chegar às pessoas!

Com o título “À maneira de Sócrates”, Erich Kästner quer-nos chamar a atenção para lermos o seu epigrama na atitude filosófica de Sócrates (processo maiêutico/Técnica de parteira) que, em diálogo, através de perguntas seguidas de perguntas – sem responder à pergunta – leva o interlocutor a descobrir a resposta que se encontra nele mesmo!

“À MANEIRA DE SÓCRATES

É mesmo assim: É das perguntas,

a partir das quais se levanta o que resta.

Pense na pergunta daquela criança:

“O que faz o vento quando não sopra?” Erich Kästner

Na pergunta da criança Kästner quer certamente questionar a nossa arrogância de se querer ter já na gaveta uma resposta ou solução para tudo.

Certamente haverá perguntas que ao darmos-lhes resposta só mostramos nelas as pegadas do nosso espírito!

Na realidade nas perguntas da criança questiona-se o saber aparente (ignorância) dos adultos que se dão por satisfeitos com uma resposta, ficando-se também aí pelo estado do não saber!

Sócrates com a exigência primeira do “conhece-te a ti mesmo” para poderes tentar conhecer o mundo acaba por responder ao oráculo que o considerava o maior sábio da Grécia dando-lhe a resposta: “só sei que nada sei”? A base da busca será saber que nada se sabe porque a certeza absoluta será questionável!

A saída do dilema do não saber será de encontrar não fora, mas na resposta pessoal ou personalizada por nós mesmos ao criamos a realidade. Poderá ser o vento explicado só com o movimento do ar?!!! De facto, para nos podermos acercar do assunto da resposta teríamos de ir fazendo perguntas e até chegarmos a ultrapassar a complexidade da meteorologia e sua dependência da astronomia!

MAIS UMA PERGUNTA DE KÄSTNER
“ Uma questão de coragem
Quem se atreve
Quem se atreve a enfrentar os comboios trovejantes?
As pequenas flores
entre as travessas de caminho-de-ferro!”
Erich Kästner
Uma possível interpretação da mensagem poderia ser: De facto, quem tem de assumir o risco dos poderosos que passam no seu caminho é sempre o mais simples (o povo) que por natureza da sua insignificância não estorva e como tal também não assume risco! Não há heróis! Os mais fortes combatem-se uns aos outros na esperança de terem o povo atrás deles!

 

António CD Justo

“Pegadas do Tempo”

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Publicado por

António da Cunha Duarte Justo

Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

8 comentários em “E POR QUE NÃO FAZERMOS PERGUNTAS À MANEIRA DE SÓCRATES?!”

  1. Aber, es gibt dann keinen Wind und wenn er nicht da
    Ist, da tut er eben auch nichts…vento, vento, ar em movimento, vento, ventinho, brisa de ar fresquinho, vento, ventania, sinal de invernia, vento, ventão com calor do Soão, etc. Brincadeiras…maiêuticas…?

  2. Claro, o meu escrito não passa de brincadeira…a meteorologia e as astronomia interagem, o vento provém sempre do movimento, provavelmente não só de ar, mas também de outras ondas…e uma resposta nunca é definitiva e contém novas perguntas…disso em boa hora se apercebeu Sócrates e associou-lhe o método de trabalho de sua mâe parteira. Como dizia um filósofo fracês: il n’y a rien de définitif que le provisoire…tudo é provisório, definitivamente, os céus e a terra passarão, só o LOGOS permanecerá eternamente numa unidade de definitivo/provisório?, e provisório/definitivo? No princípio era o Verbo…se calhar, tb no meio e no fim será sempre o Verbo… para Goethe, representante dos humanos, no princípio era a acção, …die Tat…

  3. António Cunha Duarte Justo sim, mas a “palavra” é já uma tradução muito recente. Verbo (que aqui não é o só o verbo no sentido da palavra que designa accão, p.. ex., , comer, beber, dormir, trabalhar, estudar, amar, etc), mas qualquer categoria morfológica de palavra, envolvendo um
    conceito abrangente semelhante ao logos ‘grego’. Foi com ‘verbo” que S. Jerónimo traduziu logos do grego, ambas de sentido muito abrangente, de tal forma que o Verbo/logos era Deus e estava com Deus. Foi com ‘verbo’ que a tradução de Almeida, a mais antiga na nossa língua, se fez. Palavra em vez de verbo/logos, sinónimo de informação parece operar uma redução em toda a linha de um signicado bem mais abrangente e mais profundo. Há um ensaio de uma excelente linguista portuguesa (Alina Vilalva, creio ?!) que delimita o peso especifico de termos aparentemente sinónimos como, palavra, termo,vocábulo.Infelizmente, encontro-me longe da minha biblioteca pessoal que me poderia ajudar imediatamente. Já li esse ensaio há pelo menos uns 15 ou 20 anos…são, contudo, pormenores que permitem afinar ou desafinar uma concepção…

  4. Muito boa a sua abordagem porque por mais que se diga ou interprete em relação ao Logos, Verbo, Palavra, Informação, será sempre mais uma abordagem no fascínio do mistério, e cada um é sempre enriquecedor porque a Palavra/Verbo na qualidade de processo expressa-se num contexto sempre novo seja a nível subjetivo/antropológico, cultural/sociológico ou teológico/metafísico.
    Naturalmente que aqui a Palavra/Verbo/Logos é abordada de uma maneira diferente à da morfologia, sintaxe ou gramática embora esteja muito conectada com ela e quem entrar no estudo da língua ou linguagem (morfologia, sintaxe, semântica…), certamente se encontra no melhor caminho para melhor entender a complexidade do Logos/Verbo/Palavra.
    O antigo termo grego logos ( lógosem grego e verbum em latim), não é redutível ao significado normal de Palavra/Verbo; refere-se à dinâmica e ao sentido geral da realidade e como tal assume uma imensa gama de significados (ultrapassando como já afirmei, o conceito de discurso, signo significante ou significado), que pecam muitas vezes por se limitarem à capacidade mental lógica.
    Logos/Verbo/Palavra/Informação implica aqui processo, relacionamento, razão, intenção, acção não se reduzindo a Palavra ao seu aspecto de objeto de conhecimento.
    A Palavra/Verbo/Logos no sentido teológico tem sempre um efeito (é acção, a potência, o acontecer, processo de “encarnar”). Em linguagem cristã essa Palavra/Verbo/Logos (Palavra feita carne) é Jesus Cristo, diria, a Palavra em accão e como tal o divino, como processo relacional base de tudo: o Amor/Paráclito! (Aqui daria pano para mangas entrarmos numa visão cristológica- Cristologia sistemática, onde Deus fala e ao mesmo tempo cria o que pronuncia).
    Quando falo do Logos/Palavra/Verbo/Informação procuro expressá-lo no sentido bíblico/teológico e para melhor corresponder a uma linguagem mais acessível à mentalidade atual tenho empregado também a palavra Informação. Mesmo assim mantenho-me dentro da abordagem do Prólogo do evangelho de João: «No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Tudo foi feito por ele; e nada do que tem sido feito, foi feito sem ele. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.» (João 1:1-4)
    O Logos era de acordo com a sua essência Deus! O verbo, “a sabedoria de Deus, estava no mundo, e o mundo tornou-se através dele, mas o mundo não o conhecia”…

  5. Em noite de lua cheia,
    pergunta de criança:
    – Lua cheia de
    de quê?
    Pode-se encontrar uma resposta para criança, mas fica uma dúvida até na sua expressão.
    No Princípio era o Verbo, a Palavra, a
    Informação,
    Acção…. tudo em processo….
    Aqui cabem todas as respostas.
    Continuemos, pois,
    a reflectir.

  6. É verdade, e por mais que discursemos ficará sempre um grande espaço para o mistérios. Nós vamo-nos criando à medida que falamos na tentativa de dar forma à Palavra. Logos/Verbo/Palavra/Informação implica aqui processo, relacionamento, razão, intenção, acção não se reduzindo a Palavra ao seu aspecto de objeto de conhecimento.Na tentativa de definirmos para nos definirmos vamos dialogando na tentativa de chegarmos à actividade criadora, de nos tornarmos Verbo/Logos!

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