O que o Papa verdadeiramente disse sobre o preservativo
António Justo
Um jornalismo ávido do escândalo conseguiu, torcer e retorcer as palavras do Papa para assim activar o espírito de indignação duma opinião pública ao sabor dos letreiros dúbios dos jornais.
Assim a mentira (1) dum jornalista entrevistador do Papa, ainda ele não tinha pisado terras africanas, conseguiu desviar as atenções da imprensa mundial. Como se o problema da África fosse a sexualidade, uma imprensa mais interessada no preconceito do que nos verdadeiros problemas de África pôde produzir muito ruído sem ter de se empenhar nem confrontar com a realidade do povo, a realidade que interessa ao pontífice. A imprensa internacional, à caça de sensacionalismos pouco ligou ao povo e à mensagem do Papa. Procurou, através de sensacionalismos fomentar a sua quota de venda ou de espectadores. Por outro lado, o oportunismo político e ideológico de Zapateiro de Espanha manifesta-se no envio dum contentor de preservativos. A arrogância europeia está mais uma vez documentada no gesto espanhol. Vivemos cada vez mais num estado de infantilismo democrático. Os Africanos são desta maneira ridicularizados e instrumentalizados ideologicamente em vez de serem ajudados de facto. Segundo investigações científicas da ONU a simples distribuição de preservativos, sem mais, piora o problema do S.I.D.A. porque diminui as cautelas a ter. O problema do S.I.D.A. não se resolve com preservativos nem com proibições! Da precocidade sexual e da poligamia ninguém fala.
Parece tornar-se normalidade um jornalismo de função parasitária cada vez mais interessado em desviar as atenções do essencial.
Entre cinismo e ingenuidade desconstrói-se, a pretexto de informação. As catástrofes da realidade não são entendidas nem decifradas, só interessam num sentido voyeurista ou numa descrição da realidade como se tratasse de visitas a teatro. Naturalmente que também há jornalismo sério, mas este exige mais tempo de observação.
A Igreja vê a questão dos preservativos no conjunto da educação sexual como uma questão apenas complementar. Pelo contrário ideologias proletárias que pouco mais têm que sexo para oferecer conseguem ganhar perfil e até ter razão na superficialidade reduzindo um povo a instinto.
António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com
(1) Texto completo da entrevista ao Papa Bento XVI: Repórter: “Santo Padre, um dos maiores flagelos de África é o problema da epidemia de S.I.D.A.. A posição da Igreja Católica na luta contra este mal tem sido frequentemente considerada irrealista e ineficaz.”
Bento XVI respondeu: “Eu diria o contrário. Estou convencido de que a presença mais efectiva na frente de batalha contra o HIV/S.I.D.A. são, precisamente, a Igreja Católica e as suas instituições. Penso por exemplo na Comunidade de Santo Egídio, que tanto faz e tão
visivelmente na luta contra o S.I.D.A; ou nas Camilianas, só para mencionar algumas das freiras que estão ao serviço dos doentes. Penso que este problema, a S.I.D.A., não pode ser vencido com slogans de propaganda. Se falta a alma, se os Africanos não se entreajudarem, o flagelo não pode ser resolvido com a distribuição do preservativo; pelo contrário, arriscamo-nos a piorar a situação. A solução só pode advir de um compromisso duplo: primeiro, na humanização da sexualidade ou, por outras palavras, num renovamento espiritual e humano que traga consigo uma nova forma de proceder uns para com os outros. E em segundo lugar, num amor autêntico para com os que sofrem, numa prontidão – mesmo à custa de sacrifício pessoal – para estar presente junto dos que padecem. São estes os factores que podem trazer o progresso, real e visível. Assim, eu diria que o nosso esforço deve ser o de renovar a pessoa humana por dentro, o de lhe dar força espiritual e humana para uma forma de comportamento justa para com o seu corpo e o corpo do outro; e ainda o de ajudá-la a ser capaz de sofrer com os que sofrem e de estar presente nas situações difíceis. Acredito que é esta a primeira resposta ao problema da S.I.D.A., que é esta a resposta da Igreja e que, deste modo, a sua contribuição é uma grande contribuição. E estamos gratos a todos os que assim contribuem.”