Portugal a Caminho do Absurdistão?

Não se passa um dia sem que na imprensa portuguesa se relatem absurdismos de entidades do regime democrático português. Fala-se de abstrusidades na escola, na justiça, na administração em geral, no moralismo governante, nas nomeações, no desemprego sempre crescente, no anedótico do dia a dia, etc.

O caso que agora se passou na Direcção Regional de Educação do Norte (DREN) parece ser apenas a ponta do iceberg fascista /estalinista duma administração pública que persiste em continuar na do “orgulhosamente sós”.

O professor de Inglês requisitado pela Direcção Regional de Educação do Norte (DREN) foi agora suspenso por ter gracejado sobre o processo da licenciatura do Primeiro-ministro na Independente. A directora do DREN justifica (1) o afastamento do professor com o comentário do professor.

A decadência moral provocada por abrilistas levianos e oportunistas é tão grave que estes já se atrevem, em nome do novo regime, fazer em pleno dia o que os do antigo reservavam para a escuridão da noite. O regime partidário parece cada vez perder mais a vergonha. Cidadãos são incriminados pelo facto de terem opinião. Uma administração que rouba a maioridade aos cidadãos em que nome fundamenta a discriminação? Terá o Estado a necessidade de governar com o medo e a insegurança. Isto é muitíssimo grave pelo facto de acontecer num regime que se define pela sua demarcação perante os regimes totalitários. A administração pública lembra a terra maninha onde a irresponsabilidade ganha continuidade e se perpetua. Quer-se aumentar o poder dos governantes à custa da dignidade dos cidadãos apezinhada. Uma administração, que já não é capaz de reconhecer na natureza dum comentário anedótico o seu próprio espírito submisso, anseia inconscientemente pela ditadura.

O professor bem tentou desculpar-se (2) mas a nossa administração não conhece a graça, a gratidão, ela vive do ressentimento, no domínio entre pensar e obedecer.
A governança parece esconder-se por detrás do tabu estatal actuando preventivamente através duma administração pidesca e de bufos. Neste como noutros sectores cada vez se observa mais a intervenção duma política restritiva do estado de direito em favor dum estado vigilante e ciumento.

A senhora directora, embora prosélita, aos olhos democratas, prestou um mau serviço ao Primeiro-ministro e a Portugal.
Será de desejar que o zelo da directora, ao suspender o antigo deputado do PSD, não será de motivação partidária atendendo a que grande parte da administração pública relativa ao ensino se encontra, pelo que conheço, quase exclusivamente nas mãos de filiados nos partidos de esquerda. Embora estes se encontrem em maioria, isto não justifica atitudes nem direitos totalitários.

Numa sociedade em que tudo se torna anedótico, em que “o serviço” autoritário da administração pública não suporta a opinião, o Estado pode continuar a manter o presente processo no segredo dos deuses. Para os mais atentos, com a sua atitude, a directora torna o primeiro-ministro cúmplice deste sistema. Já os romanos sabiam: “aquele a quem se permite mais do que é justo, quer mais do que é permitido”…
Num Estado em que servir-se do Estado e do Povo é mais rentável que servi-los, tudo é possível. O mau serviço é apenas uma acumulação de fragilidades. Temos responsáveis que brincam ao faz de conta. Num país de curiosos da vida, os camaleões do poder parecem proliferar de modo especial. Continuamos a viver da apagada e vil tristeza dum fascismo que apenas acompanha a moda no camuflado. Na sua essência continua estático, centralista, autoritário. Esta macrocefalia pode verificar-se também na centralização não só do poder como de tudo o que é representativo na região de Lisboa.
Um País de Balda
A administração como colónia de férias da eficiência e de beneméritos sindicais e partidários, a migração como escapatória da capacidade criativa, tudo faz de Portugal uma sociedade anónima de responsabilidades delegadas.
Um sistema que não toma a sério os seus destinatários e desconhece o dever de assistência para com os seus subalternos vive da dessolidarização. A subserviência, o cálculo, a hipocrisia e a cortesia estimula também na administração portuguesa um comportamento autista sem frontalidade.

O insucesso dos alunos não é apenas o insucesso parcial do sistema escolar. As escolas tornaram-se campo de férias da inteligência e Portugal cada vez se torna mais campo de férias das virtudes que o tornaram grande no passado. Um país porém não pode estar sempre de férias reduzindo o trabalhador a dependente, a escravo.

O espírito esclavagista permanece aninhado, embora de rosto domingueiro, nas nossas repartições estatais; o insucesso e uma certa ineficiência generalizada são o mal dum sistema num país de balda. O fascismo está em todas as cores; com o 25 de Abril ele apoderou-se descaradamente das administrações estatais.
Portugal não tem problemas orçamentais nem problemas de formação académica.
Os problemas são de gestão e de capacidades, uma questão de mentalidade. Duma maneira geral domina a mediania dos “iluminados do hábito” e a ideia de que a verdade é partidária.

Num país de bonzinhos não chega ter políticos bonzinhos. Não basta que Portugal continue a definhar dos remédios e mezinhas que sempre toma. Já chega de ejaculação de ideias ocasionais, de tanta verborreia abrilista. Eles comem tudo e não deixam nada. Eles apoderaram-se e continuam a abusar do 25 de Abril, como pastilha que tudo cura. Quando tal não temos povo, não temos Portugal; também Portugal terá que emigrar.

Na ditadura não há espaço livre, ela apodera-se das administrações para que os chefes se apoderem dos súbditos e estes do povo.

O rei vai nu.

António Justo

(1) Segundo a directora regional trata-seum caso grave de”insulto feito no interior da DREN, durante o horário de trabalho”. E continua: “Os funcionários públicos, que prestam serviços públicos, têm de estar acima de muitas coisas. O Sr. Primeiro-ministro é o primeiro-ministro de Portugal”. “Uma coisa é um comentário ou uma anedota outra coisa é um insulto” além de “poder haver perturbação do funcionamento do serviço”. “Não tomei a decisão de ânimo leve, foi ponderada”, “O inquérito será justo, não aceitarei pressões de ninguém. Se o professor estiver inocente e tiver que ser ressarcido, será.” A senhora directora, como boa administrativa, ainda não parece ter percebido as andanças da democracia e que o Primeiro-ministro não é um caudilho com uma administração pidesca que lhe aplana o caminho. Além disso em democracia, o Primeiro-ministro além de não ser ileso fez promessas que não cumpriu, não podia cumprir. Qual será mais grave: a mentira das promessas dum ministro e a confusão em torno da sua licenciatura em que poderão não ter faltado os secretos amigos da maçonaria ou um comentário “desrespeitoso” dum serviçal que se encontra numa organização de ocupação partidária desigual? Cuius rei eius religio.
(2) O professor justifica-se: “Transcreve-se um comentário jocoso feito por mim, dentro de um gabinete a um “colega” e retirado do anedotário nacional do caso Sócrates/Independente, pinta-se, maldosamente de insulto, leva-se à directora regional de Educação do Norte, bloqueia-se devidamente o computador pessoal do serviço e, em fogo vivo, e a seco, surge o resultado: “Suspendo-o preventivamente, instauro-lhe processo disciplinar, participo ao Ministério Público”.
O professor, com tantos anos de experiência administrativa também pecou. Pecou por ingenuidade e por aparentemente desconhecer o ser da administracao e do oportunismo que ela, duma maneira geral gera.

António da Cunha Duarte Justo
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António da Cunha Duarte Justo

Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

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