Distúrbio Bipolar

Falo desta doença porque já tive amigos que sofriam de Distúrbio Bipolar e a amizade sofreu, pelo facto de eu os considerar como pessoas sem dificuldades (normais). Recentemente conheci uma amiga que identifico como ter esta doença. Por isso vou falar da doença na esperança de poder ajudar.

Esta é uma doença muito difícil de descobrir embora haja entre 1% e 8% de pacientes na população, conforme os graus da doença. Familiares e amigos queixam-se mas vão sofrendo com o comportamento de tais pacientes sem qualquer possibilidade de os ajudar de facto. Muitas amizades destroem-se, muita desilusão! Sofre o paciente porque pensa que é normal e sofrem os familiares e amigos porque o tratam como normal: dum lado e do outro um factor comum: a desilusão.

Esta doença pode ser bem dominada e a pessoa passar a ter um comportamento regular se o paciente se tratar, se for ajudado e se se deixar ajudar.

Muitos médicos não reconhecem a doença porque os pacientes só se dirigem a eles na fase depressiva, deixando na sombra outros sintomas muito importantes, os da fase eufórica. Por isso só 10% a 15% recebem terapia adequada. Na origem da doença está um factor genético além de circunstâncias duma vida estressante que conduz à sua manifestação.

A doença caracteriza-se por duas fases: uma fase depressiva e uma fase eufórica. Na fase Depressiva há carência de Noradrenalin e Sertonin. Na fase eufórica aumento de Dopamin e Noradrenalin.

Sintomas
Dá-se uma oscilação de impressões (boa e má disposição) muito extremas. Com o tempo não se chega a notar o porquê da mudança de humor. A uma fase de boa disposição e euforia segue-se uma fase depressiva (dias, semanas, meses, …). Também pode haver fases de mania ou depressão quase ao mesmo tempo. Estas fases de mistura são um peso muito grande para o paciente e para a família e amigos. Distúrbios bipolares não são apenas perturbações de boa ou má disposição. São doenças que perturbam todo o ser do paciente a nível de pensar, sentir e agir.

A doença decorre em episódios de mania eufórica e de depressão em períodos de 4 a 12 meses, sendo a fase depressiva mais longa.

Sintomas do pólo eufórico (mania):
Sentimento muito elevado de boa disposição exagerada e acompanhada do sentimento subjectivo de grande capacidade de trabalho (criatividade e engajamento). Não têm grande necessidade de dormir e de descansar. Em casos extremos surgem alucinações. Não aceitam ter problemas e falta-lhes o espírito crítico. Falam muito e falta-lhes a distância no trato com outras pessoas. Têm saltos de ideias de modo que o interlocutor tem dificuldade em segui-los. Começam muitas coisas, muitos trabalhos mas não os acabam. Sentem-se ser os melhores; para eles, nesta fase, não há pai! Para levarem um trabalho ao fim fazem esgotar a paciência daqueles que lhe deram o trabalho. São desinibidos e têm a mania de comprar sem olhar às suas possibilidades. Vivem sempre com as calcas na mão. Também no exercício da sexualidade exageram. Têm grandes ideias, e planeiam continuamente algo mas contentam-se com os planos. Grande sobrestimação de si mesmos. Vivem sempre com dívidas devido ao irrealismo e exagerada avaliação de si mesmos. São convencidos e chegam a convencer no princípio. A desinibição exagerada leva-os ao sentimento de vergonha e culpa na fase depressiva.

Sintomas na fase depressiva:
Nesta fase o paciente sente o apagar-se dos sentimentos, dá-se como que um empedernimento e a perca de interesse e energia. Falta de concentração e de autoconfiança, falta de alegria e tristeza, desinteresse sexual e de coisas alegres; cisma e vê o futuro negro. Tem perturbações no sono, por vezes muita necessidade de dormir. Falta de apetite mas às vezes exagero de apetite. Falta de concentração e de atenção, incapacidade de tomar decisões, sentimento de não valer nenhum. Desejo da morte até à tentativa de suicídio. Sentimento de aperto no peito, disenteria ou prisão de ventre.

No caso de fases mistas de mania e depressão, há grande perigo de suicídio pelo facto de possuir ao mesmo tempo impulso acrescentado e de ideias depressivas.

Diagnosticar a doença
O terapeuta para encontrar a diagnose exacta terá de conhecer a história toda do paciente, quer da fase eufórica quer da depressiva. Para isso o psiquiatra precisaria não só de ouvir o paciente como pessoas da sua relação, dado não haver métodos laboratoriais de diagnose. A diagnose é dificultada pelo facto do paciente não reconhecer a fase eufórica como uma fase doente.

Profilaxe
A terapia medicamentosa nunca deve ser interrompida, durante toda a sua vida. O paciente tem de aprender a reconhecer os sinais que anunciam uma fase ou outra. Ainda não há medicamento que terapiem directamente a susceptibilidade genética. Trata-se de controlar a doença. O método terapêutico depende da gravidade da doença.

No tratamento empregam-se duas espécies de medicamentos: estabilizadores da disposição e medicamentos de intervenção. A medicação só tem efeito completo depois de duas a três semanas. Os medicamentos de intervenção acompanham o paciente durante toda a sua vida.

Na Alemanha emprega-se várias substancias como medicamentos estabilizadores da disposição: Lithium e os três antiepilepticos: carbamazepin, valproat e lamotrigin. Também se usam neurolépticos atípicos.

Medicamentos de intervenção usam-se na fase aguda da depressão e da euforia. Empregam-se neurolépticos na mania e anti depressivos na depressão, além de remédios para dormir ou sedativos.

Há outras formas de terapia não medicamentosas. Uma delas é a Electroconvulsiosterapia (EKT) no caso de risco de suicídio.

Apoio
Um paciente precisa duma pessoa de relação que o ajude. Esta deveria receber do paciente o encargo de tomar a iniciativa em casos precisos. Deveria com ela, na fase equilibrada, combinar as medidas que ela deve tomar nos momentos da crise. Esta doença envolve todas as pessoas da relação do paciente. Fundamental é que todos aceitem a doença e o tratamento. Fundamental é o controlo da recepção dos medicamentos. Então passará a haver sucesso. Cada paciente deve tentar descobrir o que melhor o pode ajudar: desporto, arte, etc. Muito importante é o ambiente que se frequenta e que espécie de amigos.

Pessoas com doença bipolar podem ter fases de necessidade de internamento.

São instáveis e muitas amizades e laços familiares destroem-se chegando por vezes ao desespero. São pessoas de grande capacidade artística e teatral que na fase eufórica dão o melhor de si.

Como a produtividade varia muito, geralmente não se mantém muito tempo no mesmo patrão. Muitos entram na reforma precoce.

Família
A família deve estar informada sobre a doença para poder ajudar e poder ajudar-se a si.
O paciente precisa de muita compreensão e paciência na fase depressiva. Paciência e compreensão sem o pôr sob tutela. É importante que não se sintam abandonados.

Na fase eufórica o paciente sente muitas vezes os familiares como pessoas que impedem o seu desenvolvimento e realização.
Estes pacientes fazem grandes dívidas o que complica a sua vida e a dos outros.
Os familiares são os primeiros a notar que algo não está em ordem: a sombra da depressão ou o irrealismo da mania, a fase dos grandes projectos. Surgem problemas de dinheiro e de consumo exagerado.

Na fase depressiva precisam de: Companhia sem intervir. Dar sinal que no caso de necessidade se está disposto a ajudar. Não criticar.

Na fase eufórica: Aqui é mais difícil o acompanhamento porque o paciente geralmente nesta fase não aceita ajuda. Uma possibilidade é mandar cancelar a conta bancária e impedir que malbarate o dinheiro e levá-lo a cortar com influências más. Isto naturalmente causa crise, embora fosse necessário. Importante seria fazer um acordo das medidas a tomar mas antes da fase eufórica começar, o mesmo se diga do tratamento.

Muito importante seria participar em grupos de ajuda para troca de experiências e apoio. É importante o engajamento em comum. Sem o apoio de terceiros é muito maior o sofrimento!

Os pacientes são geralmente muito sociáveis e muito prendados. A energia que desenvolvem na fase eufórica encanta muita gente. Estão sempre dispostos a ajudar este mundo e o outro, mesmo sem deitar contas à própria vida. Depois não chegam para as encomendas e andam sempre a correr atrás do acontecimento. São muitas vezes explorados por oportunistas que abusam da sua bondade natural e do seu irrealismo. Quando têm são uns mãos largas; não deitam contas à vida. Têm um grande problema com a realidade!

António Justo

António da Cunha Duarte Justo

Aflição nos Joelhos

O Sindroma Restless-Legs
Nas férias de verão em Portugal tive contacto com uma família que se queixava de aflições, especialmente nos joelhos, nos tornozelos e noutras articulações. Como vi que se tratava duma doença chata e desconhecida, informei-me aqui na Alemanha e foi-me dito que se tratava de “Restless-Legs-Sindrom.

O Sindroma Rstless-Legs (RLS) geralmente não é diagnosticado não sendo por isso tratado. Não se conhecem as razoes dos sintomas pelo que não há tratamento para a sua causa.

É uma aflição entre formigueiro, comichão, ardiume e um puxar. Esta aflição pode dar-se nas pernas, coxas, joelhos, pés. Em casos mais adiantados também se manifesta nas mãos e nos braços. Os sintomas surgem, principalmente à noite, quando se está parado (sentado ou deitado). Sente-se uma inquietação e um impulso para se movimentar.

De facto o movimentar-se provoca um melhoramento da situação, assim como esfregar, massajar ou um duche frio das pernas. Há pessoas que de noite não podem dormir causando isto outras doenças psíquicas. Os sintomas tornam-se geralmente mais fortes com a idade. No aparecimento dos sintomas tanto pode haver pequenas pausas como grandes intervalos (semanas, meses, anos).

Há cerca de 5% a 10% da população atingida por esta doença neurológica.
Não se sabe a razão desta doença. Pensa-se que é uma doença do sistema nervoso central.

Factores genéticos desempenham aqui um grande papel. Geralmente um cônjuge transmite a doença a metade dos filhos.

Em casos extremos são receitados medicamentos que se usam também na terapia Parkinson embora esta doença não tenha nada a ver com aquela.

O tratamento provoca efeitos secundários como perturbação do sono e outros.

Informações detalhadas sobre Restless-Legs-Syndrom podem ser certamente pedidas à Caixa de Previdência que poderá dar indicação de médicos especializados no assunto.

António Justo

António da Cunha Duarte Justo

Nova Cidadania – A Cidadania Proletária

Aulas de Educação Cívica – Aulas da Religião do Estado?
Esta semana, Rui Pereira, ministro da Administração Interna, discursou na Escola Superior de Educação de Leiria, sobre as aulas de Educação Cívica e seu significado para ” a mudança de mentalidades e a construção de um Portugal melhor”. O senhor ministro da Administração atribui ao Estado não só a missão de transmitir valores como também a de mudar mentalidades.

Isto corresponde à visão marxista dum estado proletário. Longe de qualquer visão democrática abre-se aqui caminho para o estado nacional-socialista, para o estado estalinista e para toda a forma de governo fascista. Que mentalidade quer ele e que Portugal? Não seria também oportuno a introdução duma disciplina onde se aprenda a ser feliz?!!! Isto traz água no bico. Até faz lembrar os velhos tempos da ditadura. Ou será isto um sinal de que já chegaram com o seu latim ao fim!

O direito de mudar mentalidades não pode ser reduzido a nenhuma forca social ou estatal; a mudança de mentalidade é resultante da competição de interesses, ideias e práticas no seio da sociedade. A intenção anunciada pelo senhor ministro pressuporia uma coarctação da liberdade de pensamento e de expressão. Um estado democrático que esteja consciente dos princípios em que assenta não está legitimado para impor qualquer ideologia nem tão-pouco os valores da maioria.

Que ideologia irá então ser beneficiada? Será que em Portugal a proveniência dos alunos é homogénea a nível social e de mundi-visões?

Um exemplo do fracasso duma tal ideologia que confia na estratégia dum Estado orientador, temo-lo no resultado do montão de cacos partidos deixados pelos sistemas do socialismo real e semelhantes fascismos.

Mesmo o reconhecimento comum de certos valores implica várias interpretações e aplicações em relação aos mesmos.

Em democracia quem mais ordena é o povo, ou deveria sê-lo, e não a ideologia da nomenclatura que não respeita ética nenhuma e muito menos a dignidade humana. Para ela não há povo, apenas conhecem proletários e massa desprezível. Por onde passam deixam sempre o rabo de fora! Naturalmente que têm direito de defender os seus interesses e credos; o problema é se o povo dorme. No fim teremos Estado e massa sem cidadãos.

Boçais, em nome do proletariado e do futuro de Portugal, lá vão iludindo o povo. Convencidos que para este chega um pouco de futebol, de sexo e de pão tornam-se em redutores da vida na sua acção de vulguizar a privacidade humana. Já não lhes chega a praça pública, apoderam-se da administração para imporem a sua ideologia e disciplina.

Uma democracia começa a sofrer gravemente quando a disciplina do povo permite a indisciplina dos governantes.
O que precisamos é dum Estado que garanta e defenda a prática dos valores fundamentais. Não queremos um estado crente apenas interessado em alguns aspectos meramente ideológicos da revolução liberal, da forma de governo republicana ou do exemplo estalinista.

Tirem as mãos dos professores. Não queremos ministros da administração dos professores mas sim ministros dos cidadãos. A preocupação do Governo deve ser gerir e não assumir a função de patrão. Deve naturalmente intervir mas sobretudo como árbitro.

Uma certa visão marxista superficial, mais visível nas periferias da civilização, quer um estado árbitro e jogador. As claques compra-as com benesses e camisolas atiradas à multidão. Esta mentalidade encontra-se ainda muito impregnada nalgus funcionários do partido socialista. Estes em vez de o servir, servem-se dele.
Portugal merece mais.

António Justo

António da Cunha Duarte Justo

Recepção do Dalai-Lama – Um Gesto Soberano

A chanceler alemã Ângela Merkel recebeu na chancelaria alemã o Dalai-Lama, representante dum povo subjugado e uma autoridade para budistas dentro e fora da Ásia. Dalai-Lama o chefe supremo dos tibetanos vive desde há 50 anos no exílio na Índia.

Ângela Merkel recebeu o Dalai-Lama apesar dos interesses alemães na China. Este gesto não prejudicará os imensos interesses económicos da Alemanha na China porque o regime de Pequim tomará mais a sério uma Alemanha honesta e leal.

A China faz tudo por tudo para que o tema do Tibete não apareça na ordem do dia a nível internacional. O problema porém só poderá desaparecer da ordem do dia desde que a China resolva o problema com responsabilidade. O interesse económico não se deveria impor à custa da liberdade e da democracia. O silêncio cúmplice de muitos governos ajuda o desejo da China a levar o tema ao esquecimento.

O regime chinês naturalmente que não gosta de ser recordado do mal feito. Verdade é que o olhar severo da grande estátua do Buda de Lantau (Hongkong) tem razão para continuar a olhar severamente na direcção de Pequim.

Ângela Merkel fez frente à China, mostra coragem e que a política também se preocupa com os problemas dos mais fracos a nível de ordem do dia. A Alemanha mostra com este gesto que também vive os seus valores. Não só se preocupa com o pão mas também com o espírito. Faz diplomacia pela liberdade e democracia.

As circunstâncias em que decorreu a visita do Dalai-Lama a Portugal e o comportamento do governo mostraram-se indignos dum Portugal independente e soberano. Tendo embora o socialismo um fraquinho pelos regimes comunistas, quando se encontram à frente dos governos, deveriam porém dar primazia aos interesses do Estado e da democracia.

Também a demonstração suave dos monges budistas em Birma na defesa de direitos humanos e da democracia bem como o seu grito subjacente de apelo à ajuda internacional mereceria mais empenho público e não apenas palavras bonitas e accionismos ocasionais.

António Justo

António da Cunha Duarte Justo

União Europeia – Razão e Fé

Partidos à Margem da Nova Mundivisão Científica

A Europa foi desbravada com a charrua da fé e da razão. Também Portugal, na sua fase áurea, foi à conquista do mundo, com o arado da fé e da razão, contribuindo com a sua obra colonizadora para o desenvolvimento das civilizações.

Em que se terá de basear hoje a Europa para a conquista do futuro? Na redescoberta da união da fé com a razão, na reunião da filosofia e das Ciências Naturais?

O que resta de Cristão no Ocidente? A investigação do específico religioso na cultura europeia não se pode reduzir a um trabalho de arqueologia. Exige uma tarefa de argumentação dialógica. A Europa é judaica, grega, romana, bárbara, ortodoxa, católica, protestante, revolucionária, dialéctica e mística. Dela surgiu a globalização que é o início da resposta ao espírito novo, à nova consciência do ser humano a que o século XX deu base com a superação das contradições de espaço e tempo no contínuo espaço-tempo e a superação do dualismo matéria-energia. Esta descoberta ainda não entrou na consciência política europeia.

Desenvolvimento da Consciência Europeia
No desenvolver das nações, nos seus altos e baixos, houve sempre uma linha condutora que ligou a Europa. O cristianismo manteve o culto da razão no equilíbrio polar de corpo e alma.

Com o início da época moderna no séc. XVI e a correspondente divisão das ciências e fragmentação política e religiosa, sob a égide das ciências naturais obteve-se um grande desenvolvimento tecnológico na Europa.

Galileu Galilei no século XVI dá início ao credo da nova época determinando o absolutismo da nova ciência com o seu programa:”Medir tudo o que é mensurável e tornar mensurável o que ainda não é.” Descartes com a geometria analítica e o exagero do princípio dualista realiza a separação completa de corpo e alma.

Com a passagem do pensar lógico para o pensar racionalista exagerado, o iluminismo e a Revolução francesa (e seus sequazes) querem banir tudo o que é cristão e substitui-lo pela sua nova ideologia em toda a Europa. Depois da revolução francesa afirmam-se no espaço político dum lado as forças restaurativas (socialismo e republicanismo) e do outro as forças conservadoras. Nesta época o racionalismo impõe-se à razão e à religião desembocando na praxis tecnológica e tecnocrata. A grande actividade renascentista levou também aos becos sem saída mecanicista, materialista e racionalista. A pós-modernidade procura um caminho para sair da crise. O espírito ocidental manteve-se mais num espírito católico que não cede ao dualismo e não se perdeu no experimentalismo.

No século XIX e XX o socialismo queria tornar-se o sentido da Europa. As novas descobertas da física relegam o socialismo para uma ideologia presa ainda no espírito do séc. XIX. O fracasso do sistema socialista e das ideias da geração de 68 tornam-se cada vez mais visíveis. Incapaz de se modernizar a família socialista ainda actua desesperadamente estoirando os seus últimos cartuxos. Procura, com uma determinada maçonaria, influenciar a Europa a nível da sua Constituição e instituições, bem como com intervenções autocráticas, quando se encontram em funções governamentais. Perde-se na luta cultural. O seu problema está em ter perdido o comboio da história e da ciência. Enquanto que o catolicismo muito lentamente se adapta à nova visão da ciência os credos políticos apenas se aproveitam das suas marginalidades mantendo a sua mundivisão antiquada. O seu desespero manifesta-se no militantismo dum progressismo ultrapassado contra uma sociedade de espírito cristão que, apesar de vagarosa, por não ter concorrentes sérios a nível de visões e modelos intelectuais de sociedade, está segura da sua presença no futuro da Europa e do mundo. Os democratas cristãos e os conservadores europeus distanciaram-se do missionarismo marxista mas também eles, desorientados, se deixam similarmente levar pelo mero pragmatismo.

Assim a União Europeia tornou-se numa realidade de grande sucesso à margem da ideia do ocidente cristão. No debate sobre a Europa do futuro, o elemento cristão é imprescindível. Ignorá-lo significaria a abnegação de si mesmo. Há forças ligadas à tradição extremista da revolução francesa (um certo liberalismo, socialismo e o republicanismo laicista), agarradas às velhas ideias mecanicistas, materialistas e racionalistas da velha ciência, que continuam empenhadas em desacreditar a história do ocidente. O laicismo quer declarar a religião como coisa privada. À margem da realidade mundial e dos verdadeiros ideais de democracia, desconhecem que não há liberdade sem liberdade de religião / consciência, tanto a nível público como privado. Optam por um restringimento nacional. Desconhecem a mundivisão da nova ciência e a filosofia cristã. Vivem oportunamente dos erros duma economia abandonada a si mesma.

A história da Europa seria incompreensível sem o cristianismo. A Europa tornou-se uma grandeza geográfica e política através dele. O Ocidente como toda a cultura tem os seus fortes e os seus fracos. Não se pode viver na limitação da nostalgia nem na ilusão dum mundo intacto. Política e religião têm que tomar mais a sério as descobertas da nova física no início do séc. XX. A política para dar resposta aos sinais dos tempos deve rever a sua ideologia com base na nova ciência e a religião deve acentuar o pensar místico incluído na fórmula trinitária que se encontra muito perto da fórmula física.

Um elemento que não poderá ser esquecido no espírito da Europa é também a ortodoxia.
A discussão ideológica e a tentativa marxista e racionalista laicista de impedir a referência cristã na Constituição Europeia e um certo actuar anti-cultural posto na ordem do dia, revelar-se-ão como um erro no futuro dum socialismo integral.

A declaração pelo cristianismo não implica o monopólio cristão do espírito da história europeia. O carácter discursivo do espírito grego, romano e judaico e o ideal da liberdade são aspectos vitais da identidade espiritual europeia. O cristianismo, nas suas várias expressões e o espírito europeu em permanente discurso e constante acção recíproca dos diferentes povos e sub-culturas europeias, com a sua ideia católica, são um modelo exemplar para a configuração do mundo. Isto é óbvio também pelo facto dos princípios éticos serem objecto da discussão e não garantidos pela jurisprudência ao contrário da maneira de estar islâmica e do credo comunista. A civilização cristã é, na sua essência, aberta. Uma praxis europeia com fundamentos na ética, Deus, constituição revelou-se muito oportuna. A constituição está ligada aos valores. Um preâmbulo de Magna Carta que expresse a responsabilidade, Deus, o Homem, a consciência na liberdade do desenvolvimento corresponde ao desenvolvimento da Europa através dos tempos. A Constituição Polaca seria o melhor exemplo a seguir, neste aspecto. Ela fala da responsabilidade perante Deus e perante a própria consciência…

Não há nenhum euro-centrismo na tradição judaico-cristã. As raízes do cristianismo e a sua origem estão fora da Europa. Tomás de Aquino e Alberto Magno possibilitaram a discussão com a Antiguidade. O protestantismo acentua a continuidade dos fundamentos dos primeiros séculos, enquanto que o catolicismo opta por uma apropriação na continuidade. A independência de igreja e estado é específica. A cultura cristã possibilita assim a multiplicidade das formas de vida. Ao contrário do Islão que é anti-moderno e só se comporta tolerante quando vive em diáspora; falta-lhe ainda a teologia. O cristianismo é compatível com as diferentes culturas sem condicionamento hegemónico. Esta é a vantagem do modelo europeu.

O passado europeu ainda se encontra muito presente. Ainda se não reconciliou na relação entre cristãos ortodoxos, católicos e protestantes nem com o laicismo dos ideais do liberalismo da revolução francesa. As experiências sangrentas com a revolução francesa e as guerras civis republicanas ainda se encontram muito presentes na consciência europeia.

O Vaticano II procura a reconciliação. Na verdade o berço da dignidade humana é o cristianismo, só que a instituição se preocupou demais pelo poder, pela instituição. Um pensar baixo laicista persiste em antagonizar cristianismo, liberdade e iluminismo. Nesta luta de galos na mesma capoeira perdem-se muitas penas. A Europa precisa de qualidade espiritual e de perspectivas construtivas. A fórmula é fé e razão independentemente das patologias da fé e da das patologias da razão. A razão tem que continuar a acção purificadora das patologias religiosas tal como o cristianismo terá de purificar as patologias da razão que se manifestaram na concepção do homem como um produto. Também a razão tem fronteiras como se pode ver na bomba atómica e ao passar da lógica para o racionalismo. A esquerda tornar-se-ia infiel a certos princípios que defende se continuar no combate de castelos no ar e na guerra a um cristianismo macarrónico.

O melhor sistema de relação entre igreja e estado é o modelo alemão em que há uma relação de independência na parceria. Este modelo tem naturalmente os seus quês numa nova situação com o aparecimento dum islamismo com elementos ainda incompatíveis com a democracia.
Um processo de aprendizagem estará no trato de religião e política com a liberdade. Isto pressupõe um longo processo. A experiência nos Balcãs pode ser vista como chance ou como ameaça, o nacionalismo bósnio por um lado, uma polónia vital mas muito próxima à ortodoxia por outro. O mundo cada vez se torna mais numa “aldeia” não permitindo que se desça do comboio da história.

A Europa é a alternativa ao poder todo-poderoso das ideologias. Os muçulmanos terão de se abrir ao pensamento científico. Doutro modo haverá o perigo duma Balcanização da Europa.
O laicismo religioso da Turquia fere a liberdade, não sendo compatível com a Europa. Por sua vez os cristãos não podem aceitar que a religião seja reduzida a coisa privada ou sujeita a favoritismo. Os cristãos aprenderam a lição uns com os outros. O individualismo vê o estado e a Igreja como um perigo. A esperança numa liberdade que tudo promete é vã.

A religião será cada vez mais tema. É-o já na Europa desenvolvida. O secularismo terá de se tornar mais humilde e aberto, doutro modo diminuirá bastante, falhando a sua missão. A religião, quer queiramos quer não, permanecerá uma constante evidente. A América é um exemplo em que religião e modernidade não são contradições. A religião faz parte da discussão intelectual. O relativismo ainda vigente em alguns credos político-administrativos é uma ironia acerca do próprio vazio. Na província europeia instalada em certos meios de influência portuguesa ainda se continua a viver da luta pela luta, da luta de pseudo-intelectuais contra a cultura da maioria.

As pessoas procuram Deus, segurança, salvação, comunidade, vida subjectiva expressa em diferentes atitudes. Precisa-se da diferenciação dos espíritos e de diversas modalidades de vida.

A verdade liberta-se na liberdade, ao decidirmo-nos por ela. Muitos terão de aprender a nadar na nova religiosidade. Esta não oferece garantia a ninguém. Pode ser uma chance para todos. A renascença da religião não permite o regresso ao passado apesar dos impulsos muçulmanos. A fixação na autoridade é estranha à realidade cristã e contrária ao desenvolvimento subjectivo.

Sendo o cristianismo a fonte da Europa não deve ser reduzido a arqueologia. O futuro do cristianismo na Europa depende naturalmente do seu número e do seu testemunho e o desenvolvimento da civilização ocidental dependerá da fidelidade ao espírito judaico-cristão..

A Europa foi construída na dialéctica entre tradição e inovação, entre fé e razão. Uma fé não fechada em si mesma mas sempre dinâmica no seguimento da inteligência e amparada pela razão não precisa de temer o futuro. A Europa soube integrar a revolta no seu ser, através duma sabedoria prática.

O cristianismo é também um parceiro imprescindível à União Europeia nas diferentes plataformas de diálogo entre as civilizações e as culturas. Seria miopia assentar as relações internacionais apenas nas forças militares e económicas desconsiderando o papel das ciências e da religião na formação das mundivisões.

Sistemas partidários antiquados
Só modelos totalitários se julgam capazes de dar resposta à perfeita realização humana. Todo o absolutismo abafa o homem. Nenhum futuro, nenhum Deus, nenhum ser humano pode ser encerrado num sistema seja ele político, religioso ou intelectual.

Só a investigação fundamental da ciência europeia do séc. XX conseguiu, com as descobertas de início do século, dar resposta às novas necessidades iniciando uma nova tentativa, uma nova mundivisão e método de trabalho que pressupõe uma nova maneira de estar no mundo. As elites políticas do séc. XX não compreenderam esta revolução científica e continuam fiéis às velhas ideias. Assim aqueles que antes eram símbolo do progresso tornaram-se o seu impedimento, muito embora em nome dele.

Hoje o grande problema dos nossos sistemas partidários é o facto de se manterem antiquados, continuando a aplicar a mundivisão do século XIX, o exagero iniciado no séc. XVI e cujos extremismos se manifestam no (racionalismo), no marxismo, no pragmatismo e no existencialismo.

Desconhecem a nova ciência iniciada com Planc (teoria quântica) e com Einstein (teoria da relatividade que superou o materialismo dualista). As ideologias políticas modernistas, que determinam actualmente o dia a dia político europeu, ainda se encontram prisioneiras das velhas ideias dos tempos modernos que dominaram até ao século XIX. Vivem à margem da nova ciência que superou a velha maneira de pensar racionalista e materialista.

O futuro implica, com a base da experiência da época moderna, a reactivação duma visão complementar de todas as disciplinas, procurando evitar todo o dualismo e iniciar uma nova maneira de encarar a realidade na integração da ciência naturais e humanas. Uma nova plataforma dos partidos terá que assentar numa dinâmica polar complementar. O Universalismo só será possível numa visão integral, não dualista.

António Justo

António da Cunha Duarte Justo