CONSELHO DAS COMUNIDADES PORTUGUESAS- UM PERMANENTE DEFUNTO EM ESTADO DE COMA

Política de Emigração – Um Projecto por nascer

António Justo

O Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Dr. José Cesário, apresentou à discussão pública, um anteprojecto de alteração à Lei que regula o funcionamento do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP). Surge atrasadamente e tem a pretensão de ser apresentado na Assembleia da República em Novembro e de possibilitar novas eleições para o CCP em 2015.

O CCP é um órgão consultivo do Governo para as políticas relativas à Emigração e às Comunidades Portuguesas, que se reúne, bienalmente, em plenário.

Com a iniciativa o Secretário de Estado tem como objectivo elevar o número de conselheiros de 73 para 80, desejando que todos sejam eleitos por sufrágio directo e universal por mandatos de quatro anos; quer que o CCP deixe de ter presidente; quer também fazer depender o seu financiamento das receitas consulares (até ao presente o CCP era constituído por 63 representantes eleitos directamente e 10 nomeados). O Dr. José Cesário aponta para uma verba a atribuir ao CCP correspondente a 0,5% das receitas do Fundo para as Relações Internacionais, o que corresponderia a 140 mil euros.

O propósito de “fazer corresponder o universo eleitoral do Conselho das Comunidades Portuguesas ao da Assembleia da República”, é mais um empecilho para o CCP e baseia-se na esperança dos partidos portugueses de, com uma cajadada, matarem dois coelhos: a motivação pelo trabalho partidário nas comunidades portuguesas, que reverterá em favor de eleições para os deputados da emigração e do parlamento europeu; isto revela-se como uma estratégia partidária inteligente mas não virá servir a vida de associações e iniciativas integradas ou a integrar na sociedade de acolhimento. Até ao presente para poder votar bastava ter-se 18 anos e estar-se inscrito num consulado. A nova medida é mais uma medida de exploração do trabalho do emigrante: de facto o candidato ao CCP terá de motivar as pessoas a recensearem-se para as eleições da Assembleia da República sem receber um chavo de apoio por esse trabalho. Se isto não for um xeque-mate ao CCP, revelar-se-á como seu domesticador. Por outro lado, a política portuguesa não está interessada em aproximar o português do consulado; pelo contrário!

Diz querer “aumentar a responsabilização do Governo e das representações diplomáticas portuguesas nos trabalhos” do CCP. Atendendo à situação do CCP, não seria mais eficiente obrigar as representações diplomáticas a uma estratégia de aproximação das associações em vez de criar mais intermediários, pontes que se tornam em alibi para o verdadeiro encontro de administração e administrados?

A nova proposta também prevê um CCP sem presidente próprio; deste modo o CCP deixa de ser uma referência e perde toda a sua autoridade, até porque o seu porta-voz passaria a ser o Secretário de Estado (Uma estratégia muito esperta e muito característica da nossa república!). E depois, uma democracia, cada vez mais verbo-de-encher, admira-se de gerar cidadãos demasiadamente preocupados com o próprio pão!

Nos anos 80, antes da existência do CCP, os governos e algumas das suas repartições organizavam “congressos” em Portugal e também na emigração a que convidavam representantes de portugueses na diáspora, para assim auscultarem a voz da emigração. Era uma altura em que a administração portuguesa, sem experiência em questões de migração, se mostrava interessada em dialogar e ouvir personalidades e representantes associativos. Nos meados dos anos 90 desapareceu o interesse da administração portuguesa por auscultar os problemas da emigração; mostra-se , a partir daí, só interessada em formalizar um “diálogo” que queria ver só dentro das próprias fileiras administrativas. O CCP teve a pouca sorte de ser criado neste contexto pela Lei n°48/96 de 4 de Setembro. Entretanto os interesses do governo na emigração revelam-se apenas de caracter económico.

O CCP tem sido um órgão embora legal, sem consistência própria nem resultados palpáveis. Pelo que se depreende continuará a ser uma estrutura sem suporte, condenando a viver de mobilização em mobilização e a perder-se no jogo de culpa e desculpa ao serviço duma política feita em cima do joelho. Tem sido usado como instrumento adiador de esperanças. Sem base, não passa de um órgão de troca de impressões; tem tido o trabalho de uma certa formação de consciência política e de possibilitar a ordenação de fileiras a nível partidário. De resto quer-se credibilidade mas sem crédito para uma política a que falta a fé. Anda-se no jogo das escondidas e o problema é que o governo também sabe que pode substituir o trabalho do CCP pelo de um assessor de imprensa que recolha e resuma os artigos publicados na diáspora, além da convocação de um congresso ou outro, seja a nível de firmas, de políticos comunais da diáspora ou de encontros de juventude. (Não se fale já do manancial da actividade de caixeiros viajantes, em que se têm esgotado os Secretários de Estado das Comunidades).

A Política mede-nos pelo que valemos e fazemos e não pela discussão; nas últimas eleições para o CCP em 2008 só houve 12.000 votantes num universo que se quer de 5 milhões de emigrantes e luso-descendentes. Recorde-se que no mundo das comunidades portuguesas há 2.700 associações. Atendendo a esta realidade, é ingénuo queixarmo-nos do facto de o CCP não ser tomado a sério e de se encontrar reduzido à característica de alibi ao serviço dos Secretários de Estado das Comunidades, de si já sobrecarregados e com uma casa (Secretaria de Estado) que não conseguem pôr em ordem?Naturalmente que cada conselheiro vale o que vale mas só por si e pelos que o apoiam!

Enquanto representantes de emigrantes se continuarem a encostar às organizações do Estado reduzirão as suas potencialidades e repetirão, cá fora, o que a república faz lá dentro. Encontro-me desde 1980 nestas quejandas e constato que o discurso apenas se repete e a pouca diferença que tem revela-se apenas nas cores… muito empenho individual, sempre o mesmo activismo fundado no amor à camisola que se traz e ao gosto de correr. (Aquando da luta pela manutenção do Vice-consulado de Frankfurt sugeri que se ocupassem pacificamente as instalações consulares para que as acções recebessem caracter de poder e não apenas de conversa justa mas fiada; resultado: prevaleceu a conversa e com ela o encerramento do consulado.Apesar de tudo realizou-se uma manifestação em que as cortes partidárias se juntaram todas.) Tudo isto acontece porque as crianças exigem e só os grupos organizados se impõem. Na falta de eficiência fica o calor da fé onde se aquecer. Entre a razão e o sentimento de a ter, há porém distâncias infinitas.

Um outro problema grande, é o facto da imprensa portuguesa (não da emigração) se estar marimbando para a realidade da emigração e limitar a pouca informação a jornalistas de ideias já feitas. Um outro equívoco está em falar-se da realidade migrante quando nos deparamos com muitas realidades e o universo da diáspora portuguesa ser demasiado complexo para poder ser tratado por uma secretaria de Estado das Comunidades nas dimensões da nossa (só a sua vertente económica e cultural já daria pano para mangas!).

Naturalmente que é preciso apresentar caminhos alternativos aos de Lisboa; estes têm de surgir da realidade da vida das comunidades da diáspora e não de uma mera vontade política (partidária) que muitas vezes desmotiva pessoas não interessadas na cor da camisola. Infelizmente o sentimento de pertença a uma cor política ainda é motivo de segregação no organigrama partidário inferior. Os emigrantes portugueses na Europa não souberam libertar-se duma politiquice partidária bebida levianamente no 25 de Abril. A cor política da camisola tem determinado a confiança entre as pessoas, impedido, muitas vezes, a sinergia de esforços e o estabelecimento de redes consistentes; em termos de diáspora, a cor política só deveria ser relevante, a nível de integração política, nas comunidades de recepção. Uma comunidade portuguesa integrada nos partidos alemães e nas suas associações de cultura prestaria serviços incalculáveis para todos, a nível de futuro. Este deveria ser o centro de gravidade duma política de portugueses emigrados.

O problema mais grave com que a emigração se depara é o facto de, em Portugal, haver um ressentimento recalcado contra os emigrantes. A ausência dos 5 milhões de Portugueses, nos meios de comunicação social em Portugal, é o maior problema e este está na base das atitudes duma política de emigração comum a todos os governos. Neste contexto não haverá deputados nem conselheiros que tenham autoridade nem audiência justa.

O problema cívico crucial dos portugueses da diáspora situa-se na manutenção e fomento de associações. Deste não se fala porque seria de interesse nacional mas este transcende os interesses políticos. O trabalho mais eficiente revelar-se-á no empenho da criação de associações e iniciativas nas comunidades de inserção. Da inserção dos portugueses nas comunidades receptoras, seja a nível económico, cultural ou político, se aproveitarão os emigrantes e se aproveitará Portugal porque em cada associação em que se encontre um emigrante luso lá se encontrará um embaixador de Portugal.

Boa noite CCP, bom dia associações; a noite é longa e o dia ainda por levantar!

António da Cunha Duarte Justo

(Antigo Conselheiro Consultivo do Vice-consulado de Frankfurt)

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Burkini contra Bikini

Tribunal alemão não desobriga Alunas muçulmanas de frequentar as Aulas de Natação

 

António Justo

Na Alemanha, há meninas muçulmanas que se recusam a participar nas aulas mistas de natação, por razões religiosas. O Tribunal Administrativo Federal deliberou, em última instância, que as meninas não podem fugir ao dever de frequentar as aulas de ginástica, porque, para corresponderem às exigências do Corão, podiam usar na natação um burkini (traje completo).

 

Uma jovem de 13 anos pretendia, com a queixa, a dispensa das aulas para muçulmanos por motivos de liberdade religiosa. Argumentou que não se queria expor aos olhares dos jovens nem usar o burkini e que o Corão proíbe ver jovens seminus. Para o tribunal a liberdade religiosa choca aqui com a missão educativa do Estado (Constituição), sendo de opinião que uma sociedade pluralista não pode considerar todas as preocupações religiosas.

 

A maioria da sociedade vê nesta atitude muçulmana o perigo dos alunos muçulmanos se segregarem dos colegas alemães e se habituarem a viver no incómodo de se afirmarem pela oposição.

 

Em todo o caso, aqui a vítima é a criança entre a interpretação do Corão e a interpretação do estado laico.

 

Entre muçulmanos tradicionalistas corre a voz de que à mulher que não tape o corpo, quando morrer, o fogo infernal queimará as partes do corpo, que durante a vida andavam publicamente descobertas. O medo impera onde a razão dorme.

 

António da Cunha Duarte Justo

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Clínica para Mulheres mutiladas no Sexo

Uma Esperança no Desespero

António Justo

Foi inaugurada em Berlim (dia12.09) uma clínica para mulheres genitalmente mutiladas. É o primeiro hospital na Europa dedicado a mulheres a quem foi decepado o clítoris (ablação).

Na Europa há milhares de mulheres vítimas desta conduta desumana. São mulheres oriundas de África e de países islâmicos. A criação da clínica deve-se à iniciativa “Desert Flower Center” da activista dos direitos humanos Waris Dirie, a quem, aos cinco anos, extirpam o clitóris e os pequenos lábios da vagina. Waris Dirie ficou internacionalmente conhecida devido ao seu famoso livro “Flor do Deserto”.

Foi nomeada Embaixadora da ONU contra a mutilação genital feminina. Já conseguiu que 15 países africanos penalizassem a mutilação feminina.

Waris Dirie sente-se a “defensora das seis mil meninas que, dia a dia são mutiladas. Nada é pior que urinar e menstruar por uma abertura do tamanho de uma ervilha.” Oriunda da Somália, com 13 anos fugiu através do deserto para escapar ao casamento com um homem de 60 anos, com quem o pai a queria obrigar a casar como quarta esposa, em troca de 5 camelos.  

Em nome dos costumes culturais, a opressão da mulhercontinua a ser aceite. Os homens querem-na submissa e pura! Costumes, como o da ablação, são usados como preventivo contra qualquer possível tentação. Opta-se por ter sexo com mulheres a sofrer do que lhes permitir a liberdade do gozo. As mulheres são transformadas em terra cativa à disposição do homem, preparadas para serem vitimadas no altar da liberdade masculina. Parece poder constatar-se que na barbaridade sadista a honra do homem brilha mais quando polida pela dor da mulher.

O desamparo a que o mundo secular e religioso continua a votar a mulher conduz todo o ser consciente ao abandono, a um estado de angústia. Necessitamos uma ética humanista que coloque a mulher e o homem no centro do humano sem privilegiar nenhum dos seus polos.

António da Cunha Duarte Justo

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A FARSA DA SÍRIA – Já não há Guerras Civis só há Guerras Democráticas no Interesse das Potências!…

 

 A Guerra dos Interesses económicos e geoestratégicos

António Justo

Em tempos democráticos também a guerra tem de ser democrática!… Por isso o espírito democrático ocidental, das grandes potências, tudo faz para que a guerra seja democrática e como tal surja do povo, mas lá fora, onde a democracia ainda não vive bem. Então os revoltosos chacinam e a TV alegra-se por poder mover a veia sentimental dum povo padecente não da guerra mas da sua “paz”. Depois a maioria dos cidadãos protesta e grita para que seus estados intervenham para porem cobro à barbárie alheia. Passados dois anos de desinteresse na formação dum governo de coligação do presidente Assad com os revoltosos, os janotas do poder (EUA, Inglaterra e França), cheios de compaixão pela dor dos seus, depois de terem enchido os seus rebeldes de armas até aos dentes, levantam as vozes, apregoando a intervenção mortífera como solução, em nome da humanidade. Como no Iraque e noutros lugares intervêm então para porem fim à cólera e depois se irem embora deixando a peste.

Só para relembrar: a Síria é o palco dos interesses entre dois pretendentes a serem potências hegemónicas no mundo islão: dum lado os interesses da Turquia (apoiados pelos EUA) como ponta avançada dos sunitas e do outro lado os interesses do Irão como representante dos xiitas. No Iraque também havia o mesmo conflito entre xiitas e sunitas e urdiram-se os mesmos pretextos para depor Saddam Hussein. Depois da intervenção armada dos EUA e coligação, a situação e as lutas entre os grupos rivais é muitíssimo pior que no tempo de Saddam Hussein.

Na Síria não há uma guerra civil, há uma guerra de rebeldes ao serviço de interesses estrangeiros (e dos extremistas islamistas) contra um estado de direito que por muito torto que seja, o seu direito não é menos torto do que o direito dos pacifistas armados. No seguimento doutras mentiras, à mentira do Iraque juntar-se-á a mentira da Síria. A pretexto de armas químicas pretende-se justificar uma intervenção militar. De qualquer modo a punição do uso de armas químicas só viria castigar Estados e nunca rebeldes que as usassem!…

Tal como na fase da motivação da população para a intervenção no Iraque, os meios de comunicação social quer europeus quer dos EUA, fomentam a histeria dum público aberto e preparado para toda a espécie de manipulação. Constroem-se cenários e multiplicam-se informações contraditórias para confundir quem só tem tempo para assimilar os títulos dos jornais e viver de uma opinião formada principalmente de desinformação. Para nós, os cidadãos bem viventes do Ocidente, também nos convém o engano que os nossos eleitos nos propagam. Confiamos-lhe a preocupação do nosso bem-estar e dele também faz parte a posse duma boa consciência. Por isso ficamos-lhes gratos por nos enganarem porque além do lucro do domínio temos o proveito da boa consciência. Somos alimentados a falar dos barbarismos dos outros, bem como dos barbarismos doutros tempos para não notarmos o aziúme das barbaridades de que vivemos. O não saber também ajuda a viver!

Hoje, no tempo das culturas globais, um conflito local passa a ter significado global, dado, as potências terem transferido as guerras para as regiões onde decorre o negócio. Hoje as linhas de batalha decorrem onde os interesses das potências colidem. Antigamente eram as monarquias que regiam os povos, hoje são as oligarquias das grandes potências. Por isso se passa da época das guerras para a das guerrilhas. Praticamente deixa de haver guerras civis para haver  guerras democráticas de relevo internacional!…

 

Como se constata, até a guerra se democratizou, sim, porque parte do povo. A estratégia muçulmana tem-se revelado como a de maior eficiência da nossa época, pelo que é aplicada com sucesso também pelas potências ou pelos países que pretendem sê-lo (caso da Turquia e do Irão). O Ocidente deixa nos seus países os estilhaços da guerra e eles trazem para o Ocidente os filhos da guerra.

 

Sim, o cidadão anafado prefere não saber para melhor viver! O futuro é sempre prometedor porque é futuro; não importa qual!

 

António da Cunha Duarte Justo

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25 de Abril mais um Aborto da Nação – Porquê?

“Mais quero Burro que me leve que Cavalo que me derrube”

UM SISTEMA PARTIDÁRIO GERADOR DE MEDIOCRIDADES

António Justo

“Mais quero asno que me leve, que cavalo que me derrube”, é o mote encoberto da classe política portuguesa (e da nação), bem descrita na “ Farsa Inês Pereira “ de Gil Vicente. A classe política prefere ser levada por um povo asno (Pero Marques) do que ter um povo esperto (cavalo) que a controle.O mesmo se poderia dizer do povo.

Inês Pereira é uma moça interesseira e preguiçosa que vive insatisfeita na monotonia do dia-a-dia. Por isso pretende arranjar um marido progressista que a tire da pasmaceira duma vida insignificante. São-lhe apresentados dois pretendentes: Pero Marques (conservador, bom, rico, ingénuo e simplório) e o Escudeiro Brás da Mata (progressista, homem com maneiras, controlador e refinado). A dificuldade de Inês na escolha do marido, vem-lhe do conflito que traz consigo. Nela debatem-se duas mundivisões: a medieval (Pero Marques) e a moderna (Cavaleiro). Inês recusa o primeiro pretendente Pêro Marques, mas ao notar que o Escudeiro Brás da Mata (segundo pretendente) é demasiado exigente e não a honra; Inês, logo que se livra dele, casa com Pero Marques. Este é tão bobo e saloio, que cantando e bailando a leva às costas a um ermo onde ela pode dormir com um falso Ermitão (antigo amigo). Inês Pereira é ajudada por vários personagens, todos eles só estão interessados no negócio com o casamento.

Na Farsa, além do fadário do país na sua luta entre a visão tradicionalista e a visão modernista, reconheço a classe política representada pela protagonista Inês Pereira (oportunista) que trai o marido Pero Marques (povo tradicional) e não sofre as consequências disso. Em Inês podemos reconhecer tanto o rescrito da nação como dos partidos. Inês serve-se da esperteza para granjear a simpatia. A classe política também se tem servido da alcoviteira Lianor Vaz e dos judeus Latão e Vidal (TV, Media, etc.), dos Moços (do partido), dos Ermitãos (maçonaria e interesses internacionalistas, republicanismo mercenário, etc.) e da Mãe (Presidentes da República cúmplices dos jogos da classe política), para se servir a ela e aos seus acólitos.

Uma nação incapaz de integrar nela mesma a terra (conservadorismo) e a ideologia (progressismo) está predestinada a não se encontrar a si mesma e a expressar-se partida. Por isso a sociedade portuguesa não cresce organicamente de maneira continuada. A sua evolução dá-se, aos soluços, de crise em crise, num processo de querer adquirir o perdido nunca alcançado. Isto agravou-se a partir do séc. XIX. A partir daqui a ideologia assume o lugar da terra.

A Nação perdeu o Sentido da Realidade

 “Casa onde falta o pão todos ralham e ninguém tem razão”. A crise financeira portuguesa de 1891, (http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1218726298J7kLR2hh1En65AF7.pdf) acompanhada das revoltas republicanas. culminou na abolição da monarquia em 1910. A Carbonária (“defensores da Pátria”), braço direito da maçonaria matara o rei e o infante em nome da defesa dos interesses nacionais e do modernismo, com a mesma ligeireza com que tinha atraiçoado a pátria ao saudar as invasões francesas como libertadoras. A 1ª república acaba também falida no golpe militar de 28 de Maio de 1926, que instala a ditadura militar até 1933. Com a Constituição de 1933, forma-se o “Estado Novo” (regime autoritário com tendências fascistas mas que não assume o fascismo); este entende-se já não como fruto da ideologia mas como tentativa de reabilitar o Estado através do corporativismo económico e social, compreendendo-se como “um Estado pluricontinental e multirracial”. Salazar tenta dar uma nova tarefa ao país: olhar para a terra e defender o ultramar.

A 25 de Abril de 1974 é demitido o regime autoritário de Salazar. A Junta de Salvação Nacional das FMA nomeou como presidente da República o General António de Spínola a 15 de maio de 1974. Segue-se o período anárquico dos revolucionários em torno do PREC (Processo Revolucionário em Curso). Surge o 25 de Novembro de 75 a corrigir um pouco a direcção anárquica com o Presidente da República Ramalho Eanes. A impaciência da liderança partidária e a pressão de “estrangeirados” como Soares, Cunhal, etc., interessadas em arrecadar para si o sol de Abril apressam a tarefa de impor os seus interesses partidários. A 25 de Abril de 1976 a terceira república restabelece o regime democrático, com a nova Constituição de orientação comunista e com as eleições.

Com a derrocada do regime autoritário de Salazar, o 25 de Abril de 1974 restabelece o caracter ideológico da primeira república com muitos avanços a nível de ideias e retrocessos a nível da terra. Portugal desconcilia-se ainda mais e continua a viver na superficialidade de ondas de ideológicas. Para Portugal ser fiel a si mesmo e se reconciliar internamente teria que permitir-se uma discussão séria entre conservadores como Salazar e socialistas como Azedo Gneco; doutro modo seguirá o mau caminho de dupla personalidade (esquizofrenia) à medida dum Mário Soares republicano comunista que depois salva a raposa republicana tornando-se socialista estrangeirado. A tática do seu PS foi difamar e defraudar sistematicamente a direita e a Igreja de maneira a criar na opinião pública num anti-conservadorismo como tinha criado com o anticlericalismo na primeira república (perpetuando uma mentalidade mesquinha do contra, seja ela anticlerical ou anticomunista). Assim um republicanismo jacobino consegue, através dum socialismo estrangeirista vaidoso, impor à nação uma prática cultural extremamente ideológica. Torna tabu tudo o que é conservador esquecendo que uma política séria e dinâmica teria de ter um aspecto conservador e outro progressista como partes integrantes e expressões duma só realidade. Enquanto o país não for capaz de equacionar uma política conservadora e uma política progressista teóricas próprias, auto-conscientes e bem fundamentadas, de origem e convergência nacionais, continuará nas mãos dum internacionalismo para inglês ver.

O país ainda não digeriu a revolução liberal (invasão francesa)! Não conseguindo apaziguar a terra com a sua ideia, vivendo ao rumo de ideologias interesseiras e estrangeiras. Também a primeira república, embora engordada pelos bens Igreja não serviu mais que os interesses dos que a fizeram, fomentando os barões do 5 de Outubro que em 16 anos produziu 39 governo e acabou na bancarrota em 1926. Afinal, o benefício do 25 de Abril foi dar à nação o desenvolvimento que os governos dos países vizinhos, sem o desvio da revolução, deram ao seu povo; caracterizou-se, no seguimento da primeira república, por criar novos barões (os novos ricos) quando o que se esperava era que produzisse cidadãos.

Tal como aconteceu na primeira república, a sociedade portuguesa, em vez de discutir objectivamente a melhor maneira de construir um Portugal solidário independente e de impedir a falência do Estado, é levada a cultivar um discurso partidário em torno duma rectórica de culpas e desculpas geralmente à margem da “coisa pública”. O maior impedimento momentâneo para o desenvolvimento do país encontra-se num estado ocupado a nível de estrutura e inquinado por um discurso unilateral do ou… ou… Neste sentido, o desinteresse da nova geração pelos seus pais, que ocupam a opinião política e pública, só poderá ser de benefício para a nação para o momento em que assumam eles a responsabilidade de dirigir o país.

A sociedade desperdiça-se no partido do contra

A sociedade portuguesa tem vivido dum grande equívoco: o equívoco de identificar os interesses de Portugal com os interesses dos partidos e o equívoco de identificar lógica (rectórica) com a realidade objectiva. 

De facto o que temos é uma nação travada pelas peias dos partidos sempre a mancar atrás do acontecimento e com uma classe política (de conservadores envergonhados e progressistas arrogantes a governar no enclave de Lisboa) a viver da improvisação (Cavaleiro) e a servir de manequim à moda que o estrangeiro produz.

Os que levaram o Estado português à ruina apresentam-se como a solução e, o que é mais grave, Portugal não tem alternativa de escolha: só pode escolher entre maus e piores (aliás uma tendência geral contemporânea!). Neste contexto, também o fenómeno Sócrates não é mais que um sintoma dum Portugal adolescente, melindrado e doentio, dum querer ir ao restaurante sem ter de pagar a conta, dum Portugal Inês Pereira.

Uma cultura democrática, que limita o discurso político à satisfação de adeptos, como se o Estado fosse um relvado onde os políticos jogam o seu jogo perante um povo reduzido a assistência, uma população de claques logo satisfeitas com a perda do clube contrário, desautoriza-se e impossibilita, ao cidadão, a capacidade de referência à realidade. Suficiente parece ser o calor da afronta, pertencer-se ao partido do contra; é-se moderno e sabido na medida em que se tem opinião contra isto ou contra aquilo: contra o governo, contra a Igreja, contra a esquerda, contra a direita, contra a justiça e contra a injustiça… A essência do discurso político e popular parece reduzir-se a duas palavras: ser contra, pertencer aos contras dos contrários. O ser do contra acrítico confere estatura moderna e encobre a ignorância do contra e do contrário. Este espírito de contradição impede a formação duma cultura conservadora crítica séria e profunda e impede também a formação duma cultura progressista crítica séria e aferida ao país. A inveja e a pretensão completam-se…

Um povo é levado ao engano pelos modelos que se lhe apresentam. Só lhe resta a oportunidade de comparação entre os que o sistema político lhes apresenta e estes são reles porque o húmus republicano que os produziu, mais que na ideia, baseia-se num pragmatismo parasitário e oportunista condicionado e condicionante: um sistema de pensamento de matriz partidária.

A República Portuguesa, uma realidade muito enredada e mal feita, (talvez demasiado vergonhosa para poder ser contada nas aulas de História!) só poderá tornar-se frutífera depois dum autoexame crítico sem recalques. Sem o reconhecimento dos erros dos conservadores e dos progressistas, a partir duma grelha da cultura nacional, o país não sairá do ciclo vicioso de extremos pendulares. Fruto de ideologias importadas e mal digeridas, a república, têm conduzido Portugal de insolvência em insolvência, não conseguindo produzir políticos, à altura do povo histórico luso, nem da realidade contemporânea. Herdou da monarquia e da Idade Média os vícios que pretensamente queria combater com a mudança, mas que, de facto, ainda exacerbou ao incorporar as aspirações do “Escudeiro”: nobreza (elite) decadente, aventureira e parasita que vive da trafega do vinho azedado em odres novos!

Portugal na Avalanche do Efeito Decoy

Portugal ainda não terminou a guerra civil. Apenas transformou a guerra civil armada em guerras ideológico-partidárias, numa guerra da cidade contra o campo, do moderno contra o tradicional, do povo contra o povo. Os conflitos armados encontram a sua perpetuação através dos conflitos ideológicos nos partidos numa luta desigual de conservadores intimidados e de progressistas atrevidos.

Na tribuna pública da sociedade portuguesa (TV) reina o discurso partidário e a sociedade não se pode resguardar porque não tem infraestruturas capazes de criar alternativas reais e independentes. Não há grupos de imprensa fortes nem correntes de pensamento de relevância nacional capazes de provocar impacto político que obrigue a nação a reflectir para crescer organicamente. Um Estado ocupado por um sistema de bajulações e de “guetos secretos” pouco mais pode produzir que mediocridades a nível económico, político, cívico e social. Neste sistema, a correspondente ascensão partidária favorece a formação de líderes medianos de espírito mais esperto que inteligente, animais políticos, frutos de influências e jogos; expressam neles mais a esperteza árabe do que a inteligência francesa. Na falta de modelos políticos, económicos e sociais consistentes, Portugal não conhece alternativas aferidas à realidade. Apenas conhece alternativas partidárias, que centram a atenção em modelos particulares inferiores.A República só tem vindo a gerar alternativas atrofiantes. Nenhuma delas tem a qualidade de dominar a outra ou de ser integral. A opinião pública, dado adquirir o conhecimento político através da via demagógica, só é capaz de equacionar os problemas em alternativas binárias partidárias ou na irresponsabilidade de partidos pequenos com ideias luzidias mas não aferidas à realidade portuguesa. Considera como satisfação do seu ideal o servilismo a um partido, quando o ideal passaria por uma terceira via, fruto de uma análise científica fria independente, baseada na realidade, que o sistema impossibilita. Mesmo o povo pensante, aquele que não reduz a sua erudição ao saber acomodado da TV, não é confrontado com uma alternativa real, deixando-se levar pelo efeito Decoy. Assim, o sistema político português não gera alternativas adequadas ao povo e às necessidades da nação. São muitas vezes alternativas copiadas de países também elas decadentes porque baseadas na divisão e na exploração do mais fraco.

No seguimento de quem dá a ideologia e o pão

Lugar-comum das nossas revoluções tem sido o adiar da nação em nome de liberdades coloridas: Tal como elites portuguesas se tinham outrora colocado do lado do invasor napoleónico, também no 25 de Abril, os seguidores do mesmo espírito, se puseram ao lado da União Soviética passando as províncias ultramarinas portuguesas para a influência comunista. Agora, o 25 de abril tropeça na própria ideologia, porque, na realidade “quem dá o pão, dá a criação”. No tempo de D. Manuel o magnânimo, tínhamos os quintos das especiarias, depois o ouro do Brasil, as remessas dos emigrantes e os fundos perdidos. A incapacidade política do país, para acompanhar a nação e a evolução dos tempos, leva-a a viver num estado esquizofrénico (de personalidade fendida). Os egos dos partidos têm sido construídos à custa do povo e contra o ego da nação.

Gil Vicente, quando escreveu a farsa de Inês Pereira, certamente já previa na política de José Sócrates o Escudeiro Brás da Mata e, na de Passos Coelho, o Pero Marques! Na rotação, de noivado em noivado, Portugal emigra, envelhece e não gera.

O remédio é acordar e redescobrir a lusofonia!

António da Cunha Duarte Justo

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