O QUE MUDA NA ALEMANHA EM 2017 NA REFORMA ABONO DE FAMÍLIA DEDUÇÃO FISCAL…

 

O contribuinte fica isento de imposto até um montante de 8820€ – Abono de família entre 192 e 223 € mensais por filho

Por António Justo

A partir de 1 de Janeiro 2017 a Alemanha actualiza os benefícios fiscais

O abono de família mensal é aumentado de 2 euros. Assim, para os dois primeiros filhos, recebe-se 192 euros por cada um, pelo terceiro recebe-se 198 € e pelo quarto 223 €. A partir do quarto filho são 223 €. Pessoas com baixos rendimentos recebem um suplemento infantil de 170 € por mês. (O montante livre de impostos por criança é de 4.716€).

Pensão: O gabinete de Ângela Merkel prevê para 2017, a partir de Julho,  um aumento de 2,3% para os reformados da Alemanha ocidental e 2,58% para os da Alemanha oriental. O nível das pensões é hoje é de 48% do ordenado bruto. Os que se aposentarem em 2017 pagam impostos sobre 74 por cento da sua pensão. Até agora, o valor tributável era de 72 por cento. Isto significa que apenas 26 por cento da remuneração fica isenta de impostos em 2017.

A dedução fiscal básica nas Finanças passa para 8.820 € (um acréscimo de 168). Os contribuintes estão isentos de impostos até ao rendimento anual de 8.820 € (casados, até 17.640€). A taxa de imposto sobre o rendimento é aplicada a partir de 8.821 € com 14% sobre o restante rendimento anual tributável. Aos rendimentos a partir de 54.058€ é-lhes aplicada uma taxa de imposto que vai até 42%. Custos de sustento para terceiros são considerados como encargos extraordinários no ajustamento de impostos até a um máximo de 8.620€. Despesas de provisionamento (reforma ou sistemas de provimento) podem ser consideradas no ajustamento de impostos como despesas adicionais até um máximo de 23.362 € ou 84%. Doações ou contributos para organizações religiosas, de caridade, partidos, sindicatos ou organizações sem fins lucrativos também são considerados para a redução dos impostos.

As despesas de mudança de casa por razões profissionais podem ser consideradas até 746 € para solteiros e 1.528 € para casados.

O salário mínimo passa a ser 8,84 € à hora. São considerados mini-jobs salários até 450 €

Hartz IV: ALG II destinatários pobres recebem mais dinheiro.

Crianças entre os seis e os 13 anos, receberão 291 euros por mês e adultos 409 euros. Casais recebem 368 euros por pessoa. Jovens com idade entre 14 e os 18 anos recebem 311 euros.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

O PORTUGUÊS DEIXA DE SER LÍNGUA OFICIAL EM CABO VERDE – QUE FUTURO PARA TIMOR-LESTE

Lusofonia Um apelo à CPLP – Defesa da Língua portuguesa

Por António Justo

A língua materna em Cabo Verde é o crioulo de base lexical portuguesa com a semântica portuguesa do século XV-XVII. A língua oficial de Cabo Verde é o Português e a Língua nacional é o crioulo cabo-verdiano (Krioulo); o governo visa tornar o “Krioulo” também a língua oficial. O português passa a língua não materna.

O Governo de Cabo Verde anunciou a introdução do Português como língua não-materna “a partir do próximo ano lectivo.

O Português começará a ser ensinado como segunda língua já no ensino pré-escolar (4/5 anos) ”, revela VOA (1). Esta decisão talvez tenha mais um fundamento pedagógico e de eficiência linguística na estatística do que político. O Krioulo tem várias variantes (2).

Os portugueses descobriram as ilhas de Cabo Verde em 1445. Então as ilhas eram desabitadas; os cabo-verdianos de hoje são descendentes de portugueses e africanos. Hoje têm uma população crioula de cerca de 546.000 habitantes e cerca de 700.000 emigrantes.

A 19 de Dezembro de 1974, foi assinado um acordo entre o “Partido Africano para a Independência da Guiné (3) e Cabo Verde”. A 5 de Julho de 1975, foi proclamada a independência de Cabo Verde; se não fosse o zelo ideológico próprio da descolonização, certamente Cabo Verde teria hoje autonomia administrativa com um estatuto semelhante ao da Madeira e dos Açores.

Portugal com o Instituto Camões tem apoiado o ensino de Português. A língua não só é importante pelo aspecto identitário e cultural mas também pela sua expansão e crédito a nível internacional.

 

Timor-Leste em situação mais arriscada que a de Cabo Verde

Em Timor-Leste, a situação do português é mais precária do que em Cabo Verde, devido ao contexto cultural e político externo envolvente.

O ecossistema linguístico (natural, mental e social) de Timor-Leste é muito variado. Timor-Leste tem, constitucionalmente, duas línguas oficiais: o Português e o Tétum, sendo o Tétum a mais falada. Só 25% da população escreve e fala o português (mais falado em Díli), 45% usam o bahasa indonésio e 56% o tétum. 40% da população é analfabeta. O indonésio e o Inglês são considerados línguas de trabalho. Em Timor-Leste há cerca de 15 grupos étnicos, dos quais 12 grandes tribos.

Aquando da proibição da língua portuguesa em Timor pela Indonésia, em favor do indonésio (bahasa), os padres da igreja católica não seguiram a imposição e celebravam as missas em Tétum. O Tetum é uma língua austronésia com muitas palavras derivadas do malaio e do português, tornando-se numa língua crioula (tétum-praça).

Um problema na expansão da língua estará na qualificação dos Professores que se sentem mais fluentes no tétum e no indonésio. O crescimento de uma língua depende muito dos factores económicos, políticos e ideológicos circundantes. Timor-Leste estará muito dependente do empenho dos países membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) para não ser sufocado.

Timor-Leste (Timór-Timur), é uma nação transcontinental com cerca de 1 143 667 de habitantes, que deve a sua existência nacional à sua vontade política, ao português e ao catolicismo. Timor encontra-se numa situação contextual diferente da de Cabo Verde; mas se Timor-Leste também remeter o português para segunda língua corre o perigo de se dissolver em línguas e dialectos e com o tempo ser absorvida pela cultura indonésia. A existência de uma cultura mista e polivalente na região é de muita importância em termos futuros de uma maior interligação entre as culturas.

O jornalista Max Stahl adverte que “sem a língua portuguesa, não há nação em Timor-Leste”(4). De facto, Timor-Leste, tem a sua razão de ser como país pela sua diferença (uma diferença que cria pontes étnicas e intercivilizacionais) dependendo ela do investimento a fazer nos seus factores de identidade e de identificação; doutro modo será, com o tempo, dissolvida na parte ocidental de Timor indonésio. A vontade dos povos também muda conforme as circunstâncias e interesses surgentes.

Para quem estiver interessado em conhecer melhor as etnias e o ecossistema linguístico (natural, mental e social) de Timor recomendo a obra “Léxico Fataluco-português” do salesiano Pe. Nácher, meu antigo confrade (5).

Em 1975, Timor-Leste declarou a sua independência, mas no final daquele ano foi invadido e ocupado pela Indonésia sendo anexado como sua 27° província.

Os timorenses resistiram e o antigo Timor português transformou-se no primeiro novo Estado soberano do século XXI, em 20 de Maio de 2002. A atribuição do Prêmio Nobel da Paz ao bispo Carlos Ximenes Belo e a José Ramos Horta em outubro de 1996 contribuíram imenso para a concretização da independência de Timor-Leste na sua afirmação contra a Indonésia país agressor. A sua relevância vem-lhe também do facto de ser com as Filipinas os únicos países asiáticos cristãos.

Timor-Leste tem 1.183.643 habitantes (censo de 2015) e cerca de 10.983 estrangeiros (5.501 indonésios, 1.139 chineses, 726 filipinos, 517 australianos e 318 Portugueses. O catolicismo tem sido um elemento de ligação e conciliação entre todos os grupos da população.

Por volta de 1975, só 30% da população timorense era católica o resto era na sua maioria animista.  Devido à agressão indonésia contra a colónia portuguesa, as diferentes tribos envolvidas na defesa conta a Indonésia e para afirmação da independência tornaram-se católicas. O movimento de libertação Fretilin envolvia uma mistura de teologia da libertação e de comunismo. O cristianismo é visto como símbolo da luta pelos valores humanos (6).

Há dois factores que testemunham o domínio na humanidade através da História: a economia e a ideologia. Hoje o cidadão queixa-se dos povos colonizadores do passado que dominavam os povos menos fortes, hoje as finanças e a economia de potências política e economicamente fortes dominam e provocam uma colonização aparentemente mansa…

Na polis não se tem mostrado eficiente combater a economia e a ideologia, dado o problema vir da força destas; a alternativa poderia ser a igualdade: ou tornar-se todos fortes ou tornar-se todos fracos; mas o problema é que na natura não há nada igual e o que poderia criar uma certa igualdade na sociedade e na cultura mostra-se impossível dado esta seguir as leis da natura. Para se chegar a uma paz social digna do nome, seria preciso provocar-se um salto na estrutura da consciência humana que superasse as leis da causalidade e as leis da selecção natural; mas também este estádio poderia trazer consigo o problema da estagnação.

Para mim não esqueço o empenho e a acção social de pessoas como o Pe. Nácher que professando uma crença religiosa não a impõem e empenham todas as suas forças no serviço do bem-estar e do bem comum, promovendo a pessoa e as populações independentemente do povo, da raça ou da fé que professem.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo no Espírito

“VATICANO” DOS MUÇULMANOS ISMAELITAS EM LISBOA

O Imamato Ismaelita é liderado por Aga Kahn

Por António Justo

A sede mundial Ismaelita (Imamat Ismaili), que em Portugal é representada pela Fundação Aga Khan, “vai ser no palácio onde hoje funciona parte da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa”, vendida pelo “Governo Geringonça” de Costa por 12 milhões de euros, livres de impostos. Pelo acordo assinado entre o Estado português e o Imamat Ismaili, a rede Aga Kahn terá em Lisboa a sua sede mundial com um estatuto semelhante ao do Vaticano na Itália.

Aga Khan, título religioso do actual imam Xá Karim Al Hussaini, é o líder muçulmano de 20 milhões de xiitas Ismaelitas Nizaris espalhados em 25 países, principalmente na Índia, Paquistão, Afeganistão, Tajiquistão, Síria, Iémen, Irão, Omã, Bahrein e no leste da Turquia; em Portugal vivem 8.000 ismaelitas Khoja (India, Moçambique). Karim Aga Khan IV é descendente (não comprovado) de Maomé; é o 49º imam nizari e pretende ser a avant-garde no Islão. Os ismaelitas procuram ser em todo o lado a “avant-garde do progresso” embora nos seus antepassados se encontrem os Assassinos, os modelos dos jihadistas homens-bomba de hoje. Nizaris -Ismailis eram conhecidos na Europa da Idade Média como Assassinos (homens das adagas, haxixe, na tradição romana dos sicários, “ascensor asini”, e outros vêem o termo Assassin derivado do árabe “asas” que também é empregue na maçonaria no sentido de Assis, “guardiões „ da herança, guardiões dos segredos, etc.).

Os ismaelitas confessam o testemunho islâmico da chahada de que “Não existe nenhum outro deus senão Alá e Maomé é o Seu profeta” e o Corão como palavra eterna de Deus.

De mentalidade moderada querem um islão socialmente empenhado (escolas, hospitais, etc. e ajudam os lavradores e comerciantes a organizarem-se concedendo créditos através dos seus bancos). A revista de negócios americana “Forbes” elogia o Aga Khan como um “Venture Capitalist para Países em Desenvolvimento”. Uma estrela da alta sociedade que consegue unir a ideia do islão à modernidade. Aga Khan é um homem esperto que aposta no negócio, o grande factor que arrasta a educação, a mundivisão e o progresso.

Os ismaelitas crentes, que podem, cedem, 10% do seu ordenado, à Fundação Aga Khan. Nazim Ahmad é o representante da rede Aga Khan em Portugal. Rahim Firozali Ahmad é o director-geral da empresa de seguros Combined Insurance em Portugal. Como é comum entre muçulmanos, têm um grande espírito de cooperação e de solidariedade entre os membros da própria religião. Na Fundação Aga Khan em Portugal, e no Centro Ismaelita de Lisboa trabalham 600 ismaelitas gratuitamente.

O gordo título da notícia “Acordo milionário para Portugal” da VISÃO de que fora assinado o “acordo entre o Estado português e o Imamat Ismaili trará para Portugal investimentos de centenas de milhões de euros” não será tão cândido como parece. Contudo, a necessidade obriga, o ouro encanta e o sucesso económico convence!

Aga Khan, o papa dos ismaelitas, tem uma fortuna estimada, no mínimo, em dez mil milhões de euros; ele é um dos principais accionistas de vários grupos internacionais, incluindo Grupos Fiat e Lufthansa e também é dono de bancos, jornais, minas de pedras preciosas, companhias aéreas, raças de cavalos e cadeias hoteleiras; está bem especializado no management mundial e pretende forjar novos pensadores e representantes de um Islão esclarecido. (Contudo haverá suspeitas de membros da religião financiarem grupos terroristas).

A Aga Khan Foundation (Fundação Aga Khan) é uma organização não confessional, uma organização de desenvolvimento não-governamental, que foi fundada em 1967 por Karim Aga Khan IV na Suíça e tem filiais em 15 países para a promoção especialmente na Ásia e na África Oriental. Como homem versado e inteligente sabe que a arte é um meio privilegiado para se criar ouvido e aceitação; por isso investe também em museus e eventos de arte.

Como outras organizações de cooperação para o desenvolvimento, a Fundação Aga Khan, com o seu corpo diplomático, arranja acordos de parceria (1) entre países desenvolvidos (2) e países subdesenvolvidos ou emergentes. Os países desenvolvidos precisam de mediadores para efectuarem o pagamento dos dinheiros que cada país disponibiliza em apoio dos países subdesenvolvidos. A Fundação Aga Khan é a maior organização de desenvolvimento privada do mundo. A sua empresa ganha por ano mil milhões de euros.

Aga Kahn conseguiu de Sarkozy a isenção de impostos na França (em particular imposto sobre o rendimento) e terá, para isso apoiado financeiramente Sarkozy, aquando da sua propaganda para as eleições.

Os ismaelitas são fundamentalmente uma elite religiosa e inteligente que se dedica sobretudo ao comércio, advocacia, engenharia, medicina e imobiliário; A instituição religiosa tem direito de imunidade e isenção de impostos. Gostam da discrição e cultivam o segredo, tal como a maçonaria. Em https://www.publico.pt/sociedade/noticia/ismailitas-a-elite-muculmana-da-diplomacia-e-dos-negocios-1728365 pode ler-se muitos pormenores sobre o grupo discreto que se apresenta de rosto brilhante vindo do capital. Expressam uma forma pacífica e diplomática do Islão.

Um problema fundamental nas relações com entidades muçulmanas está o seu princípio da Taqiyya (“Engano e ofuscação”) dos não crentes como método da diplomacia. O Islão é uma fé, um modo de vida e um movimento para a criação de ordem islâmica no mundo. Esperemos que Aga Kahn, se torne de facto, contra a tradição islâmica num islão moderno e aberto.

Nos tempos que correm Aga Kahn parece ser um homem que reconhece os sinais dos tempos e os grupos de interesses que os lideram.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do tempo

  1. Também fazem negociações com os Ministérios do Desenvolvimento dos países dadores e os governos dos países recebedores a cooperação em projectos de desenvolvimento industrial e de infraestruturas. As empresas e mediadores envolvidos nos negócios entre parceiros doadores e recebedores conseguem grandes lucros, dado estes negócios envolverem grandes empresas e empreendimentos geralmente de milhões.
  2. Por trás desta ajuda económica a países emergentes encontra-se também o interesse dos países doadores criarem novos mercados para as próprias exportações a nível militar, económico, político, etc.) e países que recebem apoio para o desenvolvimento por países dadores, para cooperam com países desenvolvidos em projectos de desenvolvimento dos quais também usufruem.

RETIRADA A TUTELA AMERICANA SOBRE A EUROPA

A eleição de Trump marca o fim da época pós-guerra

António Justo

O antigo embaixador dos USA na Alemanha, john Kornblum, confessou na imprensa alemã: “A tutela americana sobre a Europa foi retirada para sempre … A eleição de Trump marca o fim do mundo pós-guerra”. “Agora os europeus talvez encontrem uma vontade reforçada para assumir responsabilidade”. Nesta perspectiva, o compromisso social europeu com a sua população correrá grande risco e o radicalismo aumentará.

As responsabilidades das potências estratégias mundiais em relação ao globo serão redistribuídas. A Europa terá de assumir a sua defesa e de se preocupar mais com a África enquanto os USA se preocuparão mais com eles e com a Ásia. Talvez a Europa central, na perspectiva económica e estratégica, tenha de olhar mais para a Rússia e menos para a Turquia. Naturalmente não agradaria nada aos americanos se a tecnologia alemã e as matérias-primas russas cooperassem, porque deste modo se fortaleceriam mutuamente. A Alemanha tem de ter países para onde exportar, doutro modo, uma Alemanha instável tornaria a Europa ainda mais insegura.

Na sequência da eleição de Trump, Estados e empresas multinacionais vêem-se obrigados a reunir-se. A 14.11, os ministros da defesa e dos negócios estrangeiro da EU reuniram-se e declararam terem de assumir novas responsabilidades. Determinaram para já a criação de um Centro para a Liderança das operações civis e militares na EU a efectuar em 2017. Doutro modo os USA continuarão a ter como parceiros os diferentes países europeus não se sentindo motivados a sobrecarregar o próprio orçamento militar para defender a Europa. A Nato foi abusada e instrumentalizada pelo parceiro Turquia na sua guerra contra os curdos, dando apoio clandestino a grupos sunitas terroristas e afirma-se cada vez mais como um estado fascista mas a Europa é demasiado fraca para poder reagir adequadamente.

As consequências da nova política americana já se fazem sentir numa Europa tradicionalmente instável (com excepção do período que foi do fim da segunda guerra mundial até à queda da União Soviética). Na sequência da nova onda, os países membros da EU passarão a não permitir tanta intromissão de Bruxelas nos assuntos nacionais mas também não podem permitir que um só governo, o de Ângela Merkel queira impor a todos os membros da EU a sua política de boas-vindas aos refugiados. A EU, que deveria ser unida, encontra-se em contradição ao ser condicionada pela Alemanha e por outro lado, também os políticos dos países membros terem de fazer vista grossa ao que se passa em Bruxelas, para poderem sobreviver. Os políticos portugueses poderão permitir-se ainda por algum tempo manter a sua intensa solidariedade com Bruxelas porque nas elites governantes portuguesas há uma forte convicção europeia e em Portugal o povo não ter tanto a dizer em política como noutros países. Um outro factor de desestabilização de Bruxelas será também as relações especiais dos USA com o Reino Unido, Polónia, Roménia, Grécia e em parte com Portugal.

A crise dos refugiados na EU levou ao Reino Unido a enveredar caminhos mais nacionalistas. A União Europeia cada vez se torna mais fraca como se vê na sua dependência em relação à Turquia. Sintoma da fraqueza da EU está no facto de se atrever a chamar a atenção dos USA para o respeito dos direitos humanos e deixar o fascismo crescer na Turquia. Tal como aconteceu com o Brexit torna-se difícil para muitos aceitar a realidade dos factos. A pseudo-religião do politicamente correto da nossa era tem dificuldade em aceitar o contratempo que a faz sofrer e, por isso, não deixa ser objectiva.

António da Cunha Duarte Justo

UMA BOA ACÇÃO PARA DESENFASTIAR ALGUMAS NOTÍCIAS: TRUMP RENUNCIA AO ORDENADO DE PRESIDENTE

Donald Trump declarou querer renunciar ao ordenado a que teria direito na qualidade de Presidente dos USA. Trum noticiou na CBS só querer aceitar um dólar por ano. A remuneração do presidente americano é de 370.000 € por ano.

Este propósito só terá consistência se a sua relação como grande empresário e como presidente dos USA não se misturarem.

António da Cunha Duarte Justo

A IDADE DIGITAL INICIA A ERA PÓS-FÁTICA – O SENTIMENTO É QUEM MAIS ORDENA

Coisas da Democracia: Trump ganha e Democratas queixam-se da Democracia

António Justo

O dia das eleições é aquele em que todos os cidadãos são iguais. No dia seguinte volta-se à divisão dos grupos de interesses do costume, na disputa do terreno público: os que ganharam e os que se sentem com direito a ganhar. Por vezes é custoso aceitar que em democracia quem ganha tem razão, embora nela a verdade seja sistémica, encontrando-se repartida e disseminada por diferentes grupos de interesse.

Uma sociedade de franco-atiradores abandonada a si mesma

O estado da nossa democracia é cada vez mais amedrontador, numa sociedade provocada que provoca também; as pessoas cada vez se sentem mais desamparadas e sem fala, não se sentindo em casa na própria terra. A desilusão é tanta que, como na América, as pessoas, sem alternativas válidas, já chegam a agir segundo o mote: “mal por mal Marquês de Pombal”. Nos EUA o povo elegeu Donald Trump, não por causa das suas expressões sexistas e xenófobas mas porque o sofrimento e a falta de esperança que sente é tal que os levou a elegê-lo apesar disso..

Não chega rejeitar o discurso do medo, do ódio, da intolerância e da cisão; é preciso iniciar-se uma cultura que não se fique pelo discutir das causas que deram razão a Trump mas que provoque a mudança de atitude e de agir da classe política dominante.

Elites arrogantes incapazes de notar os sinais dos tempos

Os comentadores do mundo já não entendem o que se passa; por isso preferem ficar-se pela coutada que os favorece. No discurso público é comum a arrogância dos que, na falta de argumentos, explicam os fenómenos declarando de estúpidos e populistas quem representa interesses que não os seus. Os eleitores de Trump são declarados bobos e parvos como se não soubessem o que fazem e o que querem nem tivessem direito a defender os seus interesses e a Democracia também não lhes pertencesse. Trump mobilizou os sentimentos dos que geralmente se calam porque não têm oportunidade perante os grupos de interesses da arena política; os Mídias usaram a mesma técnica de Trump ao apelarem aos sentimentos negativos das populações contra Trump em vez de analisarem o que estava por trás da sua posição em relação ao globalismo e à responsabilidade mundial a assumir pela Europa. Não souberam ver que Trump é o símbolo de uma nova época que se anuncia e como tal trará consequências positivas e negativas decisivas para a Europa e para um mundo mais complicado e difícil. Assistimos à sabotagem da opinião pública e, de repente, o povo espectador sente-se desenganado por uma realidade não propagada e como tal não esperada.

Chega-se a ter a impressão que os usuários do sistema político e económico europeu, habituados a viver reconfortados, sem grandes perturbações sob o mandato do pensar politicamente correcto da esquerda, se aproveitam de Trump para fomentar os seus preconceitos contra os americanos ou para indirectamente atacarem uma democracia não forjada à sua imagem e semelhança. O mesmo já se viu na discussão sobre o Brexit! Em vez de analisarem as causas do terremoto americano de que enfermam também, as elites europeias, optam por criticar e difamar o eleito e quem o elegeu e com a sua falta de discernimento serrotam o próprio galho em que se encontram. A própria presunção leva-os a difamar, como inimigos da democracia, outros grupos de interesse surgentes que se organizam, como eles, democraticamente. Preferem falar da maléfica atitude de demagogos do que da própria má vida e da corrupção que é o húmus da demagogia. Esquecem que quando apontam um dedo para os outros têm pelo menos três a apontar para si.

Na era digital o sentimento popular é quem mais ordena

O maculado Trump inicia a derrocada do sistema estabelecido e é um aviso à corrupção das elites dos países da União Europeia que nadam em ideologias e em dinheiro e cada vez deixam mais população a nadar no charco.

Trump é realmente um fenómeno, até qui inédito em democracias consideradas adultas, dado ele ser expressão da nova idade digital que inicia a era pós-fática. Nesta era, como podemos verificar nos resultados das eleições e na opinião pública europeia, o sentimento é quem mais ordena! O sinal de que há uma desfasamento e até contradição entre os interesses ideológicos e económicos  estabelecidos e os do sentir do tempo popular, deduz-se também do facto das empresas das novas tecnologias terem apoiado a campanha de Clinton com 35 milhões de Dólares e a de Trump com 300 mil Dólares!… A mesma contradição parece haver numa política até aqui considerada racional afirmada contra as razões de uma política também sentimental..

A discussão pública parece querer ignorar que vivemos numa sociedade em luta e repartida entre os diferentes grupos de interesses, vivemos numa sociedade formada de grupos de interesse a viver uns dos outros e de uns contra os outros; até agora temos vivido em democracias de pensamento bem penteado mas bem divididas entre os que vivem ao sol e os que vivem na sombra: os lá de cima e os cá de baixo. No meio de tanta poeira no ar os beneficiados do sistema nem notam que a democracia já legitima as barbaridades (ordenados horrendos de banqueiros, futebolistas, benefícios vitalícios de políticos, etc., se comparados com os salários mínimos e depois vêm falar ao povo de moral, de justiça e de decência) que condena em regimes autocráticos e antidemocráticos. Desta vez o povo perdedor do sistema, ao ir às urnas, demonstrou que o que se sente também faz parte da realidade. Os sentimentos criaram um facto: Trump como presidente, um homem que pensa através do corpo e da nação e como tal não tão puro como o quereriam formatadores elitistas que só conhecem a realidade filtrada pelos interesses do seu pensamento, que não parece comportar o conhecimento da dinâmica de causas e efeitos; querem tudo menos reformar o próprio sistema; tocar nele significaria autenticidade e a própria renúncia a privilégios, que se tornaram em verdadeiros atentados à democracia e ao bem-comum (em nada inferiores aos das elites do passado e que têm a descaramento de criticar).

Actores sem remorsos produzidos por uma elite sem vergonha

Trump ergueu-se, da parte sombria, num horizonte dominado por raios e coriscos, e confessou querer defender os interesses dos USA, os interesses dos conservadores, os interesses individuais, os interesses de grupos a viver na precaridade. Usou de uma retórica agressiva e discriminadora, mostrou, sobretudo a sua face narcisista imprevisível e deste modo dividiu emocionalmente uma nação politicamente já dividida. Trump não sentia remorsos de consciência ao revelar-se como discriminador de grupos porque se sabe num regime que discrimina mas se branqueia e legitima atrás da maioria. Como pessoa entendida em questões de poder afirmou querer defender os interesses da América e nesse sentido querer domar a globalização e analisar os acordos internacionais para ver em que medida servem a América. Conseguiu juntar a si o grupo dos perdedores de uma globalização que não respeita a pessoa, a cultura nem a nação. Tocou o nervo da maioria da população insatisfeita do mundo ocidental. Tem duas coisas que o não ajudarão: o seu caracter impetuoso e o partido republicano dividido em dois. (Se não se acautela ainda o matam antes de tomar posse como presidente. Tanto é o medo de ideologias e economias que se sentem ameaçadas com o pouco que disse de relevância política).

O descontentamento brada aos céus num firmamento nublado

Os mantedores do sistema dominante encontram-se desapontados. Parecem ignorar que na luta não se limpam armas e menos ainda na era digital e que depois da luta tudo vai ao duche e se apresenta asseado. Trump usou na sua retórica os princípio que parecem orientar grande parte da política estabelecida: os fins justificam os meios; na luta vale tudo, só depois vêm os argumentos! Desta vez a maioria silenciosa teve uma efusão de alegria perturbadora das minorias detentoras do sistema. No dicionário da classe estabelecida só parece haver lugar para a linguagem erudita, sem lugar para a linguagem sentimental do calão ou da linguagem considerada populista. Trump, soube verbalizar o descontentamento de muitos que com a globalização se sentem expropriados embora na América só haja cinco milhões de desempregados, o que não é nada em comparação com o desemprego na Europa.

Independentemente dos defeitos de Trump, ele tornou-se no contestador da corrupção do regime político que nos governa. Depois de uma campanha dolorosa fez-se sentir a voz da maioria silenciosa e daquela parte da população que também na Europa não se atreve a manifestar a opinião para não se expor e não ser tachada de populista ou para não ser prejudicada na carreira. A arrogância do pensamento das elites europeias parece não deixar espaço para poderem compreender o aviso americano ao quererem reduzi-lo a uma questão de populismo, a uma onda de emoções que passam e se expressam num homem desvairado. Esta arrogância cega de representantes do sistema não deixa sentir os novos ventos que correm e, por isso, persistem em querer manter o espírito na sua garrafa, e também o monopólio da interpretação que não ouve o clamor interno nem o medo dos pequenos cidadãos; estão mais preocupados nos deslizes de Trump do que nos motivos dos suspensos do sistema que o elegeram. Corrijam-se os erros do sistema para pessoas como Trump se tornarem supérfluas. Em Trump, um homem que vem das elites, assistimos a uma verdadeira revolução contra o rígido Estabelecimento das elites e as ideologias que representam. O desespero ganhou largas: todos falam dele mas dizem que não o conhecem. Depois das eleições Trump já disse: “Agiremos de forma justa com todos”; a justiça depende porém da mão dos mais fortes.

Porque é que a Europa tem medo de Donald Trump

A europa encontra-se preocupada com a Eleição de Trump porque este não é fruto dos quadros da política; porque terá fraquezas de caracter usando palavras sexistas, xenófobas e reage à crítica com agressividade; porque quer travar o globalismo no sentido do nacionalismo, quer permitir métodos de tortura contra terroristas e querer expulsar 11 milhões de imigrantes ilegais, e não reconhecer os problemas das mudanças do clima. O anunciado proteccionismo da economia americana é uma questionação radical ao globalismo. A sua intenção de rever no sentido dos EUA os acordos de livre comércio implica para já um não às negociações TTIP. Não quer continuar a exportar democracia. Não quer pagar os soldados americanos que defendem a Europa. Quer apoiar o presidente Sírio como o legítimo detentor do poder; é contra o aborto. A China confia na nova administração apesar de Trump ter dito que quer uma política comercial menos liberal. O melhorar as relações com Putin embaraça a política da EU que tinha adoptado alguns caminhos impróprios. Com Trump a Nato será reestruturada e a EU obrigada a organizar e assumir a defesa dos próprios interesses estratégicos o que implicará para a EU o assumir de relações amistosas com a Rússia e responsabilizar-se pela organização caríssima do aparelho militar. A maior regulamentação e intervenção nacional no processo da globalização terá consequências muito graves para a economia alemã. Numa altura em que a EU se preocupa por unir e responsabilizar mais os seus membros, o facto de Trump e com ele a América querer mais patriotismo e menos globalismo obriga a um novo baralhar das cartas da política. Com a nova América Putin ganhou e a esquerda perdeu.

Quando a América espirra a Europa adoece

Tudo isto não será tão mau como parece. Os USA têm sistemas constitucionais que se controlam mutuamente e o Congresso tem muitos representantes republicanos que não seguem a linha de Trump (partido dividido em duas facções) e o aparelho do governo tem milhares de cargos e estes têm muito a dizer. A Europa já ridicularizou Ronald Reagan, por ser um actor e ele conseguiu um acordo de desarmamento com a União Soviética, exultou Obama como um messias e na sua administração houve mais guerras no mundo do que noutras anteriores. Trump provoca uma mudança no ideário internacional mas terá de seguir a perícia e a inteligência da administração.

Ângela Merkel já puxou as orelhas a Trump dizendo que quer colaborar com quem respeite os tradicionais valores ocidentais. A europa quer ver na Nato uma comunidade de valores mas isso não é tão lineal como parece porque, em política e economia, na base dos valores estão os interesses. Na Europa há muitos Estados que têm uma relação estreita com os USA e isso implicará um contrapeso a Bruxelas: Trump está para o mundo como o Reino Unido para a EU. A Europa terá de organizar uma estratégica própria em colaboração com a Rússia e não na confrontação se não se quiser esgotar economicamente na militarização da sociedade, além do mais tem de reconhecer os erros que obrigaram o Reino Unido ao Brexit.

Moral da história: a classe política europeia deveria reconhecer a base dos seus valores na sua cultura e não ir vivendo do improviso de valores abstractos fabricados ao sabor de ideologias ou dos tempos. Quem quer a globalização deve ter os pés na terra e reconhecer os interesses da própria cultura, aquela que lhe dará sustentabilidade. O progresso e a inovação são muito necessários mas não poderá ir além do comprimento das pernas que temos.

O povo é que paga as favas: paga-as quando alimenta as classes privilegiadas demasiado gordas e paga-as quando estas se queixam de que ele é estúpido. A democracia não se adequa a ter donos, sejam eles partidos ou autocratas. Com a tecnologia digital iniciou-se a era pós-fática em que o sentimento é quem mais ordena!

Resta-nos ficar com a atitude de esperança do Vaticano em relação a Trump: a promessa de rezar por ele e a jaculatória “Que Deus o ilumine” !

António da Cunha Duarte Justo

Reflexão incómoda