ALEMANHA A ACORDAR PARA O PERIGO DO FASCISMO TURCO

Importação de conflitos políticos religiosos e sociais

António Justo

No dia 16 de Abril 58,2 milhões de turcos vão deliberar por referendo a favor ou contra a constitucionalização de uma ditadura presidencial na Turquia. 2,9 milhões de eleitores encontram-se no estrangeiro; na Alemanha vivem 1,4 milhões.

O presidente turco Erdogan e seus ministros pretendem continuar a fazer sessões de propaganda a favor da introdução de um sistema presidencial. Como os turcos da diáspora são muito nacionalistas e nas últimas eleições o partido de Erdogan conseguiu na Alemanha um apoio superior a 60%, Erdogan espera destes que votem pelo seu programa de marginalizar instituições democráticas e obter para o presidente poderes que pertenceriam ao parlamento.

Ministros turcos viram impedidos os seus intuitos de fazerem propaganda pela ditadura ao ser-lhes proibidos os comícios de Gaggenau, Colónia e Frechen. O presidente da cidade de Gaggenau não permitiu o evento nas instalações, onde o ministro turco da justiça (Bozdat) ia fazer propaganda pela reforma antidemocrática; o autarca argumentou com a falta de lugares de estacionamento e de segurança para os visitantes que tadicionalmente assumem em grande número nos seus eventos políticos.

O regime de Erdogan persegue a liberdade de imprensa e de opinião e o seu ministro da Justiça tem a lata de declarar a proibição do seu comício de propaganda como “maneira de agir fascista”.

O tom entre a Turquia e a Alemanha é áspero e a agressividade dos representantes do governo turco tornou-se insuportável. Os inimigos da liberdade e da liberdade de expressão na Turquia usam-se e abusam da liberdade de expressão na Alemanha. O governo alemão deveria ter mais consideração pelos inocentes perseguidos na Turquia. A EU torna-se cúmplice ao fechar os olhos ao que tem acontecido e acontece na Turquia. Na EU e seus membros governa o medo em geral e o medo de governos  imprevisíveis. A Turquia permite-se ser arrogante não só por natureza mas como  estratégia (ad intra) porque sabe que dela depende em grande  parte a entrada de mais refugiados na EU e isso é o que mais assusta os polítcos da EU especialmente em ano de eleições importantes.

A sociedade alemã admira-se de tanta arrogância e atrevimento da parte turca que quer servir-se e abusar da liberdade de expressão na Alemanha para defender posições fascistas e ditatoriais em comícios organizados nos guetos turcos; por outro lado a sociedade pensante admira-se pelo facto do Governo Federal se manter bastante mudo em relação ao agir escandalosamente antidemocrático do Governo de Erdogan e à maneira arrogante como se manifestam os representantes do governo turco na Alemanha.

O partido “União de Democratas Turco-Europeus” (UETD) é considerado o escudeiro do AKP de Erdogan, tal como muitas das mesquitas turcas na Alemanha.

Importação de conflitos políticos religiosos e sociais

Na Alemanha, a Turquia e muitos turcos exigem, além de tolerância para a sua intolerância, também o direito a propagarem a intolerância.

Na Alemanha em 1961 havia 6.800 cidadãos de nacionalidade turca. Actualmente os

Turcos na alemanha são cerca de 3,5 milhões; na França são cerca de 1 milhão.

Na Alemanha avalia-se o número de curdos turcos em 800.000 e com os curdos do Iraque, Irão, Síria, Arménia e Líbano chegarão a 1,7 milhões. Nos últimos dois anos terá havido cerca de 150.000 curdos que pediram asilo na Alemanha. Curdos na Turquia não podem usar o seu nome curdo.

Curdos e turcos encontram-se em conflito na Turquia e importam o conflito para a Alemanha, especialmente através de governo turco que se comporta em casa alheia como se estivesses em sua casa.

Conflito Alemanha-Turquia de mãos atadas

A 20.03.2015 é celebrado o acordo da EU com a Turquia sobre refugiados, recebendo a Turquia milhares de milhões de Euros para travar o fluxo de refugiados para a Europa, como refere o HNA. Deste modo a EU torna-se dependente da Turquia. A 31.03 o satírico Jan Böhmermann faz uma poesia contra Erdogan; este mete o satírico em tribunal na Alemanha mas perde a questão. No dia 2.06 o Parlamento alemão decide uma resolução condenando e qualificando de “genocídio”  as barbaridades dos turcos contra os arménios há 100 anos. A 22.06, a Turquia proibiu a visita de parlamentares alemães à Base Aérea de Incirlik e, como reacção, a ministra das Forças Armadas Alemãs visita demonstrativamente os soldados alemães estacionados na Turquia. A 15.07 dá-se o golpe de estado falhado; o presidente Erdogan declara o estado de emergência e organiza um golpe às instituições de Estado aprisionando muitas dezenas de milhares de funcionários do Estado. A 2.09 a chanceler alemã declarou a resolução do Parlamento alemão sobre a Arménia como legalmente não vinculativa. A 15.02.2016 as instalações do Instituto religioso Turco-Islâmica (DITIB) são investigadas pelas autoridades alemãs (Imãs espionaram apoiantes de Fethullah Gülen e mandaram informações para o governo em Ankara. Na onda de atemorização e aprisionamentos de jornalistas, a 17.02 o correspondente turco-alemão Yuecel,  do jornal Die Welt é capturado em Istambul com o argumento de fazer  propaganda pelos curdos na resistência, sendo apelidado por Erdogan como um “agente alemão”.

 

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Espírito no Tempo

Social:
Pin Share

Social:

Publicado por

António da Cunha Duarte Justo

Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *