Mundo das Finanças: Um Romance Criminal com Sabor a Tragicomédia
António Justo
O romance teatral em curso é tão palpitante que nem deixa tempo para pausas, pausas para digerir as cobras e lagartos que somos obrigados a engolir de dia para dia.
Argumento da peça: Bancos com prejuízos gigantescos transformados em pedintes do Estado e os seus desavergonhados banqueiros com biliões de bónus; na plateia espectadores devotos à espera de Godot. Em todos os países o mesmo cenário: só gatunagem até onde a vista alcança. Um sistema de auto-serviço moderno que se regula a si mesmo. A política protesta mas encontra-se de mãos amarradas. O povo que pague as favas. Chegou o tempo das vacas magras! O rosário das calamidades não acaba e as elites parecem ter chegado ao fim do seu latim!
Por mais que se estiquem os olhos, no infinito da paisagem, só miragens pela frente! Não se avista nenhum Obama da economia!
O famigerado século das luzes parece atingir o fim do seu brilho racional. Os responsáveis pela doença do sistema económico e financeiro são os mesmos que o devem curar!… O paciente é o seu médico.
Aqueles que aniquilaram biliões e levaram a economia à ruína providenciam-se com indemnizações mastodônticas e com bónus de milhões. Isto observa-se por todo o lado, sem excepção. Aos políticos, como ao povo só lhes resta acreditar no altar do capital.
Trata-se de salvar necessidades à custa da cultura e da moral; à política segue-se a economia, num tango de capitalistas e socialistas. No fulgor da dança, todos metem a mão, sem escrúpulos.
A irresponsabilidade foi anonimizada, democratizada! O capital também! A avidez insaciável de alguns vive da miséria dos outros. Os trabalhadores são despedidos ou vêem o seu trabalho reduzido e o cliente é castigado enquanto que os chefes da banca, ilesos, lavam as mãos nas águas da inocência.
O Estado sobe o seu crédito, é a sua hora! Naturalmente que onde entra dinheiro do Estado, este quer governar e onde há governo lá se encontram os partidos e com eles os seus melhores, os barões!… Por outro lado um capitalismo de estado teria como consequência um retrocesso aos nacionalismos cerrados e a prepotência política.
No tempo em que a palavra valia, havia pessoas honradas, porque se sentiam responsáveis.
No tempo dos novos-ricos não se conhece a honra. Interessados não na honra mas no crédito das moedas, perdem o crédito, porque não conhecem a honra. Vivem no Olímpico, e, no trono da sua cobiça, sabem-se intocáveis. E a corrupção é solidária. Criam-se superstruturas económico-políticas em que os manda-chuvas, com o sol sempre do seu lado, podem continuar a manipular o sistema social.
O sistema em que os riscos pertencem aos trabalhadores e as chances aos Magnates parece estar a desperdiçar a oportunidade para controlar a corrupção. Naturalmente que a tarefa não é fácil e mais complexa do que parece.
António da Cunha Duarte Justo
Meu caro Professor António Justo:
Só tenho uma palavra para o seu nobre texto: BRAVO!
Honra, dignidade, solidariedade, honestidade, são valores que há muito não passam de palavras vãs, quiçá atirados ao vento nos dias de festa…
E nem vale a pena perguntar-lhes, especialmente aos senhores da alta finaça e da política, se por acaso algum dia ouviram falar na função social da propriedade…
Mas os homens livres, justos e de bons costumes devem fazer ouvir a sua voz, ou escrever como o meu ilustre amigo fez, pois escrever também é lutar, mesmo que só UMA pessoa oiça ou leia.
Bem haja!
Tri abraço solidário,
Jorge da Paz