COMO TRATAR O CANCRO

Um Médico consegue armar-se contra o Cancro
António Justo
Dado contactar no meu dia a dia com pessoas com cancro, acrescento aqui algumas ideias sobre o assunto, recomendando a leitura de David Servan-Schreiber.

David Servan-Schreiber neurólogo e psiquiatra, depois de ter visto curado o seu tumor maligno no cérebro, passados sete anos, teve uma recaída aparecendo-lhe um segundo tumor maligno. A partir daqui não se abandonou nas mãos dos médicos, questionando-se sobre o que deveria fazer ele mesmo para interferir no processo de cura. Neste sentido procurou acompanhar a chemoterapia também com meios alternativos.

Constatou que o fortalecimento dos mecanismos de defesa do corpo era essencial para impedir o crescimento do tumor. Nas suas experiências verificou que o gene não é decisivo para o aparecimento do cancro. Mais determinante parece ser o solo alimentício que as células cancerígenas encontram no corpo. Uma vez que o cancro tenha aparecido, a alimentação não o pode dominar sozinha. O sistema imune, sozinho, é uma arma demasiado fraca contra o cancro. Mas uma vez que se tenha dominado o cancro através dos métodos convencionais, então é preciso fortalecer-se o sistema imune através duma alimentação natural adequada e dum estilo de vida equilibrado para que o cancro não tenha tantas chances. Com a idade o sistema imune enfraquece!…

O autor, baseado na sua experiência, escreveu em 2007 o livro: “Anticancer. Prevenir et lutter grâce à nos défenses naturelles”, agora traduzido para Alemão com o título „Das Anti-Krebsbuch“. Encontra-se traduzido em português com o título: ”Anticâncer : Previnir e Vencer Usando Nossas Defesas Humanas”. O autor procura apresentar o cancro também sob a perspectiva do paciente. Para ele os nossos mecanismos de defesa naturais têm um papel decisivo na cura. No Ocidente dão-se de 7 a 70 vezes mais casos de cancro do que na Ásia embora aqui as pessoas tenham a mesma quantidade de microtomores. Mais que o gene parece ser o modo de vida que determina o aparecimento do cancro.

Como proceder contra as condições fomentadoras do cancro? Entre outras temos o ambiente, alimentação, feridas da alma e a fraqueza do sistema imune (processos de inflamação).
Cancro torna patente a transitoriedade e a fragilidade da vida.Na prevenção é importante prestar-se atenção ao estilo de vida e às causas ambientais. A sua mudança pode tornar-se num factor impedidor do desenvolvimento dos microtumores. Isto porém não anula as formas tradicionais de tratamento.

As células cancerígenas são caóticas, não obedecem a regras e colocam o corpo em estado de sítio. O seu inimigo é o sistema imune. O sistema imune reage bem a alimentação sem venenos, ao movimento, às emoções positivas. Ele pode ser activado através de “culinária mediterrânea, indiana e asiática, através de sentimentos vividos, de calma e serenidade, do apoio através de amigos e família; do aceitar-se como se é, com os seus valores e a própria história e através de movimentação regular”.

Quanto mais leguminosas, feijão, ervilhas e lentilhas se consome num país, menos cancro se regista. O consumo de azeite ou de óleo de linhaça, em vez doutros óleos, é bom contra o cancro. A proximidade, a autenticidade, alegria de viver, são muito importantes. Em 1940 em cada 100.000 mulheres havia cerca de 50 com cancro de peito. No ano 2000 em 100.000 havia 140 casos. Nota-se uma relação entre o desenvolvimento da agricultura e a alimentação. O aumento do açúcar refinado, da farinha branca e óleos de planta, todos sem proteínas, sem vitaminas nem minerais tem aumentado desproporcionalmente favorecendo o rebentar do cancro. O cancro alimenta-se de açúcar. O açúcar amarelo não é tão prejudicial.

Um dos perigos é também os charlatães! Estes notam-se pelos tratamentos alternativos caros que apresentam; ou quando fazem depender o efeito do tratamento do desejo autêntico do paciente; ou quando o terapeuta não quer colaborar com o médico e aconselha o paciente a renunciar aos métodos de tratamentos convencionais. Há muita gente interessada no negócio com os doentes!… O efeito placebo também pode ser um elemento não desprezível.

Rituais e tratamentos através de “pessoas espirituais” ou de meditação e oração são métodos de fortalecimento da força vital do paciente e da libertação das forças negativas que o ameaçam (tais como medos e culpas). O paciente deve recuperar a sua integralidade reencontrando a sua paz interior. Ao ser ajudado recupera energias perdidas no seu sentimento de impotência, de abandono e de medo e da carga do passado. Desejos insaciados, esperanças desiludidas, frustração, falta de sentido fomentam o stress e a entropia.

A coerência de corpo e alma e a ressonância de pensamento e coração pode ser alcançada também através da meditação. Um bom meio é a concentração na respiração. Ao centrar-me na respiração torno-me automaticamente consciente do meu corpo, movendo em sua ajuda outras forças emocionais e espirituais. O nosso lema central deveria ser: viver mais conscientemente para podermos ajudar a mudar o nosso comportamento e o das nossas células.

Há casos tão extremos em que só resta já a oração. Na oração não se trata de pedir o milagre mas de se mover no mundo do milagre. Trata-se de mobilizar as reservas latentes na consciência individual e comunitária. Não estamos sós. Deus está em nós e connosco. Ele não quer o nosso mal nem a doença. A doença faz parte do mistério e o desbloqueamento dela não está completamente nas nossas mãos. Há pessoas que se curam outras não e não se sabe porquê. Há pessoas com uma vida espiritual e alimentícia muito cuidada que morrem de cancro enquanto que outras sem esses cuidados são mais resistentes. Para muitas coisas não há explicações e, por vezes, o refúgio no mundo das ideias impede-nos de entrarmos em nós mesmos.

O nosso pensamento não pode ser ditado pela doença, nem pela opinião de quem quer que seja. Às vezes temos que “fazer das tripas coração”! Apesar de tudo só nos resta ver a vida como projecto e orientar o fluxo da energia para um objectivo surgido do interior e aquecido no sentimento e na confiança. Sentido e decisão conduzem à harmonia interior.

Para um desenvolvimento sadio é importante a interpretação da doença, numa reacção positiva, para assim melhor possibilitar o desenvolvimento das próprias capacidades. O sentimento de impotência também pode tornar-se em oportunidade para um redobrar de forças no sentido dum novo começo na descoberta da vida como projecto…

“Levai os fardos uns dos outros… (Gal 6,2). A dor no mundo é incompreensível e não tem resposta. Não temos o mundo na mão nem tão-pouco a nossa vida. Ao lado da perspectiva da cruz só fica a escuridão. O pregado na cruz é, entretanto, ao mesmo tempo o humilhado, vítima da dor e o exaltado.

António da Cunha Duarte Justo

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Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

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