Poesia é…
Um estado sem estar: todo em tudo
Acariciar na alma o firmamento
Um sentir sem saber!…
A vida toda num momento
Poesia é…
Ser sem estar, aqui além,
Na convergência do ser
Com o mundo caminha(n)do
Tempo e espaço, num abraço, a arder
Poesia é…
Ser-se do mundo o ritmo
Um calafrio da terra pela alma a correr
Sofrer a dor do universo
A chama do tempo no corpo a arder
Poesia é…
Mais que prazer uma alegria
Para lá da chama do viver
Seguir à sombra das raízes das coisas
As pegadas do mistério a acontecer
Poesia é…
Amar sendo amado sem saber…
Uma maneira de olhar o mundo, de o ser…
Imaginar para lá das imagens a imagem que se é…
Alma e corpo: uma vela a arder
Poesia é…
Aprender o afecto de gatas na procura duma mão
Deixar-se agarrar para amar e ser
Amar e ser amado como bem apetecer
Poesia é…
Uma brisa, uma onda, um vulcão!
A voz da alma, da terra e do céu
Trinado apenas da mesma canção.
Poesia é…
Ser-se guitarra a tocar o mundo na mão!…
© António da Cunha Duarte Justo in “Rascunhos do Tempo” , 2005