Natal – As dores do parto universal em nós!

Quem viu a luz crê na realidade do bem!

Nas pegadas da luz queremos ousar um mundo melhor! Um mundo com lugar digno para todos, para lá dos credos e dos domínios! Conscientes de que cada nascimento, como tudo no reino do ser, do estar espacio-temporal, conduz à transitoriedade, realizamos o Natal, como crentes da vida no seguimento da luz.

O Advento é o tempo da gravidez, a noite à espera da luz, da luz que na dor irrompe em nós.
Natal é o esforço contra a entropia, uma vontade resistente à treva. Na gruta do nosso coração brilha a luz do novo dia. A crusta do hábito e o nevoeiro cerrado do instinto encobrem-na, daí o esforço subjacente.

Natal acontece no dia a dia, é dar à luz o novo, a luz, o bem. Para isso pressupõe-se o estado de gravidez. Na abertura do encontro, ao sermos tocados pelo gene divino, pelo outro, surge a luz, a luz duma nova ideia, duma nova intuição, dum encontro com o outro, duma nova vida, dum novo ser. Daí o desejo de que algo nasça em nós, de que algo se modifique. Então tornar-nos-emos a mãe de nós próprios. O processo natalício consta em tornar-se mãe de si mesmo/a.

A noite da comercialização de todos os sectores da vida torna o Natal mais difícil ou mesmo impossível, afastando-nos da vivência de nós mesmos, dos outros, do abismo do solo da nossa alma onde o sol do espírito brilha, para lá das nuvens dos nossos sentimentos e afectos, para lá do dia a dia de todos nós.

Para lá das nuvens encontram-se as forças vivas que se regeneram na frieza invernal para surgirem renovadas no sol da primavera que mais não é do que a esperança, o anúncio do mesmo espírito que corre na natureza e que circula em nós. Como nós, também a natureza sonha e vive a esperança do sol do meio-dia.

Na natureza, em nós, por todo o lado, no meio do nevoeiro serrado da vida, tudo olha para uma luz distante mas cintilante.

Tudo quer geral algo, tudo se encontra nas dores do parto espacio-temporal.

Terra, corpo, natal, primavera, luz, a noite, o dia, tudo são metáforas da mesma realidade: a natureza, o ser a caminho, a matéria, a morte, a treva, a dor e a noite em diálogo a dar à luz.

Tudo canta, soa com a sua voz em tom maior ou bemol na mesma sinfonia do concerto universal.

Natal é também convite a entraremos na ressonância do canto universal em que tudo tem sentido no natal gerador: natal individual no natal universal!

António da Cunha Duarte Justo

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António da Cunha Duarte Justo

Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

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