Pai querido, hoje trago-te uma flor
Toda minha, não roubada, pra te dar
Contigo, pô-la quero, no jardim de minha mãe
Obrigado pai amado
Contigo bafejou Deus o jardim
Aquele terreno santo
Donde saiu o que se expressa em mim
Obrigados céu e terra, pelo sol, pela chuva
Porque em vós, até em dias de sombra
Sempre havia o arco-íris a agradecer
Na tua ausência a vida chove
Meu guarda-chuva anda perdido
A chuva bate dura agora em mim
Sem sonhos nem vida
O dia cai, as folhas também
Os olhos postos no chão da vida
Não vêem as flores nem os frutos
Que a árvore tem.
Até logo, pai querido
Na morte em ti presente
A vida escondes
Que em mim deixas
Na minha alma a morte entoa
Um fado triste e tão forte
Que mata a tristeza da morte
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo
Nota: Na poesia feita no sombrio da vida refiro-me ao arco-íris que era o terço que em família era rezado todos os dias. Se alguma sombra no dia havia lá estava o arco-íris da reza do terço à noite a fazer a ponte para a luz brilhar no novo dia.