COMO TRATAR O CANCRO

Um Médico consegue armar-se contra o Cancro
António Justo
Dado contactar no meu dia a dia com pessoas com cancro, acrescento aqui algumas ideias sobre o assunto, recomendando a leitura de David Servan-Schreiber.

David Servan-Schreiber neurólogo e psiquiatra, depois de ter visto curado o seu tumor maligno no cérebro, passados sete anos, teve uma recaída aparecendo-lhe um segundo tumor maligno. A partir daqui não se abandonou nas mãos dos médicos, questionando-se sobre o que deveria fazer ele mesmo para interferir no processo de cura. Neste sentido procurou acompanhar a chemoterapia também com meios alternativos.

Constatou que o fortalecimento dos mecanismos de defesa do corpo era essencial para impedir o crescimento do tumor. Nas suas experiências verificou que o gene não é decisivo para o aparecimento do cancro. Mais determinante parece ser o solo alimentício que as células cancerígenas encontram no corpo. Uma vez que o cancro tenha aparecido, a alimentação não o pode dominar sozinha. O sistema imune, sozinho, é uma arma demasiado fraca contra o cancro. Mas uma vez que se tenha dominado o cancro através dos métodos convencionais, então é preciso fortalecer-se o sistema imune através duma alimentação natural adequada e dum estilo de vida equilibrado para que o cancro não tenha tantas chances. Com a idade o sistema imune enfraquece!…

O autor, baseado na sua experiência, escreveu em 2007 o livro: “Anticancer. Prevenir et lutter grâce à nos défenses naturelles”, agora traduzido para Alemão com o título „Das Anti-Krebsbuch“. Encontra-se traduzido em português com o título: ”Anticâncer : Previnir e Vencer Usando Nossas Defesas Humanas”. O autor procura apresentar o cancro também sob a perspectiva do paciente. Para ele os nossos mecanismos de defesa naturais têm um papel decisivo na cura. No Ocidente dão-se de 7 a 70 vezes mais casos de cancro do que na Ásia embora aqui as pessoas tenham a mesma quantidade de microtomores. Mais que o gene parece ser o modo de vida que determina o aparecimento do cancro.

Como proceder contra as condições fomentadoras do cancro? Entre outras temos o ambiente, alimentação, feridas da alma e a fraqueza do sistema imune (processos de inflamação).
Cancro torna patente a transitoriedade e a fragilidade da vida.Na prevenção é importante prestar-se atenção ao estilo de vida e às causas ambientais. A sua mudança pode tornar-se num factor impedidor do desenvolvimento dos microtumores. Isto porém não anula as formas tradicionais de tratamento.

As células cancerígenas são caóticas, não obedecem a regras e colocam o corpo em estado de sítio. O seu inimigo é o sistema imune. O sistema imune reage bem a alimentação sem venenos, ao movimento, às emoções positivas. Ele pode ser activado através de “culinária mediterrânea, indiana e asiática, através de sentimentos vividos, de calma e serenidade, do apoio através de amigos e família; do aceitar-se como se é, com os seus valores e a própria história e através de movimentação regular”.

Quanto mais leguminosas, feijão, ervilhas e lentilhas se consome num país, menos cancro se regista. O consumo de azeite ou de óleo de linhaça, em vez doutros óleos, é bom contra o cancro. A proximidade, a autenticidade, alegria de viver, são muito importantes. Em 1940 em cada 100.000 mulheres havia cerca de 50 com cancro de peito. No ano 2000 em 100.000 havia 140 casos. Nota-se uma relação entre o desenvolvimento da agricultura e a alimentação. O aumento do açúcar refinado, da farinha branca e óleos de planta, todos sem proteínas, sem vitaminas nem minerais tem aumentado desproporcionalmente favorecendo o rebentar do cancro. O cancro alimenta-se de açúcar. O açúcar amarelo não é tão prejudicial.

Um dos perigos é também os charlatães! Estes notam-se pelos tratamentos alternativos caros que apresentam; ou quando fazem depender o efeito do tratamento do desejo autêntico do paciente; ou quando o terapeuta não quer colaborar com o médico e aconselha o paciente a renunciar aos métodos de tratamentos convencionais. Há muita gente interessada no negócio com os doentes!… O efeito placebo também pode ser um elemento não desprezível.

Rituais e tratamentos através de “pessoas espirituais” ou de meditação e oração são métodos de fortalecimento da força vital do paciente e da libertação das forças negativas que o ameaçam (tais como medos e culpas). O paciente deve recuperar a sua integralidade reencontrando a sua paz interior. Ao ser ajudado recupera energias perdidas no seu sentimento de impotência, de abandono e de medo e da carga do passado. Desejos insaciados, esperanças desiludidas, frustração, falta de sentido fomentam o stress e a entropia.

A coerência de corpo e alma e a ressonância de pensamento e coração pode ser alcançada também através da meditação. Um bom meio é a concentração na respiração. Ao centrar-me na respiração torno-me automaticamente consciente do meu corpo, movendo em sua ajuda outras forças emocionais e espirituais. O nosso lema central deveria ser: viver mais conscientemente para podermos ajudar a mudar o nosso comportamento e o das nossas células.

Há casos tão extremos em que só resta já a oração. Na oração não se trata de pedir o milagre mas de se mover no mundo do milagre. Trata-se de mobilizar as reservas latentes na consciência individual e comunitária. Não estamos sós. Deus está em nós e connosco. Ele não quer o nosso mal nem a doença. A doença faz parte do mistério e o desbloqueamento dela não está completamente nas nossas mãos. Há pessoas que se curam outras não e não se sabe porquê. Há pessoas com uma vida espiritual e alimentícia muito cuidada que morrem de cancro enquanto que outras sem esses cuidados são mais resistentes. Para muitas coisas não há explicações e, por vezes, o refúgio no mundo das ideias impede-nos de entrarmos em nós mesmos.

O nosso pensamento não pode ser ditado pela doença, nem pela opinião de quem quer que seja. Às vezes temos que “fazer das tripas coração”! Apesar de tudo só nos resta ver a vida como projecto e orientar o fluxo da energia para um objectivo surgido do interior e aquecido no sentimento e na confiança. Sentido e decisão conduzem à harmonia interior.

Para um desenvolvimento sadio é importante a interpretação da doença, numa reacção positiva, para assim melhor possibilitar o desenvolvimento das próprias capacidades. O sentimento de impotência também pode tornar-se em oportunidade para um redobrar de forças no sentido dum novo começo na descoberta da vida como projecto…

“Levai os fardos uns dos outros… (Gal 6,2). A dor no mundo é incompreensível e não tem resposta. Não temos o mundo na mão nem tão-pouco a nossa vida. Ao lado da perspectiva da cruz só fica a escuridão. O pregado na cruz é, entretanto, ao mesmo tempo o humilhado, vítima da dor e o exaltado.

António da Cunha Duarte Justo

PAPA BENTO XVI EM PARIS

O Presidente francês defende uma Laicidade Positiva

António Justo
Uma surpresa: o Papa que ia em peregrinação a Lurdes para comemorar o jubileu dos 150 anos das aparições de Nossa Senhora a Bernardette Soubirous, vê-se honrado pela imprevista recepção oficial do presidente francês Nicolas Sarkozy. A oposição francesa insurge-se contra o Presidente pelo facto de ele receber o Papa como um Presidente de Estado. Vêem em perigo o Estado laico.

O presidente francês pretende com isto dar um sinal para que o laicismo estatal se torne numa “laicidade positiva” defendendo um diálogo aberto entre religião e política e uma nova reflexão sobre as “raízes cristãs europeias”. O bem da sociedade não se pode reduzir apenas às vertentes económica, mercantil e política. Para se desenvolver equilibradamente e em harmonia terá de abrir o seus horizontes também à vertente metafísica.

No discurso, o Papa secundou as ideias do Presidente, louvando a bela ideia da “laicidade positiva” dizendo que “religião e política têm de estar abertas uma à outra … e que a política tem de se tornar mais consciente da função insubstituível da religião na formação da consciência”.

De facto, um certo laicismo fanático encostado às instituições estatais (uma certa esquerda e maçonaria), em vez de se afirmar com se afirma contra a religião cristã deverá fomentar um diálogo pela positiva e não apenas pela negativa. Religião e laicismo são elementos importantes do Estado. O que não deve é nem um nem outro apoderar-se do Estado.

A igreja católica tem vindo a perder terreno na França com grande falta de padres (esta, também, devida à sua obstinação anacrónica no celibato). O Islão ganha cada vez mais terreno e significado. Numa nação em que os muçulmanos se afirmam cada vez mais conscientes de si mesmos, e onde ocupam já o segundo lugar entre os grupos religiosos franceses, não seria salutar, para a nação, a existência dum cristianismo envergonhado, sempre atacado pelos inimigos da religião, quando os outros são poupados, por razões consideradas óbvias. Se por um lado se respeita a sensibilidade religiosa muçulmana, por outro, os símbolos cristãos põem-se muitas vezes a ridículo. Grupos racionalistas e socialistas rivais do cristianismo, revelam-se, por vezes, muito agressivos contra o Catolicismo, poupando o Islão, por oportunismo ou interesse; deste modo impedem um diálogo adulto entre religiões e política, prestando por outro lado um mau serviço ao Estado e à Nação.

Sarkozy, numa visão preclara, está consciente do descalabro em processo na sociedade europeia e o vírus que roí por dentro as nações europeias. Por isso designa a religião como o elo de ligação duma sociedade. Os sistemas políticos passam e as religiões ficam. Há que manter um espírito e um diálogo independente mas construtivo. Um grupo deve ser o cadinho purificador do outro. A EU precisa de redescobrir as raízes cristãs que estão na base dos seus valores e da sua própria laicidade e por isso manter-se como seu ideário garante continuando a empunhar na mão o archote da esperança.

Hoje, o Papa falará em Lurdes. Muitos católicos acreditam que Nossa Senhora apareceu a Bernardette, onde “a Senhora branca” a 25 de Fevereiro pediu à jovem para “beber da fonte e se lavar”. “Bernardette revolveu a terra e em breve brotou um pouco de água lamacenta e ela bebeu dela”. Muitos vêem na descoberta da fonte como provada da autenticidade das aparições. A água de Lourdes tornou-se famosa sendo anualmente enviados 40.000 litros dela por todo o mundo, ao preço das custas de transporte.

Dos milagres acontecidos em Lourdes a Igreja reconheceu, oficialmente, até hoje, 67 curas inexplicáveis.

Talvez o próximo milagre de Lourdes seja o de possibilitar na cabeça de socialistas e crentes a compatibilidade entre religião e socialismo, a harmonia entre secularismo e religião.

António da Cunha Duarte Justo

MEDITAÇÃO MARIANA

A Ciência confirma Efeitos curativos das Rezas
António Justo
As áreas científicas da medicina, da teologia, da sociologia e da psicologia cada vez se complementam e interferem mais. A ciência através de investigações feitas na universidade de Pádua, pelo cientista Luciano Bernardi, descobriu experimentalmente que a forma meditativa e rítmica da reza do Terço alternada sintoniza os ritmos biológicos do corpo, cria harmonia e estabiliza a saúde da pessoa. A recitação da Ave-Maria assim como de jaculatórias meditativas (mantras) e de ladainhas provoca fisiologicamente o retardamento da frequência respiratória fortalecendo assim o coração e os pulmões. Os fôlegos (inspiração – expiração) do adulto têm uma frequência de 12 a 20 por minuto. Verificou-se que durante a reza alternada da Ave-maria a frequência respiratória chega a baixar a seis fôlegos por minuto. A baixa frequência respiratória conduz-nos à sintonia orgânica do corpo através da influência da frequência cardíaca da regulação da tensão arterial e da ressonância com o universo na participação do espírito.

É de registar que em diferentes culturas as palavras, respiração, atmosfera, ambiente, se encontram etimologicamente interrelacionadas.

O medo, a ansiedade, a depressão, o stress, a excitação aceleram o ritmo da respiração e com ela perturba-se o ritmo cardíaco e a tensão. A interferência na actividade respiratória provoca a regulação do metabolismo da ligação do oxigénio e dióxido carbónico no sangue, mudando-se assim, com ela, a química do sangue.

A técnica da respiração, usada também na reza do terço, une a parte superior do coração – razão com o abdómen, criando assim uma frequência de vibração dos órgãos, na sintonia e interacção da matéria e do espírito. No recolhimento, o medo e o sentimento de impotência dão lugar à mudança surgindo o sentimento de satisfação e realização.

Meditação da Reza do Terço
A Reza do Terço em grupo e em privado desvia-nos do ritmo do dia a dia introduzindo a pessoa numa frequência ritmada que possibilita, através da respiração abdominal e da concentração, o acesso à vida interior e ao equilíbrio psicossomático. Para o efeito entram em sintonia: coração, cérebro, pulmões e consequentemente o espírito. Através da respiração consciente, no abdómen, no peito, nos ombros sentem a tensão e distensão do inspirar e expirar unido ao coração e ao sentimento espontâneo. Aqui se interfere a acção do corpo e do espírito em colaboração e interferência mútua. Assim se contribui para o equilíbrio da vida. Se alguma parte do nosso corpo está dolorosa podemos, através do pensamento dirigir para lá a respiração para que também esta parte seja, de forma dirigida, incluída no jorro da vida, no amor.

O saber religioso de que a respiração unida à palavra conduz à unidade no sentido original da religião: re-ligar, é um património de toda a humanidade. A consequente paz interior é um efeito acessório. A reza do terço, no sentido católico, não se deixa reduzir a um método de higiene corporal e mental. As diferentes técnicas das diversas culturas, porém, sem o espírito de entrega, e sem a diferenciação dos espíritos, poderiam ficar apenas por uma experiência sentimentalista equívoca (1 Cor 19).

Curioso é o facto da recitação do terço, na igreja católica, ser conduzida, por todo o lado, por dois grupos, de maneira alternada, correspondentes à inspiração e à expiração. Enquanto o padre, o dirigente ou um grupo recita, dum folgo, “Ave-maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus”, o grupo responde “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte. Ámen.“ Também, na reza individual, a primeira parte corresponde à expiração e a segunda à inspiração.

A reza sintoniza as forças através da respiração ritmada que une o exterior ao interior e fomenta o ritmo cardíaco natural e a concentração da inteligência, resultando daí o bem-estar que predispõe a pessoa para a recepção de mensagens religiosas, para a percepção intuitiva, para a entrada em contemplação.

Na devoção popular, além da recitação do Terço são métodos comuns de acesso à contemplação o uso da repetição de palavras, frases em voz alta, em voz baixa ou simplesmente em pensamento. Cada pessoa, segundo o seu estado e mentalidade, encontra inconscientemente a palavra, jaculatória que melhor lhe corresponde. Na pastoral juvenil usa-se também o canto no passeio, a observação do pôr / nascer do sol, da natureza, juntando-lhe o elevar das mãos como formas de acesso ao mistério.

Em oração inspiro o sol da vida e expiro o descanso da noite. Então o mundo respira em mim e eu respiro o mundo. Nesta atmosfera fomenta-se o acontecer da harmonia da “mens sana in corpore sano.”

No cristianismo há diferentes espiritualidades, geralmente ligadas a tradições monásticas ou a congregações religiosas, praticando-se aí as mais diversas formas de meditação, geralmente também aferidas ao meditante / orador. Nos ortodoxos está muito generalizada a prática da concentração no coração e de na inspiração dizerem “senhor Jesus Cristo” e na expiração “tem compaixão de nós”. No cristianismo, em geral, além de jaculatórias mais ou menos individualizadas é frequente o uso da palavra “Jesus” na inspiração e da palavra “Cristo” na expiração. Cada circunstancia pode solicitar uma palavra comum característica, tal como podemos verificar a alegria da época pascal na expressão: “Oh, Aleluia” Na escolha das palavras predilectas, geralmente usa-se a palavra ou parte mais curta na inspiração e a mais longa na expiração.

Outras formas de meditação praticadas nos conventos são: a meditação através do andar, dos gestos, do canto monótono, do silêncio, de ladainhas e de outras palavras surgidas do coração ou da tradição religiosa, ligadas à respiração.

Uma forma concreta e eficiente de iniciar a oração ou meditação pode ser: concentração na respiração abdominal, para na percepção do corpo se passar depois à palavra. Posso começar pela jaculatória, ou mantra “Oh tu (ao inspirar), Maria (ao expirar) ” para assim entrar na sintonia psicossomática e espiritual. Aqui se unem corpo e espírito a caminho do meu centro. Passo a ensimesmar-me de modo a sentir o jorro da energia universal, o amor, em mim e assim tornar-me parte vibrante dum todo em relação mútua.

Uma outra jaculatória pode ser “Respira em mim, tu Espírito Santo”. Com o tempo podemos nós passar a respirar nele. Uma pessoa não religiosa poderá usar, entre outras, a fórmula “Respira em mim, tu elan vital”.

A repetição individual, como a reza alternada em grupo, com o correspondente eco monótono criam o ambiente propício à dissolução das ideias e emoções do dia a dia. A ligação da palavra à respiração abdominal e ocasionalmente à cantilena daí resultante amplificam a possibilidade de viver o momento presente. Aí deixo de ser estrangeiro para fazer parte do Ser todo. O mesmo se diga da oração privada.

A Deus, à ipseidade pode chegar-se também através do vibrar do som (“No princípio era a palavra”). O ritmo da palavra e da respiração libertam-nos do pensamento, possibilitando-nos o acesso a outras esferas da realidade, mesmo à contemplação. Naturalmente que estes métodos não podem ser fins em si mesmos, doutra maneira não passariam duma forma sofisticada de atingir experiências semelhantes às da droga.

Trata-se de encontrar a alteridade em relação com a ipseidade, a divindade em nós e entrar assim na ressonância divina. O Mestre Eckehart testemunhava esse processo com as seguintes palavras: “ Deus está em nós, mas nós estamos fora de nós. Deus está em casa em nós, mas nós estamos no estrangeiro.”

A oração ou meditação poderão constituir um momento gratificante no processo criação, incarnação e ressurreição em que estamos envolvidos. A verdade última é a realidade trinitária.

António da Cunha Duarte Justo
“Pegadas do Espírito”, Quinta Outeiro da Luz, 2008

Meditação e Respiração

Respiração na Tradição Ocidental
António Justo
„No princípio Deus criou os céus e a terra… e o Espírito de Deus movia-se sobre o semblante das águas” (gen 1,1). O respirar de Deus, a força da vida ( a “ruach”= vento, tempestade, o respirar da vida) penetra então todo o ser. A Ruach é o oxigénio espiritual que a tudo dá ânimo. A criação processa-se, desenvolve-se respirando o Espírito Santo.

A cadeia dos metabolismos da respiração interfere na regulação do ritmo pulmonar, cardíaco, tensão arterial, estado psico-somático até ao limiar do Espírito. O ritmo da inspiração e expiração ao provocar movimento abdominal e torácico num movimento de contracção e extensão concentra-nos no corpo e provoca uma abertura geral. Tudo se move, tudo se relaciona. Todo o universo macroscópico e microscópico, material e espiritual, participam do mesmo respirar, da força divina (Ruach).

A vida de Adão começou com o sopro, o hálito de Deus nas suas narinas. Se nos concentrarmos, sentimos segredar do seu sopro no respirar do nosso ser, no marejar do mar, no ciciar da brisa do céu.

A frequência rítmica reduzida de pulmões, coração e cérebro, ajuda-nos a entrar na ressonância universal, na frequência da Ruach (Espírito, sopro). O universo tal como a nossa corporeidade segue o seu ritmo mesmo a nível inconsciente tal como acontece com a respiração na sua qualidade de parte do sistema vegetativo nervoso. Neste processo experimentamos a satisfação de embarcarmos com ele e assim possibilitarmos uma mudança no nosso corpo e na nossa alma. Pela meditação procura-se tornar consciente e presente estes diferentes impulsos.

Pela respiração o dentro e o fora, a vida toda, encontram-se em equilíbrio. Também a respiração abdominal é mais saudável para o corpo e alma. Ela une a parte superior à parte inferior, o cérebro – coração ao abdómen. Na inspiração poderemos ver o acto do pensamento e na expiração o acto do sentimento. Um e outro formam uma unidade perfeita, tornando a matéria e o Espírito compatíveis. Se, em relaxe, nos concentramos na inspiração e expiração seguindo apenas o seu ritmo, sem em nada pensar, então, passado algum tempo, o mundo todo passa a respirar em nós, movido pelo mesmo espírito, que pode ser sentido como amor corrente. Na respiração sentimos corporalmente o efeito do ar e talvez espiritualmente o efeito da acção do Espírito Santo.

Se num lugar calmo nos concentrarmos na respiração facilmente tomamos uma percepção agradável do nosso corpo e com o tempo experimentamos a paz do Espírito em nós. O Espírito, a força criadora divina, revitaliza-nos até aos poros mais íntimos do nosso corpo e da nossa alma. Leva-nos a sintonizar com o universo, com o espírito, tornando-nos parte do todo.
“O meu povo jamais será confundido… acontecerá que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne: os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão; os vossos anciãos terão sonhos, e os vossos jovens terão visões, derramarei o meu espírito sobre os escravos e as escravas”(Jo 3,1-2). A força do espírito é de tal ordem que inebria de energia libertadora todo o homem e toda a mulher acabando com as aquisições e valorizações da carne, para a espiritualizar.

Irrompe o Pentecostes, o tempo da verdadeira comunidade. No momento da dificuldade o Espírito do Senhor desce sobre nós possibilitando o amanhecer do Pentecostes em nós. Neste momento indivíduo e comunidade tornam-se num só coração, criador e criação tornam-se solidários. Aqui acontece o Reino de Deus, a democracia espiritual. “Quem não nascer da água e do espírito não poderá entrar no Reino de Deus… O vento sopra onde quer; ouves a sua voz, mas não sabes onde vem, nem para onde vai. Assim é todo o que nasceu do Espírito”(Jo 3, 5 s). O homem velho que vivia na sombra do mal descobre a luz que ao inebriá-lo o torna novo, e então a faúlha do amor torna-o novo, tal como o fogo que enrubescedor do carvão e do ferro mais negros na forja..

A água lava-nos e o Espírito transforma-nos porque vem de Deus. Cheios do espírito estamos preparados para dar à luz e repetir o acto de Maria no presépio. O espírito mãe em nós desperta a fertilidade e provoca o novo nascimento. Dele surge uma mentalidade nova, um espírito de compreensão diferente do mundano. “O consolador, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, Esse ensinar-vos-á todas as coisas e vos recordará tudo o que vos tenho dito”(Jo 14, 26). O espírito novo, o amor leva a superar a incompreensão das diferentes línguas e culturas. Agora surge o tempo da inspiração que ajuda a superar as fórmulas rígidas das culturas permitindo ver o que as sustém. O espírito jorra em nós, já não somos escravos mas senhores, de estirpe divina. Em nós há muitos dons do espírito escondidos. O barulho da vida e a voz das leis e dos senhores do mundo é tão alto que não deixa perceber mais nada. Se queremos sair do turbilhão no labirinto da vida teremos de parar e aprender, de novo, a ser. “Eu sou o caminho a verdade e a vida.”

Já na Idade Média havia a tendência para mediante técnicas de respiração se facilitar o alcance do estado da profecia. O conhecimento de Deus não se pode alcançar através da especulação mas através do “coração” (lugar da vida divina, entre coração e cérebro), à sombra das ideias, ajudado pelas técnicas religiosas – místicas em ligação com a fala e a respiração. Na sabedoria asiática e na mística cristã a acção do espírito acontece no confluir e jorrar comum de emoção e razão, no confluir da matéria e do espírito, do Jesus e do Cristo.

O canto gregoriano dos conventos, e das igrejas, os encontros de Taizé onde se cantam cânones repetidos e vocalizados, unidos à respiração conduzem à ressonância corporal e espiritual, à vibração universal, ao limiar do espírito e da matéria.

Na palavra aleluia ou no vocativo “oh Aleluia”, encontram-se propriamente todas as vogais que constituem os mais diversos acordes do nosso ser e os sons do universo. A vibração surge do nosso centro para se espalhar em todas as direcções. Os diferentes tons, cantados no ritmo da respiração, provocam a abertura global. O espírito de Deus sopra vibrando na palavra. Do fundo do coração ressoa a essência da nossa alma na vibração do “tudo em todos” de que falam João e Paulo. Os pólos do corpo e da alma, do espírito e da matéria, do céu e do universo unem-se para deixar lugar apenas à ressonância amorosa.

O nosso coração torna-se no centro do universo, passa a existir só a relação, a relação trinitária no substrato do amor. “Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim”. Agora tornado na natureza Jesus Cristo, o Céu e a Terra abraçam-se, como o esposo e a esposa na consciência duma nova realidade, a realidade trinitária do um em três, do eu no nós. A linha horizontal e a linha vertical tocam-se tal como o espaço e o tempo.

O nosso corpo na forma de cruz abraça toda a humanidade, todo universo. Se na inspiração o universo, Deus, nos abraça, na expiração abraçamos nós Deus, o universo. No amor ágape fraterno universal, sentimo-nos como um invólucro (1 Cor 3,16), uma taça, um sino no qual o ressoar se torna toda a presença.

O movimento da respiração pode então também ser dançado e expresso nos mais diferentes gestos. Fora e dentro, espírito e matéria estão em relação vital como sombra da realidade trinitária. O amor passa a ser o ar que se respira; o espírito que tudo une leva-nos ao mais profundo do nosso ser, do ser universal, da divindade em nós (Rom 5,5). Também no respirar podemos sentir o eco da voz de Deus. Na intimidade desta oração se unem poetas, músicos e religiosos, crentes e não crentes na vibração comum do amor, do Espírito Santo. A nossa humanidade depende do fluxo do amor em nós presente.

A técnica da meditação predispõe-nos para o actuar e agir do Espírito em nós. Ajuda-nos a encontrar outros acessos à Realidade para lá do acesso racional teológico mas sem o excluir. A ânsia da relação, e a procura do sentido manifesta-se na palavra tipicamente portuguesa “saudade” que exprime o profundo espírito poético e religioso da solidariedade existencial e mística. Ela é o lugar da casa paterna, da realização. No inspirar está o movimento para a vida, no expirar o movimento para a morte.

Na respiração unida ao próximo acontecem massagens de reanimação. O amor expresso na Ruach é presencializado (Jo 14,15-21) pelo nosso respirar no amor (Jo 15, 9-17). Deus está-nos mais próximo que o nosso próprio respirar, dizia também Agostinho.

A natureza está sempre presente nos momentos mais significativos da presença de Deus: no Arco-Iris, na trovoada, na volta de Jesus como faísca ou raio (Lc10,18; 17,24), na abertura do céu no baptismo (Mc 1,10), no tremer da terra na sua morte (Mt 27,51).

As metáforas dos sentidos apontam para uma realidade mais profunda. Na solidariedade cristã universal aí se experimenta o mundo como o “meio divino” como tão bem soube formular Teilhard de Chardin. Em Cristo tornamo-nos tudo em todos como tudo se transforma em Jesus Cristo, reconciliando-se nele a Matéria e o Espírito. Nele, o aqui e agora, têm sentido, sendo assim o optimismo um característico do espírito cristão.

António da Cunha Duarte Justo
“Pegadas do Espírito”, Quinta Outeiro da Luz, 2008

Fomento do Estado contra a Nação: A Nação virtual – Regionalismo a Alternativa

Regionalismo – A Alternativa
Necessidade de domar a Globalização e a União Europeia
António justo
A União Europeia e a Globalização vivem da centralização político-administrativa e apostam na força dos mais fortes contra os biótopos naturais e culturais mais fracos. Hoje, como na revolução industrial assiste-se à movimentação das massas proletárias. Se do século XIX até à segunda guerra mundial se movimentavam do campo para as cidades, hoje deslocam-se dos países subdesenvolvidos para os industrializados.

Fomento do Estado contra a Nação: A Nação virtual
A globalização provoca o engrandecimento das grandes nações, tal como a revolução industrial fomentou os grandes centros industriais citadinos. Tanto a industrialização como a globalização se afirmam à custa das regiões, do campo e da cultura. O grande capital instala-se nos locais de mão-de-obra barata, tornando-se mesmo ele num factor de insegurança devido à sua mobilidade de interesses. É interessante observar, numa nação como a Alemanha, a luta desesperada desta pela fusão dos bancos nacionais para assim poder manter influência financeira na concorrência internacional e poder continuar a afirmar-se como nação. De facto, as leis do Estado já não têm influência no capital. A política desorientada procura agarrar-se a ele. Porém, o caudal do capital é tão forte que tudo engole.

Que acontecerá então aos países sem relevância nos fluxos internacionais do capital e das ideologias? O interesse na desmontagem das nações serve-se da ideologia contra a terra e dos mercenários da ideologia que se aninham no Estado e, a preço de boas comendas, fortalecem o Estado à custa da nação, do povo. Para mais facilmente prescindirem do povo constroem a nomenclatura virtual servida por uma administração parasitária apenas atenta à vontade ideológica. A nação passa assim a ser um espaço virtual e o Estado um monstro, longe do coração do povo.

A globalização, com a sua troca ilimitada de mercadorias, estraga mais ainda o ambiente natural. As potências europeias são as mais beneficiadas com a globalização, vivendo da exportação, devido à sua tecnologia superior. Por outro lado as economias rudimentares dos países europeus menos desenvolvidos são destruídas pela China, onde, por seu lado, as potências industriais investem os lucros das suas exportações.

A EU tira à Nação a sua competência legislativa e a Globalização determina o executivo. Resta aos governos o papel de executores do anónimo e o artifício do moralismo nacional para darem a impressão ao povo de que a nação ainda existe no desconcerto/desconserto dos Estados e assim poderem motivar o povo distraído a votar de quatro em quatro anos e assim verem legitimado o desgoverno. As antigas “forças de trabalho” desviadas dos biótopos naturais das regiões, depauperadas e proletarizadas, vêem agora o fruto do seu trabalho ser inutilizado pela carestia de vida, carga de impostos e desvio dos rendimentos em benefício das oligarquias partidárias e administrativas, as únicas com alimentos assegurados e dum Estado insaciável.

O campo, a natureza despovoa-se para se criarem monstros citadinos onde um povo anónimo, sem um bocado de terra onde possa cair morto, disponibilize o corpo e a alma ao serviço duma economia desgastante e duma política mercenária. Vive-se numa sociedade ao Deus dará. A economia e a política, a continuarem assim, preparam já o seu colapso.

Uma vez destruídas as economias do interior e a classe média surgida da revolução industrial a EU e os Globalizadores apostam numa oligarquia administrativa engordada disposta a ceder a todos os caprichos duma chefia mercenária desconhecedora da terra e do povo mas interessada na ideologia e no capital. As pseudo-elites passeiam a sua mediocridade nas organizações celestes da órbita nacional e internacional. Promovem-se sociedades sem identidade e sem carisma próprio. A política quer uma sociedade nivelada por padrões impostos. Para se legitimar basta-lhe a ideologia e a intervenção nos canais da rádio, televisão e imprensa.

O Direito deixou de ser relacionado à nação e ao seu povo para servir e ser ditado por interesses anónimos “superiores”. Aos políticos resta-lhes assim o honroso papel de aplicar as leis ditadas pela EU, sem precaver os interesses nacionais mais legítimos. Para não terem complicações, banalizam a carreira de juízes imberbes para que estes, de ânimo leve, tomem decisões sem o mínimo de responsabilidade e de experiência da vida. O sistema de ensino é aferido à precariedade: para o cidadão proletário basta-lhe ter aquecido os bancos da escola e pensar que tem opinião própria legitimada pela democracia partidária. O futuro parece predestinado para os amigos do alheio e para algum mais atento.

Regionalismo como Embargo à Cleptocracia
Devido à desnacionalização em curso assiste-se à necessidade de defesa das religiões e ao aparecimento de grupos ideológicos e à violência organizada. O povo precisa de ver solo onde colocar os pés! A desmontagem das nações em favor de blocos, a continuar uma política que tem em vista apenas uma economia sem as pessoas, fomentará a alcaidização social.

A alternativa será a opção por uma política que tome a sério as pessoas e a terra: uma nova política orientada para as regiões e compensadora da desnacionalização em via. Vai sendo tempo de se formarem novas oligarquias naturais regionais, contrapostas às oligarquias ideológicas que como as moscas se centram no aparelho do estado. Se antigamente tínhamos os beneficiados e os bobos da corte, hoje temos os do Estado em torno dos ministérios.

As regiões têm de interferir no poder e defender-se. A globalização só será responsável se tiver em contrapartida a força das regiões. Para isso será necessário criar-se a democracia das regiões dado a democracia partidária cada vez se encontrar mais alheia à terra e ao povo. Só uma democracia cultural da base poderá limitar a força dos produtos de fora, favorecendo os regionais. Os produtos locais são menos poluidores do ambiente evitando o transporte e fomentando lugares de trabalho.

A economia do futuro terá de passar a respeitar na só a natureza mas também a moral oferecendo mais perspectivas locais e contando com a pessoa humana nos seus planos. De facto, a grande empresa apanha para si o que promete mais proveito, o resto fica. A Nação é impotente. Assim se mina a democracia: com o turbo-capitalismo com a sua economia abstracta irresponsável e com o socialismo parasita encostado ao Estado. A crise poderia tornar-se na hora do povo, na oportunidade da democracia. Contra isto está o facto dos “nossos melhores” serem mercenários e a apatia e desorientação popular! A política aliada à economia quer-nos ocasionais e inconsistentes, tão incoerentes como as suas opiniões! Daí o desespero, perante um aparelho cada vez mais incontrolável.

A insuficiência do presente vinga-se no passado. A nível local e regional terão de se criar iniciativas e estruturas com um modelo de desenvolvimento em que a pessoa humana se possa articular. O Estado terá de passa a ser mais acidental. Precisam-se regiões e pessoas dinâmicas e abertas a todos. A nação e a sociedade terão de passar a ser de todos para todos. Para isso é preciso regionalizar a nação e despartidarizá-la. Portugal teria de ser dividido em três regiões com o substrato cultural dos “Homens Bons” para se impedir o fomento das superstruturas da cleptocracia. Quando nos dispomos a restituir a dignidade ao povo?
Precisamos também duma política externa mais virada para as antigas províncias ultramarinas. As necessidades de uns e outros podiam encontrar respostas possibilitadoras de desenvolvimentos orgânicos e sociais sem saltos, ajudando a evitar que uns e outros se tornam vítimas da praga dos gafanhotos.

A democracia, a nação, não pode continuar a ser canalizada para o Estado, para o partido. A democracia autêntica surge do povo para o povo, das regiões para as regiões. Seria problemático se os “refugiados” das regiões se continuassem a refugiar nas trincheiras das capitais contra as regiões e contra o povo. A continuar assim a nação deixaria de ter cidadãos para passar a ser um Estado sem cidadãos mas com mercenários.

António da Cunha Duarte Justo
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