KOSOVO – UMA PAZ CARA

O exemplo duma política europeia falhada

Na província do sul da Sérvia, no Kosvo, realizam-se hoje eleições para o parlamento desta província. Entretanto decorrem as conversações, a nível internacional, no sentido desta província sérvia, administrada desde 1999 pela UNO, alcançar um novo estatuto, a nível de direito internacional.

Desde a guerra civil da Sérvia a população islâmica do Kosovo (Amselfeld) quer-se tornar independente. A paz, entre as populações ortodoxas mais a norte e as muçulmanas a sul, só tem sido mantida em parte devido à administração do Kosovo pelos representantes da ONU e à forte presença militar internacional. A população islâmica (90%) quer criar factos históricos, o reconhecimento da independência, porque, doutro modo nunca daria provas de aceitar o multiculturalismo, condição que, a ser realizada de facto, iria impossibilitar a independência.

Querem uma independência controlada pela União Europeia; uma exigência fácil para uma região sem condições de facto para a independência. Depois a Europa que pague a factura. Interesses da ortodoxia nacionalista colidem com interesses do Islão hegemónico.

A América alargou a sua zona de influência ao Cáucaso podendo vir a estacionar foguetões na Europa do Leste. A Rússia sabe que, mantendo a sua influência sobre o Kosovo, pode estacionar foguetões naquela província, sem ameaçar a própria segurança interna.

O Kosovo é o berço da nacionalidade Sérvia, a que a minoria sérvia não quer renunciar. O assunto não é fácil para a Europa, duma maneira ou doutra, a região continuará a ser fonte de conflitos e preocupações para toda a Europa.

Os muçulmanos, só aguentam o jugo do infiel, enquanto se acham em minoria, depois determinam eles o caminho.

A Europa, porém, confia poder levar a maioria muçulmana a um processo democrático europeu comprando a paz com dinheiro. Desconhece a força da religião e a vontade exemplar do povo árabe que vê a sua melhor maneira de ganhar força no mundo espalhando o Islão. Na consciência de que os sistemas económicos e políticos passam, esta é a verdadeira estratégia. Ao fim e ao cabo só repetem, por outros meios, o que os portugueses (no tempo em que ainda tinham convicções e vontade) fizeram no século XV e XVI: espalhar o império através da fé.

Contra as pessoas e a pobre população falam os interesses políticos e estratégicos da USA-EU e da Rússia, e os interesses da Ortodoxia e do Islão. Este tem aqui a melhor porta para a Europa. Também poderia ser uma maneira de aplanar os caminhos para a marcha da Turquia para a Europa.

A população sérvia concentra-se no norte do Kosovo. Por outro lado na Sérvia também há grupos minoritários de muçulmanos. Uma constelação propícia à discriminação e à desforra dum e doutro lado. E uma Europa que aumenta a herança do seu futuro dentro das suas nações não se preocupa em resolvê-los a nível de base na Sérvia e sua província do kosovo.

Os políticos europeus mantêm-se calados sobre os verdadeiros problemas de fundo porque querem levar à frente, sem que a população europeia acorde, um projecto que irá custar muito dinheiro a pagar no futuro, também pelos países da periferia europeia. Para desviar as atenções vão mostrando imagens conciliadoras e belas da cidade de Prestina para impressionar um Ocidente populacional desinformado e incauto. Esquecem de mostrar as muitas casas abandonadas pelos sérvios na fuga ao medo da população muçulmana. Antes tinham os muçulmanos medo dos sérvios, hoje têm os sérvios medo dos muçulmanos.

A antiga Jugoslávia, uma sociedade multicultural, encontra-se sob o flagelo das tendências nacionalistas, racistas e hegemónicas. Uma Europa que apregoa e defende por todo o lado no seu seio as sociedades abertas e a multicultura tem duas palavras e duas medidas. Na política que tem feito em relação à antiga Jugoslávia não só defende o contrário como tenta criar factos consumados. Dão-nos já a cheirar os problemas europeus do futuro que tem assentado mais em ideologias do que na realidade dos povos. Os sérvios viam os muçulmanos com maus olhos e discriminavam-nos considerando-os como primitivos. A virilidade muçulmana sempre meteu medo à Sérvia.

A política parece só entender e dar razão à fala das armas e da intolerância. Interessante que também há ressentimentos e discriminações, dum lado e doutro, contra os ciganos. Como não exigem uma forma de estado territorial não são tomados a sério. Quem com ferros mata com ferros morre.

Não é com uma independência leviana que se resolvem os problemas. Esta leviandade já foi cometida pela Europa quando interveio, contra o direito internacional, na Jugoslávia em defesa de interesses alemães e americanos. As mesmas forças procuram convencer povos incautos a efectuar a independência do Kosovo. A Europa, se quer ser credível, deverá treinar na antiga Jugoslávia o multiculturalismo e a tolerância que apregoa para a Europa. É preciso desmontar o ressentimento aninhado em ortodoxos e muçulmanos mas de maneira realista.

Doutro modo, o mesmo direito que têm os muçulmanos do Kosovo, porque o não devem ter os bascos, os curdos e tantos outros grupos que, por esse mundo fora, não se sentem em casa? Com o reconhecimento da independência a um grupo étnico cria-se um precedente com consequências catastróficas em muitas regiões do mundo.

A Europa apoia o desmantelamento e indirectamente dá razão a uma cultura do ódio. A convivência entre muçulmanos e ortodoxos numa relação inter-cultural baseada no respeito pela pessoa humana e não tanto em estruturas culturais seria um bom exemplo e uma boa oportunidade para a aproximação do Islão e do Cristianismo. O problema é que a política só liga a grupos e estruturas trabalhando à margem e à custa duma população sérvia e muçulmana sacrificada

António da Cunha Duarte Justo

Pena de Morte

Barbaridade e primitivismo legal não legítimo

A Comissão dos Direitos Humanos da ONU exige a suspensão de excussões. A pena de morte encontra-se abolida em 130 países do mundo, dentre os quais os países da União Europeia.

A barbaridade da execução da pena de morte ainda continua a ser prática em 66 Estados do mundo, através de envenenamento, cadeira eléctrica, enforcamento, decapitação, apedrejamento, etc.

Segundo informações da Amnistia Internacional, em 2006 foram executados 1591 prisioneiros, em 25 países.

A Comissão dos Direitos Humanos da ONU acaba de votar uma resolução contra a pena de morte. A favor da resolução votaram 99 países, 52 votaram negativamente e 33 abstiveram-se.

Em Dezembro o plenário da ONU votará a resolução, contando-se já com a aprovação. Embora o voto não seja vinculativo, será um sinal para alguns dos renitentes.

Países defensores da pena de morte acusam a Europa de querer impor as suas concepções morais a outros países.

Razões contra a Pena de Morte

Razões de ordem natural que contrariam a pena de morte. Mesmo o tribunal mais independente e elucidado não está imune do erro. A justiça erra e encontra-se muitas vezes sob pressão governamental ou popular. A sentença de morte não se pode fazer voltar atrás no caso de posteriormente se provar a inocência.

O maquiavelismo político leva ditadores a eliminar os adversários políticos. As ideologias e os regimes políticos e sucedem-se uns aos outros, permanecendo uma arma comum do uso da injustiça como direito. O espírito vil, o cálculo político leva políticos a não respeitar o santo direito das pessoas à vida. A pena de morte torna-se num instrumento fácil para a exterminação dos opositores a longo prazo. Quem defende a pena capital também defende a guerra, a intolerância e a violência privada. É uma questão de consciência e de desenvolvimento humano. O Estado, ao usar dum direito ilegítimo, legitima indirectamente o uso da agressividade entre privados e entre grupos. A pena de morte, geralmente é aplicada em sistemas que reduzem a pessoa a indivíduo à disposição, a uma peça da engrenagem social. Aqui se situa a incompatibilidade do Cristianismo com o Socialismo materialista ortodoxo e o fascismo.

Há também razões de ordem cristã que vinculam a negação da pena de morte. Execuções são incompatíveis com a dignidade humana. O ser humano é a imagem e semelhança de Deus participando da Sua divindade. Mesmo a acção dum acto infame ninguém não legitima ninguém a colocar-se sobre outro homem, a armar-se em juiz, nem sequer um Estado.

Para os cristãos a pena de morte corresponderia ao regresso ao paganismo, e o repúdio da norma fundamental cristã de amor ao próximo e ao inimigo. O Sermão da Montanha é a carta magna do cristianismo. “Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, abençoai os que vos amaldiçoam… Se amais só os que vos amam, que mérito tendes? Também os pecadores amam os que os amam… Os pecadores emprestam aos pecadores, a fim de receberem outro tanto. Vós, porém, amai os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem nada esperar em troca.“ (Lc 6, 27…)

A pena de morte não impede o crime. Por outro lado a vingança não pode substituir o luto. Com a pena de morte o Estado coloca-se ao mesmo nível do criminoso, saldando crime com crime.

António da Cunha Duarte Justo

Fundamentalismo religioso versus fundamentalismo científico

Tensão entre Razão e Fé

Hoje há muita gente que não aguenta a tensão entre razão e fé. Partem do princípio de que um autor ou é razoável, isto é, científico ou, quando muito, autor de literatura edificante. Na religião cristã porém, fé e razão encontram-se juntas. A fé é conforme à razão e possibilita em colaboração com os métodos científicos verificáveis uma forma própria do conhecimento e do reconhecimento. Há vários caminhos e instrumentos para abordar a mesma realidade.

Cada vez se observa mais, em sectores mais esclarecidos, na tensão fé-razão, uma forma de colaboração interdisciplinar a nível das universidades e doutras instituições. Cada pessoa parte duma perspectiva preconcebida ou pré-formada.

Da variedade das perspectivas, na consciência de que a realidade nos transcende e transcende a própria percepção, surge a pluralidade e a possibilidade de desenvolvimento.

Com respeito à realidade, a Jesus e a Deus a perspectivas são inúmeras atendendo a que não há uma imagem da realidade, de Deus, uma imagem de Jesus. Por isso seria um pressuposto elementar da discussão a tolerância das imagens. Umas ao lado das outras na interdisciplinaridade podem possibilitar aumentar o ângulo de visão da realidade.

Muitos ideólogos e opiniosos encontram-se ainda prisioneiros duma concepção estática de ciência ultrapassada do século XIX, o mesmo se dando com os prisioneiros duma visão de fé como se pode verificar no Islão ou nalguns biótopos cristãos.

É do conhecimento de muitos que Religião, arte, poesia não podem ser julgadas ou criticadas apenas com métodos e critérios racionais nem tão-pouco a razão chega para explicar a realidade. Assim como há um fundamentalismo religioso também há um fundamentalismo científico. Estruturalmente não há diferença entre os fundamentalismos, as crenças políticas religiosas e científicas atendendo ao adiantamento do conhecimento de hoje. Há vários mundos e várias verdades: a factual, a política, a religiosa, a científica, a da arte, etc. O importante é que elas se não definam pela contradição mas no discurso e na consciência da própria relatividade contribuam para a Verdade no acontecer. De resto, na verdade, o contrário também é verdadeiro. Ela é processo. A obstrução está quando vive à sombra da política, da economia, da religião…

A dificuldade é que muitos, também na política e na ciência ainda não realizaram a mudança copérnica e muito menos ainda a mudança provocada pelas teorias da nova física, as teorias da relatividade quântica. As pessoas continuam a comportar-se como espectadores de diferentes palcos cada um pensando que só o seu teatro é que existe.

A discussão pública é conduzida por sentenças dogmáticas bipolares medíocres propagadas por multiplicadores simplistas com uma mentalidade própria de acampamento militar (trincheira). A ciência só pode explicar sectores parciais da nossa realidade. Naturalmente que para se alcançar a maturidade científica, o conhecimento científico ou experiência religiosa não se torna fácil mesmo para doutores da ciência e da religião.
A necessidade humana é que determina o uso e o usufruto. Seria miopia querer reduzir a necessidade humana e as potencialidades humanas a um ou outra coutada, a uma ou outra interpretação.

António Justo

António da Cunha Duarte Justo

Dia da mãe

O dia da mãe foi introduzido oficialmente nos Estados Unidos da América em 1914 para honra da mãe e da maternidade.

Foi a concretização dos desejos da escritora e defensora dos direitos da mulher Ann Jarvis. Ela queria chamar a atenção para a importância do trabalho das mães.

Da USA o costume passou para a Inglaterra e depois para o resto da Europa. A partir dos anos trinta muitos Governos premiavam as mães que tivessem muitos filhos. Na Alemanha a mãe que tivesse quatro ou mais filhos era condecorada com a “Cruz da Mãe”.

Então era uma honra ter muitos filhos. A sociedade e a política precisavam de soldados ou de descendentes que constituiriam uma espécie de seguro de reforma para os pais.

Nos anos sessenta e setenta assiste-se à mudança do papel da mãe. A sociedade e uma certa política questionam o papel da família e o trabalho da mãe. Os políticos estavam interessados em fomentar a consciência de cidadãos individualizados e abertos ao espírito do tempo, sem vínculos… A sociedade e a economia precisavam de mãos de obra para o trabalho começando consequentemente a depreciar o trabalho de casa e com ele as donas de casa. Assim se mobilizam as mães para as fábricas. A sociedade tem maior massa disponível.

Desenvolve-se uma consciência ambivalente à custa da mulher. Por um lado consideram-se as mulheres com emprego fora de casa como mães desnaturadas e as que ficam em casa a cuidar dos filhos como mães ultrapassadas.

Por outro lado o salário do homem já não chega para satisfazer as necessidades crescentes. A natalidade reduz-se drasticamente causando grandes problemas económicos e sociais. A compensação da fraca natalidade com a importação de pessoas (imigração) cria problemas sociais.

Na União Europeia assiste-se a uma política de fomento da procriação com prémios ou incentivos através da redução de impostos. Duma maneira geral os partidos conservadores procuram fomentar medidas de defesa da família com filhos e os socialistas querem fomentar a produção de filhos ou a imigração com medidas que não estabilizem a família. Mais que mães querem parceiras! Na antiga Alemanha socialista (DDR) o dia da mãe era visto como um dia reaccionário. Esta nuvem continua no espírito de muita gente que se entende progressista.

Assim, a família continua à disposição.

Por tudo isto, o dia da mãe cada vez se transforma mais no dia de negócio com as flores!…

O dia da mãe em Portugal celebra-se no primeiro Domingo de Maio; na Alemanha no segundo.

Parabéns a todas as mães!
Parabéns a todas as famílias!

António da Cunha Duarte Justo

Festival da Canção

Europa de Leste contra a Europa Ocidental

Sérvia venceu o festival da Eurovisão em Helsínquia. Na satisfação e expressão da vencedora passava o acto remissor dum país demasiado humilhado pela Europa vizinha… De notar que todas as antigas repúblicas jugoslavas deram à Sérvia a pontuação máxima que eram 12 pontos.

Independentemente da qualidade das músicas e textos do Festival, uma coisa se tornou evidente: a solidariedade da votação entre os estados do antigo bloco de leste. Nele se tornou manifesta a existência de duas Europas. Na hora da música do Pacto de Varsóvia, os sequiosos vencem sobre os de estômago cheio.

Atendendo à grande quantidade de países pequenos do antigo bloco de Leste, os países da Europa ocidental não terão grande oportunidade de alcançar boa qualificação quer na pré-selecção dos países quer na classificação final dos festivais.

É agradável notar nos países da periferia o empenho e campanhas televisivas para que os seus conterrâneos, que vivem emigrados no estrangeiro votem no representante da sua nação. Devido ao facto da presença migrante nos países de imigração, aqueles podem, através da sua participação telefónica influenciar os pontos a distribuir pelos países onde vivem. É a lei da competição.

Portugal sem oportunidade
Em alguns meios questionam-se todos os critérios de votação. A continuar assim os países da Europa Ocidental perderão sempre. Alguns falam já da necessidade da divisão dos países participantes em dois grupos para as meias-finais e no fim só deixarem votar os participantes.

A nível de cálculo de justiça distributiva terão razão mas a nível duma política europeia de integradora dos povos isto só acentuaria ainda mais as diferenças. Haverá porém meios de diminuir as injustiças. De resto, estas são o nosso fiel companheiro até ao fim dos tempos, se “outros maiores valores” se não levantam!

O maior problema põe-se para países ocidentais da periferia como é o caso de Portugal. Este, no vigente sistema de votação, nunca chegará a alcançar os pontos suficientes para poder passar para lá das meias-finais. A Alemanha, a Espanha, a Franca e a Inglaterra participam automaticamente nas finais pelo facto de serem os principais financiadores do Festival.

O critério definidor da qualidade da música e das letras das canções é muito subjectivo dependendo principalmente dos gostos de públicos e de familiaridades culturais.

António Justo

António da Cunha Duarte Justo