A REPÚBLICA VIVE EM ESTADO DE DIVÓRCIO

AINDA A RESPEITO DE SARAMAGO E DOS SARAMAGOS
António Justo
Com a fuga de D. João VI para o Brasil acentua-se a desnacionalização das nossas classes dirigentes. Os invasores napoleónicos, violadores do povo e da nação, até são saudados por uma delegação da maçonaria portuguesa. Com as invasões napoleónicas e as lutas civis, estabiliza-se o desassossego em Portugal. Se antes se vivia na “apagada e vil tristeza”, (1) passa-se a viver na instabilidade dum estado ocupado por um partidarismo de carácter mercenário e envergonhado do povo e da nação.

Ofuscados, só vêem o progresso e as luzes no estrangeiro que copiam e importam sem consideração pelo génio português. O povo continua fiel à pátria e no respeito pelos que se aproveitam dela.

Um certo espírito traiçoeiro das nossas elites é já crónico! Com a revolução democrática de 1383 contra a usurpação estrangeira e seus mercenários portugueses, o povo português mostrou-se democrata e patriota, virtudes que faltavam já então a uma boa parte da aristocracia. A de hoje, não baseada já nas alianças de sangue, é pior porque, mais generalizada e alargada nas organizações ideológicas com as correspondentes redes das famílias partidárias, tem uma motivação já não cultural mas apenas económica. Um País de vocação universal tornou-se cada vez mais num Estado opinioso, de categorias. É-se uma nação sem povo e uma nação sem Estado: um Estado ocupado, uma nação a reboque!

Às dinastias das famílias reais seguem-se a dinastias partidárias

A União Europeia possibilita o monolitismo partidário à semelhança das famílias nobres durante as monarquias. Estas desempenharam grande papel no apuramento e alargamento da cultura europeia. Enquanto antes dominava um certo elitismo cultural fomentado pelo clero e pela nobreza hoje vulgariza-se o espírito proletário transportado pelos novos-ricos que substituíram a alta burguesia.

Os soberanos legitimavam o seu poder através do sangue; hoje os governantes legitimam o seu poder na ideologia confirmada não por famílias de sangue mas pelas famílias ideológicas. Se antes era o sangue e da terra, hoje é a ideologia e o Estado. Se antes o povo era explorado pelas famílias reais, hoje é-o pelas famílias partidárias. No palco da nação e no tráfico das influências, dançam sempre os mesmos “maiores”, os dançarinos do poder, independentemente dela ser monarquia ou república. Uma pequena percentagem de 2% da nação é que decide o que é justo e o que se deve crer e fazer.

Portugal ainda não se tinha restabelecido do jugo espanhol e do susto do tratado de Berlim, para passar a ser confrontado com a cumplicidade de portugueses com o jugo francês e as arbitrariedades inglesas, a que se acomodou, sublimando-os com a abolição da monarquia e a importação da República. Às dinastias das famílias reais seguem-se a dinastias das famílias partidárias.

Também o golpe de estado de 1974, que floriu na democracia de Abril, trouxe um grande corte à alma do país. Os novos dançarinos do poder entregaram, irresponsavelmente, as zonas de influência portuguesa ultramarinas aos soviéticos. Desta vez a ideologia marxista de alguns portugueses é prazenteira e generosa, (como sempre) para com os irmãos de atitude política: tudo à custa do país e de seus interesses e também em desproveito da situação nas “regiões ultramarinas”, antigas colónias. A vontade de liberdade nacional que esteve na origem de Portugal e a resistência contra o predomínio espanhol deu lugar ao oportunismo de alguns internacionalistas que desconhecem ou desprezam a terra. Ao espírito navegador, e consequente prestígio nacional, sucede o espírito lacaio de se quererem mostrar bons dentro das suas famílias europeias implementando leis e costumes a nível nacional sem olhar a custos nacionais. Assim há um divórcio entre a índole portuguesa e a vida que lhe é imposta. Gil Vicente já outrora conhecia os vícios das nossas elites admoestando-as: “Não queirais ser genoveses, senão muito portugueses”.

A alma portuguesa, antes vocacionada a realizar a ideia da globalização inerente ao catolicismo, vê-se fustigada pelos ventos ciclónicos provenientes da França e da Rússia, não encontrando mais apoio em si própria. Deixou de ser a incubadora e a expressão da ideia europeia, que realizou nos Descobrimentos, para passar a andar à deriva das suas tempestades e ideologias aproveitadas por alguns portugueses. Se o primeiro papel correspondia ao espírito português, o segundo já não. (2)

Se antes se era obrigado a prestar vassalagem depois passou a admirar-se a vilanagem. Esta experiência encontra-se bem documentada no saber popular: “Se queres conhecer o vilão, mete-lhe a vara na mão”. Um povo sonhador virado para a terra não confia nos sonhos da vila nem nos correspondentes representantes. Por isso murmura baixinho: “Eles comem tudo e não deixam nada”. Estes bandeirantes internos persistem em construir a cidade contra o campo. Da província só lhes interessam as auto-estradas para dela desfrutarem a paisagem e depois regressarem à civilização, com um vago sentimento português resumido a um misto de cheiro a caldo verde, bacalhau, rojões e salpicões. Portugal, atrás das modas, continua a viver do passeio entre “a cidade e as serras”, parodiando o progresso.

O Desconsolo do Desassossego num Povo sossegado

A implantação da República foi sentida em Portugal mais como um divórcio de si mesmo, mais como uma imposição de alguns estrangeirados do que algo nascido do próprio húmus. Se de Castela “nem bons ventos nem bons casamentos”, agora, de fora, só ventos em favor dos cata-ventos.

Para o português de sucesso “não há pai” nem sequer mãe. Esperto, permanece sempre criança na consciência de que “quem não berra não mama”; por isso se encosta já não às saias da mãe nem do padre, mas a qualquer saia que lhes possibilite agarrar-se para olhar e subir! Por isso procura o seio da prostituta, a chucha do Estado, da ideologia e da Europa. Consolo encontra-o na companhia dos leitões irmãos e reconhecimento basta-lhe o dos compadres ‘da sua terrinha’. Todos vivem, longe da pátria, mas vivem bem no odor da saudade, dum patriotismo puro de antenas viradas para o distante. (3)

José Saramago é bem o símbolo deste Portugal das elites estrangeiradas. Saramago tal como “Caim” são aquela parte de Portugal que continua a apostar na afirmação do progresso pela contradição, na luta inglória do progresso contra a tradição. O génio português é porém Adamastor e Velho do Restelo na tarefa de ultrapassar o Cabo Tormentório. Na resposta do Adamastor à pergunta do Gama “quem és tu?” reencontrar-nos-emos todos como portugueses genuínos e o medo das Tormentas e dos tormentosos se dissolverá para dar lugar à vista de Tétis presente na alma do povo.

É de superar aquela atitude típica portuguesa documentada na reacção de Saramago, aquando da publicação do Livro polémico do Evangelho de Jesus Cristo, retirando-se para Espanha. Quando não se está bem emigra-se para o interior ou para o exterior, facilitando assim o prolongar do viver num estado de graça e de irresponsabilidade aos mandarins. Safa-se o indivíduo na afirmação contra o país e contra o cidadão!

Cada um arranja-se como pode! Cada um vive para cada qual no “paciência”, no “que fazer!”, no “tenho é de cuidar da minha vidinha!”, no “não levantar ondas”, no “eles lá sabem!” e “a vida é assim… safe-se quem puder!” Um “povo de brandos costumes” prolonga e tolera assim o intolerável! A tolerância sem carácter, sem qualidades, torna-se indiferença. O medo torna-nos todos iguais, sem qualidades próprias; torna-nos apenas bons para servir outros!
Assim a nação continua a viver dividida nas coutadas dos mandarins e seus afins e nos baldios sombrios do povo. Um povo à balda em nome da nação!

A jactância, a inveja e a pequena vingançazita são vícios crónicos que encurtam o horizonte cultural português. Saramago veio a Portugal anunciar o livro “Caim” com frases polémicas, provocando grande parte da sociedade portuguesa que no desconhecimento do livro só podia reagir às suas provocações. A parte mais séria, a apresentação do livro, reservou-a Saramago para os espanhóis, em Madrid.

Aqui o Nobel confidencia:” Eu não escrevo para agradar ou desagradar. Eu escrevo para lançar o desassossego”. A impressão que se tem é que o José, em relação a Portugal, pretendia não o desassossego mas a provocação. Nele fala o indivíduo, o José e não o cidadão!

Fernando Pessoa no seu “Livro do desassossego”, uma espécie de diário da ficção, é um português que assume Portugal e não apenas uma sua parte porque muito embora querendo espalhar o desassossego o fez não dividindo nem apostando no ressentimento de tradição republicana jacobina (4). Fernando pessoa revela conhecer os recônditos da alma portuguesa e respeitá-la ao dizer: “O povo português é, essencialmente, cosmopolita. Nunca um verdadeiro português foi português: foi sempre tudo”. “O bom português é várias pessoas… Nunca me sinto tão portuguesmente eu como quando me sinto diferente de mim”… O problema das nossas classes dirigentes está em só serem apenas estrangeiras desprezando a parte portuguesa, que por tradição de classe esqueceram. Se até meados do século dezanove, na qualidade de “emigrantes” ainda eram mediadores da cultura europeia, no século XX até isso perderam, contentando-se apenas com as remessas económicas e com a glória de representar “lá fora”.

Caim de Saramago não se submete, ele põe Deus em questão, tal como já tinha feito Miguel Torga, no seu livro Bichos na pessoa de Vicente (o corvo), que desassossegado com o sossego que reinava na turba da Arca de Noé, resolve abandoná-la em sinal de protesto perante um criador injusto que castiga os bichos por causa das maldades humanas. Vicente desafia a omnipotência divina e verifica que Deus cede à sua vontade de ser livre, aceita a sua revolta. Aqui Torga revela o humanismo cristão do génio português, mediador dum Deus amor, por cima de tudo e de todos mas com tudo e com todos; dá a impressão de perceber a morte de Deus em Jesus que ressurge como Homem em Cristo enquanto que Saramago se ocupa com um deus pagão ou à la Nietzsche.

Tal como Caim que vagueia pelo país, Saramago aproveita para viajar na Bíblia. Ele tem razão quando provoca o povo a não aceitar sem mais a história secular e religiosa. Esta não pode ser aceite como se fosse pão fabricado directamente nos fornos de Deus. Os nossos deuzitos, cá de casa fazem o que querem porque desconhecem os Noés e os Vicentes. A Bíblia é um espaço espiritual com mansões para todos. Interessante seria que Portugal se tornasse num espaço geográfico e espiritual com lugar para todos e que todos descobrissem a sua natureza fundamental e se encontrassem na complementaridade. A verdade do outro pode ser motivo de desassossego mas não da sua negação. Necessita-se reconhecer o adversário, o contrário para se poder entrar num processo de integração. Torna-se urgente uma cultura em que a própria argumentação contra se possa expressar também numa argumentação a favor pelo mesmo: uma cultura do “não só… mas também”! Não só mandarins mas também povo!

Portugal e os portugueses adiam o futuro de governo em governo, de situação em situação, na fuga à mudança necessária de cada um. Séneca dizia que não ousamos, não por ser difícil, mas, por não ousarmos é difícil! Não chega sermos uma sociedade à Robinson Crusoe. A república trouxe o fim das ilusões. Vivemos em contínua luta cultural reduzida ao âmbito da ideologia, numa sociedade dividida que ainda não se encontrou. A nação dança ao ritmo de músicas ideológicas dos que vivem encostados ao Estado. Não chega ser república, é preciso tornarmo-nos estado e nação também. O problema de Portugal é o dos seus mandarins! Camões cantava o povo, “o peito ilustre lusitano” enquanto que a nossa classe dirigente canta “as modas e os ventos ideológicos num estilo capataz individualista cada vez mais distante da alma poética e sensível do povo. Este continua a dizer pela boca de Gil Vicente no Auto da Lusitânia: “Eu hei nome ninguém e busco a consciência…” e no auto das barcas admoestava de novo as elites: “Não se embarca tirania, neste batel divinal”. Gil Vicente era um “Homem Bom” do povo, um patriota.

Resumindo e a propósito da discussão antecipada ao livro “Caim”, a sociedade portuguesa é incapaz de entrar numa discussão séria sobre o seu ser, sobre o seu marxismo e capitalismo, sobre o seu ser laico e religioso. Prefere uma guerrilha preconceituosa de trincheiras, em posições de citações em que se servem os usufrutuários do sistema. Preconceitos vivem de preconceitos. Destes se tem alimentado os heróis da política e seus excluídos. E os intelectuais independentes limitam-se a assistir ao circo de fora. Vai sendo tempo de os tradicionais inimigos do povo e os exploradores da nação se reunirem numa mesa redonda. Se os campos rivais se tomarem a sério, ao duelo seguir-se-á o diálogo para depois formarem um dueto! Não se trata não só de se saber quem se é mas também de quem se vai ser. O exemplo dum país pequeno mas com presença mundial é a Suiça com a sua democracia directa. O regime português precisaria duma correcção, duma democracia que corresponda mais ao espírito português, mais ligada à terra e ao povo, com pessoas de carácter menos partidário e mais “Homem bom”, em atitude de fidelidade à nossa tradição democrática já presente nas suas origens. Se queremos voltar a ser um povo heróico teremos de redescobrir os ideais do passado grande e seguir o exemplo do povo judeu!

O Povo português, sem fidelidade a si mesmo, sem um ideário cultural nacional próprio, vai vivendo entre os complexos de inferioridade e de superioridade, entre a inocência e a cumplicidade num estado de consciência mortificada.

Continua embrulhado no discurso fácil e na propaganda, levado pelos dançarinos do poder ao ritmo duma dança leviana, sem consciência das diferenças expostas, sem vontade própria de existir. O Povo continua a viver o destino dos outros, na mágoa de não ser nem estar para apenas parecer: Português para Inglês ver! A mágoa faz parte daquela característica bem portuguesa que é a saudade! A mágoa de nos seus representantes não ser o que é, e que provou ser nos princípios da nacionalidade.
© António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo
antoniocunhajusto@googlemail.com
http://antonio-justo.blogspot.com/

(1) Passo a citar, embora com reservas, o que dizia Charles Dumouriez no seu livro “O Reino de Portugal em 1766” no primeiro capítulo da obra: “ Os costumes das províncias do Norte de Portugal assemelham-se positivamente aos dos escoceses. São belos homens, francos, sinceros, corajosos, cheios de preconceitos, de ódio nacional e de amor patriótico. Eles exercem a hospitalidade: Nas províncias de Entre-Minho-e-Douro e Trás-os-Montes, não existem albergues. No meio do país, ao contrário, e particularmente em Lisboa, os habitantes são ladrões, avarentos, traiçoeiros, brutais, orgulhosos, mal-humorados e também maus de corpo como de espírito; encontra-se contudo algumas excepções, e sobretudo entre a nobreza, que é mais culta do que a nobreza espanhola, mais afável e comunicativa, o que devem ao grande convívio com estrangeiros.” …”Em política não se trabalha nunca o suficiente com o conhecimento do carácter dos povos, olha-se apenas os reis e os seus interesses e, frequentemente, perdem-se as negociações mais essenciais por não ter sabido reaproximar as oposições que se encontra entre estes grandes interesses e o carácter das nações coma as quais se trata”…

(2) Um povo púdico sente-se então defraudado por algo estranho, que também traz no coração, e por ideologias estrangeiras que é sempre obrigado a seguir sem ter interiorizado. O mesmo povo com os mesmos sintomas: dum lado, os empertigados do poder, e do outro, os saudosos das grandezas. Dum lado os sempre novos-ricos, do outro a sempre arraia-miúda. Àqueles falta-lhes o cultivo e a transmissão dum substrato comum, o cultivo de Camões, Gil Vicente, António Vieira, Alexandre Herculano, Antero de Quental, Fernando Pessoa e outros. A arraia-miúda é o traço contínuo, a verdadeira característica portuguesa, que apesar dos seus “estrangeirados” continua a ser povo fiel à sua índole cristã, nórdica, asiática, universal. Este povo de fisionomia paciente, atenciosa, boa e dócil apesar do contínuo mau exemplo das elites dirigentes mantém o seu carácter. Este encontra-se obsidiado pelo espírito internacionalista leviano dos seus dirigentes e por uma escola mais tendente a formar proletários do que cidadãos. A classe dirigente, alheia ao génio inter-cultural e universal português, arma-se, perante o povo, em educadora de tolerância, internacionalismo e democracia. Cultiva uma democracia de trazer por casa no respeito do seu gueto; como empossados não suportam a democratização cultural. Nos reservados sociais do Estado e da Administração querem-se apelidados de senhores doutores, senhores engenheiros, senhores professores e lá fora, na democracia de campo para a plebe reservam o tratamento proletário de senhor António, Sr. José, Sr. Manuel. O trabalhador que dobre a língua, quer-se subserviente e no respeito de sentido único, de baixo para cima. De cima para baixo, resta o despudor transformado em sorriso benigno à cata dum sorriso de desobriga. O povo, bem-educado, olha em contra plangé com um sorriso amarelo do fadário domingueiro.

(3) Portugal não tem casa sem emigrante. Quem procura trabalho vai para o estrangeiro e os saramagos vivem do estrangeiro ou do estranho povo…

(4) Ou não será ainda a voz da má consciência dos anafados que arrecadaram para eles os bens da igreja e os passais, que antes serviam indirectamente o povo? A nação continua a viver de tabus e de espertezas cretinas.

Ao observar a cena cultural alemã, na qual os filhos dos pastores e as igrejas ocuparam grande relevância cultural observa-se uma certa luta cultural entre a tradição católica e a tradição protestante mas não o ressentimento. Em Portugal onde filhos de padres e frequentadores de seminários alcançaram posições relevantes na política e na cultura é mais notório o ressentimento e a inveja. Não se trata aqui de defender a tradição mas de nos questionarmos a razão porque em Portugal, para além dum certo patriotismo superficial não há a consciência viva duma cultura nacional, uma cultura do cidadão. O encosto ao republicanismo primário francês e correspondente imitação cultural têm acontecido em desaproveito da tradição anglo-saxónica e deste modo se tem reduzindo a universalidade do pensar português.

Social:
Pin Share

Energia Solar – O Investimento do Futuro


Investimento em painéis fotovoltaicos preferível a rendas de casa
António Justo
A técnica solar fotovoltaica está já muito desenvolvida podendo adquirir-se grandes rendimentos através da sua exploração. Em Portugal e em países de sol tornar-se-ia mais rendoso fazer investimento na cobertura das casas com painéis fotovoltaicos do que em construir habitações para alugar.

Na Alemanha, que é um país menos soalheiro cada vez se expandem mais os painéis solares nas casas particulares. Na minha cidade de Kassel e redondezas, onde a tecnologia expande e as fábricas de painéis solares abundam, já há a iniciativa de alugarem os telhados das casas particulares para poderem dar resposta à procura de espaços para investidores (HNA 13.1.2010). Kassel é o centro foco da tecnologia e da produção fotovoltaico.

Há particulares que preferem ter painéis solares do que inquilinos, porque aqueles não lhe dão preocupações além de constituir um investimento não menos rentável que o das rendas de casa. A produção de energia nos telhados e a possibilidade de a usar e vender o resto possibilita uma política de democratização dos investimentos.

Na Alemanha, embora as companhias abastecedoras de energia, actualmente só paguem 39,14 Cêntimos por quilowatt hora aos proprietários de casas com energia fotovoltaica, o investimento é muito rentável atendendo a que o custo dos módulos solares desceram 30%.

Dado haver uma garantia de compra da energia por um mínimo de 20 anos, os bancos financiam em 100% as instalações fotovoltaicas. O “crédito solar” em média de 25.000 – 30.000 euros é garantido num prazo de 10 até15 anos com juros efectivos de 4,5%.

Em dez anos a instalação já se pagou a si mesma. O estado alemão subvenciona particulares que consumam também para eles energia fotovoltaica com uma subvenção de 22,76 Cêntimos por quilowatt hora. Deste modo, os proprietários de casas que pagam 17 Cêntimos por quilowatt hora aos fornecedores de energia passam a ganhar com o investimento. O povo ganha e o Estado investe assim na defesa do ambiente.

O governo português favoreceu de início apenas as grandes empresas impedindo assim o investimento a emigrantes contra uma política de energia e financeira favorecedora dos proprietários de casa.

Com a diminuição da natalidade cada vez haverá menos procura de casas perdendo estas, o seu valor comercial.

Vai sendo tempo dos países com muito sol acordarem e fomentarem a energia eólica e a energia solar (fotovoltaica), investindo assim, ao mesmo tempo, no futuro, na defesa do clima e na democratização da economia.
António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com

Social:
Pin Share

NÃO CHEGA SER REPÚBLICA URGE SER NAÇÃO E POVO TAMBÉM


EM SARAMAGO FALA O INDIVÍDUO NÃO O CIDADÃO
António Justo
José Saramago, em torno do seu Livro Caim, assumiu a boa tradição tauromáquica, atirando com farpas para o couro dum povo que se deixa levar pelas vaias duma proeminência portuguesa de olho. As elites não estão dispostas ao diálogo e o povo também não. Este faz ouvidos moucos e aquelas fazem ouvidos de mercador! Elites e povo, na sua relação, ou se desconhecem ou não se tomam a sério. Os intelectuais, em grande parte, contentam-se com a ressonância do seu eco, não concorrendo assim para o estabelecimento duma cultura nacional crítica e viva porque apostam demasiado na graça ideológica política ou no seu bem-estar privado. Não tomam a sério a realidade dum povo e duma nação doente a mudar e por isso não a podem transformar, ao contrário do que acontece noutras culturas onde personalidades dum ou doutro acampamento são símbolos e trilho da consciência nacional.

O Estado vive da Nação e não para a Nação

A nação dos “grandes” é pequena e eles conhecem-se todos uns aos outros ou são aparentados. A nação torna-se assim demasiado pequena para eles, procurando consequentemente a sua compensação e identificação fora dela. Vivem com um pé dentro e outro fora. Isto provoca uma maneira de estar muito específica portuguesa; mesmo em oposição ou na diferença, mais que a dialéctica, domina uma atitude insuflada, uma relação de inveja entre as partes. Isto é socialmente compreensivo atendendo ao carácter de subserviência (Abel) e por outro de revoltado (Caim) da nossa cultura.

Em Portugal, ao espírito missionário religioso antigo sucedeu-se, a partir do século XIX, o espírito político jacobino-jacobeu. Se antigamente o povo vivia sob a vassalagem da terra hoje vive sob a vassalagem da ideologia. A nação não tem forças económicas e culturais independentes do Estado que possibilitem uma cultura que não seja a do encosto ao Estado e aos (indivíduos não cidadãos) que dele se apoderam. Os arrivistas mais que à custa do seu próprio trabalho e da própria inteligência procuram viver com esperteza a expensas dos coutos ou do povo, improdutivos, sem se sentirem parte do todo. A esperteza é sempre um parasita da inteligência pelo que gera indivíduos e não cidadãos! Neste estado a nação não tem húmus para sustentar árvores fortes que não vivam do encosto ou do cálculo que a ele leva. O mesmo se diga dos partidos que desde o liberalismo se sucedem nos governos. Portugal continua a ser uma nação pobre condenada a ser apenas alfobre, não de ricos mas de sempre novos-ricos.

A sociedade assim se vai arrastando incólume através do susto social. Temos personalidades relevantes mas mais alinhadas às ideologias e por isso símbolos apenas da ideologia e não da cultura nacional, símbolos desencaixados importadores de ideias desaferidas. Continua um Portugal devoto, só que agora do estrangeiro. Se o discurso cultural nacional tiver em conta não só o conteúdo e a forma mas também o sentido surgirá necessariamente o momento da distância. Aquilo que falta para todos dançarem sobre o tapete duma matriz cultural sempre renovada. O espírito internacional português será reduzido se a nação continuar a ser uma quinta de vinho do porto, antes de senhores ingleses e agora de senhores da União Europeia. Se assim permanecer só continuarão a viver bem os feitores duma nação terra de ninguém.

O fatal está na Nação não se dar conta da realidade do que tem sido, em grande parte, a história da política e do Estado português: uma história estranha de Caim e Abel não consumada e por isso prolongada na inveja. É o fadário dum povo ordeiro que não se sente e persiste, pela história fora em olhar só para o vermelho do pano do senhor toureiro. Falta-lhe a energia do dueto Caim e Abel, aquelas forças juntas que levam os judeus a serem cidadãos do mundo sem se diluírem na ideologia ou nos fenómenos do tempo. Em Portugal abundam os indivíduos e são escassos os cidadãos. Os que a República venera são mais representantes de ideologias peregrinas. São mais os Saramagos duma República em divórcio com a nação. Em Saramago fala o indivíduo, o estrangeiro não o cidadão. Assim, a Nação não acorda e o cidadão também não. Para uma nova cultura nacional seria óbvio que Saramago voltasse à nacao, ele personificando Caim que por sua vez biblicamente é símbolo da ciência, da arte e se reconciliasse com Abel também ele emigrado e que biblicamente é o símbolo da entrega à vida social, do bom servidor (símbolo da religião). Os filhos de Caim deram grande impulso à cultura, como senhores das vinhas (Mt.20,1-16). O prometido reconciliou Caim e Abel na sua pessoa (Jo.10,11-16). A tarefa será transformar um Portugal de filhos pródigos num reino republicano reconciliado.

© António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo
antoniocunhajusto@googlemail.com

Social:
Pin Share

BOM NATAL PARA TODOS

NATAL PARA TODOS
António Justo
Natal, é a luz da vida
No frio da estação a brotar
É o aro das cores de Abril
No alvo da vista a acenar

É festa, stress, bolos, círios,
Parabéns, beijos e lágrimas
Encanto união convívio
Num só abraço ritual

Até das gretas da fraga
O amor viçoso desperta
Jesus na natura a se erguer
Num sol de carinho a dizer:
Não me vês a mim no outro?
Faço anos todos os dias!

É um vaivém de sonhos adiados
A viver de migalhas da rua
Em grutas tóxicas, sem abrigo
Noutros mesmo descarrilados

É o mundo da desarmonia
Dos natais não festejados
Na rua do dia a dia
Perdido de se encontrar

São sonhos engalanados em ruas iluminadas
Um incêndio de consumo em chama de ilusão
A saudade a abanar nas roupas da multidão
Uma confusão de compras, “Boas Festas”, “Desculpas” “Santinho”
A prendarem “encontrões”, “não tem de quê”, “Feliz natal”

É vida a saldo de vidas aladas
A pretexto do adorno da vida
Sob o guarda-chuva dum pobre menino,
E à custa dum deus bem-comportado

É hora dos magos do teatro da praça
Senhores sedutores de viseiras no rosto
Mandam o menino à fava, lá pró deserto
Ocupam tudo, é deles esta arena

Também no mofo do meu guarda-fato
Pendurada está a fé dum pé-descalço
Dum proletário, a vida dura a lembrar
E eu, a passar alheio no trilho do habitual
Sem ser Jesus, para o Jesus a esperar

A matilha desce à arena
Na dança de Mal e Bem
São os donos cá da terra
Seu natal a louvar também

Ao tilintar dos cristais,
Sob o holofote da atenção
No absurdo do Presépio
Dança o requinte do Banco

No seu mercado de estrelas
Brilha também o pinheiro
Só de consumo enfeitado
É natal prós do dinheiro

Lá no turbilhão da praça
Da poeira de seus gestos
Deixam a enganar a vista
Só fita, embrulho e laço

Na rua só, um gemido de Belém
Na folha arrastada pelo chão
Jesus de novo a sós co’ ele
No breu não luz mais ninguém

Adeusinho! Até pró ano
Meu Jesus de encomenda
Natal só brilho de laço
A unir a nossa prenda!

O estábulo continua sujo
Animais à má sorte vendidos
E José sempre desempregado
Natal, pensado mas não vivido!

Nas vitrinas da realidade
Não há prendas, não!
Para os que nada têm
Só natal em segunda mão

A aquecer a minha mão
Crepitam os sonhos dos outros
Que lenha do seu direito são
Na minha lareira a arder

No rosto de meus filhos
Minha infância rebrilha
Hoje como então é festa
À meia-noite é já dia

Vamos desvendar o natal
Para incendiar a praça
Não queremos viver mal
Sob o gelo da desgraça

Nas favelas da vida negra
A fé treme já de frio
Vamos acender as velas
Com fósforos de justiça

Viva a consoada
Vamos ao presépio,
À maternidade
Celebrar com todos
A fraternidade

Natal a dar de si,
É arte do viver sem nada
Natal a dar do outro,
É luz a dar-se a cada!
Natal mais que estar é ser
No semear sem colher

© António da Cunha Duarte Justo
“Rascunhos do Tempo”
Natal 2009

Social:
Pin Share

A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL VAI ACABAR

Com o tratado de Versalhes de 7.05.1919 terminou oficialmente a primeira guerra mundial (1914-1918). Nele a Alemanha foi declarada como única culpada e obrigada a pagar aos americanos, ingleses e franceses, como reparação da guerra, 132 biliões de Goldmarken e juros, correspondendo um Goldmark a 4,87 Euros.

A última prestação de 56 milhões de euros será paga pelos alemães até 3 de Outubro de 2010. Para ajudar a economia alemã, no pós guerra, os países vencedores também fizeram empréstimos de dinheiro a 7 e a 5,5 %. Durante a ditadura Nazi (1933-1945) os nazis deixaram de pagar. Por isso a Alemanha só agora acaba de pagar. Os 14 biliões de marcos alemães para reparar a segunda guerra mundial já foram pagos até 1988 aos ingleses, franceses e americanos.

De 1914 a 1918 combateram nos campos de batalha 65 milhões de soldados, sendo destes 11 milhões de alemães. Morreram 8,5 milhões de pessoas na guerra.
O tratado de Versalhes, como refere a (HNA 12.12.09 foi considerado na Alemanha como “ vergonha de paz” que estrangulou a Weimer Republick, aplanando assim o caminho a Hitler.
António da Cunha Duarte Justo

Social:
Pin Share