União entre Portugal e Espanha! – De Couto para Província?

Num País de Sonhadores há sempre um D. Sebastião
A revista espanhola El Tiempo apresentava ontem, 17.10.06, os resultados duma sondagem feita algures em Espanha em que 45,6 % dos espanhóis se manifestam pela fusão de Portugal e Espanha. Destes, 43,4% defende que o novo país se chame Espanha enquanto que 39,4 % opta pelo nome Ibéria. A maioria 80 % quer a capital fique em Madrid e 3,3% favorecem Lisboa. Metade dos inquiridos quer o regime monárquico espanhol, 30,2 % é favorável a uma República.
O mais grave é que, aquando da visita de Cavaco Silva a Espanha, uma sondagem certamente não representativa do semanário português Sol referia que 28 % dos portugueses são pela integração de Portugal e Espanha num único Estado.
Estes são inquéritos sem credebilidade mas que podem revelar os estados de alma dos dois lados da fronteira.
Para a Espanha seria esta uma maneira fácil de resolver os seus problemas políticos internos ainda não arrumados duma nação multinacional politicamente ainda não estabilizada. Esta poderia ser uma estratégia indirecta de resolverem os problemas da sua casa numa de mais valia.
Olivença já lá está não tendo problemas com ela. O contrário de dá com Catalães, Bascos e Galegos .
Para Portugal continua a restar-lhe o sonho. Num país de sonhadores há sempre o recurso a um D. Sebastião que resolve aquilo que deveria ser resolvido por eles.
As reportagens do Tempo e do Sol são de questionar-se. Não serão estas sondagens artimanhas de nacionalistas ou de progressistas? …. De patriotas certamente que não.
Para os nominalistas portugueses não haveria problemas porque viriam na Espanha o D. Sebastião e ficariam de espírito agradecido ao naco de pão numa atitude semelhante ao cão fiel não à raça mas a quem lhe dá o pão. Esta atitude parece-me mais de progressistas. De resto, um ataque ao sentimento nacional. Os que favorecem a opção pela eventual união entre os dois países vizinhos fundamentam-no com os benefícios económicos. Sujeitar-se-iam a ser espanhóis porque lá se ganha mais e se paga menos pelos serviços e pela energia. Esta posição é própria daqueles que se comportam como a avestruz que quando vê o perigo enterra a cabeça na areia na esperança de que o problema passe. Só que a receita para tais seria sonhar menos e trabalhar mais. Só conta o Mamon.
Por outro lado a Espanha não aguentaria tanto sonho nem com um povo em que cada um e cada qual é um governo! A guerra da nova Aljubarrota que Espanha trava é a económica e os seus generais já se encontram posicionados por todo o Portugal (o que não condeno porque também criam riqueza). Naturalmente que também levantarão o tributo da antiga afronta e o enviarão em desagravo para Espanha.
Este é o problema dos pequenos. O que não têm nos músculos terão que o ter no cérebro, na organização e na disciplina… Uma desilusão não se resolve com uma nova ilusão nem só com greves. O que Portugal tem é de valorizar a sua maça cinzenta que é muito boa e aplicá-la. Então, a exemplo duma Irlanda, duma Suiça poderemos de novo dar mundos ao mundo, podendo estar mais satisfeitos connosco e suportar melhor a leviandade das nossas elites sem termos de as lançar ao Tejo para nos subjugar a Madrid. Primeiro teremos que unir Portugal, unir o povo acabando com os senhorios, temos que unir o interior e o litoral, a cidade e a aldeia. Para isso é necessário dividir Portugal em duas ou três regiões naturais, temos de reduzir os deputados para metade e tornar as administrações distritais e camarárias mais eficientes e organizadas em planos supra-distritais.
Porque tropeçar na Espanha se já estamos nos braços da Europa. A maior parte da soberania já a demos à União Europeia. Ou já não chegam as comendas?
De tudo isto uma coisa é certa, as nossas escolas têm que ensinar mais história de Portugal onde se aprenda a ser português. Ou já estão esquecidos da batalha de S. Mamede e da vontade popular, sempre repetida contra os tais das comendas, frente às varandas reais?

António Justo

António da Cunha Duarte Justo

Medidas contra casamentos forçados de crianças

A Coligação do Governo Alemão decidiu, esta semana, medidas contra casamentos forçados.
Na discussão sobre casamentos forçados de jovens muçulmanas a coligação acordou impedir, por lei, a imigração a menores para efeitos de casamento. De futuro só será permitida a imigração a cônjuges com um mínimo de 18 anos de idade. Muitas das famílias muçulmanas imigradas recorrem ao arranjo de casamentos mandando vir principalmente mulheres para os familiares; outras famílias aproveitam-se da ida de férias para fazer lá o casamento.
O ministro do interior queria que a idade mínima de ingresso na Alemanha fosse de 21 anos atendendo a que muitas meninas muçulmanas são obrigadas a casar sem opção de escolha. O partido do SPD conseguiu reduzir a idade para 18 anos. O compromisso prevê assim que se impeça a imigração para casamentos arranjados ou forçados. O recurso ao casamento tem sido uma das medidas a que recorrem famílias imigradas para adquirir uma permissão de estadia. Para impedir tais práticas a legislação em via exige que haja conhecimentos da língua alemã para a parceira ou parceiro que emigra para a Alemanha. Com esta medida, querem evitar também”o importe dum défice de integração”.
Finalmente uma medida acertada na defesa da dignidade da pessoa! A hipocrisia em muitos países do ocidente tem sido descarada. Enquanto que para si reivindicam o cumprimento dos direitos humanos exigem tolerância para a repressão da mulher no Islão, mesmo no seu seio. Muitos políticos ainda não reconheceram o âmbito das injustiças de que são vítimas as mulheres muçulmanas que vivem entre nós e o perigo que isso constitui. Elas são vítimas duma violência instalada e institucionalizada. Elas encontram-se muitas vezes reféns duma cultura de família. A mulher muçulmana deveria ser especialmente protegida e promovida pela sociedade ocidental atendendo à sua situação precária e a que dela dependerá a reforma séria do Islão e sua consequente modernização.
António Justo

António da Cunha Duarte Justo

Ex-ditador Saddam Hussein condenado à Morte

“Quem semeia ventos colhe tempestades”, diz o velho ditado português.
O declarado objectivo americano de o julgar, condenar e depois instaurar a paz falhou. Após o seu enforcamento não voltará a paz. Os interesses económicos e as lutas entre as confissões muçulmanas não o permitirão.
Embora S. Hussein tenha na sua consciência mais de 600.000 mortos na guerra contra o Irão e muitas atrocidades contra o próprio povo (massacre aos curdos, etc.) não é justificável a sua condenação à morte.
Condenar à morte, seja a nível individual, familiar ou estatal implica uma atitude de usurpação do poder. Ninguém se deveria arrogar o direito de se declarar senhor da vida. Quem o faz marginaliza o Criador. A dignidade humana deveria ser reconhecida por aqueles que se julgam do lado da justiça. Há um elemento comum entre o réu e o juiz: ambos se tornaram cúmplices quanto à humanidade!
Os Sunitas no Iraque e outros simpatizantes de Sadam Hussein insurgem-se não reconhecendo competência ao “tribunal especial” que o condenou. Acusam-no de parcialidade, de ser um tribunal de vencedores.
Naturalmente que Hussein merece a pena máxima, só que esta não pode ser a morte. Não é moral condenar alguém à morte, seja onde for. A sua execução provocará, além do mais, muitas outras mortes e uma crise no governo do Iraque.
Vae victis! Ai dos vencidos!
Os vencedores têm sempre razão! A sua justiça é cega. Esta é uma constante ao longo da história. Duas perspectivas frágeis mas irreparáveis. Homo homini lúpus!
A vitória não mete na sua conta as próprias barbaridades. Só um exemplo: os bombardeadores e cúmplices de Hiroshima e de Nagasaki não foram julgados.
António Justo

António da Cunha Duarte Justo

Bilinguismo

Educação em duas culturas – Uma decisão a tomar o mais cedo possível!
O aumento das famílias biculturais luso-alemãs e dos casamentos mistos entre brasileiros, angolanos, moçambicanos, etc., e alemães (e outras etnias) tornam o tema do bilinguismo um assunto obrigatório a tratar em todas as associações. O mesmo se diga para professores e formadores que se ocupam com estrangeiros e para organismos de estado ao serviço dos portugueses no estrangeiro.
Neste sentido, os brasileiros dão-nos o exemplo ocupando-se deste assunto desde há vários anos. Também eu, ciente deste problema, tenho-lhe dado muita atenção desde 1980, procurando fomentar interesse por ele no meio português e pondo-me à disposição para fazer palestras sobre o assunto. Os portugueses, duma maneira geral, vivem o dia a dia não lhes restando tempo para a reflexão.
Já neste blog, num dos textos em arquivo, fiz um artigo sobre o assunto.
Numa conferência que fiz em Dusseldorf verifiquei muito interesse pelo tema.
Parabéns à Sociedade Brasil-Alemanha e em especial à Dra. Stella-Maris Preisach, à Doutora Andrea Dahme-Zachos e ao senhor Irrgang pela perfeita organização da conferência sobre bilinguismo na Volkshochschule de Dusseldorf.
Junto o convite tal como o fez a Sociedade Brasil – Alemanha e a Volkshochschule para servir de exemplo a outras organizações que tenham interesse em organizar iniciativas do género. Como texto conclusivo apresento o resumo em alemão dos pontos tratados por mim na conferência.

Conferência sobre Bilinguismo
“Esta conferência sobre bilingualidade terá em conta a discussão científica. Outros aspectos a focar serão: a relevância da bilingualidade em relação à sociedade intercultural; o fenómeno das famílias bilingues e duma nova consciência de pertença, isto é, duma nova identidade com as suas vantagens e desvantagens; questões a pôr antes da tomada de decisão pela praxis bilingue; sua aplicação pedagógica na família, na educação bilingue, no ensino bilingue e no ensino da língua de origem (apresentação dum exemplo de experiência própria duma família luso-alemã).
Bilingualidade e aprendizagem intercultural podem fazer parte integrante da formação duma identidade individual na consciência do ser humano global.”

Sehr geehrte Damen und Herren, liebe Freunde!

Hiermit möchten wir an den Vortrag über “Bilingualität” am kommenden Samstag erinnern:

Bilingualität – eine Herausforderung an Gesellschaft und Familie

Wie kann bilinguale Erziehung in der Praxis umgesetzt werden? In der Familie, in der Erziehung, im Unterricht? Was sollte im Vorfeld der Entscheidung beachtet werden? Inwiefern hängen Identität, Herkunftsbewußtsein und Aufwachsen in einer bilingualen Familie zusammen? Welchen Beitrag liefert bilinguale Erziehung in Bezug auf das Zusammenleben in einer interkulturellen Gesellschaft?

Diese und andere Fragen wird António da Cunha Duarte Justo (Dipl.-Theologe und Pädagoge) in seinem Vortrag behandeln. Er reichert seinen wissenschaftlich fundierten Vortrag mit Beispielen aus der eigenen Familie und pädagogischen Praxis als Lehrer im muttersprachlichen Unterricht an.

Der Vortrag wird auf deutsch gehalten. Da Herr Justo Portugiese ist, können Nachfragen und Diskussionsbeiträge sowohl auf deutsch als auch auf portugiesisch erfolgen.

4. November, 17.00 Uhr – 19.00 Uhr

Düsseldorf, “DIE BRÜCKE”, Kasernenstr. 6, Vortragssaal (Raum 312, 3. OG), 3€ Eintritt

Resumo em alemão:
Bilingualität
Stichwörter des Vortrages
Gehalten in der Deutsch – Brasilianischen Gesellschaft am 4.11.06 in Dusseldorf durch António Justo

Einleitung: „Meine Heimat ist meine Sprache“, Fernando Pessoa
Autobiographisches: Zuhause und im muttersprachlichen Unterricht / aperspektivisches Weltbild
Motivation: EU und die Globalisierung / Brasilien – Geschwisterländer / Neues Bewusstsein
Die Bilingualität in der Wissenschaft: keine anerkannte Erstspracherwerbstheorie:
simultaner Bilingualismus und sukzessiver Bilingualismus. Faktoren des Spracherwerbs: Sprachvermögen, Zugang, Antrieb
Leernen durch Nachahmung / Konditionierung
Mehrsprachigkeit als Problemursache: Unvollständiges Erlernen, Überforderung und psychische Folgen. Forschung widerlegt das.
Der Alltag der Sprache: bewusst / spontan
Wann ist jemand bilingual? 1. zwei Sprachen etwa gleich stark oder 2. eine starke und eine schwache Sprache
Rolle der Familie: Sprache wird als Kommunikationsmittel erlebt und nicht als Lerninhalt / Wertschätzung beider Partner
Spracherziehungsmethode beim Bilingualitätserwerb: Funktionale Sprachtrennung: das Prinzip „eine Sprache – eine Person“
Familiensprache – Umgebungssprache: Familiensprache zu Hause und Umgebungssprache draußen
In einer Fremdsprache erziehen? Die zu vermittelnde Sprache soll Herzenssprache sein
Strategien: bei Trennung und längerer Abwesenheit eines Partners
Schwierige Situationen: Wo Dritte anwesend sind
Entwicklung beim Spracherwerb -Lernprozess des Kindes: Lerntypen: Der Analytische und der Ganzheitliche
Einbeziehung von Fachleuten: Kinderärzte und Ohrenärzte und Logopäden / innen
Wie sprechen wir mit den Babys? : Mimik und Sprachmelodie
Ermutigung für die Sprache: Beziehung und der Sprachumgang
Lesen und Schreiben: verzögerte Alphabetisierung
Wie lernt das Kind gut Deutsch? : Wenn kein Deutsch zu Hause gesprochen wird: Spielkameraden, Kinderkrippe, Tagesmütter
Starke und schwache Sprache: „Produktive Mehrsprachige“ und „rezeptive Mehrsprachige“
Die Verweigerung des Sprechens: Kompetenz und Performanz, Konformismus
Sprachmischungen: in einer einsprachigen Gesellschaft als Fehler, als Reparatur
Interferenz: Strukturmuster der anderen Sprache um Lücken zu füllen
Bilanz: Hauptmerkmale: die ethnische Identität und das Sprachprestige, Die Idealistisch-romantisch Sprachauffassung, und Die rationalistische Sprachauffassung. Ab 1960 wurde gezeigt, dass Zweisprachige intelligenter sind als Einsprachige
Kindergarten: Modelle von Kindergärten
Unterricht – Wo und Wann? – Fremdsprachenunterricht und muttersprachlicher Unterricht.
Schulformen besonders geeignet für Bilinguale: 1. Internationale Schulen (International School); 2. Europäische Schulen; 3. Europaschulen und Schulversuche an staatl. Schulen
Fazit: das latente sprachliche Potential spielerisch zu fördern, Ausgangssituation und eine emanzipatorische Erfahrung, aperspektivisches Weltbild
António Justo

António da Cunha Duarte Justo

Natal – A simbologia dum outro humanismo

Um humanismo para lá do religioso e do político

As representações mais antigas do nascimento de Jesus apresentam-no numa gruta, numa caverna. Os povos da Palestina costumavam usar as grutas para guarida dos animais. Maria deu à luz o filho numa gruta colocando-o na manjedoura dos animais, refere Lucas (2, 7). A tradição de representar o nascimento num curral começou só mais tarde, na época de Francisco de Assis, altura em que o pensar naturalista se estendeu à iconografia (1). A igreja oriental permaneceu com o motivo da gruta, da caverna. Este está recheado de sentido simbólico. A realidade divina com o natal torna-se história humana e vice-versa.
A gruta, ou caverna quer lembrar a racha ou fenda da terra que recorda também o seio feminino. O nascimento de Jesus na gruta simboliza a união do Céu com a terra sendo esta por aquele fecundada. A gruta é o lugar do acontecimento sagrado onde se realiza a fecundação da terra pelo céu.
Com o nascimento de Jesus na gruta foi quebrada a dura crusta do mundo e assim se torna livre o caminho para Deus e se abre o caminho do ser humano para si mesmo. Da caverna sai a luz. No seu desenvolvimento, o ser humano terá que entrar na gruta (na caverna) do coração; também ele terá de transpor a crusta do seu corpo para penetrar no seu coração onde se encontra o gene divino. Na caverna do coração repousa a luz, o gene divino à espera de poder perpassar o caos. O lugar de “refúgio”, a gruta é o lugar do encontro, do renascimento, da regeneração.
Os arquétipos Jesus, Gruta, Maria e a comunidade que nasce da gruta tornam-se visíveis evidenciando-se a sua realidade simbólica no acontecimento da incarnação (Natal). O símbolo, mais que um sinal duma realidade, é a manifestação da verdadeira realidade na esfera espacio – temporal. É a realidade total (divina) que se presencializa. Ao lado de Jesus encontram-se também o burro e a vaca, símbolos das forças da luz e das trevas. Os dois bafejam-no e num acto de submissão entregam-lhe essas forças.
No Natal vive-se o tempo do coração, a gruta onde se encontra a sabedoria à espera de ser abordada e concretizada. Também a mística do coração de Jesus tem a ver com a gruta nas imagens arquétipo.
Quem quer renascer terá de entrar na gruta, no coração da terra, no coração do ser humano, em si mesmo. A regeneração dá-se no coração de Cristo, no próprio coração, que é a gruta do nascimento do verdadeiro Homem e da Comunidade. Na gruta, no coração se encontrará o pai do ser. Aí se gera o novo ser donde nascerá uma consciência nova integral. Nos albergues não há lugar para o renascimento atendendo a que o novo não pode surgir sob a influência do velho. O novo homem terá que nascer longe da esfera das forças dominantes.
Na simbologia natalícia sobressai também a virgindade, a imagem duma mulher que se encontra em relação com Deus sem intervenção do homem nem de instituição humana. Aqui surge uma nova criação da humanidade que se expressa em Jesus Cristo, o ser soberano, o novo Homem, nós. Em mim se gera a realidade humano-divina Jesus Cristo.
Com a incarnação passa-se a uma correlação humano – divina; a matéria possui o gene divino. Com a nova Eva o ser humano não se define apenas pelo parentesco, não se explica pelo acto sexual, nem tão-pouco por um acto evolutivo mas pela relação directa com Deus. A simbologia cria uma ligação com a realidade da vida do homem e de toda a natureza. Ela abre um novo mundo em que é possível a existência do homem livre e libertador, salvador. O homem é libertado das suas relações ambientais, do ter, da família e das autoridades. Surge uma nova consciência humana, para lá das morais. Na sua saudade vital ele participa da redenção e continua-a; realiza o que em Cristo se pode ver já na antecipação, no processo histórico do desenvolvimento.
Na incarnação a esfera divina interpenetra-se com a esfera humana, com Maria, a mãe terra, sem intervenção natural. Na realidade natalícia o céu e a terra manifestam-se assim numa relação bipolar, sem antagonismos. (O antagonismo e a dialéctica pertencem ao mundo da realidade superficialmente perceptível, à fenomenologia). Com a incarnação a divindade materializa-se em Jesus e espiritualiza-se pela ressurreição no Cristo, unificando-se em Jesus Cristo o protótipo da realidade, o protótipo do ser humano, da relação bipolar humano – divina. Neste processo a abertura é o pressuposto do acto criador e da maternidade. A maternidade torna-se também ela o processo gerador contínuo da nova realidade, uma relação bipolar mãe – filho, matéria – espírito.
Há uma correlação entre o nascimento na gruta e o parto virginal. A terra e a mãe dão à luz… Com o Natal irrompe no tempo a criatividade e a inspiração.
Somos terra, terra a tornar-nos mãe. Neste processo acontece natal… dá-se à luz: para isso não é preciso ser-se religioso nem ateu, é-se Homem.
Não se trata aqui de cair num espiritualismo ingénuo dado que a componente terra está bem presente na simbologia da cruz. O lugar do ser humano não é o da fantasia mas o da história com as suas realidades. Este pressupõe porém uma nova consciência, um novo modo de pensar, sentir e agir. Tudo em correlação dum diálogo recíproco do mundo da experiência humana. Esta é a mensagem a ser compreendida por religião, política, economia e sociedade. Doutro modo continuaremos a viver e a agir na pré-história do espírito – matéria.
A realidade do Natal com a sua simbologia vem dar luz sobre as ambivalências da vida e abrir-lhes novas perspectivas a nível social, religioso, político e pessoal. Trata-se portanto de, nos nossos actos paternais, maternais, filiais (fraternais, maritais e humanos), concretizarmos o humano – divino, de presencializarmos o Natal (a incarnação).

António da Cunha Duarte Justo
In “ Pegadas do Tempo”

(1) Desejo notar aqui, para aqueles que sigam mais o pensar linear, o pensar lógico, que há várias maneiras de abordar a realidade e que o pensar lógico é diferente do pensar simbólico, por imagens. De facto há uma correlação entra a verdade mítica e a verdade histórica. A histórica é apenas a leitura perspectivista espacio-temporal da realidade enquanto que a simbólica mítica é aperspectivista, integral, englobando também a primeira, sendo pluridimensional. A realidade mítica inclui também a realidade natural e histórica. Trata-se duma interpretação integral coração – razão e não apenas duma interpretação lógica, mental. Coração e razão unem-se na tentativa de percepção da Realidade.

António da Cunha Duarte Justo