Mário Soares – Cavalo de Troia ao serviço dos combatentes laicistas

Comissão de Liberdade Religiosa – Mais um Couto político

A Igreja política lusitana
O Primeiro-ministro Sócrates, sumo-sacerdote da comunidade religiosa civil, assistido pela sabedoria de “Jeová” e à luz das velas marxistas e racionalistas acaba de elevar às honras do altar um homem sólido na crença agnóstica e laica nomeando-o presidente da Comissão de Liberdade Religiosa.

Sócrates com um só gesto dá alimento a bocas grandes e presta veneração à maçonaria bem representada no governo e honra assim Mário Soares, seu melhor acólito depois do 25 de Abril, também chefe da Irmandade socialista! Sócrates geralmente mais virado para as crenças pragmáticas protestantes tem que ir concedendo algumas bulas aos do “Salão do Reino” socialista, doutro modo cairia ele na desgraça do purgatório dos incrédulos e dos ingratos do Reino! Mais um passo no sentido da estabilização da fé civil, à margem e contra a justiça social, num modelo de sociedade que continua a adiar a realização do povo para a escatologia.

O céu da democracia portuguesa é pobrezinho mas honrado. A devoção do preceito cumprido de 4 em 4 anos e a consequente penitência posterior, já não só quaresmal mas diária, como convém a devotos praticantes conscientes, é o que resta da consolação duma liturgia do dever cumprido para além do agasalho da alma cívica alcançado na veneração dalguns santos em comícios, congressos ou simplesmente na reza diária do terço televisivo na união na esperança da comunhão dos cidadãos. Não fossem uns infiéis derrotistas a questionar os irmãos laicistas, os sacerdotes mais irmãos do Reino, não fossem uns desmancha-prazeres renegados e antiquados que pretendem manter a crença na existência do purgatório e do inferno para os dos andares de baixo, a paz daquele céu pobrezinho mas honrado não teria nuvens.

Na vida política, social e religiosa, quem não reza não se safa, o que mais conta é o ardor da devoção e, quanto mais a mente e os olhos se fecharem, maior é o gozo do Reino. Este é o dogma que mantém tanto o sistema socialista como o capitalista, propagado por seus servidores sacerdotes. Por isso os fiéis ortodoxos da democracia tiram à boca para venerar e premiar os seus santos, já não com hinos e louvores mas com coutos rendosos. No céu da democracia, os santos de hoje já se encontram mais perto do povo embora com boca fina, justificando-se por isso a manjedoura especial da nomenclatura. Este é o reino dos tais independentes, dos tais livres que se conseguiram libertar do povo, que para eles é o reino do mal e da imbecilidade; o inferno é o povo. No reino dos realismos não há diabo; aí o povo é pastagem e a atenção vai para as vacas. Não tivessem elas mamas!…

Uma característica quase geral da sociedade intelectual portuguesa, também comum ao povo, é a paciência. Esta, agasalhada em véu de pele de camaleão, é o pressuposto para se vir a ser o novo santo, santo da Igreja lusitana democrática. Paciência e obediência, pedem os autocratas. “Paciência, os santos do andar de cima lá sabem!” – exclama o devoto civil, seguindo os passos dos embuçados para as capelas e lojas laicistas. Sirva-lhes de consolo na ladainha das virtudes democráticas a palavra mágica a modo de refrão: Paciência, paciência. “Paciência” é o ámen da comunidade civil na Igreja política lusitana. Em momentos de maior aflição a ladainha é acrescentada por mais um rogo: Santa democracia, ora pro nobis! O ópio de esperança contida naquela palavra política “Paciência” chega para tirar as nuvens negras do horizonte até ao próximo pôr do sol. O que nos salva é a fé, já diziam outros antes dos sacerdotes políticos. Estes para opiar os devotos da sua comunidade falam do ópio do “ámen”da outra religião. Sabem que o melhor pasto para esfomeados é falar-lhe do pasto dos da manjedoura vizinha. Enquanto discutem sobre religião católica não notam que o problema está mais na religião política. Os sumos-sacerdotes da comunidade civil ganham a guerra desviando assim o povo para campos de combate paralelos.

Eles comem tudo e não deixam nada…
Mário Soares tem-se revelado um bom Cavalo de Troia dos combatentes laicistas e republicanistas no meio duma portugalidade fraca. O pobre socialismo dá mais uma comenda ao pobre Soares. Assim se continua a tradição duma política da revolução republicana em que se criavam e enriqueciam barões com os bens da igreja! (Não se trata aqui de defender o Catolicismo mas de apelar ao espírito crítico do povo para com o seu clero e para com os seus políticos. Estes encontram-se geralmente não do lado do povo mas do outro lado, do lado da instituição que instrumentalizam e defendem na defesa do seu bem-estar! O prado é o mesmo. As formas de instituição é que mudam! Deus e povo cada vez se tornam mais lameiro de engorda!)

Quando o governo não sabe o que fazer ou quer iludir o povo cria uma comissão. Deste modo pode desautorizar os deputados eleitos democraticamente, ou usá-la para auto-propaganda e dar susentento a filhos necessitados de tão grande mãe! Eles vivem de guerras substitutas (lugar-tenentes, as melhores iscas para levar o povo) e querem, à base de pseudo conflitos religiosos, justificar a auto afirmação e hegemonia sobre as instituiões religiosas e o povo. Usam o Estado, que deveria ser neutro, para se instalarem. É o saneamento pela positiva. Estão-se marimbando para o património cultural duma nação ou com o seu desenvolvimento. Defendem o direito de afirmação da cultura das tribos contra a nação. Esta é a sua hora, a hora do seu multiculturalismo, como se Portugal fosse de 1900! A sua capacidade de discernimento é enfoscada pela ganância do poder e pelo fundamentalismo ideológico. Soares, independentemente de méritos que também tem, um convencido da sua fé, teve o mérito e a esperteza de embrulhar os crentes do lado adverso alimentando-se da baralhada de crenças e utopias. Jörg Zink afirma que “cada Pigmeu e cada Esquimó sabe mais sobre a sua religião do que os ocidentais sobre a sua”. Estes conhecem só o primitivismo da religião e quando muito o seu folclore. O mesmo se pode dizer dos partidos e das filosofias que os suportam.

José Sócrates desejou-lhe “muita sorte” na gerência duma Comissão à tona da sorte e dos países interessados em exportar os problemas que têm no sector, devido a uma errada política de imigração.
Quem o declara “neutro em matéria religiosa” ou é ingénuo ou quer introduzir o cavalo troiano (com os soldados do fanatismo laicista não menos perigoso que o religioso) pela calada da noite dentro dos muros duma sociedade que apenas trocou os cueiros dum sistema pelo outro. Boa noite Portugal!

Mário Soares esconde o seu exacerbamento ideológico falando dum “exacerbamento dos fanatismos religiosos” a importar e que, graças ao islamismo, é aproveitado para justificar a implementação sub-reptícia da ideologia marxista-iluminista.

Soares apesar de ter sido apoiado, nos inícios da sua escalada ao poder, pelos socialistas alemães (SPD) não aprendeu nem compreendeu o espírito germânico aberto à novidade no respeito pela tradição e na convivência respeitadora e digna entre o religioso e o laico sem lutas jacobinistas republicanas. O oportunismo ideológico racionalista e marxista quer refinadamente desinstabilizar a tradição cultural portuguesa servindo-se do terrorismo islamista como pretexto. O fundamentalismo com que a internacional socialista e seus acólitos tem posto na ordem do dia contra uma cultura de maioria cristã na Europa é irresponsável. Esquecem que o fundamentalismo islamico que se encontra em avanço fomentando também ele tendências fundamentalistas na cultura maioritária. Na aplicação do poder judicial já se pode observar que este já abdica de ideais liberais em consideração de costumes islâmicos mais próprios duma sociedade de carácter mais pastoril.

Para Soares e seus irmãos trata-se de uma última oportunidade para em nome duma liberdade rectórica e em nome da mentira da igualdade de religioes se institucionalizar o engodo. Ingenuamente joga-se com o fogo. Estes pretensos defensores da modernidade podem tornar-se no seu maior perigo ao servir-se das diferenças religiosas como se serve Alcaida da religião para atingirem os seus fins. Querem desmontar a cultura europeia nos seus fundamentos a pretexto dum socialismo primitivo e dum racionalismo desencarnado e desumano. Naturalmente que a tradição se deve encontrar em processo aberto para o futuro a caminho de maior liberdade e da restituição da dignidade humana ao ser humano. Este não pode consistir porém apenas na substituição duns dogmas pelos outros por muito que a massa seja a isso propensa e grata. A incúria da massa não deve ser pretexto para eternizar a injustiça e o abuso dos sistemas de poder na sua sucessiva sucessão. A nação precisa duma elite nobre e não abusadora! Precisa de muito investimento na cultura do seu povo.

Comissão para a Igualdade dos Partidos
Armam-se em juizes imparciais de pretensos problemas religiosos, emboçados em Comissões. Porque não criam uma “Comissão para a Liberdade e Igualdade dos Partidos”. Porque é que a democracia trata tão mal os partidos pequenos sendo umas comissões parlamentares desfavorecidas em relação às outras no parlamento? Não seri óbvia aqui uma Comissã? Porque dão mais tempo de antena aos partidos da maioria do que aos outros. Os fariseus, salvo seja, usam de duas medidas. E o povo ressona ao som das telenovelas e depois gritam;”Aqui-d’el-rei, que me roubam a casa!” Esta deveria ser a matéria para que Soares teria aptidão e competência mas certamente que também aqui lhe falta a independência necessária. Apoderam-se da democracia e seguem a suma islâmica: para bem de Alá também a mentira é virtude! O problema está na própria convicção e na sua “independência”. Soares, devoto marxista na luta contra os crucifixos, não deixou a decisão aos interessados e envolvidos directamente no problema. Esta é a democracia que os tubarões conhecem. A fortaleza e convicção dos “quem tem um olho é rei”!

Comissão Liberdade de Diferentes Soberanias
Não seria mais óbvia a criação duma “Comissão para a Igualdade e liberdade de Diferentes Soberanias” de diferentes formas de governo: ditadura, democracia, despotismo iluminado, anarquia, etc… Aqui sim que estes políticos poderiam ter mais competência. O alcance do seu pensamento porém parece só chegar até aos limites da própria coutada. A política como a religião não podem ocupar todos os lugares do ser humano. Não devem porém continuar a ser prevalentemente ocupadas por mandatários de costas voltadas para o povo e para a sua realidade!

Uma Comissão Ética, embora com muitas objecções, ainda seria tolerável mas não a abstrusidade duma Comissão de Liberdade Religiosa para Portugal e para mais ao serviço do secularismo é totalmente controversa.

A liberdade religiosa e a liberdade democrática precisam só duma constituição assente na consciencia do povo e de leis justas para todos. Para seguir a lógica dos critérios de “independência” seguida na nomeação do presidente para a Comissão porque não colocar só anarquistas à frente das comissões políticas?

O fanatismo laicista republicano e o fanatismo religioso pretendem-se senhores da verdade; são fundamentalistas convencidos em guerra-fria! Eles andam por aí vestidos com pele de cordeiro! Só um povo inteiro se pode defender deles desde que esteja ciente de que se encontra da parte de baixo do ribeiro! O problema é cultural e duma sociedade média desinteressada no projecto Portugal. Um Portugal aberto e livre poria em questão as aquisições daqueles que cronicamente de geração em geração vivem à custa da falta da justiça social para o povo. A esta luz todos os projectos têm sido falhados! Só têm persistência os coutos políticos! Quo vadis Portugal?

António Justo

António da Cunha Duarte Justo

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Madeleine

Luto não quer teatro!

Tantas Madeleines, por este mundo fora, esquecidas e à margem da histeria televisiva! Depois de tantos murros nos sentimentos dum público ávido de sofrimento surge agora mais esta: os pais de Madeleine passam a ser arguidos. Após tanta desinformação mais uma especulação para alimentar a dor e o behaviorismo.

A tragédia da culpabilidade seria sem fim, se se verificasse como verdade a especulação de que a mãe matou a filha. Então envergonhariam o mundo inteiro. Aqueles que se identificaram com a tristeza dos pais sentir-se-iam ludibriados. Mais um murro no sentimento!
Além da culpa da negligência de pais, a suspeita de infanticídio.

A mãe defende-se num entrevista ao Sunday Mirror acusando os indagadores, afirmando: “eles querem que eu minta, eles querem-me lograr!” Uma especulação leviana afirma que a polícia lhe terá feito uma proposta de confessar o crime podendo ela, depois de dois anos, sair livre da prisão.

Na opinião da mãe (Kate McCann) da criança desaparecida, a polícia teme a atenção pública porque Portugal não tem leis contra violadores de crianças.

Isto parece trazer água no bico: Casa Pia saúda-nos!

O facto de em Portugal o caso de pedofilia da Casa Pia ter sido muito enredado e abafado e dos desprotegidos não serem os favorecidos da lei portuguesa não constitui argumento de defesa para a mãe. É mais um episódio a acrescentar a um filme que renderia milhões se fosse já feito! Intriga individual, familiar, institucional e internacional, amor, ódio, praia, estupefacientes, morte: os melhores ingredientes para massagens do sentimento!

Pobres das Madeleines deste mundo! Pobres dos pobres deste mundo!

O luto não quer exibição!

António Justo

António da Cunha Duarte Justo

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José Manuel Barroso no Contexto da Documenta

No âmbito da sua visita à documenta, o Presidente da União Europeia, em conversa com a HNA, jornal do Norte do Hesse, afirmou: “A exposição mundial mais importante da arte contemporânea é uma escola da globalização”. Ele vê com bons olhos o facto de “na Europa o interesse na arte aumentar”. Refere também que a Europa precisa duma atitude cultural fundamental, não se devendo limitar a tratar apenas de economia e de política. A arte torna-nos conscientes das questões com que a humanidade se defronta. Ela age contra a tendência para as simplificações. Barroso acha um paradoxo o facto de, na Europa, apesar de nunca ter havido tantas ofertas no sector da formação, muitas coisas ainda continuarem a ser apresentadas duma maneira populista e simplória nos Media.

Ele vê em Kassel uma cidade modelar para a Europa pelo facto de unir a consciência histórica com a inovação tecnológica.

Em direcção a Berlim, que se vê em palpos de aranha para dominar o islamismo pretendendo para isso uma lei que permita espiões, a nível de Internet, nos computadores particulares no sentido de encontrar pistas terro0ristas, Barroso deixou um recado. No que toca ao combate ao terrorismo “a liberdade pessoal e a necessidade de segurança têm de ser equilibradas. Não se deve sacrificar tudo à segurança. Nós queremos impedir a infiltração do Estado na esfera privada do cidadão”.

Quanto ao tratado de reforma da UE afirma: É melhor que países como a Inglaterra excluam algumas partes do novo contrato do que baixar o nível da regulamentação.”

António Justo
Kassel, 10.09.07

António da Cunha Duarte Justo

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Crucifixos em todas as Escolas

Crucifixos em todas as Escolas
António Justo
O secretário-geral da CDU (de que Angela Merkel é a presidente) declarou à imprensa: ”Como partido que traz o nome cristão queremos que o testemunho pelo cristianismo permaneça no espaço público.” É o caso das escolas, tribunais e Serviços Públicos.

Os Verdes e o FDP declararam-se estritamente contra.

Actualmente, no Estado Federado da Baviera, continua a tradição do crucifixo nas escolas. Nestas, os pais podem, por maioria, impor que sejam retirados!

A presença islâmica faz-se sentir de tal maneira na república que, pouco a pouco, leva a cultura maioritária a declarar cor!

A religiosa islâmica mostra-se tão auto-suficiente que muitos (seculares e cristãos) têm receio que pouco a pouco a Europa se desequilibre.

Alguns já reagem atirando para lá do alvo!

Um factor de certos exacerbamentos está no facto de certos socialistas e grupos de esquerda já há muito tempo se terem aliado aos interesses islâmicos apoiando-os indiferenciadamente tomando em assuntos controversos sempre posição contra a cultura cristã, e apoiando deste modo a teocracia que no seu espírito pouco difere da comunista.

Este tem sido o equívoco dos laicistas e racionalistas que sem discernimento de espírito não se dão conta que são um biótopo do cristianismo, um escândalo intolerável numa teocracia como o Islao.

Muitos secularistas em vez fazerem uma crítica séria ao cristianismo atacam-no fanaticamente, sem terem a mínima ideia da filosofia que o acompanha e que lhes deu o ser.

Grupos secularistas militantes ajudam a estrumar o solo já de si fértil do fanatismo religioso.

António da Cunha Duarte Justo

António da Cunha Duarte Justo

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Ajuda ao Suicídio

Autonomia e autodeterminação como estupefacientes

„A vida é minha, posso suicidar-me e ninguém tem nada com isso!”
Cada vez se fala mais da necessidade de ajuda ao suicídio, naturalmente com outros eufemismos. Um deles poderá vir a ser: ajuda à boa morte! Também a palavra liberdade já está gasta por ser proclamada como panaceia por todo o bicho, mesmo pelo mais explorado.

Numa sociedade que vive de subterfúgios e de slogans como liberdade, autonomia e autodeterminação torna-se cada vez mais difícil manter a cabeça fria à hora de tomar decisões mais conscientes e adultas. Neste contexto fala-se de autonomia e liberdade falsificada pela perspectiva unilateral individual e situacional. Declara-se um valor abstracto contra outros valores como o da responsabilidade e da assistência, o do cuidado pelos outros.

A autonomia que os defensores da eutanásia propagam é ilusória. A autodeterminação que na vida social e cívica é tão marginal e espezinhada torna-se para esta fase precária da vida o argumento! E numa sociedade de culpa anónima para simplificar o incómodo da despedida colocam-se automáticos de injecção mortífera em que o candidato à morte poderá num acto de grande autonomia e liberdade decidir. Para isso bastará o esforço dum músculo lúcido ainda com força capaz para pressionar o dispositivo!

Seria um grande retrocesso no desenvolvimento ético se a prática da ajuda ao suicídio fosse institucionalizada. O problema não está na possibilidade de uma pessoa se suicidar mas da instituição se arrogar o direito de regular a morte. Isto corresponderia a entregar à instituição e à política o direito de determinar quem deve viver. Como se a vida não fosse um interrelacionamento nem uma cadeia de dependência uns dos outros.

O exemplo já o tivemos com o nacional-socialismo sendo já bem conhecido o que acontecia com os que tinham “uma vida menos válida”. O Estado não se deve aproveitar dum momento da crise para interferir no que pertence ao foro individual. É irónico falar-se de autonomia para poder decidir em momentos extremos de doenças incuráveis, que interferem tanto na capacidade de decisão. Esta está totalmente sujeita a cadeias e pressões psicológicas, sociais, económicas, políticas e morais. Estas são de tal ordem determinantes que seria uma falácia falar de autonomia. Por vezes vai-se tendo a impressão que o Estado prece estar interessado em que as pessoas idosas se matem o mais depressa possível; parece que pensa em poupar dinheiros de reforma e de tratamento. Além disso certas ideologias também ganhariam com isso porque pessoas idosas geralmente dão mais votos aos conservadores. Numa sociedade proletária o princípio supremo da ética é o trabalho, a produção. O seu espírito é o euro! O proletário não tem alma, esta reduz-se ao seu trabalho! O extremo contrário do espírito cristão em que o ser humano é divino e por isso mesmo um absoluto em comunhão e inter-relação. Um ser único e completo que não pode ser dissecado em fases mais ou menos válidas.

O povo é água para ser conduzido por todas as levadas porque não tem exercício reflexivo. Não há consciência de si sem reflexão moral. Uma sociedade que marginaliza a filosofia infantiliza o povo porque através dela é que a humanidade toma consciência de si. A tentativa de construir o futuro negando a experiência da vida é matar o futuro. De facto um ser para a morte que desconhece o outro não tem horizonte!

Falar de autonomia neste contexto é sarcástico e irresponsável porque significa ao mesmo tempo desresponsabilização para com o doente. Atira-se assim para o paciente/parente/amigo a responsabilidade de continuar a sofrer e o descaramento de ainda nos provocar sentimentos desagradáveis com a sua situação. “Se sofre a culpa é dele”. Para tudo há um remédio, também para a morte! Obrigam assim o paciente incurável à solidão, ao desespero. Não se lhes reconhece a necessidade de relacionamento, de proximidade e carinho. A morte é um abuso a uma sociedade que só conhece as idades entre 20 e 40 anos. Querem a morte anónima lá nos corredores escuros dos hospitais para se poder depois vestir o fato limpo do funeral se é que a sociedade ainda terá disposição para isso. Por experiência conheço a aridez e o deserto frio de muitos momentos que acompanham moribundos. Ao deixá-los sós tornamos o mundo mais gelado ainda, atraiçoamo-nos a nós mesmos.

Um médico não mata! Médicos ajudam a vida, ajudam a viver! Precisam é de maior apoio também na medicina de paliativos para poderem ajudar os moribundos a morrer com dignidade!
Trata-se de ajudar a morrer e não apenas de medidas de prolongamento da vida.

Uma sociedade em que o valor do cifrão é sagrado, exerce cada vez maior pressão sobre moribundos e pessoas com doenças muito dispendiosas. Então os doentes, com o medo de sobrecarregar as Caixas de providência e para poupar a dor aos familiares, decidir-se-ão “autonomamente” pela injecção da morte.

Falta aqui o espírito religioso de se re-ligar. Quem destrói a relação destrói a ordem porque a relação é o único suporte da ordem. O resto é escravização objectivante numa sociedade desorientada que não sabe o que faz e se autodestrói.

Um Estado que destrói o espírito contamina o cidadão e reduz-lhe o horizonte.
Uma Nação sã vive da inter-subjectividade e interrelacionamento de cidadãos cada vez mais livres e adultos e não de ideologias meramente pragmáticas. Estas precisam de ser interpretadas e reflectidas.

A virtude e a moral tornam-se, por vezes, empecilhos do negócio…

António Justo

António da Cunha Duarte Justo
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