GÜNTER GRASS PERSONA NON GRATA EM ISRAEL

Indignação contra Indignação – à volta do poema “O que tem de ser dito”

 

António Justo

Alguns dias antes da Pessach (festa judaica), a “inocência” de Günter Grass, inicia, com a sua prosa poética, uma campanha sobre uma região que só conhece o calvário. O nobel da literatura emprega a sua tinta em papel sem mata-borrão, num assunto de trincheiras, todo ele constituído de preconceito e agressão.

 

O Governo de Israel reagiu drasticamente à poesia provocante de Grass declarando-o como pessoa indesejada; negando-lhe assim a possibilidade de entrar em Israel. A argumentação oficial para justificar tal acto parte do pressuposto que Grass tenciona com a poesia “atiçar o fogo do ódio sobre o Estado e o Povo de Israel”.

 

“O que tem de ser dito” (Was gesagt werden muss), texto controverso de Grass, publicado por muitíssimos jornais, afirma que “O poder nuclear de Israel é uma ameaça à já frágil paz mundial”; Grass refere ainda: „estou cansado da hipocrisia do Ocidente”. Critica também o facto de a Alemanha fornecer submarinos a Israel.

 

O publicista Henrich M. Broder reagiu afirmando que Günter Grass “sempre teve um problema com judeus” afirmando mesmo que Grass é um “protótipo do anti-semita intelectual “ que quer cobrar culpa e sentimentos de vergonha com a História. O autor Ralph Giordano atesta o versar de Grass como um “ataque à existência de Israel”.

 

Grass afronta Israel ao colocar a teocracia fascista iraniana ao mesmo nível da sociedade israelita. Emprega, no texto, a expressão nazi que pretendia “extinguir” os judeus pondo essa palavra na intenção dos judeus perante o Irão como se os judeus pretendessem realizar um “holocausto”.

 

Israel considera o Irão como o maior perigo para a sua existência devido às suas agressões verbais oficiais e ao seu apoio ao terrorismo. Israel encontra-se entre a espada e a parede: entre a superioridade das forças armadas convencionais dos povos maometanos circundantes e a própria superioridade atómica. Especulações sobre uma possível intervenção de Israel contra as instalações atómicas iranianas são vistas criticamente quer por israelitas quer pelo estrangeiro. Pelo contrário o Irão quer ver Israel irradiado do mapa, como testemunham políticos iranianos quando dizem, entre outras frases: “Em nove minutos extinguiremos Israel do mapa, o mais tardar em 2014”. O Irão apoia várias organizações radicais islâmicas palestinianas bem como a organização paramilitar Hizbollah constituída por fundamentalistas islâmicos xiitas no Líbano que se darão por satisfeitos quando virem os judeus no mar.

 

No conflito israelo-árabe domina o cinismo de posicionamentos antagónicos e a inocência de adeptos partidários. Parece que nos encontramos numa situação louca, em que reina a contradição, onde tudo fala e tem razão.

 

Este berro de Grass obsta ao tédio da normalidade adaptada. Neste tempo de conformismo em que os intelectuais perderam a soberania da intervenção e interpretação no discurso público, a intervenção de Grass até parece oportuna pelo menos para uma facção e porque dá satisfação a uns e a outros dá a oportunidade de falar dela. Grass goza da graça do estado de não precisar de trazer a tesoura na cabeça, podendo dizer sem filtro o que pensa sem correr o perigo que os Media percam o interesse nele e que o seu grande público o abandone. De lamentar é que não haja intelectuais de outras cores a pisar o risco do oportuno. Para lá dos devotos e dos adversários de Grass o importante seria uma reflexão a-perspectiva sobre o conflito entre israelitas e a liga árabe. Que uns vejam a realidade com o olho direito e outros com o esquerdo é normal. O que não é normal é que um homem como Grass que vestiu a farda nazi não se preocupe em ver o mundo com os dois olhos abertos.

 

Günter Grass, prémio nobel da literatura em 1999, agora com 84 anos, já viu milhões dos seus livros publicados, sendo um intelectual reputado. Numa classificação dos intelectuais mais destacados, a revista alemã “Cícero” em 2007 colocava o papa Bento XVI em primeiro lugar, o escritor Martin Walser em segundo e Günter Grass em terceiro.

 

Grass, sempre sobressaiu pela sua intervenção pública, destacando-se na crítica ao regime da antiga DDR (Alemanha Oriental), à guerra do Iraque e no apoio ao Partido Social Democrata (SPD) alemão.

 

 

O facto de Günter Grass se ter inscrito como voluntário aos 15 anos nas Waffen-SS e ter sido chamado aos 17 anos (1944) para a 10. Divisão-SS de Blindados “Frundsberg”, não deve ser abusado para o difamar. São etiquetas que querem fixar o indivíduo a uma fase da vida como se a pessoa não fosse processo sujeito à mudança.

 

À tomada de posição histérica de Grass segue-se a histeria dos que o atributam de anti-semita.

 

Grass alimenta a maquinaria da indignação servindo-se dos Meios de Comunicação. Assiste-se a um protesto obediente, como sempre em torno da forma sem chegar ao conteúdo, em torno de grupos de interesse mas sempre à margem das pessoas concretas que vivem em Israel e na “Palestina”.  Muitos procuram no jogo do poder a sua sorte.

 

Estes dias não têm sido favoráveis a Grass nem à causa israelo-palestiniana. “Quem semeia ventos colhe tempestades”, confirma o ditado português.“O que tem de ser dito” encobre o por dizer!

 

O entusiasmo, positivo ou negativo, por uma posição ou outra, vem sempre do canto errado. O conflito israelo-árabe é demasiado complicado para se poder sair dele sem se sujar as mãos e a mente.

 

O calor da discussão desencadeada por Grass pode tornar-se num sinal de como um Norte de África a ferver varrerá com a inocência duma Europa futura.

António da Cunha Duarte Justo

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Interrupção da Dança do Dia-a-dia – Decisão do Tribunal

Sexta-feira Santa

 

António Justo

Na minha terra adoptiva, Kassel, no Estado do Hesse, Alemanha, há uma lei que regula os dias santos e feriados. Ela proíbe eventos de dança desde as 4 horas de Quinta-feira Santa até às 24 horas de Sábado Santo. No Domingo e Segunda-feira de Páscoa é proibido festejar entre as 4 e as 12 horas tal como nos outros feriados nacionais.

 

O partido dos Piratas e a Juventude dos Verdes recorreram ao Tribunal Constitucional, no sentido de poderem organizar danças para Sexta-feira santa, dado esse dia não lhes dizer nada. O Tribunal Constitucional, porém, não aceitou tal plano pelo facto do assunto ser da competência de outro tribunal; vários tribunais do Hesse proibiram as demonstrações contra a lei dos feriados, planeadas pelos referidos grupos, para Sexta-feira Santa.

 

Na Sexta-feira Santa, o dia do silêncio, é comemorada a morte de Jesus. O alemão para designar a Semana Santa utiliza a velha expressão ”Semana das lamentações”.

 

Interrupções no ritmo trabalho-compra-diversão revelam-se como salutares para o equilíbrio psíquico humano. Na Alemanha há uma forte aliança entre Igreja, Sindicatos e Associações no sentido de se não ocupar os Domingos e feriados com o trabalho. O Homem não é de pau, nem vive só de pão, nem foi criado para estar continuamente disponível para um mercado de trabalho que quer ocupar todos os espaços humanos.

 

Na União Europeia já há muita gente que reconhece a necessidade de tempos de sossego e de calma, pelo que vários deputados europeus formaram uma iniciativa em defesa do Domingo como dia livre de trabalho.

 

Uma sociedade sem espírito público, de tendências individualistas eliminaria o estado social que se baseia em valores comuns. Naturalmente que cada convicção deve ser respeitada mas não cair no extremo duma anonimidade geral. A regularmo-nos apenas pelo individualismo teríamos de abolir todos os dias santos e feriados, todos os nomes de ruas. O que para uns é afirmação para outros pode constituir uma provocação.

 

Temos que viver uns com os outros, cada qual suportando o peso e a riqueza do seu gene e apesar de tudo manter um sentimento grato pelas tradições que nos deram o ser cultural. Trata-se de nos suportarmos uns aos outros num espírito de benevolência sem nos querermos afirmar à custa dos outros. Doutro modo teríamos que criar uma sociedade irreal abstracta reduzindo tudo a números.

 

O Cristianismo (gregos, romanos, judeus e outros) gerou-nos, como cultura, constituindo os nossos fundamentos. Trazemos em nós os genes da cultura assim como somos portadores dos genes de nossos pais, sem eles não seriámos nós, quer queiramos ou não eles são e estão em nós tanto no cómodo como no incómodo, no defeito como na virtude. Não reconhecer isto é fuga. Constituiria um testemunho de pobreza se nos fixássemos num espírito de contradição obstinado contra a nossa cultura. Importante seria reconhecer seus defeitos e virtudes em nós; só então estaremos prontos para nos descobrirmos a nós.

 

A nossa sociedade tem-se preocupado muito com a afirmação a nível individual. Não pode esquecer porém que indivíduo e comunidade são as duas faces da mesma moeda, a pessoa. Tudo o que se faz ou deixa de fazer só se legitima tendo por base a defesa e o serviço da pessoa humana. Por isso é preciso tomar a sério muitas solicitações da Igreja. A Igreja preocupa-se pela defesa da pessoa no seu todo enquanto o Estado e as Empresas se preocupam mais em considerar a pessoa como indivíduo, como pagador de impostos, como cliente.

 

A Semana Santa é o dia grande da cristandade em que a metamorfose da vida e do mundo se resumem num só acontecer, num processo de morrer para renascer.

 

Para os protestantes, Sexta-feira Santa é por assim dizer o dia santo “mais evangélico” pelo facto de “no sofrimento e morte de Jesus Cristo se experimentar a proximidade de Deus neste mundo, até à morte”, como diz o bispo Martin Hein.

 

Numa realidade de morrer e renascer, defensores e contrariadores, terão de aprender a levar a cruz uns dos outros, dado cada um de nós ser, em parte, a cruz do outro.

 

António da Cunha Duarte Justo

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Dia internacional da Mulher uma Oportunidade para a Inteligência emocional

Correcção duma Sociedade máscula de Via única

António Justo

As mulheres são, também socialmente, mais macias que o homem. Este é mais arisco e por isso consegue levar melhor a brasa à sua sardinha.

Há uma centena de anos o movimento internacional das mulheres luta por direitos iguais, por iguais oportunidades e pelo mesmo salário que os homens.

Ideal e realidade continuam a afirmar-se na divergência; para se contrapor esta tendência muitos chegam à conclusão de se introduzir um tratamento especial para a mulher em questões laborais e para tal introduzir por lei quotas de mulheres em lugares relevantes.

A União Europeia está a pensar numa iniciativa legislativa que pretende introduzir na Europa a quota de mulheres. Na Alemanha o partido SPD já reagiu com um projecto de lei que pretende até 2015 atingir 40% de mulheres em conselhos de supervisão e membros de directorias de empresas. Este plano divide os ânimos da nação. O governo é de opinião que haja uma quota flexível que empresas e indústria se autodeterminem. Na realidade, segundo a OECDE, na Alemanha apenas 4% de mulheres ocupam posições de directoria e a nível europeu 10%. Também, segundo o relatório da OECDE, as mulheres alemãs ganham menos 22% que os homens.

Naturalmente, numa sociedade masculina, a introdução duma quota é discriminadora pois coloca no cimo da carreira mulheres devido à quota e não tão sujeitas às leis masculinas mercantis da concorrência. Numa meritocracia isto pressupõe um factor contra. Talvez este factor implique já um elemento de sensibilidade feminina a querer mitigar uma sociedade que fede a suor de homem.

Muitas vezes as mulheres aceitam, na entrevista para emprego, condições que homens não aceitam. Enquanto uma mulher quer ser amada o homem quer ser respeitado.

A maior inteligência emocional das mulheres revela-se, por vezes, prejudicial numa sociedade máscula porque se orientam mais por critérios humanistas e não apenas pelo lucro da firma, o que constitui um obstáculo ao currículo. Os homens sobem até mais alto na escada da carreira porque não sofrem de vertigens ao interessarem-se mais pelo sucesso da firma do que pelo sucesso dos trabalhadores. O pensar masculino tem em conta o próprio interesse e este é premiado pela firma e não pelos empregados.

Segundo estudos feitos na Alemanha, a mulher despede empregados dois anos mais tarde do que o fariam homens e isto incomoda os accionistas das firmas. As firmas querem pessoas de temperamento forte e assertivo com cotovelos robustas para afastar o que não lhe passe no goto. Mais justiça para a mulher significaria, num primeiro momento, que por lei auferissem pagamento igual ao dos homens pelo mesmo trabalho houvesse maior protecção para o trabalho e saúde.

Importante é que a mulher assuma maior responsabilidade social sem ter de abdicar do seu caracter feminino em favor duma sociedade totalmente masculina. A sociedade máscula tem muitos aspectos problemáticos porque afirma quase exclusivamente as qualidades masculinas em detrimento das qualidades femininas. O pensar e o agir do homem é mais selectivo e para chegar além não olha a quem. O pensar da mulher é mais colegial, pessoal mas não tão individualista; o instinto maternal mitiga o egoísmo.

Resumindo o dito e o por dizer: O dia da mulher é uma boa oportunidade para se começar a elaborar uma sociedade com base na complementaridade de masculinidade e feminidade. Por vezes faz doer constatar-se movimentos reivindicativos femininos que fomentam a masculinidade da nossa sociedade ou exigem um currículo para a mulher ditado pela sociedade máscula que obriga a mulher a ter de se comportar como o homem para ter alguma oportunidade neste tipo de sociedade de via única. Seria doentio se a sociedade fizesse das mulheres viragos e dos homens afeminados.

Torna-se uma missão nobre para homens e para mulheres, construir uma sociedade diferente; uma sociedade um pouco mais feminina e um pouco menos masculina. Vai sendo tempo de se juntar e equilibrar o princípio masculino da selecção natural ao princípio feminino natural da colaboração.

António da Cunha Duarte Justo

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Investigação sobre Imoralidade na Riqueza


A Honra do Rico é a sua Toalha

António Justo

Ricos mentem mais e têm menos consideração por outros, ensina o preconceito e confirma uma investigação.

Segundo uma investigação levada a efeito nos USA a riqueza atrai a violação da lei.

Nos USA condutores com carros de prestígio são considerados como impiedosos e atrevidos. Um estudo feito veio comprovar que isso corresponde à realidade. Pessoas ricas em autos ricos transgridem mais as leis do que pessoas com carros médios ou pequenos. Os cientistas da Universidade da Califórnia (Berkeley/US-Staat K.) chegaram também à conclusão que membros da camada social superior mentem mais que membros da camada social inferior. A ganância, para os mais ricos testados, não constituía, duma maneira geral, problema moral. Nas elites é prevalente a concretização dos próprios interesses. Naturalmente que não se pode generalizar porque também nas camadas superiores há muito boa gente que se orienta por fins superiores.

Ricos não têm consideração por muitas regras porque sabem que não sofrem as consequências directamente no pelo, porque partem do princípio que o dinheiro pode comprar quase tudo. O preconceito de que os ricos não tomam a sério a moral é apoiado por esta investigação. Não é fácil manter o equilíbrio entre os próprios interesses e os da comunidade.

Na nossa sociedade contorna-se a moral com muita facilidade. A usura praticada por especuladores da Bolsa (ordenados de banqueiros, de futebolistas e de muitos parasitas de empresas, Estado e instituições), fazendo o seu negócio com a insolvência de firmas e Estados à custa dos trabalhadores e dos cidadãos brada aos céus.

Não se trata de condenar quem é rico mas de lembrar que riqueza implica sempre uma componente e um dever social. Se mandássemos fazer uma investigação sobre a proporção de pessoas do crime registado, certamente que as encontraríamos muito mais nas camadas baixas. Isto apenas revela a mobilizaç1bo da agressividade latente em cada pessoal desde que se encontre em determinada situação.

Com investigações poder-se-iam fomentar ainda mais preconceitos dado a virtude e o mal espreitam em cada humano. Há muita gente rica com consciência social. O problema está mais nos super-ricos, que afirmam o seu negócio com agressividade tal como acontece na condução na estrada. A honra do rico é a sua toalha mas o pobre não deve ser privado duma toalha honrada a que se possa limpar.

Riqueza um Perigo ameaçador de Estados

Muitas vezes não se nota nos pequenos a sua corruptibilidade porque se limitam a pouca. A corrupção dos ricos usa uma medida e a dos pobres usa uma outra.

O que se possui deve provir, duma maneira geral, do próprio trabalho.

O Estado deveria intervir regulando a usura escandalosa. Quem ganha mais de 25 vezes do que o salário mínimo deveria ser condicionado a empregar o excedente em instituições de caracter cultural e social. Cada pessoa quer ser orgulhosa por algo, o que é legítimo. Uma igualdade de cemitério seria catastrófica como se demonstrou nos estados socialistas; uma desigualdade vistosa e imoral, como se observa no turbo-capitalismo destrói qualquer ética de coesão social.

A sociedade em que vivemos, atendendo à sua insegurança, não favorece o desprendimento. Por isso muito boa gente se vê obrigada a precaver-se do futuro, acumulando riqueza para si e para os filhos. Uma sociedade cada vez mais contra instituições morais, cada vez mais egoísta aposta na diferenciação exagerada. Disto sofre a humanidade.

Necessita-se uma cultura da dignificação da honra no oferecer. Uma maneira gratificante no oferecer seria ajudar directamente pessoas necessitadas ou prestar ajuda através de ordens e congregações onde vivem pessoas (sem ordenado material) que entregam a sua vida ao serviço do próximo sem olhar a quem.

O mérito social, a virtude, o cultivo do bem e do belo terão de ser tomados a sério pela sociedade, doutro modo, a riqueza de alguns torna-se num perigo público.

António da Cunha Duarte Justo

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Quatro Milhões de Mulheres violadas pelo Exército Vermelho na Segunda Guerra Mundial


Requinte alemão nos seus Bordeis para Soldados e para Prisioneiros

António Justo

Segundo o jurista e publicista Heinz Nawratil, quatro milhões de mulheres e jovens foram ” vítimas de crimes sexuais praticados pelo Exército Vermelho e seus aliados”. Só em Budapest calcula-se terem sido violadas 50.000 mulheres. Nos territórios libertados dos nazis, os soldados do exército vermelho comportavam-se como bárbaros, tal como faziam nos Estados Bálticos, e nos Balcãs.

Fazia lembrar a crueldade das antigas hordas mongóis, como refere o historiador Jörg Friedrich. Roubavam, violavam, massacravam e expulsavam. (16,5 milhões de alemães foram expulsos da Europa Oriental, tendo sido mortos cerca de dois milhões).

Mulheres e crianças eram violadas por grupos de soldados a ponto duma mesma jovem/mulher ser violada no mesmo dia por vários soldados. Isto não constituía excepção. Em quase todas as famílias dos refugiados e das famílias da zona de administração russa se regista, pelo menos, uma vítima de violação por família (“Die Rote Armee” von Liddell Hart). Também Hannelore Kohl, a falecida mulher do ex-chanceler alemão Helmut Kohl, foi violada, aos doze anos, por soldados russos.

O povo russo sofreu imensamente sob as abomináveis atrocidades dos exércitos alemães. (Segundo a Wikipedia,  5,7 milhões de soldados do Exercito Vermelho foram aprisionados pelos exércitos alemães, 3,3 milhões dos prisioneiros não sobreviveram. Dos 3,15 milhões de soldados alemães sob custódia russa não sobreviveram 1,11 milhões). Estaline não olhava a meios, como demonstra o seu comando n° 0428 de 17 de Novembro de 1941. Nesta instrução ordena aos partisanos russos que se vistam de uniforme alemão e incendeiem e liquidem a população russa civil “40 a 60 km atrás da linha principal de combate”. Incentivava assim o ódio contra os alemães invasores sacrificando o próprio povo para fins propagandísticos. Isto para se ter uma ideia da barbaridade dum lado e do outro. Se num povo governava o diabo no outro governava o Belzebu.

O ultrajo e a dor infringidos às mulheres durante as guerras são considerados, muitas vezes, como prejuízos colaterais das guerras e como tal de menor menção. Interesses políticos nas relações bilaterais internacionais (os tabus políticos) e a vergonha das mulheres estão, também, na base do silêncio do crime de violação. Para a mentalidade de então uma pessoa violada era pessoa desonrada. Nas Televisões alemãs não há dia sem um filme num canal a documentar as atrocidades dos alemães na guerra. Sobre o sofrimento de inocentes alemães só há poucos anos se começou timidamente a tematizar o problema das violações das mulheres alemãs.

Nas investigações de Bárbara Johr em “Befreier und Befreite” são mencionadas dois milhões de mulheres e meninas alemãs violadas por soldados do Exército Vermelho. Estes dois milhões de vítimas distribuem-se por 1,4 milhões de mulheres/jovens nos territórios da Prússia Oriental, Pomerânia Oriental, Brandenburg e Silésia, 500.000 na zona de ocupação soviética e 100.000 mulheres em Berlim. 10% das violadas terão sido assassinadas de seguida.

Este agir barbárico ainda assume maior gravidade pelo facto de ser usado e apoiado pela oficialidade. O genocídio dos alemães contra os judeus também assume uma gravidade acrescida na história pelo facto do holocausto aos judeus ter sido ordenado e organizado sistematicamente pelo Estado (Hitler). (De referir que Hitler para tornar o seu aparelho facínora mais eficiente, se serviu também de estudos sobre a maneira eficaz como a Turquia tinha efectuado o genocídio a cerca de dois milhões de arménios, em 1915).

Aos soldados alemães era proibida a violação e a prostituição incontrolada. Também se registaram violações por soldados alemães mas devido à diferente estratégia seguida não pode ser comparada no mínimo ao comportamento russo. Soldados alemães, tal como americanos violadores eram julgados e condenados. Isto não desculpa nem um bloco nem o outro atendendo à desumanidade subjacente aos dois sistemas e que espreita em cada ser humano colocado em determinadas situações. Nas zonas ocupadas pelos alemães, em 1942 havia na França e na Europa do Leste mais de 500 bordéis das Forças armadas alemãs.

Bordeis das Forças armadas alemãs foram regulados por decreto de 9 de Setembro de 1939 que apelava à autodisciplina dos soldados em questões sexuais (especialmente aos casados) e criava bordeis para soldados, insurgindo-se contra a prostituição selvagem que provocava doenças nos soldados. Estes estavam sob o controlo da inspecção sanitária das forças armadas. Estas controlavam as mulheres que trabalhavam nos bordéis e os soldados. Eram recrutadas prostitutas que se candidatavam. Num relatório do médico comandante da zona francesa ocupada de Angers, de Novembro de 1940 constata-se: “Os bordéis foram visitados em 14 dias por 8.948 soldados, dos quais 2.467 tiveram relações sexuais” (Vikipedia). (Tenho um vizinho que no tempo de soldado, como paramédico, tinha o trabalho de pincelar o pénis dos soldados com desinfectante em bordéis para se evitar a transmissão de doenças.) Prostitutas e soldados eram examinados por médicos tendo muitos dos soldados de receber uma injecção antes do acto sexual. Para se ter uma ideia da dimensão daquele empreendimento basta dizer que só em França, num terço da zona francesa ocupada pelos alemães havia mais de 143 bordéis onde trabalhavam 1.166 mulheres para satisfação dos soldados. Na Rússia, era difícil recrutar mulheres para os bordéis militares porque lá não havia prostituição oficial. Com estas medidas o exército satisfazia as necessidades dos soldados, evitava doenças e impedia que eles ganhassem amizades com mulheres das zonas ocupadas que poderiam influenciar politicamente os soldados.

Mais tarde foram também criados oficialmente Bordeis para prisioneiros nos maiores campos de concentração. Esta medida tinha a finalidade de motivar os prisioneiros a maior produtividade laboral. Junta-se a exploração sexual da mulher à do Homem. Prisioneiros com maior desempenho laboral tinham como maior prémio a permissão de ir ao bordel, no máximo, uma vez por semana, durante 15 minutos. Está provado que em  10 bordeis  se encontravam encarceradas 190 mulheres em serviço (Robert Sommer in “Das KZ-Bordell”).  Eram mulheres alemãs “a-sociais” primeiramente recrutadas com aliciamentos, mulheres prisioneiras polacas, ucranianas, russas, e “ciganas”. Muitos prisioneiros repudiavam os bordéis por razões morais considerando-os também obra do cinismo. Era proibido frequentar os bordéis a prisioneiros judeus e russos. Entre 1940 e 1942 terão sido forçadas ao trabalho sexual, pelos nazistas, cerca de 35 000 mulheres (Cf. Helga Amesberger, Katrin Auer, Brigitte Halbmayr: «Sexualisierte Gewalt. Weibliche Erfahrungen in NS-Konzentrationslagern»).

Muita gente procura cavalgar na culpa dos outros

Esta era uma guerra ideológica (aniquilação de raças, bolchevismo e fascismo) ainda mais perversa que outras guerras.

Não é legítimo cavalgar em cima da culpa alemã nem em cima da culpa russa para, assim, poder lavar a própria fachada e esconder atrás dela uma satisfação de bonzinhos na lavagem de agires menos dignos do dia-a-dia. Assim evitamos assumir responsabilidade pelos crimes que acontecem hoje no mundo. Em nome de culturas e de interesses económicos ou ideológicos ataca-se geralmente uma parte para, como Pilatos, se lavarem as mãos sujas da própria culpa. É fácil, a quem tem a graça ou desgraça de viver hoje, condenar os de ontem tal como os que terão a graça de viver amanhã terão a oportunidade de nos condenar a nós pelo que fizemos e deixamos de fazer. Isto não pode justificar a miopia que acompanha a contemporaneidade na sua necessidade ingénua de branquear o seu presente.

Hoje cortam-se os clitóris a meninas, apedrejam-se mulheres infiéis e o politicamente oportuno leva-nos a aceitar isso como sendo um bem cultural a respeitar, até no meio da nossa cultura. Suportamos a exploração da mulher maometana e até criamos nichos onde o patriarcalismo possa ser respeitado. Suportamos famílias com ordenados de misérias e energúmenos com riquezas mastodônticas fruto da especulação. Usamos dois pesos e duas medidas em nome duma democracia açucarada e duma política aberta à exploração. É fácil a quem tem a graça ou desgraça de viver hoje condenar os de ontem tal como os que terão a graça de viver amanhã terão a oportunidade de nos condenar a nós pelo que fizemos e deixamos de fazer. Isto não justifica porém a miopia que acompanha a contemporaneidade e a sua necessidade ingénua de se branquear. As pessoas fracas precisam da culpa dos outros para melhor anestesiarem uma consciência que não deve ver o que se passa agora.

Mentalidades massificadas de ontem, personalizadas em grupos e em pessoas mascaradas de soldados abusaram das pessoas indefesas. Hoje pessoas fardadas de opinião oportuna condenam povos e grupos sob a apóstrofe de alemães, russos, comunistas, conservadores ou progressistas. Há sempre uma responsabilidade individual e colectiva. A lavagem cerebral feita ao povo e aos indivíduos facilita a prontidão para a subjugação e para o agir irresponsável. Para onde quer que se olhe, depara-se com gente uniformizada com uma maneira de pensar e julgar igual, não diferenciada e correspondente à mentalidade apregoada e tida por bem na opinião publicada. É assustador o pensamento em massa e em blocos hoje em voga. A pobreza é tanta que, por vezes, basta saber o jornal ou revista da leitura do interlocutor para conhecermos o seu pensar. O pior disto é que atrás duma opinião massificada se encontra uma trincheira. Naturalmente cada um escreve e pensa segundo a própria ciência e consciência…

Quem se orienta pelo seu julgamento segundo o prisma da simpatia ou da antipatia sentida ou pelo simples afirmar ou negar de factos segue um mau conselheiro e prepara a guerra.

Não se pode bagatelizar nem compensar os crimes e a dor dum lado com os crimes e a dor do outro. Este erro de lógica perpetua a injustiça e a maldade. Só quando as nossas lágrimas correrem sobre a nossa culpa e sobre a culpa dos outros nos poderemos compreender a nós e aos outros. O sangue dos nossos antepassados grita mas só o grito da nossa consciência poderá interromper a avalanche da violência e da injustiça de agora.

Cada guerra, como cada ideologia, procura tirar o melhor de cada pessoa para si e o pior para os outros. O mesmo se diga da escrita da História que pressupõe sempre um historiador com uma ideia dela.

A barbaridade, a violência não é um acto específico dum povo, raça ou pessoa, ela repousa na sombra de cada pessoa e de cada grupo. A violência não se torna melhor nem mais justificada se exercida pela direita ou pela esquerda. Seria cinismo com o sofrimento de pessoas querer glorificar a própria ideologia.

O tribunal de Haia constitui hoje um aviso para o respeito que se deve às vítimas e como tal um primeiro passo em direito internacional para se diminuírem os crimes e os incendiários económicos, religiosos ideológicos e intelectuais.

Em tudo isto se vê como o pobre povo sofre e ao mesmo tempo é usado para fazer outros sofrer.
A guerra ainda não acabou. Em nome da paz continua a faz-se a guerra, em nome da paz vive-se da guerra.

O respeito deve-se às vítimas!

António da Cunha Duarte Justo

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