PISA 2006 – Péssimas Notas para Portugal


Um País para Inglês ver?

Os resultados da investigação Pisa, que se efectua de três em três anos, foram publicados. Eles servem para ver onde nos encontramos internacionalmente. De 50 países participantes qualificados, Finlândia ocupa o primeiro lugar, Indonésia o último e Portugal muito abaixo da média ocupa o lugar 37 da escala. Dos países da União Europeia só a Grécia e a Roménia obtiveram piores resultados.

Esta é a factura duma política de educacao mais preocupada com medidas populistas (e apenas interessada em resultados estatísticos tratados) do que com a aquisição de competências. Portugal cada vez ocupa mais a cauda dos países.

A nota que Portugal recebeu em termos de comparação de países corresponde a insuficiente. Se quisermos que se aprenda mais nas escolas estatais a primeira condição será despolitizar o ensino e dignificar o trabalho e os professores. Esta virtude não é própria da esquerda que orienta a rasoira da medida, não pela média, mas, pela mediocridade. O estado proletário não precisa de pensadores, basta-lhe mãos de obra, pessoas reflectidas estorvam. A nomenclatura com uma administração obediente e dócil chega. Pensar além de fazer doer é perigoso para as nomenclaturas.

As notas dadas por PISA ao Ensino Privado superaram de longe as do Ensino Público. Aquele tem de ser mais apoiado pelo Estado para que o povo possa ter a alternativa da escolha. Além de programas aferidos é necessária uma formação de professores mais objectiva.

Muitas medidas de formação de professores não são isentas. Pecam por querer aproveitar, à última hora, os dinheiros da União Europeia disponíveis para formação. Além disso os cursos são muitas vezes dirigidos por um conjunto de formadores seleccionados pela bitola partidária, ao serviço duma filosofia partidária. A maior parte dos professores lá vai suportando ou engolindo ingenuamente as endoutrinações ministeriais, comportando-se bem, na caça aos créditos.

O Ensino em Portugal, a nível administrativo de ministérios, encontra-se nas mãos da esquerda. Como está totalmente centralizado, os distritos não têm qualquer oportunidade de impedir a miséria que de ano para ano se repete nas escolas. O medo e a insegurança indigna são o meio que o centralismo usa na colocação dos professores. Este é um exemplo de como os mercenários de Lisboa tratam Portugal. O pior de tudo é que o povo não nota! Na província parece reinar a lei da sorte ou do destino e em Lisboa a lei da cunha ou do oportunismo.

O povo é província

É urgente a descentralização do ensino para que este passe a ser mais eficiente e justo. É incrível que um país com uma atitude esquerdista de Educação e um governo também esquerdo mas com uma política económica favorecedora das elites capitalistas consiga fazer condizer coisa com coisa. O que lhes vale é a sociedade ser anónima e acreditar nos “segredos dos Deuses”, bastando para estes iluminados um pouco de esperteza e uns rituais de lojas.

O Zeca tinha razão ao dizer: “eles comem tudo e não deixam nada”! O povo só mata o corpo, anda sempre vergado atrás da necessidade, é seara alheia. O 25 de Abril produziu homens catitas, de olhares devassadores, com bocas muito sôfregas de torresmos, sem respeito nem consideração por nada. Assim, governos de cucos briosos ocuparam a governança dum povo para quem o destino reserva, quando muito, o fadário de vaca leiteira.Este povo, de raízes campesinas, continua renitente à espera dos sinais duma madrugada.

Eles, que substituíram os andores da procissão passaram a ser os pimpões da festa, embora omissos ou de ideias encardidas, metem-se à frente e ainda se gabam: “O povo é província!” Povo é terra submersa, a submergir; é leira pisada em que eles têm a prerrogativa de mandar sem acarretar com as consequências, podendo continuar a caminhar na modorra de sempre.

Os mimados do poder narcisista conseguiram o salto para Lisboa. Com eles o sucesso fugiu da terra. Nesta resta apenas a satisfação sempre cativa na preocupação dum fim de mês sem dinheiro. O campo espoliado e profanado ferve duma raiva indefinida. Eles foram, levaram tudo e só deixaram a desgraça.

Lisboa uma Prostituta

Políticos, não chega apostar em carreiras políticas nacionais que desembocam em cargos internacionais. A presença de Portugal no mundo, para não ser enganosa, exige mais de todos!… A nossa presença internacional, reduzida quase exclusivamente a políticos e a emigrantes, reflecte o nosso mal de raiz: muita conversa e saber indiferenciado; uns, em Lisboa, aldeões engravatados, o resto, aldeões trabalhadores. A uns e a outros resta uma chance, redescobrir a aldeia e então em Portugal voltará a haver lugar para a “Casa dos Vinte e Quatro”. Os homens bons, então, honrarão a cidade e o campo!

Para se estar presente na história e na cena internacional não chega a honra de tachos internacionais nem uma Lisboa de cara enfeitada, para inglês ver. O que é preciso é que Portugal e o povo português apareçam e se tornem Nação, e, assim, esta não seja apenas de alguns que, na periferia da história e da Europa, se mostram, de cara luzidia nos palcos internacionais, sem vergonha daquilo que escondem e que exploram. Uns desavergonhados, envergonhados do povo que dizem representarem.

Na época em que Portugal era povo, conseguíamos estar presentes no mundo, com a nossa fé, ciência e trabalho; éramos caravelas, feitas com todos os pinheiros de Portugal, que singravam ao vento da nossa vontade. Desde que os mercenários do poder se apoderaram de Portugal passou o povo a ter de trabalhar para eles ou a ver-se obrigado a emigrar para o estrangeiro à procura de pão e de honra!

É um escândalo o desinteresse pelo ensino e pela aprendizagem. É um abuso a impertinência dos nossos políticos.

Saramago, quando fala da solução União Ibérica, tal como já fizeram outros intelectuais em tempos passados, talvez o faça por desilusão completa e por verificar a verdadeira baixeza crónica em que nos encontramos.

Penso que, mais que em entregar Portugal a Espanha ou às internacionais, o povo tem que ser acordado por uma nova estirpe jovem de povo que conheça um pouco mais da história de Portugal, que não se deixe corromper e passe a trabalhar e a fazer trabalhar. Para isso é preciso fomentar a cultura e um ensino sério. Vai sendo tempo de dizer não a um ensino só preocupado com resultados balofos, a um ensino que premeia o suborno. O nosso Ministério da Educação não tem tido respeito nem por cultura, nem por professores, nem pelo povo; chega-lhes uma mediania que possibilite continuar a fazer do povo seu tapete, um povo que se quer apenas trolha. A falta de formação e o oportunismo facilitam a vida aos actores que fazem do negócio a entropia.

Assim, sendo embora Portugal um grande povo, continua a adiar a sua história!

António Justo

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António da Cunha Duarte Justo

Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

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