Curar é Santificar

O Poder da Ideia e do Espírito
António Justo
Em alemão a palavra curar tem a mesma raiz que a palavra santificar. Pressupõe uma relação dialógica íntima entre corpo e espírito. Ambos se encontram integrados numa realidade mais abrangente: a harmonia com as leis materiais e espirituais no confluir do finito como infinito. Para descobrir a causa do meu estado físico ou psíquico terei de descer ao meu interior porque lá se encontra a origem dos meus sofrimentos. Do mais íntimo de mim mesmo jorram as energias da vida. A impedi-las estão os nós provocados pelas intempéries da vida, pelo medo e pelas excitações.

Porque correr tanto à procura de fontanários, na tentativa de apagar a sede, de se curar, se a verdadeira fonte se encontra no nosso interior? Já Agostinho dizia: “Deus é-te mais íntimo do que tu mesmo”, e dele jorra a vida de que fazemos parte. Aí no encontro do divino com o humano surge a relação vital, o amor que tudo inebria. Daí jorra a santidade, o espírito que tudo vivifica e cura. O odor dos frutos, as cores das flores, o sorriso das pessoas são expressão do mesmo amor. Saúde é a harmonia da alma e do corpo mergulhados no meio divino: o oceano da ressonância do todo na vibração do nós. Neste estado mesmo os factores fomentadores de desarmonia podem ser reintegrados e purificados. Ao encontrarmos a nossa ipseidade, Deus, a vida, então tornamo-nos a sua chama, formando um todo: o eu e o tu tornam-se num nós. “Quando dois ou três se encontram em meu nome lá estou eu no meio deles”. A perspectiva da parte ao reconhecer-se na perspectiva do todo supera em si as barreiras da parte.

Doença é desarmonia, é desconhecimento, separação, é falta de vibração e de relação, é a vela sem chama. As doenças são gritos da alma à espera dum eco, dum fósforo que a acenda e crie a união. Este fósforo também pode ser uma esperança, uma oração, uma pessoa, um acontecimento, que provoque em mim um processo de abertura a mim mesmo e ao outro. Então a emoção, o sentimento de alegria produzirá no meu corpo os mesmos efeitos que o Sol provoca na natureza. A excitação exagerada pode provocar um sentimento de alívio momentâneo tal como a trovoada ou o furacão que passa; o problema são os estragos que deixa.

Se a alma sofre o corpo entra em compaixão com ela tornando fisiologicamente visíveis os sofrimentos interiores e as suas causas. Quando o sofrimento é grande precisamos dos outros, da comunidade para nos restabelecermos. Em cada um de nós se encontram mananciais de vida pura profunda à espera de serem mobilizados em nosso favor e em favor dos outros. Para isso é preciso olhar e ver também para dentro. A mente predispõe e a fé espiritual mobiliza o espírito. O pensamento e a fé são forças que nos transformam. Um pensamento aprofundado na meditação ou na oração espiritualiza-se.

Muitas moradas abertas e Xamanes esgotam-se ao tentar mobilizar as próprias forças da mente e do espírito para as transmitirem ao doente. A força curativa porém já está presente. A própria pessoa deve colocar-se em segundo plano procurando a harmonia do espírito e abrir-se à ressonância universal possibilitadora da transmissão da onda curativa. Não somos nós que curamos, é Deus que em nós cura e salva. Ao entrarmos numa relação íntima com a criação e com o criador aurimos então da profundeza do espírito comum, do nós, da força harmonizadora que nos dá acesso à fonte da santidade que possibilita a cura. A confiança no médico, no padre, no acompanhante e a atmosfera espiritual preparam o espírito do paciente para o circundar da energia curativa. Também a sugestão pode mobilizar as energias mais salutares desde que o paciente colabore e assim possibilite uma continuidade no processo de cura. “Não peques mais” e não deixes os outros pecar em ti! A esperança acompanhada dum espírito desanuviado é o melhor desinfectante, o melhor purgativo para o corpo e para a alma. Quem crê não está só!

Na ordem física o gelo exposto ao calor modifica-se. Também na ordem espiritual o contacto com o brilho do sol, escondido no nosso mais íntimo, possibilita a mudança de nós mesmos e o desatar dos nós que impedem o fluxo harmónico da energia vital universal. Tudo isto acontece sem esforço, para lá das nossas verdades, estereótipos e do nosso querer. Lá onde o eu descobre o nós trinitário, onde o nosso ser reza “tu e eu somos um”. Aí se estabelece o processo de cura e de salvação e se reconhece no Sol a força que dá energia a todo o ser e se vê, na sombra e na dor, apenas a ausência da luz.

O esvair do sol da tarde traz consigo o frio e a escuridão que nos impede de ver. O Sol da razão, por vezes é tão forte que nos impede de ver aquilo que mais de imediato nos rodeia. Também o sentimento chega a ser tão forte que impede de ver as coisas mais claras. A toupeira, que não sabe nada da luz, apenas sente o frio ou a escuridão da terra!… O ser aberto é guiado pelo coração iluminado, pela intuição. A cura pressupõe entrar no processo trinitário imbuindo o espírito e o corpo.

Também o sacramento dos enfermos terá que ter em conta as duas componentes, tal como era praxe nos primeiros cristãos. Para isso será necessária a força da ilusão e das ideias para entrar na força do espírito, para lá do espaço e do tempo. A verdade é que cura. Não há explicações físicas da medicina para o placebo, além dos problemas de explicação para o efeito da homeopatia além dos problemas da dor criada e da dor querida. A fé, imbuída numa atitude de esperança, influencia o processo da cura. Luc 18, 42:”A tua fé te salvou”. O efeito “nocebo” também produz o contrário da cura, uma fé negativa, ou a desesperança.

Naturalmente que seria perigoso tentar explicar o mal, ou a doença duma forma mono-causal ou com uma solução simplicista. Cada um acarreta não só com a responsabilidade própria mas também com a da espécie. É importante fortalecer-se o espírito para que o infecto não se alije na mente. A fé não pode ser tomada apenas como medicamento. Trata-se de não se deixar subjugar pelas ideias negativas (ideias micróbios), pela inércia, pela mediação nem pelo medo. O cérebro domina o corpo e condiciona o espírito. A cura depende duma observação exacta do estado e consciência da pessoa englobando as suas circunstâncias corporais, mentais, espirituais e sociais. A irradiação do curandeiro pode ajudar a acordar a fé curativa, a mover as energias positivas. A cura depende duma observação exacta do estado e consciência da pessoa, onde se encontra a doença e os sintomas. O mediador terá de estar preparado para corresponder à consciência e deixar-se conduzir pelo espírito que intuitivamente agirá.

Os sistemas encobrem a verdade materializando-a. A verdade é como a luz do amanhecer que vai arrumando a treva, a escuridão. Esta vê-se na dor, na falsidade, no sofrimento, na miséria.

Na oração o orador procura a verdade viva numa tentativa de afastar da realidade o manto da ausência de Deus, manto esse que, por vezes, encobre as coisas.

No processo da cura é fundamental a criação dum estado de espírito aberto ao espiritual, latente em tudo e em todos. Não se tratará de usar dum poder duma pessoa ou instituição mas de se descobrir na comunhão e em comunidade a força do carinho que nos envolve. Uns falam da força da fé, outros dum magnetismo ou fluido que no fundo tem tudo a ver com a influenciação recíproca de corpo e espírito.

A excitação da faculdade imaginativa, bem como os ritos podem criar uma predisposição para mover a força do espírito, para a entrega nele. Não se trata de curar através duma crença mas de se tornar Emanuel. Então entraremos numa consciência de tudo abençoar, de tudo perdoar. Aí o fluxo da energia divina, o fluxo do amor envolve-nos, inebria-nos e o processo curativo e santificador inicia-se. Neste estado, a causa da doença desaparece. Pressuposto para a cura do corpo é a saúde do espírito.

As nossas ideias e sentimentos têm a sua quota-parte tanto no envenenamento do corpo e a alma como na sua purificação. As nossas ideias são as sombras do espírito pelo que no exercício da cura teremos que procurar transformá-las para entrar na ressonância com o espírito. O texto, a letra matam, revelando apenas a sombra da ideia, do espírito.

Numa linguagem um pouco estática poderíamos dizer que a matéria é a sombra do espírito ou a sua ausência, numa vivência dinâmica diríamos que o espírito é a outro lado da matéria. Há uma unidade essencial entre espírito e matéria já reconhecida no mistério da Trindade. Deus é vida, amor, verdade, corpo, alma e espírito. Na incarnação o Homem enche-se de Deus.

A moral consciente, o amor ao próximo, a humanidade, a esperança envolvida são os luzeiros a alumiar o caminho da alma. No falar se manifestam metáforas do espírito, da realidade. O espírito pentecostal transforma a palavra em Jesus Cristo. Verdade é acontecimento. Tal como o sol é o centro no qual se orientam e descansam todos os seus planetas, também no ser humano o seu centro estabilizador é a alma, o espírito. Assim se conseguirá ultrapassar os limites do parecer da matéria e entrar na harmonia do ser, na ressonância do espírito. Neste sentido terá de ser feito um esforço por integrar a ciência espiritual com a ciência material, para que a fé material não destrua a fé espiritual nem vice-versa. Assim como antes da acção está a ideia, antes do físico está o espírito.

Ao magnetismo do amor que tudo vivifica corresponde o magnetismo da coesão das coisas que num equilíbrio de força centrípeta e centrífuga dá coesão às coisas. Só o amor, o espírito subsiste por si e resplandece energia; o resto é sombra. Com efeito, o espírito alonga a vista e o horizonte sem negar a matéria, tornando-a apenas transparente. Entrar na harmonia divina significa actualizar a força, a natureza de Cristo e nessa tenção curar com o amor divino na procura do verdadeiro ser. O caminho, a órbita da vida é amor. “Ide por todo o mundo e anunciai a Boa Nova, curai os doentes e amai o vosso próximo como a vós mesmos”, dizia o Mestre de Nazaré. Trata-se de clarear o espírito para que este transforme a natureza.

Precisa-se duma cultura sã imbuída do amor que, como o fogo, transforma mesmo o ferro mais duro. Onde não há amor domina a violência ou a entropia. Até a hormona amígdala premeia o hábito mesmo que este seja doloroso. Toda a fixação é contra a vida: o físico quer satisfação e a alma aspira a perfeição. Habituados ao ser da noite apreendida como sendo a realidade, já não notamos a ausência da luz. A noite é apenas a ausência de luz. O espírito terá de prevalecer sobre o corpo porque pelo espírito é que tomamos parte na eternidade. “Já não sou eu que vivo é Deus que vive em mim”, constatava Paulo.

António da Cunha Duarte Justo

RÚSSIA VINGA-SE NA GEÓRGIA – EUROPA CONDENADA A ASSISTIR

Esta é a hora da Rússia

António Justo

Os interesses estratégicos e económicos do Ocidente colidem com as zonas de influência da Rússia. A União Europeia, não pode permitir-se um confronto com a Rússia devido à sua situação e aos grandes interesses económicos naquela região. Além disso a intervenção no Afeganistão precisa de passar pelo território russo. Por outro lado os europeus e os americanos fizeram o que quiseram intervindo na antiga Jugoslávia sem a cobertura do Direito Internacional e sem respeitar os interesses russos nessa região. A independência reconhecida unilateralmente ao Cosovo e fomentada pelo Ocidente foi a última acha na fogueira da irritação russa. A humilhação da Rússia com aquela separação da Sérvia exigia uma resposta dos russos. O ‘efeito dominó ’ de separatistas cúmplices era de esperar; para mais numa zona comum tão importante de influências.

O Ocidente está muito preocupado com o Iraque, o Afeganistão, o Irão e com o Paquistão que é um barril de pólvora quase a rebentar. Entretanto a Europa tornou-se mais dependente da Rússia devido à dependência do seu gás e pretensão de controlo dos gasodutos. Por outro lado o Ocidente tem feito o que lhe apetece e agora a Rússia pensou que é chegada a sua hora de também fazer o que bem lhe dá na gana. A Ossétia do Sul e a Abkhazia oferecem o melhor pretexto para desestabilizar a Geórgia, aos olhos dos russos, demasiadamente interessada na Europa. Neste conflito trata-se de assegurar pontos estratégicos para a Rússia, os interesses das populações são sempre desviados do caminho do poder e do mais forte, independentemente do credo político ou geográfico.

Com o escalar da confrontação seguir-se-á o aumento da espiral do armamento mas sem o perigo da guerra-fria. Para os “crentes” este é um momento de dolorosa desilusão porque afinal a Rússia acorda e o homem não é tão bom como parece! A União Europeia vive do seu crescimento económico, pelo que não se pode permitir qualquer confronto sério na defesa de direitos humanos ou do direito internacional. Além disso, os interesses europeus continuam divergentes, atendendo ao flanco mais nórdico e ao flanco latino bem como aos interesses americanos e ingleses que por vezes colidem.

À EU resta-lhe a retórica, para poder dar a impressão aos seus súbditos de que defende uma causa justa, numa luta de interesses económicos e estratégicos. Na opinião publicada tem-se atacado a Rússia de não cumprir o acordado com a EU na pessoa do seu presidente Sarkozy; de facto porém, ninguém conhece o documento acordado. Só conversa, para dar a impressão de que a Europa ainda consegue fazer alguma coisa. Isto porém não passa duma dose para alimentar jornalistas. A Rússia não voltará atrás atendendo aos seus interesses na Ossétia do Sul e a Abkhazia.

No meio dos interesses globais estratégicos das potências, a Europa é fraca, saindo agora mais enfraquecida ainda. A fraqueza porém talvez seja a sua vantagem (oportunidade)! Alemães, franceses e ingleses sentem-se demasiadamente interessados nas suas economias para poderem afirmar-se perante a América e para estarem interessados nos interesses essenciais duma Polónia, obrigando esta a ter de se encostar aos americanos, tal como outros países da antiga cortina de ferro.

O desejo da Geórgia e da Ucrânia para serem incluídas na NATO torna-se assim mais premente mas mais distante. O presidente da Geórgia Saakaschwili ao atacar a Ossétia do sul onde estavam presentes 500 soldados russos cometeu um grande erro. A Europa e outras potências hipotecam os seus interesses económicos e estratégicos pagando a presença militar em estados como Cosovo, que, por si mesmos, não têm condições para se afirmarem como estados independentes mas que serão o preço da desavença das grandes potências e o problema das regiões fronteiriças.

A Rússia com esta curta guerra conseguiu destruir as infra-estruturas da Geórgia e impedir que o Nabucco – gasoduto, que deveria trazer o gás da Ásia central para a Europa, saísse da zona da sua influência.

Assim a Europa ficará sempre dependente do capricho da Rússia em questões de energia. A comunidade mundial vozeará mas os interesses dos mais fortes vencerão à custa dos interesses dos povos pequenos. Também a China não estará interessada em apoiar a Rússia devido ao seu problemas com o Tibete e outros grupos separatistas. Por mais retórica publicada que haja prevalecerão os interesses das potências, neste caso, os interesses russos.

A EU terá de dar uma no cravo e outra na ferradura atendendo aos seus interesses económicos na Rússia. Por isso vários países da Europa de Leste se sentem mais seguros na companhia dos americanos. Verdade é que, já pelo facto geográfico, a Europa precisa da Rússia e a Rússia precisa da Europa, para quando a China acordar, lhe poderem fazer frente.

A Ucrânia tem razoes para tremer perante a guerra russa na Geórgia. De facto as comunidades russas presentes na Ucrânia constituem um bom meio para manter a nostalgia russa servindo de pretexto para a Rússia criar lá centros de instabilidade. A Europa estará disposta a sacrificar a Geórgia; o problema está no interesse geo-estratégico americano.

Com a vitória russa a EU não estará interessada em incluir tão depressa a Geórgia na NATO, pois a Europa já está farta de guerras. Os novos amigos da NATO metem medo aos europeus! No caso de conflito local toda a Europa estaria envolvida.

Assim, os direitos humanos e a Democracia passam para assuntos secundários quando está em jogo o poder económico e estratégico. Contudo, no leste, nos países de influência árabe e na China, a democracia e os direitos humanos terão menos chance que no Ocidente. O desejo do Ocidente por ver a democracia em toda a parte cada vez se torna mais um sonho.

Com o desejo de autonomia dos Bascos ninguém se interessaria porque não se encontram em linhas demarcadoras de zonas de influência estratégica. Assim o Direito Internacional continuará a ser tão torto como as linhas fronteiriças a que se aplica. Direito, em questões “relevantes” é a razão do mais forte. O resto é retórica paliativa para pessoas boas ou para o foro privado. O avanço histórico é sempre ziguezagueado.

Portugal encontra-se demasiado longe para poder perder ou ganhar neste conflito. Quem mais perde ou ganha com isto é a Europa Central. Portugal e outros estados europeus encontram-se longe do centro, para poderem ter qualquer influência ou uma palavra a dizer. As zonas de interesse estratégico da península ibérica estarão na África e na América Latina.

Portugal precisará de congregar todo o seu esforço político e económico para corrigir os erros ideológicos e estratégicos cometidos no processo da descolonização das antigas províncias ultramarinas. Para isso será necessária uma nova geração de políticos que não esteja cúmplice na traição dos interesses económicos e estratégicos seguidos até à revolução de Abril.

António da Cunha Duarte Justo

PORTUGAL ADIADO

Dos Senhores Livres com Trela democrática

A Democracia é um processo em desenvolvimento nunca acabado num Estado onde grupos de interesses se unem e combatem. Estes servem-se do sistema democrático que em nome do povo os legitima. Nele, os políticos acham-se com razão em servir-se do povo por este precisar deles. A crença pode muito e serve muitos! O socialismo chama-lhe ópio, hoje será partido, será governo, também é socialismo!
A Democracia pressupõe uma consciência adulta, uma relação equilibrada entre Estado e Povo, entre dirigentes e dirigidos e das classes sociais entre si.
A doença individualista lusitana é republicanamente crónica! Não tem lugar para o outro. O Povo não conhece o Estado nem este conhece o Povo. Todos se servem ou procuram servir-se. Um Nação de necessitados e comprometidos onde todos andam armados em carapaus de corrida. Só vale a opinião, a revolução parece ter prescindido da lógica e ter inaugurado a era do pós-fático.
O individualismo é de tal modo míope que só chega a atingir o alcance dos próprios passos, ou, quando muito, os da “família”. Não existe a colectividade! Dado toda a nação sofrer do mesmo mal, tem-se grande compreensão pelos oportunos governantes. Também estes são filhos envergonhados duma mãe povo, a quem consideram prostituta. Cada uma se safa como pode. Quem se safa com o colchão ao lado da estrada, ou com o colchão do Estado tem um destino comum e comunga do mesmo espírito: a oportunidade!
De facto, há eleições mas não há diferença na governação. Os eleitos procuram aproveitar o tempo do seu estado de graça para se servirem e ajudarem alguns amigos, também eles à cuca duma oportunidade. Trabalho sério, bem preparado e programado não é moderno e destoa na música do progresso. O óbvio é o fácil e leve, o rentável imediato.
A administração continua a empatar a Nação e a fazer perder tempo a quem quer trabalhar ou quem deseja cumprir as leis. Anacrónica mas convencida sente-se omnisciente; para sobreviver basta-lhe saber “o chefe disse” e… pronto!
A grande pobreza do País está na deficiência cultural, de que uns poucos vivem bem; o grande contra democrático é a carência do Estado-Direito.
Despachos e decretos criam subsídios de milhões. Porém, quando o inocente cidadão concorre ao subsídio já não há verba. Depois sabe-se, ela foi aplicada na totalidade no apoio dum beneficiado do ministério. Os moinhos da burocracia, geralmente morosos, então funcionam rapidamente, mas não a bem da nação e menos ainda a bem do povo. Há despachos a mais para despachar e legalizar ilegalidades ou compadrios…
Todos se queixam. Queixam-se os políticos dum povo estúpido e indiferente; queixam-se os ministros e secretários de Estado de publicarem Decretos a sua administração arcaica não os cumprir. Viram-se então para as novas tecnologias mas estas são feitas para um povo ainda a criar. Refugiam-se no fomento dum mundo virtual que prima pelo modernismo e pela satisfação das estatísticas altas no uso de aparelhos mais sofisticados. Ninguém se preocupa que a gente não compreenda as indicações técnicas nem a letra miúda. O governo decreta progresso e toca a flauta do modernismo; a massa embora desafinada e fora de ritmo canta e dança. Progresso é movimento e movimento é progresso, o resto é conversa! Viva a democracia e os seus tocadores! Aproveitemo-nos da festa da democracia enquanto ela dura; depois Deus dará! Resta a consolação. Casa em que falta o pão todos se queixam e ninguém tem razão, dizem os acomodados no canto com o seu naco de pão!

Um País Adiado

O País encontra-se em situação de adiado. Se vais ao Hospital e tens lá alguém conhecido és atendido; doutro modo vais para a bicha sem fim.
Se tens um conhecido na Câmara Municipal é resolvido o teu problema ou és lá metido. A instituição ainda não conhece o cidadão. Conhece sobretudo compadres, amigos e filiados no partido.
Vai-se à Caixa Geral de Aposentações e, mesmo antes de se expor o problema, logo a senhora no guiché 8 te fala de impossibilidades como se te conhecessem e tivessem a lei e o governo na barriga.
Portugal é um país avançado; tem leis avançadas e até livros de reclamações. Esqueceu-se porém de criar estruturas sociais e cívicas que possibilitem ao povo a capacidade de os usar. Portugal pretende ser Lisboa, para inglês ver, o resto, verbo-de-encher!
Faz-se um requerimento ao secretário de Estado pedindo fundamentação jurídica pelo não cumprimento duma lei por parte da Tutela e logo se recebe resposta cabal: “o senhor secretário indeferiu através de despacho” e pronto!… Assim se despacham a lei e as pessoas neste país virtual!
Neste país de telenovelas e de futebol, também na vida particular não se está muito disposto a ouvir o outro. Se se ouve um pouco é para o interromper e logo o abafar.
Será que o mundo está na mão de oportunistas. Isto está mesmo mal para muita gente; antigamente ainda se podia dizer “valha-nos Deus”; hoje só o Diabo parece ter crédito.
Entre os ricos e os pobres que temos e somos, somos pobres com pobres à frente das freguesias, das Câmaras, dos Parlamentos e dos Governos.
Pobreza cria pobreza! Para que serve a riqueza no criticar? Os cínicos já servidos e que bem entendem dirão: para ajudar a enganar!
Valerá ainda a pena mexer as ideias e as pessoas?
Do pouco que ouvi ao PM Sócrates, nas férias que acabo de passar em Portugal, fiquei com a impressão de que ele é o ópio do povo. Neste país o dom da palavra é tudo. O sonho e a ilusão ainda acalmam. Há que mentir mas com convicção. Se se mentir com voz firme e grossa o povo aceita. Ai da verdade que tenha voz fraca e não decidida! O povo não a entende!
Da Oposição também não há nada a esperar. Sofre dos males dos da governação e pode dar-se ao luxo de impedir-se a si mesma. Assim se cria lugar para oportunistas grandes e pequenos da pobre situação (Nação).
Que nos resta? A Virgem Maria e o futebol?… Talvez a esperança se não fora a coleira do hábito.
António da Cunha Duarte Justo

O Avanço do Islão dá Razão à sua Estratégia de Islamização do Mundo


A Turquia já é muçulmana. As últimas ilhas cristãs no mundo dominado pelos muçulmanos parecem ser o Líbano e a Etiópia que se terão de render também eles à sua pressão.

Numa perspectiva muçulmana a sua estratégia revela-se eficiente e vitoriosa. Na realidade quem vence conquista geralmente a razão e torna-se também o dono da verdade. Facto é que as regiões onde o islão entra tornando-se maioritário, essas zonas vão sendo pouco a pouco purificadas de todas as outras religiões, sejam elas o animismo ou mesmo o Cristianismo. Nas regiões onde entram instalam-se em guetos e daí organizam a sua influência. Têm com eles a paciência e o orgulho de saberem que vencem porque têm o deus Alá do seu lado.

O islão afirmou-se no Médio Oriente, que era o berço do Cristianismo, através da sua convicção e da identificação da identidade civil com a identidade religiosa: a sua Nação é o Islão, o resto é constructo decadente. No mundo islâmico o conceito Nação foi fomentado pelos cristãos em minoria, o que os tornou suspeitos como cidadãos nos regimes muçulmanos. No tempo em que os portugueses ainda se lembravam dos árabes, foram também eles eficientes nos seus descobrimentos!… Agora é a hora do islão!… O Mamon petróleo pode muito e também a nação está à disposição dado cidadãos serem incómodos pelo que há pressa em fazer deles proletários carentes.

No tempo das conquistas os soberanos muçulmanos subjugavam os seus súbditos cristãos com um imposto especial (Sura 9,29) sendo apoiados pela pressão social muçulmana duma maioria consciente que se sabia na posse duma verdade superior à dos cristãos. A medida islâmica de determinar que é muçulmano quem tem um pai muçulmano e de proibir aos cristãos o casamento com mulheres muçulmanas ou de quem deixar de ser muçulmano arriscar a própria vida parece dar-lhes razão. De facto, ainda hoje há muitas mulheres de outras religiões que ao casarem com um parceiro de religião diferente, abandonam a sua para adoptarem a religião do marido.

Muitos cristãos, para fugirem à repressão e discriminação tornam-se muçulmanos ou emigram. É o que nos tempos modernos acontece na Turquia, no Iraque e noutros países africanos de influência árabe. Assim, dos países pré-islâmicos, antigamente cristãos, ainda se encontram alguns redutos de arménios, Coptas, Sírios, Arameus, Etíopes, Eritreus, e Caldeus.

A estratégia muçulmana é fomentada por uma elite política europeia que apenas acredita no comércio e desacredita a própria cultura e a sua alma cristã. A religião e a política querem-se como o sal na comida! Os muçulmanos com o seu monoteísmo absolutista ganham razão perante outras civilizações em que o relativismo cultural já mostra a sua fraqueza latente. Há que aprender não só dos relativistas mas também dos absolutistas. Estes, da sua perspectiva têm razão em considerarem-nos decadentes.

Naturalmente que somos mais avançados com o nosso secularismo, mas, de facto os romanos também o eram e como nós preocupavam-se apenas com o “cum quibus” e desprezavam os seus deuses. Os bárbaros mostraram-lhes então como se faz História!…

O progresso tem o seu preço. Pena seria que os nossos progressistas na sua unilateralidade, em nome do modernismo e do socialismo, preparassem o retrocesso e a lógica hegemónica do poder e duma moral vulgar fácil. Então talvez seja possível a homossexualidade masculina mas coitadas das lésbicas e dos mais fracos.

Com o êxodo dos cristãos do Iraque e do médio oriente a monocultura islâmica ganha; porém com ela perde o mundo aberto à diferença.

O islão não permitirá uma pluralidade religiosa enquanto se afirmar através da jurisprudência e não aceitar uma ciência teológica.

Ele afirma-se sem contrapartidas para a outra parte. Será que estamos a preparar a Era do absolutismo ideológico e económico? Então será tudo mais fácil: Teremos a paz dos que mandam e a dos que obedecem; teremos a área masculina e a área feminina; o nosso Céu e o Inferno dos outros.

Perseguição aos Cristãos no Iraque

Cerca de 150.000 – 200.000 cristãos iraquianos vivem no exílio. São obrigados a sair da terra que já os acolhia antes do islão ter chegado. Os muçulmanos iraquianos arranjam todos os motivos para atacarem os cristãos. Argumentos para justificar a discriminação não faltam: proibição do exercício duma profissão em que cristãos tocam em muçulmanos ( médicos, cableireiros…). Argumentam que o Corão não o permite visto os cristãos serem considerados impuros; para o não serem devem converter-se. A identificação dos cristãos com os americanos vem mesmo a calhar!

Nas casas abandonadas pelos cristãos vivem agora os seus perseguidores. Alguns que voltaram foram assassinados. O assassínio dum padre e o rapto do Arcebispo Paulos Faraj Rahho, que morreu nas mãos dos raptores, querem sinalizar que os cristãos iraquianos têm que abandonar o Iraque.

É escandalosa a atitude dos políticos que não dizem uma palavra de apoio moral aos cristãos perseguidos. Em vez disso, como se nada fosse e para alardearem o seu multiculturalismo, organizam conferencias inter-religiosas para darem mais direitos religiosos aos muçulmanos sem qualquer contrapartida. A tolerância deve fomentar-se dos dois lados. Os minaretes que, pela Europa fora, se vão erguendo são lanças contra o povo ortodoxo e outros exilados cristãos que vivem em países cristãos devido ao contraste do trato. Os muçulmanos podem contar com a cobardia do Ocidente em nome duma tolerância irresponsável. Naturalmente que individualmente e como pessoas não deve ser distinguido entre eles e nós; todos devem participar dos mesmos direitos e dos mesmos deveres; direitos culturais deveriam ser vistos na reciprocidade. A dignidade humana não pode ser condicionada à religião ou credo.

António da Cunha Duarte Justo

De Férias por Terras de Portugal

Acabo de passar férias em Portugal na “Quinta Outeiro da Luz” na Branca: uma terra amena do Norte, perto de tudo e de todos, onde o mundo ainda parece encontrar-se em ordem!

A uma distância suficiente de Lisboa, reflecte bem a paisagem e a cultura portuguesa. Enquadra-se nas Terras de Santa Maria, a 60 km de Coimbra, a 50 do Porto, a trinta de Aveiro e a trinta da Serra da Freita. Nesta terra acolhedora e farta, pertencente a Albergaria-a-Velha, as pessoas, mesmo desconhecidas, ainda se saúdam na rua e conjugam equilibradamente a tradição com a modernidade.

A vida e o progresso desta terra mostram que palavras-chave como indivíduo, família, propriedade, economia liberal, igreja, permanecem mensagens válidas e promissoras de futuro.

Aqui ainda se servem, bem e barato, os tradicionais pratos da cozinha portuguesa. Por isso ia todos os dias comer ao restaurante P…, onde, com mais três pessoas, pagava, no conjunto, um total entre 16 e 20 euros. Naturalmente que aqui não se pagava nem esperava o requinte e o artificio mas era-se compensado com a simplicidade, a atenção e a alegria, características do povo trabalhador nortenho.

A beleza da paisagem, a riqueza da cultura, as festas e eventos exuberam por todo o lado.

De resto: um país maravilhoso com um grande povo em contínua elaboração, ainda por completar; um país medíocre, se atendermos aos seus governantes autistas; um país à margem do seu povo e da nação, se atendermos à sua Administração e outras instituições relevantes; um país de envergonhados e desavergonhados, se atendermos a uns e a outros; um país excepcional que subentende a excepção à regra.

Regresso contente mas com um vago sentimento de pena: de pena da gente simples, de pena dos cães e animais ainda não respeitados; de pena de tantas esperanças desbaratadas e de tanto trabalho dispendido mas sem o resultado que seria de esperar.

Regresso com a impressão de ter contactado um povo em estado de erosão. Verifiquei um certo espírito de indolência e de indiferença que se refugia na nostalgia dum imaginário prometedor mas enganador. A maioria vive sufocada pelas amarras da informação, do telejornal, das telenovelas e do artificialismo político. Um cinismo sub-reptício parece ganhar forma.

No espírito de muitos falantes parece pairar um certo individualismo emigrante: o reverso do sebastianismo.

Cansados do centralismo da capital e dum alarido político que tudo domina e ameaça destruir as sub-culturas mais recônditas e sossegadas, muitos, parecem ter já resignado e encolher os ombros, entregando-se à inércia de poderes governantes, que a força do destino ciclicamente vai colocando: os deuses do Olimpo democrático é que podem e sabem!….

Uma cultura política de lugares comuns vai vivendo do povo e da nação. O contento dos contentes parece implicar necessariamente o descontentamento agachado do povo português. Este tira à cultura e ao descanso o que lhe falta para a boca. Se em Lisboa se vive do sarcasmo e da ironia, um sentimento individualista leva o homem da província a evadir-se e a distrair-se da própria impotência e da impotência da nação. Parece restar-lhe assumir o cinismo vigente nos corredores ministeriais de Lisboa, que se ri de Portugal como nação.

Quem vê Portugal, como eu o faço agora da Alemanha, fica com a impressão que falta a Portugal uma atitude de pensamento. Este parece derramado pelas toalhas das mesas das elites da nação, a que falta um modelo consensual de elites de Portugal.

Assim se vai destruindo a nação e a natureza reduzindo-a à medida dos planos, dos planos de outros!….

A ideologia do progresso parece quer distrair-nos de pensar, alucinando-nos. Quer-se a mudança pela mudança sem respeito pelo dado; não se dá tempo para a mudança, nem se reserva tempo nem há capacidade para a reflectir. È mais fácil seguir a música dos outros. É mais fácil ser-se dançarino do progresso das palavras e das ilusões. A Nação e o Povo são apenas o palco!…

António da Cunha Duarte Justo