Violência – Uma Reacção Inadequada

Violência – Uma Válvula de Escape numa Sociedade Tolerante?
Dois Massacres escolares dentro dum ano na Finlândia
António Justo
Numa escola profissional de kauhajoki na Finlândia, um jovem de 22 anos matou, na terça-feira passada, 8 mulheres e 2 homens, suicidando-se, por fim, com uma arma de fogo. Ele tinha anunciado o “massacre escolar em Kauhajoki”na sua página de Internet. Queria matar o maior número de pessoas.

Também no mesmo país, em Novembro passado um aluno de 18 anos tinha matado 8 pessoas, suicidando-se também ele. Na Finlândia é permitido o porte de armas a partir dos 15 anos.

Que motivos estarão por baixo de tais acções?

Normalmente os assassinos são pessoas estranhas que vivem isoladamente, individualistas, movidos pelo ódio e pela vingança.

Habituados a uma sociedade que não reconhece a normalidade e a uma opinião pública irrigada de superlativos, querem para si também o estatuto de superlativo. Já que não se é o melhor é-se o pior. Então a sociedade tomará nota dele!…

Quando tão alto grau de agressão encontra o seu lugar de expressão na escola, já a sociedade se encontra muito doente.

A violência e o mau exemplo estão presentes por todo o lado: sociedade, família, escola, TV, tempos livres, etc.

O grau de tolerância da violência e da agressão é muito grande na opinião pública. Ninguém tem coragem de se declarar contra a violência, publicamente. Não se liga já a pessoas que gritam por ajuda.

O anonimato da sociedade torna-se a antecâmara da violência.

Ninguém tem tempo para as crianças; ninguém presta atenção ao seu carácter único; não são tomadas a sério e ninguém as tem em consideração.

Muitas vezes a violência não passa dum grito por amor, por carinho. Os sentimentos, depois de muito sofrer, acabam por morrer. Uma vez mortos automatizam-se, perdem a relação com as pessoas e com as coisas. Na falta de relação com pessoas a personalidade definha e com ela a dignidade. A desilusão torna-se tão grande que não encontra resposta capaz para as suas preocupações. O acto brutal torna-se então natural. A frustração transforma-se nesse caso em violência contra os outros ou, através da depressão, em violência contra si memo.

Surge assim uma válvula de escape para tanta agressão acumulada.

Não chega aprender a lidar com as agressões através de carate, jogos e filmes, jogos de futebol… Os sentimentos de agressão fervem demais por todo o lado. Parecem resposta inadequada a tanto vandalismo ideológico, material e espiritual, em voga e à falta de consideração.

Mais que uma atitude social que apregoa a tolerância como remédio para todas as suas contradições, precisa-se duma postura social que fomente uma cultura do amor e do carinho. Para se dominar a violência não chega o empenho na educação; é necessária uma mudança de mentalidade e atitude em todos os sectores sociais.

Uma sociedade, cada vez mais estruturalista que prescinde da pessoa não se pode admirar que indivíduos, seus produtos, abdiquem de si mesmos e prescindam dela também. Coitados dos mais fracos. Coitada da sociedade quando estes se vingam.

Resta-nos passar duma política social da defensiva para uma cultura da confiança. Uma cultura e uma personalidade, que aceita a sua luz e a sua treva e não reserva o louvor para si a culpa para o outro, terão os pressupostos para se melhorar.

Há que ter compaixão com os réus e com as vítimas, misericórdia connosco mesmos e com os outros.

António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com

Portugueses da Diáspora impedidos de votar por correspondência

LEI PARTIDÁRIA PRIVILEGIA A ESQUERDA

António Justo
Os ventos da democracia sopram bem para os Zé-pereiras da Política. O Projecto-lei nº 562/X proposto pelo PS passou ontem (19.09) no Parlamento. A alteração da Lei Eleitoral, ao proibir aos emigrantes a votação por correspondência para as legislativas, vem servir os interesses da Esquerda portuguesa, atendendo à sua implantação em torno dos consulados portugueses na Europa. Assim se excluem os votantes portugueses que vivem a centenas de quilómetros dos consulados onde terão de ir para poderem votar. Se em Portugal se tomasse a mesma medida, e as pessoas não poderem votar no lugar de residência, naturalmente só os negociantes políticos se deslocariam tão longe para votar.

Este é um golpe bem dado contra o PSD, a quem falta uma estratégia de implantação nas comunidades migrantes e de ocupação de lugares estratégicos da Administração, ao contrário da esquerda.

Sócrates, a um ano das próximas eleições (Outubro 2009), já vai preparando as próximas eleições para o seu partido. O álibi da eleição de 4 deputados representantes de 5 milhões de emigrantes, para um parlamento de 230 deputados, não irá piorar com a redução de votos de emigrantes dado a política portuguesa de emigração ser apenas simbólica e o oportunista.

Nos últimos 30 anos de empenho directo na diáspora serei levado a concluir que o Zé-Povinho se encontra sempre do lado da carência e dos explorados. Não têm tempo nem predisposição para se ocuparem com a política, que em Portugal já há centenas de anos se encontra quase sempre nas mãos de mercenários. O povo ainda continua a ser tradicional acreditando em valores humanos. Talvez por isso ainda não arrisque na política.
Os Zé-Pereiras da Política podem fazer o que quiserem. Podem também abusar do povo que ninguém lhes pede contas. Só lhe resta já o privilégio de votar. Votar sempre nos outros! Ao povo resta-lhes a possibilidade de canalizarem a agressão contra o vizinho.

O exemplo da legislação entrada em vigor é um pequeno exemplo e prova de que as instituições e a economia começam por ser para o bem do Homem e depois depravam-se vivendo para elas mesmas. Um tal estado de coisas não edifica o Estado, fomenta apenas a “ordem” dos que vivem a custo da ordem!…

Portugal não tem a consciência de nação nem de quem a incorpora. Com esta lei o PS rouba a dignidade ao povo para acrescer ao partido.

Esta fraude eleitoral, tal como outras, em termos de sociologia portuguesa, pertence às questões do destino e por isso pertence, como a nação ad acta. Já que o Portugal real que temos está à disposição de alguns; para os outros, os contribuintes reais resta-lhes o Portugal Virtual.

Mais esta iniciativa partidária legislativa, tal como a extinção da conta emigrante e o impedimento dos portugueses residentes na Europa não poderem terem os mesmos direitos que os outros europeus têm, de comprar o carro onde querem sem impostos suplementares, deve constituir motivo para os emigrantes se unirem e se organizarem em grupos de interesses.

António da cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com

PS e PC contra o Voto por Correspondência!

DESCARAMENTO DO PS CONTRA OS EMIGRANTES E CONTRA O PSD
Projecto – Lei contra o voto por correspondência
António Justo
O projecto-lei socialista de acabar com a votação por correspondência na diáspora portuguesa não passa duma medida partidária no sentido de arrumar com os votos da concorrência.

Os Factos
Em 2005 os resultados das votações no Ciclo da Europa foram PS 53,3% e PSD 26,7% e no Ciclo Fora da Europa PS 26,7% e PSD 58,4%.

A organização sindical e política das estruturas consulares portuguesas da Europa encontram-se nas mãos da esquerda. A impossibilidade da votação por correspondência vem privilegiá-la atendendo a que os locais de voto são nos consulados, zonas com melhores infra-estruturas da esquerda..

Muitas comunidades portuguesas encontram-se muito distantes dos consulados. Deslocações de várias centenas de quilómetros para se deslocar ao local de voto são inadmissíveis.

Enquanto que a estratégia da Esquerda tem sido ocupar todas as posições de relevo a nível de Administrativo e de Serviços na Europa e nos meios associativos das grandes cidades, o PSD apenas tem seguido uma estratégia ad hoc e pessoal sem visão partidária nem perspectivas a longo prazo.

A esquerda não tem mão nas comunidades fora da Europa, ao contrário do que acontece na Europa.

A iniciativa legislativa apoiada pelo PC é uma medida para estrangular a votação do Ciclo fora da Europa e, na Europa, de impedir que núcleos, fora dos centros de influência da esquerda possam votar por correspondência.

O Projecto-Lei do PS pretende obter maior abstenção porque com ela é que ele ganha.

A Esquerda faz tudo por instaurar um estado partidário à margem dos cidadãos. Por outro lado a ala Centro Direita é demasiado individualista e desinteressada para se empenhar nos interesses do seu ideário.

A argumentação PS com “a questão de transparência” do voto é um pretexto barato e atrevido.

Ao afirmar que a transparência que se adquire com a anulação do voto por correspondência é “ importante para haver a certeza de que quem exerce o direito de voto é o titular e não terceiro em seu nome”, posiciona-se claramente contra toda a prática de votação europeia. De facto nas democracias ainda com um pouco de respeito pelo eleitor, tal como aqui na Alemanha, é usual, recorrendo-se muito ao voto por correspondência.

Porque é que um PS tão puritano não decreta também a impossibilidade de os portugueses votarem por correspondência para os deputados do parlamento europeu? A lógica e os perigos são os mesmos. Em nome da transparência se consegue enrolar o povo, servindo-se interesses partidários mentirosos contra os portugueses da diáspora.

Atendendo à rede instalada, pela esquerda, em torno dos consulados e serviços sociais na Europa, o PC votará a favor da lei dado esta ser mais uma medida na estratégia de defesa dos interesses partidários.

Concretamente, para a emigração, isto pouco aquece ou arrefece dado todos os partidos com assento no Parlamento serem geralmente abstencionistas no que toca aos verdadeiros interesses dos emigrantes. O governo acabou com a conta poupança migrante e ninguém se interessa. O governo paga milhões de multa à Europa para que os emigrantes portugueses na Europa não possam trazer para Portugal os seus carros sem encargos fiscais, etc.

A democracia, entregue a gente deste calibre, apenas interessada na instauração dum estado partidário, é desvalorizada e corre cada vez mais perigo. Eles não conhecem o cidadão e até já se atrevem a prescindir de eleitores. É preciso descolonizar a Nação dos colonizadores de Abril! “Eles comem tudo e não deixam nada…”

Este Governo, que aposta na virtualização de Portugal, para assim o melhor amarrar a Lisboa, porque não virtualiza também o sistema de votação?

Onde só há povo e faltam os cidadãos a “nomenclatura” ocupa o Estado!

António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com

COMO TRATAR O CANCRO

Um Médico consegue armar-se contra o Cancro
António Justo
Dado contactar no meu dia a dia com pessoas com cancro, acrescento aqui algumas ideias sobre o assunto, recomendando a leitura de David Servan-Schreiber.

David Servan-Schreiber neurólogo e psiquiatra, depois de ter visto curado o seu tumor maligno no cérebro, passados sete anos, teve uma recaída aparecendo-lhe um segundo tumor maligno. A partir daqui não se abandonou nas mãos dos médicos, questionando-se sobre o que deveria fazer ele mesmo para interferir no processo de cura. Neste sentido procurou acompanhar a chemoterapia também com meios alternativos.

Constatou que o fortalecimento dos mecanismos de defesa do corpo era essencial para impedir o crescimento do tumor. Nas suas experiências verificou que o gene não é decisivo para o aparecimento do cancro. Mais determinante parece ser o solo alimentício que as células cancerígenas encontram no corpo. Uma vez que o cancro tenha aparecido, a alimentação não o pode dominar sozinha. O sistema imune, sozinho, é uma arma demasiado fraca contra o cancro. Mas uma vez que se tenha dominado o cancro através dos métodos convencionais, então é preciso fortalecer-se o sistema imune através duma alimentação natural adequada e dum estilo de vida equilibrado para que o cancro não tenha tantas chances. Com a idade o sistema imune enfraquece!…

O autor, baseado na sua experiência, escreveu em 2007 o livro: “Anticancer. Prevenir et lutter grâce à nos défenses naturelles”, agora traduzido para Alemão com o título „Das Anti-Krebsbuch“. Encontra-se traduzido em português com o título: ”Anticâncer : Previnir e Vencer Usando Nossas Defesas Humanas”. O autor procura apresentar o cancro também sob a perspectiva do paciente. Para ele os nossos mecanismos de defesa naturais têm um papel decisivo na cura. No Ocidente dão-se de 7 a 70 vezes mais casos de cancro do que na Ásia embora aqui as pessoas tenham a mesma quantidade de microtomores. Mais que o gene parece ser o modo de vida que determina o aparecimento do cancro.

Como proceder contra as condições fomentadoras do cancro? Entre outras temos o ambiente, alimentação, feridas da alma e a fraqueza do sistema imune (processos de inflamação).
Cancro torna patente a transitoriedade e a fragilidade da vida.Na prevenção é importante prestar-se atenção ao estilo de vida e às causas ambientais. A sua mudança pode tornar-se num factor impedidor do desenvolvimento dos microtumores. Isto porém não anula as formas tradicionais de tratamento.

As células cancerígenas são caóticas, não obedecem a regras e colocam o corpo em estado de sítio. O seu inimigo é o sistema imune. O sistema imune reage bem a alimentação sem venenos, ao movimento, às emoções positivas. Ele pode ser activado através de “culinária mediterrânea, indiana e asiática, através de sentimentos vividos, de calma e serenidade, do apoio através de amigos e família; do aceitar-se como se é, com os seus valores e a própria história e através de movimentação regular”.

Quanto mais leguminosas, feijão, ervilhas e lentilhas se consome num país, menos cancro se regista. O consumo de azeite ou de óleo de linhaça, em vez doutros óleos, é bom contra o cancro. A proximidade, a autenticidade, alegria de viver, são muito importantes. Em 1940 em cada 100.000 mulheres havia cerca de 50 com cancro de peito. No ano 2000 em 100.000 havia 140 casos. Nota-se uma relação entre o desenvolvimento da agricultura e a alimentação. O aumento do açúcar refinado, da farinha branca e óleos de planta, todos sem proteínas, sem vitaminas nem minerais tem aumentado desproporcionalmente favorecendo o rebentar do cancro. O cancro alimenta-se de açúcar. O açúcar amarelo não é tão prejudicial.

Um dos perigos é também os charlatães! Estes notam-se pelos tratamentos alternativos caros que apresentam; ou quando fazem depender o efeito do tratamento do desejo autêntico do paciente; ou quando o terapeuta não quer colaborar com o médico e aconselha o paciente a renunciar aos métodos de tratamentos convencionais. Há muita gente interessada no negócio com os doentes!… O efeito placebo também pode ser um elemento não desprezível.

Rituais e tratamentos através de “pessoas espirituais” ou de meditação e oração são métodos de fortalecimento da força vital do paciente e da libertação das forças negativas que o ameaçam (tais como medos e culpas). O paciente deve recuperar a sua integralidade reencontrando a sua paz interior. Ao ser ajudado recupera energias perdidas no seu sentimento de impotência, de abandono e de medo e da carga do passado. Desejos insaciados, esperanças desiludidas, frustração, falta de sentido fomentam o stress e a entropia.

A coerência de corpo e alma e a ressonância de pensamento e coração pode ser alcançada também através da meditação. Um bom meio é a concentração na respiração. Ao centrar-me na respiração torno-me automaticamente consciente do meu corpo, movendo em sua ajuda outras forças emocionais e espirituais. O nosso lema central deveria ser: viver mais conscientemente para podermos ajudar a mudar o nosso comportamento e o das nossas células.

Há casos tão extremos em que só resta já a oração. Na oração não se trata de pedir o milagre mas de se mover no mundo do milagre. Trata-se de mobilizar as reservas latentes na consciência individual e comunitária. Não estamos sós. Deus está em nós e connosco. Ele não quer o nosso mal nem a doença. A doença faz parte do mistério e o desbloqueamento dela não está completamente nas nossas mãos. Há pessoas que se curam outras não e não se sabe porquê. Há pessoas com uma vida espiritual e alimentícia muito cuidada que morrem de cancro enquanto que outras sem esses cuidados são mais resistentes. Para muitas coisas não há explicações e, por vezes, o refúgio no mundo das ideias impede-nos de entrarmos em nós mesmos.

O nosso pensamento não pode ser ditado pela doença, nem pela opinião de quem quer que seja. Às vezes temos que “fazer das tripas coração”! Apesar de tudo só nos resta ver a vida como projecto e orientar o fluxo da energia para um objectivo surgido do interior e aquecido no sentimento e na confiança. Sentido e decisão conduzem à harmonia interior.

Para um desenvolvimento sadio é importante a interpretação da doença, numa reacção positiva, para assim melhor possibilitar o desenvolvimento das próprias capacidades. O sentimento de impotência também pode tornar-se em oportunidade para um redobrar de forças no sentido dum novo começo na descoberta da vida como projecto…

“Levai os fardos uns dos outros… (Gal 6,2). A dor no mundo é incompreensível e não tem resposta. Não temos o mundo na mão nem tão-pouco a nossa vida. Ao lado da perspectiva da cruz só fica a escuridão. O pregado na cruz é, entretanto, ao mesmo tempo o humilhado, vítima da dor e o exaltado.

António da Cunha Duarte Justo

PAPA BENTO XVI EM PARIS

O Presidente francês defende uma Laicidade Positiva

António Justo
Uma surpresa: o Papa que ia em peregrinação a Lurdes para comemorar o jubileu dos 150 anos das aparições de Nossa Senhora a Bernardette Soubirous, vê-se honrado pela imprevista recepção oficial do presidente francês Nicolas Sarkozy. A oposição francesa insurge-se contra o Presidente pelo facto de ele receber o Papa como um Presidente de Estado. Vêem em perigo o Estado laico.

O presidente francês pretende com isto dar um sinal para que o laicismo estatal se torne numa “laicidade positiva” defendendo um diálogo aberto entre religião e política e uma nova reflexão sobre as “raízes cristãs europeias”. O bem da sociedade não se pode reduzir apenas às vertentes económica, mercantil e política. Para se desenvolver equilibradamente e em harmonia terá de abrir o seus horizontes também à vertente metafísica.

No discurso, o Papa secundou as ideias do Presidente, louvando a bela ideia da “laicidade positiva” dizendo que “religião e política têm de estar abertas uma à outra … e que a política tem de se tornar mais consciente da função insubstituível da religião na formação da consciência”.

De facto, um certo laicismo fanático encostado às instituições estatais (uma certa esquerda e maçonaria), em vez de se afirmar com se afirma contra a religião cristã deverá fomentar um diálogo pela positiva e não apenas pela negativa. Religião e laicismo são elementos importantes do Estado. O que não deve é nem um nem outro apoderar-se do Estado.

A igreja católica tem vindo a perder terreno na França com grande falta de padres (esta, também, devida à sua obstinação anacrónica no celibato). O Islão ganha cada vez mais terreno e significado. Numa nação em que os muçulmanos se afirmam cada vez mais conscientes de si mesmos, e onde ocupam já o segundo lugar entre os grupos religiosos franceses, não seria salutar, para a nação, a existência dum cristianismo envergonhado, sempre atacado pelos inimigos da religião, quando os outros são poupados, por razões consideradas óbvias. Se por um lado se respeita a sensibilidade religiosa muçulmana, por outro, os símbolos cristãos põem-se muitas vezes a ridículo. Grupos racionalistas e socialistas rivais do cristianismo, revelam-se, por vezes, muito agressivos contra o Catolicismo, poupando o Islão, por oportunismo ou interesse; deste modo impedem um diálogo adulto entre religiões e política, prestando por outro lado um mau serviço ao Estado e à Nação.

Sarkozy, numa visão preclara, está consciente do descalabro em processo na sociedade europeia e o vírus que roí por dentro as nações europeias. Por isso designa a religião como o elo de ligação duma sociedade. Os sistemas políticos passam e as religiões ficam. Há que manter um espírito e um diálogo independente mas construtivo. Um grupo deve ser o cadinho purificador do outro. A EU precisa de redescobrir as raízes cristãs que estão na base dos seus valores e da sua própria laicidade e por isso manter-se como seu ideário garante continuando a empunhar na mão o archote da esperança.

Hoje, o Papa falará em Lurdes. Muitos católicos acreditam que Nossa Senhora apareceu a Bernardette, onde “a Senhora branca” a 25 de Fevereiro pediu à jovem para “beber da fonte e se lavar”. “Bernardette revolveu a terra e em breve brotou um pouco de água lamacenta e ela bebeu dela”. Muitos vêem na descoberta da fonte como provada da autenticidade das aparições. A água de Lourdes tornou-se famosa sendo anualmente enviados 40.000 litros dela por todo o mundo, ao preço das custas de transporte.

Dos milagres acontecidos em Lourdes a Igreja reconheceu, oficialmente, até hoje, 67 curas inexplicáveis.

Talvez o próximo milagre de Lourdes seja o de possibilitar na cabeça de socialistas e crentes a compatibilidade entre religião e socialismo, a harmonia entre secularismo e religião.

António da Cunha Duarte Justo