HOLOCAUSTO – 70° ANIVERSÁRIO DA LIBERTAÇÃO DE AUSCHWITZ

Hoje, 27.01.2014 é o dia da memória do holocausto. Celebra-se o 70° aniversário da libertação de Auschwitz pelo Exército Vermelho. Em Auschwitz tinham sido assassinadas 1,1 milhões de pessoas pelos Nazis. 90% das vítimas eram judeus. Nas celebrações deste aniversário a Alemanha dá prioridade à voz dos sobreviventes do holocausto. De facto, esta é a hora das vítimas e das vivências, mais que da política e dos historiadores. Já restam poucas vítimas sobreviventes e poucos testemunhos directos desta tragédia da civilização e da humanidade.

A experiência de Auschwitz levou os criadores da Constituição alemã a formular nela o artigo “A dignidade do Homem é inviolável”. Este artigo sobre a inviolabilidade da dignidade humana deveria estar também na Lei Fundamental de todos os países do mundo. Mais em www.antonio-justo.eu

Hoje assiste-se à mesma desumanidade de comportamento em muitas regiões do mundo. Hoje como ontem o mundo reage insensível e indiferente ao que acontece. A economia actua, muitas vezes, separada da humanidade.

 

António da Cunha Duarte Justo
www.antonio-justo.eu

Oposição extraparlamentar em Marcha na Alemanha

PEGIDA É O BARÓMETRO DO ESTADO DE ESPÍRITO DA NAÇÃO

António Justo
Numa sociedade em que o tema sobre estrangeiros desfruta de um interesse relevante, tanto positivo como negativo, organiza-se uma oposição extraparlamentar que quer manifestar o seu descontentamento com a política dominante. Desta vez saem regularmente à rua os que não têm oportunidade de se expressar.

O movimento PEGIDA (1) surge, do descontentamento de massas, numa época política em que a Democracia já não age em relação aos acometimentos do neocapitalismo e aos problemas sociais, limitando-se a reagir e a esconder-se por trás de um discurso público onde sobressai a hipocrisia. O povo desorientado cada vez se vê mais confrontado com discursos em que falta a cultura dum debate à luz da dignidade humana que deveria ser a matriz da religião, da democracia e da discussão. Os políticos não entendem a voz do povo e o povo sente-se manipulado por interesses que não são os seus.

Causas de Insatisfações manifestadas na Sociedade europeia/alemã

Uma maioria silenciosa expressa-se em diversos grupos que lhe procuram dar voz. Um sistema social, (com jovens e idosos pobres, desesperançados sem perspectivas profissionais, desempregados de longa duração, carentes sociais dependentes da assistência social sem lóbi) tem o descaramento de por medo, difamar um movimento pacífico (Pegida) dos que não têm a chance de se tornarem visíveis nem a oportunidade de dominarem as páginas dos jornais como outros grupos. A pressão na Alemanha exercida, pelos partidos estabelecidos e pela sua imprensa, sobre este movimento popular torna-se avassaladora. Quando o chanceler Kohl exigia maior rigor em relação aos delinquentes estrangeiros até o SPD esteve de acordo, mas agora que Pegida exige o mesmo, é considerada “indecente”. (Penso que a exigência formulada é problemática, mas usar dois pesos e duas medidas para estigmatizar um grupo, como se faz hoje na nos Media contra a mesma tese, não testemunha justiça nem equidade na argumentação). Torna-se sempre questionável quando uma parte banaliza a problemática e a outra a singulariza. Tolerância deve valer para todos.

As teses escritas por Pegida soam bem mas os cartazes das demonstrações permitem suspeita de infiltração de forças fundamentalistas interessadas em fender a sociedade. As teses são aceitáveis mas “sob uma fachada pode mover-se algo diferente”. Medos reais ou difusos de manifestantes e contramanifestantes procuram encontrar qualquer pretexto para drenar o seu vapor.

A raiva do povo foi crescendo ao observar que por exigências de muçulmanos (e outros por trás deles), têm sido fórmulas de juramento alteradas e o crucifixo e certos símbolos cristãos têm saído de lugares públicos; além disso observam o sistema de excepção com horários em piscinas públicas para mulheres muçulmanas, isenção de participação em visitas de estudo e em aulas de ginástica; além disso nomes de feiras tradicionais como o Mercado de Natal têm cedido o nome para Mercados do Inverno, etc., tudo incomoda ao não serem verificadas contrapartidas. Aqui junta-se o interesse de muçulmanos ao de organizações secularistas que não suportam referências públicas ao cristianismo (Assim muita da agressão contra muitos muçulmanos deveria ser procurada noutros meios que instrumentalizam a religião, como se dá num radicalismo de extrema esquerda em torno de Charlie). Tudo isto torna mais difícil identificar as causas da insatisfação que depois é atirada para as costas da religião. (Em Portugal também se assiste a uma luta contra a face pública do cristianismo por parte de um socialismo e de uma maçonaria radicais, não se podendo culpar os muçulmanos por tal). Os muçulmanos além da sua situação problemática de comunidade minoritária que se quer afirmar é utilizada por forças secularistas camufladas radicais (instaladas nos Estados e com grande Lóbi na UE) como pretexto para impor interesses que não têm nada a ver com os religiosos, pelo contrário.

Quem apoia incondicionalmente as caricaturas de Charlie e critica as manifestações de Pegida julga com duas medidas. As caricaturas expressam, a seu modo, as suas críticas e as demonstrações expressam pacificamente, a seu modo, os seus medos colocando perguntas à classe política dominante e a que esta não responde e adia.

A Classe política sente-se insegura e questionada

O fenómeno Pegida e as reacções em torno dela são típicos da sociedade alemã; através das intervenções dos políticos nos Media, das manifestações e contramanifestações, formam-se consensos que estabilizam o sistema.

Com Pegida a classe política sente-se especialmente incomodada porque o movimento parece conseguir expressar não só os rumores do ventre popular mas também os receios da classe média. O novo partido AfD já metia medo à actual constelação parlamentar e agora junta-se Pegida, associação de utilidade pública, com temas problemáticos quentes que poderão desestabilizar, nas próximas eleições, o partido CDU. O perigo para a concorrência partidária é real, Merkel (CDU) nunca se expressou tão claramente como fez agora em relação a Pegida embora este movimento se expresse dentro da conformidade democrática!

Para a classe política, o importante é trazer o povo alinhado e neste sentido, não importa a argumentação fundada, quando muito, a opinião!

Nas ondas do sentimento, longe das raízes dos factos, surge a provocação de grupos manifestantes que fomentam conflitos porque cada qual rebaixa o outro em nome do seu direito à liberdade esquecendo que a sua liberdade deve conter a liberdade do outro. Em luta todo o pretexto vale e assim todos se tornam culpados. Pegida tem medo da imigração muçulmana e os manifestantes contrariadores têm medo de perder o poder ou de movimentos de centro-direita virem a ocupar parte dos seus nichos na sociedade e na política.

A sociedade encontra-se doente e cheia de preconceitos tanto nos que motivados pela emoção como, em grande parte, nos que aparentemente motivados pala razão.

Massas  à deriva

Tudo se limita a reagir sem pensar as coisas até ao fim. Os fundamentalistas servem-se da generalização, dum modelo de pensar a branco e preto não poupando atributos como “islão terrorista” e “pegida nazi”. Outrora argumentava-se com o comunismo para dividir e ordenar a população, hoje faz-se o mesmo com a religião e com grupos incómodos ao sistema. A liberdade de opinião e manifestação deve valer para todos, também num sistema em que desprezo do pobre não é considerado racismo nem a extrema diferença entre pobre e rico é tida como discriminação.

Os caricaturistas sob a bandeira republicana e em nome da liberdade provocaram muita gente e sentiam-se no direito de ridicularizar a religião, como se não houvesse outros valores ao lado da liberdade nem outros valores a defender senão os do estado laico. O outro lado reage em nome de Deus para calar a voz secular. Os pequenos grupos de provocadores instrumentalizam politicamente a religião e os estrangeiros para rasgarem a sociedade. Como quem usa a violência ganha, a curto prazo, a sociedade tornou-se mais violenta.

A Europa está com medo que a sua fortaleza não resista à sua preponderância económica e cultural; tem medo de ver os seus valores ameaçados (Charlie, Pegida, manifestantes e contramanifestantes). Aqui no centro da Europa, a sociedade ferve; o que impede a explosão é o facto de ter um alto nível de vida económico e social. Um medo difuso e uma insatisfação geral provocam um clima de guerrilha entre uns e outros. Há muito que a Europa não age, apenas reage às investidas do neocapitalismo e aos problemas sociais. A consequência é uma magnetização política e social fomentadora duma desconfiança onde, perante a incapacidade da política, cada qual procura ganhar à custa do outro.

Por vezes a Imprensa corre o perigo de apresentar os terroristas como vítimas; por outro lado transmitem a impressão que religiões são o instrumento propício, para a origem de guerras, lançando, além disso, todas as religiões no mesmo pote. O fundamentalista não está interessado em construir pontes, arrenda a razão e a verdade só para si.

Uns defendem a multicultura outros a intercultura (2). Precisa-se de gente que saiba encontrar o ponto de interseção dos pontos comuns para, a partir daí, se construir pontes no diálogo social. Tarefa difícil atendendo à força dos lóbis e ao pensar politicamente correcto em função duma classe política promiscuída com a oligarquia do capital. Quem não tem lóbis não tem voz nem risca no sistema.

Gueto contra gueto, generalizações simplistas, muita lavagem ao cérebro, a má avaliação de uns e outros constituem impedimento para encarar os assuntos no seu âmago. Precisa-se de mais ironia em relação à opinião pública e à opinião do outro. Uns Media acríticos e acólitos da classe política falhariam a sua função social se continuassem a ter de esconder factos também incómodos em relação à realidade social com a desculpa de quererem impedir argumentos que xenófobos poderiam usar. A focagem deve ser centrada nas falhas da política e da economia que manifestam um vácuo de acção onde prospera a dessolidarização da sociedade.

Os muçulmanos têm de esclarecer que os extremismos de jihadistas e do Estado Islâmico não são consequência do Corão e das Hadith; Pegida tem de se distanciar de extremismos e a política tem de deixar de se envergonhar do cidadão. Pegida reage com medo do Islamismo e este medo, se articulado com agressão, leva o muçulmano a encerrar-se em si mesmo com medo de se manifestar fora. O medo e a luta não ajudam ninguém mas poderiam levar os mais distantes a ocupar-se a fundo do assunto.

Todo o crente ou ateu que, em nome da ciência ou da religião, se arroga o monopólio do saber, para condenar ou desqualificar o outro, segue as pegadas do fundamentalismo, alimentando-se no mesmo húmus que conduz ao radicalismo das barbáries de Paris e Nigéria. É fundamentalista um movimento, um partido, uma ciência, uma ideologia ou uma religião que se considere possuidor da razão e da verdade em relação aos concorrentes, ao querer impô-la. A exclusão e a generalização alimentam o fanatismo. Todos somos maus, quer sejamos estrangeiros ou alemães, ateus, cientistas ou religiosos, quando se trata de atacar e julgar o outro! Por isso toda a afirmação tem apenas um aspecto de luz com muita sombra a acompanhá-la.
António da Cunha Duarte Justo
Jornalista
www.antonio-justo.eu

(1) PEGIDA é a sigla que designa em português “Europeus Patriotas contra a Islamização do Ocidente”; a associação pretende: migração seletiva, política de lei e ordem mais estrita, a reconciliação com a Rússia e atitude crítica em relação à UE. O seu objectivo é “Promoção da capacidade de percepção política e a consciência de responsabilidade política”. PEGIDA organiza manifestações às segundas-feiras desde 20.10.2014 em Dresden, tendo-se associado outras cidades à iniciativa. O atentado de Paris ajudou a dividir a sociedade civil. Na Alemanha os ânimos da classe disputante encontram-se muito acesos.
(2) A problemática em torno da imigração é um sintoma de causas indiferenciadas que se apresenta como um pretexto para protestar contra a classe política distanciada das preocupações populares. Esquerda e direta procura pescar turbando as águas do outro. Uma sociedade só orientada para o consumo e para a posse torna-se suscetível de demagogia. Esquece-se a experiência de estrangeiros descriminados mas também a de jovens alemãs serem muitas vezes apelidadas de “cadela vadia alemã” ou seja prostituta pelos seus hábitos sociais não corresponderem a códigos turcos ou árabes. Também a existência de bairros em cidades alemãs onde se não ouve falar alemão causa medo a muito cidadão vizinho. Denegrir uns ou outros não serve a democracia. Verifica-se que ao contrário do que acontece nas manifestações da Pegida, nas manifestações paralelas contra ela praticam-se actos violentos e ataques contra a polícia mas os custos de proteger as manifestações são atribuídos aos manifestantes pacíficos. A imprensa, geralmente mais ao lado da classe política ataca Pegida e não comenta os ataques violentos de manifestações de grupos de esquerda.

Morreu o Rei da Arábia Saudita um grande Promotor do Terrorismo

O Comprometimento do Ocidente com o terrorismo internacional

António Justo
Ontem, 23.01, morreu Abdullah, o rei da Arábia Saudita. Para se perceber a paciência do Ocidente com o maior fomentador do terrorismo islâmico sunita, interessa ter-se presente os interesses económicos e as inter-relações de importações e exportações entre o Ocidente e os países produtores de petróleo.

 A Arábia Saudita financia o terrorismo internacional e a construção de mesquitas fora dos países islâmicos.

Na Arábia Saudita as mulheres têm poucos direitos. Só podem sair de casa na companhia de um homem, não podem conduzir carro e só podem estudar e casar com consentimento prévio; não possuem quase nenhum direito de decisão. Desde 2001 já podem requerer um bilhete de identidade.

Pratica-se a tortura, o espancamento, o açoitamento, a privação do sono, a torção dos membros, choques eletrostáticos, assim como a ameaça de mordidelas de animais; há execuções públicas como castigo normal para crimes como: assassinato, adultério, sabotagem e apostasia.

Apesar de tantos crimes contra a humanidade e contra os direitos humanos o Ocidente é o grande aliado da Arábia Saudita.

Como exemplo refiro informações da HNA segundo as quais a Alemanha em 2013 fez exportações para a Arábia Saudita no valor de 1,7 mil milhões de euros (máquinas, produtos químicos, veículos e peças de veículos. A exportação de armas foi de 316 milhões de euros. Em 2013 as exportações da Arábia Saudita para a Alemanha atingiram os 9,2 mil milhões de euros. Além disso a Alemanha, em 2011, fez investimentos directos na Arábia Saudita no valor de 713 milhões de euros e em contrapartida a Arábia Saudita investiu na Alemanha, no mesmo ano, 25 milhões de euros. A Arábia Saudita fomenta o wahhabismo (interpretação fundamentalista do islão) que produziu al Qaida e a ideologia do “Estado Islâmico”.

O dinheiro compra tudo; até a consciência democrática defensora dos direitos humanos não escapa.
António da Cunha Duarte Justo
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Primeiro a Dignidade humana depois a Instituição

Terror das Ideologias camufladas sob o Pretexto da Religião e da Liberdade quando a Estratégia é dominar o outro

António Justo
Com o atentado de Paris, o Islão não foi insultado, quem foi insultada foi a humanidade, a dignidade e a liberdade humana. A instituição não sofre, quem sofre são as pessoas, sejam elas islâmicas ou não. Neste atentado há vítimas humanas e elas é que se devem recordar e defender. Ao defendermos o Islão ou Charlie estamos a esquecer as vítimas de um lado ou do outro. A vida e a dignidade humana é que devem estar no centro da discussão e acima de cada instituição seja ela religiosa ou secular.

Se libertarmos o homem libertamos a religião, se defendermos a dignidade individual está defendida, deste modo, a liberdade em geral e também a religiosa. Ao defender-se a dignidade humana como bem superior a tradições e instituições, contribuiremos para um diálogo construtor de paz, solidariedade e libertação humana e com esta para a disciplinação das instituições.

Somos uma sociedade com pessoas e grupos que andam a diferentes velocidades e cada um construindo a sua felicidade na demarcação de tempos e regiões como forma de sentir o próprio existir; é isto que provoca detritos e desgastes… O problema vem da afirmação de um em relação ao outro, de se procurar construir uma identidade baseada na diferenciação cultural e ideológica perante um outro que se exclui.

Foi atacado um grande símbolo da liberdade duma França não só laica mas também jacobina. Foi também atacada a liberdade universal, um direito humano fundamental muito embora fosse, também ela, símbolo de um tempo ideológico parado que legitima a própria posição no poder atacar a outra. Na discussão é manifestamente calada a luta provocante de um radicalismo esquerdista contra a religião. Se antes o Estado (para desenvolver a própria identidade se serviu da religião, hoje o estado laico procura afirmar a sua servindo-se da ideologia materialista ateia) antes era aliado da Igreja hoje tornou-se em seu contraente aliando-se à ideologia esquerdista secular ateia. A guerra destes contra tradições religiosas observa-se não só depois da república mas ganhou força com a centralização do poder em Bruxelas (UE). A europa precisa naturalmente do vitalismo religioso e secular mas não na contraposição de uns contra os outros. A “César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, não sendo legítimo que a ideologia secular açambarque para si também o lugar de Deus.

No atentado de Paris, temos dois agressores ociosos cada um defendendo o seu tempo e a sua geografia, não notando que o espírito motivador é o mesmo e o dilema está nas diferentes velocidades do mesmo veículo. Uns foram vítimas do fanatismo religioso, por vezes, encoberto por representantes e defensores da instituição religião e outros foram mortos em nome de uma liberdade defensora do regime secular que, com as suas caricaturas, não para de provocar os muçulmanos como se viu também no Iraque, Afeganistão e norte de África. A violência grassa em diferentes nomes e com diferentes graus de gravidade encobrindo a violência escondida entre exploradores e explorados.

Este atentado irá fanatizar, amedrontar e legitimar medidas mais controladoras da autoridade estatal em relação aos cidadãos; irá prolongar o abuso e exagero do mundo secularista contra os heterodoxos do seu sistema; isto pretendem os extremistas por trás de Charlie, de al Qaida e as elites de uma preponderância americana, todos interessados em dividir para mandar. A estratégia é a mesma: numa massa anónima à disposição com uns que combatem em nome de Deus e outros que lutam em nome da liberdade ou de interesses económicos.

As leis do Ocidente cada vez se tornam mais apertadas e, assim, a nossa sociedade se torna cada vez mais igual à deles enquanto protela a consciência de uma subtil exploração em via. Enquanto nos distraímos com palavras e não agimos com boas obras vale tudo usando, uns e outros, como seu melhor meio de autoafirmação, o ataque.

No meio de tudo isto, o cristão sente-se chamado à liberdade e à paz, mesmo contra o próprio ponto de vista, mas por outro lado sofre ao constatar que quem ganha é o violento, porque as massas são conduzidas por estes.

Portugal terá de estar atento para se não tornar em lugar de trânsito para extremistas. Importante será observar os movimentos salafistas e grupos apoiados pela Arábia Saudita (construção de mesquitas) defensora da corrente fundamentalista wahabita. Atrás do estabelecimento de relações económicas junta-se o contrabando de ideologias. Uma premissa nos deve levar à contenção na discussão: Portugal, com 0,4% de muçulmanos, não tem razão para alarmismos e entretanto o islão renovar-se-á.
António da Cunha Duarte Justo
Jornalista
www.antonio-justo.eu

(1) Como tudo elabora a sua razão em nome do bem contra o mal, o passo consequente e imediato é a luta, a luta dos melhores contra os piores; como cada qual só conhece o miradouro da sua verdade, não há verdade mista, os maus são os outros. Tudo luta pela sua verdade e pela sua paz e por isso divide a realidade em duas partes: a verdadeira e a falsa, a boa e a má, a nossa e a dos outros; este facto faz de todos delinquentes, uns em relação aos outros. A guerra passa a ter razão porque esta nasce na cabeça; como cada um quer o melhor, torna-se lógica a luta pela vitória do “bem”.

Terror em nome do Islão, quem prova que não?

Do Diálogo cínico entre Representantes islâmicos e democratas

António Justo
Tornou-se num lugar-comum, representantes de instituições islâmicas, em situações semelhantes às dos atentados de Paris, se desculparem dizendo, tratar-se de um atentado contra o islão, ou ainda, que “eles não são muçulmanos!”. Seria incorrecto a Instituição islâmica julgar-se vítima, quando em seu nome e também através de estados islâmicos se espalha o terror por todo o mundo.

(Não falo aqui da responsabilidade do Ocidente, atendendo ao espaço e já ter tratado o tema noutros artigos).

É verdade que não se pode taxar um grupo inteiro de culpado do que acontece em seu nome. Uma “desculpa de mau pagador” para sacudir a água do próprio capote, perante desinformados. Seria negador da realidade e testemunho de hipocrisia negar que a “guerra santa” (Jihad) e os atentados têm a ver com o Islão.

Torna-se urgente um diálogo sério que ajude muçulmanos e não muçulmanos. Os muçulmanos moderados, para se tornarem verdadeiramente credíveis, têm que demonstrar que os extremistas invocam, injustamente, as suras do Corão para justificarem a sua luta. O Encargo de prova recai sobre as associações muçulmanas. Os eruditos e responsáveis do islão teriam de dizer publicamente que o Corão não é para ser seguido à letra e as suras não são válidas universalmente. Aqui se encontra o busílis da questão porque nenhum mestre ou mufti se atreve a afirmar tal, dado entenderem as suras do Corão como directamente ditadas por Deus (no Corão nota-se que Alá mudou de opinião aquando da mudança de Maomé de Meca para Medina – isto poderia servir de motivo para os peritos muçulmanos permitirem a análise histórico-crítica praticada nas ciências teológicas).

Por isso se tornam difíceis declarações públicas por parte de muçulmanos e se dificulta um diálogo onde os intervenientes, se comportam como o gato, a fazer batota em torno do leite quente! A gentileza junta-se à falta de honestidade intelectual ao distrair os públicos com aspectos mais ou menos moralistas ou de conveniências e vivências sociais, em vez de ir ao problema de fundo que se encontra nos princípios doutrinários imanentes ao sistema e aqui só em segunda mão na situação social injusta em que, por vezes, vivem. (1)

Os teóricos islâmicos têm de demonstrar, nos países para onde imigraram, como é que o Islão é compatível com as formas de democracia com separação de estado e religião, e com os direitos humanos. Este seria o primeiro passo ao serviço da integração e de um diálogo sério entre islão e democracia. Um tal diálogo ajudá-los-ia a dar o passo para a reforma do islão (E porque não até, desenvolvendo uma outra forma de democracia?). Seria um atestado de pobreza se o viessem a fazer apenas a partir das universidades europeias, obrigadas a fundar faculdades islâmicas para formarem os professores de religião islâmica nas suas escolas.

No Corão há muitos versos onde se apela à violência contra “Kuffar” (não muçulmanos = indignos de vida, também apelidados de porcos e macacos, cf. sura 8,22 e sura 5,59-60). “A paz islâmica só se alcança, quando todos os cristãos, Judeus e pagãos forem extirpados” (Corão, sura 9,33…). Na Alemanha tem sido proibida a publicação do livro “Minha Luta” de Hitler, o Corão, em contrapartida tem sido distribuído aos milhares pelas cidades alemãs. Nem se exigem notas explicativas para versos apeladores à violência, como se queria exigir em relação a “Minha Luta” caso fosse publicada.

Não sou defensor da proibição de livro nenhum, só me horroriza o cinismo de uma sociedade que actua com dois pesos e duas medidas e como é fácil levar o povo, ontem como hoje. Hitler que defendia a superioridade da raça germana e o extermínio dos judeus é proibido, o Corão que considera a religião muçulmana como única e apela ao extermínio dos diferentes, não é questionado. Não é de negar que em “Minha Luta” e no Corão se encontram também muitas frases humanas e muitas contradições que ajudam quem luta. Da neblina e da confusão só podem viver melhor os mais espertos. (2)

Segundo historiadores, as religiões, geralmente, não estão na origem das guerras. A origem encontra-se em desigualdades econômicas na sociedade. As religiões actuam como aceleradoras porque implicam maior comprometimento ao dar mais importância à acção.
Continua em “Primeiro a dignidade humana depois a instituição”
António da Cunha Duarte Justo
Jornalista
www.antonio-justo.eu

(1) Aquando da minha actividade na qualidade de representante dos estrangeiros da cidade de minha residência lutava pelos direitos dos turcos e dos estrangeiros, pude observar, num espaço de 15 anos, uma grande mudança de atitude na sociedade muçulmana, antes muito pacífica e as mulheres com menos lenços na cabeça, embora vivendo em gueto. Com o tempo tornou-se mais agressiva, à medida que via surgir dela gente formada na universidade. A partir de então organizavam-se sobretudo na defesa dos próprios interesses, entendendo solidariedade no sentido muçulmano. Um facto é que de mais de cem nacionalidades (e muitas religiões) a viver na cidade quem não aceitava integrar-se eram, de uma maneira geral, os muçulmanos. Alguém dirá mas também a raça cigana não se integra; facto é que não se afirma na definição contra a sociedade que os acolhe e permanece uma minoria em qualquer vila ou cidade. Naturalmente a sociedade aberta deve também ela aguentar uma certa tensão. O problema surge quando falta a solidariedade social e se legitima a luta como maneira de se fazer valer e uma sociedade maioritária discrimina. Se não houver um esclarecimento e empenho no sentido da integração então as nações tornar-se-ão mais cépticas quanto à recepção de muçulmanos. Aqui não está em discussão a questão da sociedade ocidental mas apenas a relação entre dois modelos de sociedade vigentes. A sociedade consta de todos e precisa de todos mas todos solidários e em colaboração de modo a cada um realizar a sua felicidade à sua maneira.
(2) Digo isto porque sou amigo dos muçulmanos e crítico do Corão e dos Hadhit (Hadiz) e gostaria de um diálogo em que a pessoa humana seja respeitada e defendida, pense ela o que pensar, mas que se olhe com espírito crítico para as instituições que alinham as pessoas em torno de si para fins fomentadoras de domínio e imperialismos à custa da humanidade. O Islão só ganhará com uma reforma profunda.