PRESIDENTE DA ALEMANHA DEMITE-SE


Demissão é Prenúncio de maiores Crises

António Justo

Horst Köhler, presidente da RFA, demite-se no início do seu segundo mandato provocando um terramoto de dimensões incalculáveis a nível político e social. Foi alvo de duras críticas pelo erro diplomático que cometeu na afirmação que fez sobre a presença dos soldados alemães no Afeganistão. Esta vem possibilitar a interpretação de que a guerra no Afeganistão além de combate ao terrorismo e da presença humanitária também tem a ver com interesses económicos a defender. Muitos dizem que a sua afirmação foi um lapso. Geralmente, como diz a psicologia, nos lapsos é que estão as verdades. Granjeou críticas não só da classe política mas do jornalismo em geral.


O Presidente saiu batendo com a porta. O argumento apresentado para justificação da sua demissão foi a “falta de respeito” perante o seu cargo e mal-interpretações por parte da opinião pública. A Chnceler Ângela Merkel só foi informada da sua decisão duas horas antes do acto público da sua demissão com efeitos imediatos. Estranho caso e explicação incompleta!…


Köhler era um tecnocrata, cristão de formato com opinião própria. Não pertencia à classe política e dava a impressão de se sentir melhor entre o povo do que com ela. Apesar de seis anos de presidência continuava um estranho na política. Deixou toda a gente consternada. Surge a questão do patriotismo!


O argumento, da honra ofendida ou da falta de “respeito”, não conta numa sociedade habituada ao pragmatismo e a políticos com pele de elefante. Naturalmente que dar com a porta na cara da política num momento de crise económica e financeira tão grave, aumenta a crise política e dá azo a especulações. Um homem tão amigo da África e do povo não pode ter tomado a decisão apenas por hipersensibilidade.


A demissão pode ser vista como agouro de crises não só para a Alemanha como também para a União Europeia. Ele, um dos grandes peritos em finanças do mundo talvez saiba demais, e atendendo a que à crise dos bancos se prevê a crise dos estados, pode especular-se que ele saia para não ser envolvido no caos que já prevê!


Quem se encontra em maus lençóis é a chanceler Ângela Merkel. Tem um monte de cacos pela frente! A crise da Grécia e doutros estados da EU que está a ser solucionada duma maneira não muito conforme à Alemanha e as medidas até agora tomadas parecem continuar a beneficiar os especuladores. A Alemanha é que tem de suportar com os maiores encargos da União Europeia e o futuro não oferece garantias nenhumas. O endividamento público obriga o governo alemão, para já, a um pacote de poupança no valor de dez mil milhões de euros. Há dias, o anúncio de demissão, de Roland Koch, do cargo de presidente do Estado Federado do Hessen e de todas as funções políticas. Político de grande competência, uma personalidade não comum na classe política, tinha opinião própria, muitas vezes divergente da linha do partido, era o bastião da ala conservadora do partido de Ângela Merkel (CDU). Deixa a política daqui a um mês, afirmando que também há vida depois da vida do partido.


O presidente Horst Köhler, antigo presidente do IWF, aquando da crise financeira, não se manifestou, num momento em que a nação esperava dele uma palavra de orientação.


Antes da crise financeira tinha lamentado o agir incontrolado de actores financeiros definindo-os como “monstros” que deveriam ser refreados. Talvez ele saiba mais que ninguém que os maiores responsáveis pela crise são os governantes. Os políticos apoiam um sistema financeiro que dá cobertura à sua política de endividamento dos Estados. O único remédio neste caso seria os governos não fazerem mais dívidas e saldaremas que têm. Talvez Köhler pense isto mas não o possa dizer. Resta-lhe ser coerente e sofrer as consequências disso. Também admoestou a nação para o processo de divisão da nação: a tesoura entre os que têm trabalho e os desempregados, entre ricos e pobre cada vez é maior. Duas vezes não assinou leis do parlamento para promulgação.


A política gostaria de o ter ouvido quando se calou e que se calasse quando falou. Temos um governo desconfortado e um povo desconsolado. A pragmática Ângela Merkel não se sente bem com a situação internacional, com conservadores descontentes dentro do partido e com um partido (FDP) de coligação que não colabora muito!


Agora que a nação se encontra em crise acrescentada, Ângela Merkel da união dos cristãos-democratas (CDU) e sociais-democratas (CSU) talvez fizesse bem em denunciar a coligação com os democratas livres (FDP) e fazer uma grande coligação com os sociais-democratas (SPD). A situação é séria e em tempos de crise é preciso governos estáveis.


Dentro de trinta dias ter-se-á um/a novo/a presidente da RFA.


António da Cunha Duarte Justo

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