PORTUGAL ADIADO

Dos Senhores Livres com Trela democrática

A Democracia é um processo em desenvolvimento nunca acabado num Estado onde grupos de interesses se unem e combatem. Estes servem-se do sistema democrático que em nome do povo os legitima. Nele, os políticos acham-se com razão em servir-se do povo por este precisar deles. A crença pode muito e serve muitos! O socialismo chama-lhe ópio, hoje será partido, será governo, também é socialismo!
A Democracia pressupõe uma consciência adulta, uma relação equilibrada entre Estado e Povo, entre dirigentes e dirigidos e das classes sociais entre si.
A doença individualista lusitana é republicanamente crónica! Não tem lugar para o outro. O Povo não conhece o Estado nem este conhece o Povo. Todos se servem ou procuram servir-se. Um Nação de necessitados e comprometidos onde todos andam armados em carapaus de corrida. Só vale a opinião, a revolução parece ter prescindido da lógica e ter inaugurado a era do pós-fático.
O individualismo é de tal modo míope que só chega a atingir o alcance dos próprios passos, ou, quando muito, os da “família”. Não existe a colectividade! Dado toda a nação sofrer do mesmo mal, tem-se grande compreensão pelos oportunos governantes. Também estes são filhos envergonhados duma mãe povo, a quem consideram prostituta. Cada uma se safa como pode. Quem se safa com o colchão ao lado da estrada, ou com o colchão do Estado tem um destino comum e comunga do mesmo espírito: a oportunidade!
De facto, há eleições mas não há diferença na governação. Os eleitos procuram aproveitar o tempo do seu estado de graça para se servirem e ajudarem alguns amigos, também eles à cuca duma oportunidade. Trabalho sério, bem preparado e programado não é moderno e destoa na música do progresso. O óbvio é o fácil e leve, o rentável imediato.
A administração continua a empatar a Nação e a fazer perder tempo a quem quer trabalhar ou quem deseja cumprir as leis. Anacrónica mas convencida sente-se omnisciente; para sobreviver basta-lhe saber “o chefe disse” e… pronto!
A grande pobreza do País está na deficiência cultural, de que uns poucos vivem bem; o grande contra democrático é a carência do Estado-Direito.
Despachos e decretos criam subsídios de milhões. Porém, quando o inocente cidadão concorre ao subsídio já não há verba. Depois sabe-se, ela foi aplicada na totalidade no apoio dum beneficiado do ministério. Os moinhos da burocracia, geralmente morosos, então funcionam rapidamente, mas não a bem da nação e menos ainda a bem do povo. Há despachos a mais para despachar e legalizar ilegalidades ou compadrios…
Todos se queixam. Queixam-se os políticos dum povo estúpido e indiferente; queixam-se os ministros e secretários de Estado de publicarem Decretos a sua administração arcaica não os cumprir. Viram-se então para as novas tecnologias mas estas são feitas para um povo ainda a criar. Refugiam-se no fomento dum mundo virtual que prima pelo modernismo e pela satisfação das estatísticas altas no uso de aparelhos mais sofisticados. Ninguém se preocupa que a gente não compreenda as indicações técnicas nem a letra miúda. O governo decreta progresso e toca a flauta do modernismo; a massa embora desafinada e fora de ritmo canta e dança. Progresso é movimento e movimento é progresso, o resto é conversa! Viva a democracia e os seus tocadores! Aproveitemo-nos da festa da democracia enquanto ela dura; depois Deus dará! Resta a consolação. Casa em que falta o pão todos se queixam e ninguém tem razão, dizem os acomodados no canto com o seu naco de pão!

Um País Adiado

O País encontra-se em situação de adiado. Se vais ao Hospital e tens lá alguém conhecido és atendido; doutro modo vais para a bicha sem fim.
Se tens um conhecido na Câmara Municipal é resolvido o teu problema ou és lá metido. A instituição ainda não conhece o cidadão. Conhece sobretudo compadres, amigos e filiados no partido.
Vai-se à Caixa Geral de Aposentações e, mesmo antes de se expor o problema, logo a senhora no guiché 8 te fala de impossibilidades como se te conhecessem e tivessem a lei e o governo na barriga.
Portugal é um país avançado; tem leis avançadas e até livros de reclamações. Esqueceu-se porém de criar estruturas sociais e cívicas que possibilitem ao povo a capacidade de os usar. Portugal pretende ser Lisboa, para inglês ver, o resto, verbo-de-encher!
Faz-se um requerimento ao secretário de Estado pedindo fundamentação jurídica pelo não cumprimento duma lei por parte da Tutela e logo se recebe resposta cabal: “o senhor secretário indeferiu através de despacho” e pronto!… Assim se despacham a lei e as pessoas neste país virtual!
Neste país de telenovelas e de futebol, também na vida particular não se está muito disposto a ouvir o outro. Se se ouve um pouco é para o interromper e logo o abafar.
Será que o mundo está na mão de oportunistas. Isto está mesmo mal para muita gente; antigamente ainda se podia dizer “valha-nos Deus”; hoje só o Diabo parece ter crédito.
Entre os ricos e os pobres que temos e somos, somos pobres com pobres à frente das freguesias, das Câmaras, dos Parlamentos e dos Governos.
Pobreza cria pobreza! Para que serve a riqueza no criticar? Os cínicos já servidos e que bem entendem dirão: para ajudar a enganar!
Valerá ainda a pena mexer as ideias e as pessoas?
Do pouco que ouvi ao PM Sócrates, nas férias que acabo de passar em Portugal, fiquei com a impressão de que ele é o ópio do povo. Neste país o dom da palavra é tudo. O sonho e a ilusão ainda acalmam. Há que mentir mas com convicção. Se se mentir com voz firme e grossa o povo aceita. Ai da verdade que tenha voz fraca e não decidida! O povo não a entende!
Da Oposição também não há nada a esperar. Sofre dos males dos da governação e pode dar-se ao luxo de impedir-se a si mesma. Assim se cria lugar para oportunistas grandes e pequenos da pobre situação (Nação).
Que nos resta? A Virgem Maria e o futebol?… Talvez a esperança se não fora a coleira do hábito.
António da Cunha Duarte Justo

O Avanço do Islão dá Razão à sua Estratégia de Islamização do Mundo


A Turquia já é muçulmana. As últimas ilhas cristãs no mundo dominado pelos muçulmanos parecem ser o Líbano e a Etiópia que se terão de render também eles à sua pressão.

Numa perspectiva muçulmana a sua estratégia revela-se eficiente e vitoriosa. Na realidade quem vence conquista geralmente a razão e torna-se também o dono da verdade. Facto é que as regiões onde o islão entra tornando-se maioritário, essas zonas vão sendo pouco a pouco purificadas de todas as outras religiões, sejam elas o animismo ou mesmo o Cristianismo. Nas regiões onde entram instalam-se em guetos e daí organizam a sua influência. Têm com eles a paciência e o orgulho de saberem que vencem porque têm o deus Alá do seu lado.

O islão afirmou-se no Médio Oriente, que era o berço do Cristianismo, através da sua convicção e da identificação da identidade civil com a identidade religiosa: a sua Nação é o Islão, o resto é constructo decadente. No mundo islâmico o conceito Nação foi fomentado pelos cristãos em minoria, o que os tornou suspeitos como cidadãos nos regimes muçulmanos. No tempo em que os portugueses ainda se lembravam dos árabes, foram também eles eficientes nos seus descobrimentos!… Agora é a hora do islão!… O Mamon petróleo pode muito e também a nação está à disposição dado cidadãos serem incómodos pelo que há pressa em fazer deles proletários carentes.

No tempo das conquistas os soberanos muçulmanos subjugavam os seus súbditos cristãos com um imposto especial (Sura 9,29) sendo apoiados pela pressão social muçulmana duma maioria consciente que se sabia na posse duma verdade superior à dos cristãos. A medida islâmica de determinar que é muçulmano quem tem um pai muçulmano e de proibir aos cristãos o casamento com mulheres muçulmanas ou de quem deixar de ser muçulmano arriscar a própria vida parece dar-lhes razão. De facto, ainda hoje há muitas mulheres de outras religiões que ao casarem com um parceiro de religião diferente, abandonam a sua para adoptarem a religião do marido.

Muitos cristãos, para fugirem à repressão e discriminação tornam-se muçulmanos ou emigram. É o que nos tempos modernos acontece na Turquia, no Iraque e noutros países africanos de influência árabe. Assim, dos países pré-islâmicos, antigamente cristãos, ainda se encontram alguns redutos de arménios, Coptas, Sírios, Arameus, Etíopes, Eritreus, e Caldeus.

A estratégia muçulmana é fomentada por uma elite política europeia que apenas acredita no comércio e desacredita a própria cultura e a sua alma cristã. A religião e a política querem-se como o sal na comida! Os muçulmanos com o seu monoteísmo absolutista ganham razão perante outras civilizações em que o relativismo cultural já mostra a sua fraqueza latente. Há que aprender não só dos relativistas mas também dos absolutistas. Estes, da sua perspectiva têm razão em considerarem-nos decadentes.

Naturalmente que somos mais avançados com o nosso secularismo, mas, de facto os romanos também o eram e como nós preocupavam-se apenas com o “cum quibus” e desprezavam os seus deuses. Os bárbaros mostraram-lhes então como se faz História!…

O progresso tem o seu preço. Pena seria que os nossos progressistas na sua unilateralidade, em nome do modernismo e do socialismo, preparassem o retrocesso e a lógica hegemónica do poder e duma moral vulgar fácil. Então talvez seja possível a homossexualidade masculina mas coitadas das lésbicas e dos mais fracos.

Com o êxodo dos cristãos do Iraque e do médio oriente a monocultura islâmica ganha; porém com ela perde o mundo aberto à diferença.

O islão não permitirá uma pluralidade religiosa enquanto se afirmar através da jurisprudência e não aceitar uma ciência teológica.

Ele afirma-se sem contrapartidas para a outra parte. Será que estamos a preparar a Era do absolutismo ideológico e económico? Então será tudo mais fácil: Teremos a paz dos que mandam e a dos que obedecem; teremos a área masculina e a área feminina; o nosso Céu e o Inferno dos outros.

Perseguição aos Cristãos no Iraque

Cerca de 150.000 – 200.000 cristãos iraquianos vivem no exílio. São obrigados a sair da terra que já os acolhia antes do islão ter chegado. Os muçulmanos iraquianos arranjam todos os motivos para atacarem os cristãos. Argumentos para justificar a discriminação não faltam: proibição do exercício duma profissão em que cristãos tocam em muçulmanos ( médicos, cableireiros…). Argumentam que o Corão não o permite visto os cristãos serem considerados impuros; para o não serem devem converter-se. A identificação dos cristãos com os americanos vem mesmo a calhar!

Nas casas abandonadas pelos cristãos vivem agora os seus perseguidores. Alguns que voltaram foram assassinados. O assassínio dum padre e o rapto do Arcebispo Paulos Faraj Rahho, que morreu nas mãos dos raptores, querem sinalizar que os cristãos iraquianos têm que abandonar o Iraque.

É escandalosa a atitude dos políticos que não dizem uma palavra de apoio moral aos cristãos perseguidos. Em vez disso, como se nada fosse e para alardearem o seu multiculturalismo, organizam conferencias inter-religiosas para darem mais direitos religiosos aos muçulmanos sem qualquer contrapartida. A tolerância deve fomentar-se dos dois lados. Os minaretes que, pela Europa fora, se vão erguendo são lanças contra o povo ortodoxo e outros exilados cristãos que vivem em países cristãos devido ao contraste do trato. Os muçulmanos podem contar com a cobardia do Ocidente em nome duma tolerância irresponsável. Naturalmente que individualmente e como pessoas não deve ser distinguido entre eles e nós; todos devem participar dos mesmos direitos e dos mesmos deveres; direitos culturais deveriam ser vistos na reciprocidade. A dignidade humana não pode ser condicionada à religião ou credo.

António da Cunha Duarte Justo

De Férias por Terras de Portugal

Acabo de passar férias em Portugal na “Quinta Outeiro da Luz” na Branca: uma terra amena do Norte, perto de tudo e de todos, onde o mundo ainda parece encontrar-se em ordem!

A uma distância suficiente de Lisboa, reflecte bem a paisagem e a cultura portuguesa. Enquadra-se nas Terras de Santa Maria, a 60 km de Coimbra, a 50 do Porto, a trinta de Aveiro e a trinta da Serra da Freita. Nesta terra acolhedora e farta, pertencente a Albergaria-a-Velha, as pessoas, mesmo desconhecidas, ainda se saúdam na rua e conjugam equilibradamente a tradição com a modernidade.

A vida e o progresso desta terra mostram que palavras-chave como indivíduo, família, propriedade, economia liberal, igreja, permanecem mensagens válidas e promissoras de futuro.

Aqui ainda se servem, bem e barato, os tradicionais pratos da cozinha portuguesa. Por isso ia todos os dias comer ao restaurante P…, onde, com mais três pessoas, pagava, no conjunto, um total entre 16 e 20 euros. Naturalmente que aqui não se pagava nem esperava o requinte e o artificio mas era-se compensado com a simplicidade, a atenção e a alegria, características do povo trabalhador nortenho.

A beleza da paisagem, a riqueza da cultura, as festas e eventos exuberam por todo o lado.

De resto: um país maravilhoso com um grande povo em contínua elaboração, ainda por completar; um país medíocre, se atendermos aos seus governantes autistas; um país à margem do seu povo e da nação, se atendermos à sua Administração e outras instituições relevantes; um país de envergonhados e desavergonhados, se atendermos a uns e a outros; um país excepcional que subentende a excepção à regra.

Regresso contente mas com um vago sentimento de pena: de pena da gente simples, de pena dos cães e animais ainda não respeitados; de pena de tantas esperanças desbaratadas e de tanto trabalho dispendido mas sem o resultado que seria de esperar.

Regresso com a impressão de ter contactado um povo em estado de erosão. Verifiquei um certo espírito de indolência e de indiferença que se refugia na nostalgia dum imaginário prometedor mas enganador. A maioria vive sufocada pelas amarras da informação, do telejornal, das telenovelas e do artificialismo político. Um cinismo sub-reptício parece ganhar forma.

No espírito de muitos falantes parece pairar um certo individualismo emigrante: o reverso do sebastianismo.

Cansados do centralismo da capital e dum alarido político que tudo domina e ameaça destruir as sub-culturas mais recônditas e sossegadas, muitos, parecem ter já resignado e encolher os ombros, entregando-se à inércia de poderes governantes, que a força do destino ciclicamente vai colocando: os deuses do Olimpo democrático é que podem e sabem!….

Uma cultura política de lugares comuns vai vivendo do povo e da nação. O contento dos contentes parece implicar necessariamente o descontentamento agachado do povo português. Este tira à cultura e ao descanso o que lhe falta para a boca. Se em Lisboa se vive do sarcasmo e da ironia, um sentimento individualista leva o homem da província a evadir-se e a distrair-se da própria impotência e da impotência da nação. Parece restar-lhe assumir o cinismo vigente nos corredores ministeriais de Lisboa, que se ri de Portugal como nação.

Quem vê Portugal, como eu o faço agora da Alemanha, fica com a impressão que falta a Portugal uma atitude de pensamento. Este parece derramado pelas toalhas das mesas das elites da nação, a que falta um modelo consensual de elites de Portugal.

Assim se vai destruindo a nação e a natureza reduzindo-a à medida dos planos, dos planos de outros!….

A ideologia do progresso parece quer distrair-nos de pensar, alucinando-nos. Quer-se a mudança pela mudança sem respeito pelo dado; não se dá tempo para a mudança, nem se reserva tempo nem há capacidade para a reflectir. È mais fácil seguir a música dos outros. É mais fácil ser-se dançarino do progresso das palavras e das ilusões. A Nação e o Povo são apenas o palco!…

António da Cunha Duarte Justo


A REVOLUÇÃO FEMININA ESTÁ POR FAZER

HUMANIZAR – FEMINIZAR O MUNDO

António Justo

A revolução está por fazer. Até ao presente a história tem dado oportunidade à afirmação das forças da vertente masculina da pessoa humana numa reacção em cadeia. A história é o testemunho das revoluções masculinas. A revolução feminina está por fazer. Para mais facilmente notarmos a dicotomia do nosso mundo basta observarmos a dicotomia da realidade do mundo árabe, que é a nossa, embora um pouco mais acentuada.

A identificação, individual e institucional, tem-se afirmado na concorrência e manifesta-se numa constante assimetria nas relações homem-mulher, senhor-súbdito, razão e intuição.

A divisão de tarefas com a autoafirmação consequente com base a elas provoca a divisão em vez duma missão conjunta. Assim se faz a divisão artificial de espírito e matéria contrariando-os em vez de os coordenar e unir.

O espírito, o esperma, o homem tem-se afirmado contra a natureza, contra a terra geradora, contra a mulher, dando lugar apenas à dimensão vertical (cima – baixo, bem – mal) sem ter em conta a horizontal.

A terra reflecte naturalmente o brilho do sol, a força da chuva que nela cai numa relação íntima profunda fertilizada na união e missão comum: céu – terra. Um sem o outro não tem sentido nem identidade. Sem a gestação feita pela terra, sem a gravidez da mulher não haveria a fecundidade, o filho, o futuro. Assim não se pode dizer que espírito e matéria são desiguais no valor. Um ser está condicionado ao outro e deve o seu ser ao outro. Incarnação não tem sentido sem ressurreição, nem esta sem aquela; fazem parte dum ciclo trinitário em que o carácter polar da vida se supera.

Nos Estados e formas de governo, nos sistemas económicos e administrativos, nas próprias religiões e no comportamento individual prevalece, exageradamente, o carácter polar, o pólo masculino do estar humano. O actuar individual e institucional, a linguagem usada no discurso público, tudo testemunha a polarização masculina da vida social e suas estruturas. Uma visão dialéctica da vida e correspondentes mecanismos antagónicos de gerir e dominar a vida têm prevalecido contra uma visão mais integral e aperspectiva trinitária. Daí a dissonância do ser individual e social, o governo do partido e não do inteiro.

Sem que o homem deixe de ser masculino nem que a mulher deixe de ser feminina, necessita-se duma nova forma de viver individual e social em que a recíproca influência e interferência do masculino e do feminino estejam mais presentes e equilibradas, se tornem realmente complementares uma da outra. Uma sociedade, mais equilibrada e mais justa, pressupõem mais autoridade e menos poder: uma troca das armas da luta pelas duma moral onde o senhor é o que mais serve.

A luta de emancipação da mulher, embora necessária, tem seguido a estratégia masculina, afirmando, inconscientemente, a masculinidade do mundo. Até Simone de Beauvoir confirmou a perspectiva masculina da vida afirmando a contraposição da transcendência masculina à imanência feminina. Confirma assim a prática dualista grega ignorando a visão aperspectiva mística que supera o dualismo, já na fórmula trinitária da realidade, escondida no ideário cristão também ele reprimido.

O culto individualista da masculinidade tem conduzido a humanidade a um “progresso” cimentado com grandes tragédias. O futuro da humanidade tem sido conseguido à custa da violência, da violação, do masculino contra o feminino, da instituição contra o membro, de povos e culturas uns contra os outros, tal como podemos verificar nas lutas das tribos, das invasões muçulmanas, cruzadas, revolução francesa, guerras mundiais, nas guerras actuais e nas desavenças familiares.

Em nome do progresso dá-se continuidade a um processo perene de guerrilha. A parte afirma-se contra a parte sem considerar o todo. Ao fim e ao cabo, a cultura ainda acentua mais os processos de selecção e adaptação da natureza, em vez de os gerir. Por isso acompanhamos a natureza em vez de a sublimarmos.

Na época moderna, devido ao desenvolvimento tecnológico, a barbaridade ainda aumentou, o que torna muito premente a questão do sentido da humanidade e o sentido da vida. Este problema torna-se também visível na tragédia Fausto de Goethe que termina na utopia duma maternidade da natureza, com o eterno feminino. Facto é que a incarnação só é realidade através da terra, de Maria.

O presente que se manifesta na dualidade dos contrários deixa a dúvida se não será necessário acreditar no Diabo. Entre o bem e o mal se movimenta a esperança, e o medo de desaparecer do presente no redemoinho da polaridade. Na visão trinitária e não dual deixamos de ser prisioneiros do tempo e do factual, da matéria e do espírito. Assim no passado podemos reconhecer o presente e o futuro no jogo das escondidas com o tempo. Para salvarmos o homem em nós, temos de descobrir a mulher em nós. Só ela pode dar à luz o novo. Nela se realiza a criação no sentido da consumação. Seria redutor continuar a egomania do ser que encobre o matar. Já é tempo de mudar. A consciência humana já atingiu, nalguns biótopos, o estádio próprio para a metanóia global.

Atendendo aos resultados até hoje adquiridos, no processo de humanização do mundo, humanizar o Mundo, no futuro presente, significa torná-lo mais feminino, mais equilibrado e menos sexuado. Racionalismo, materialismo e espiritualismo são demasiadamente sexuados (dualistas) para poderem dar resposta à necessidade premente dum salto qualitativo no desenvolvimento humano. Trata-se de viver em parusia. Mandar é servir e servir é mandar.

Para se humanizar o Mundo será necessário um agir neutro e não sexuado: uma consciência mais intuitiva e mística, menos racionalista e materialista, um existir na reconciliação do saber dedutivo e indutivo, da imanência e da transcendência, do gerador e do gerado. A paridade do sexo e o respeito pela lei da simetria original que através de rupturas ganha novas formas terá de ser integrada. Para isso é necessária a “emancipação” interior do homem e da mulher, uma “emancipação” para dentro, no sentido do todo.

Nas sociedades democráticas, seguindo o determinismo dualista, as mulheres encontram-se em processo de aquisição duma emancipação exterior, não sendo tão facilmente manipuláveis como outrora. Continuam porém a estratégia masculina da luta da individuação contra o todo. Foi assim que os homens dominaram o mundo e que criaram a situação que hoje vigora: cultura contra natura! Seria um equívoco, numa fase do desenvolvimento da consciência integral, continuar a apostar na consciência dualista, e entrar agora na luta de dividir equitativamente o ser humano e o mundo entre o homem e a mulher. O que é preciso agora é humanizá-lo e esta missão é eminentemente feminina. Agora o mundo precisa da força e do espírito da mulher para o transformar, não já numa estratégia antagónica mas integrativa, global.

O equívoco da cultura contra a natura

A concepção puramente marxista e capitalista do mundo bem como as formas de governo até hoje praticadas sobrevalorizam a masculinidade e o status quo.

Necessita-se duma nova consciência e de uma prática do respeito pelas diferenças biológicas e psicológicas que integre a contradição, tal com prevêem no cristianismo a fórmula trinitária, e na ciência a teoria da relatividade e a física quântica.

A mundivisão masculina, o mundo da concorrência premeia o ser que produz mais Testerona, dando assim, previamente, a vitória às qualidades masculinas sobre as femininas dado o homem ter mais Testerona. É preciso criar-se uma nova consciência social e uma sociedade em que a quantidade de adrenalina não seja determinante para determinar e formar a sociedade, onde a autorealização integrada constitua prioridade, onde a concorrência determinada por um mercado de trabalho desumano e por expectativas irrealistas e desequilibradas não continuem a ditar o estar humano.

A política tem falhado e continuará a falhar no seu esforço de conseguir a igualdade entre homem e mulher, baseada na mesma atitude de sucesso no mundo do trabalho. Assim impõe à mulher um mercado de trabalho e uma estrutura social baseada no modelo de sociedade machista (masculina). As mulheres têm outras prioridades necessitando dum mundo mais humano e familiar. Elas não arriscam tão gratuitamente a sua vida pois possuem um pensar mais integral e menos selectivo que o homem.

O pior que poderia acontecer à sociedade seria que as mulheres se deixassem utilizar na concorrência desta sociedade anti-feminina, na ilusão de estarem a defender os interesses femininos, quando na realidade se estão a tornar masculinas. Naturalmente que enquanto continuar em vigor o modelo de sociedade masculina, as mulheres conscientes terão de se lançar à conquista na ocupação dos bastiões relevantes da sociedade e da economia, estudando biologia, informática, engenharia, fundando firmas, etc. Em tempo de guerra não se limpam armas… Só depois de destruírem as desigualdades exteriores poderão então permitir-se dar expressão às diferenças. Este foi porém o equívoco da sociedade masculina com o seu imperar até hoje, afirmando-se uns à custa dos outros. O que é preciso é uma nova mentalidade, uma nova maneira de estar. A sociedade masculina é uma sociedade de burgos e de castelos a conquistar, de Don Quixotes e Sancho Panças. Com a inclusão da feminidade, só então as muralhas se poderão tornar em lugares de jogo e transformar-se os campos de batalha em campos de futebol, como centros de higiene social.

Capitalismo e socialismo são masculinos interessados apenas em se apoderar da terra e do povo. É a força do macho no tempo do cio. Não resta tempo para o choco, para a vida. O apoderar-se da terra e do povo corresponde à repetição dos mecanismos da natureza biológica através do princípio (força) selectivo e do princípio da adaptação.

A revolução está por fazer. Foi começada por Cristo mas logo interrompida, porque era demasiado feminina. Não chega continuar o olhar monocolar masculino; a era futura pressupõe dois olhos bem abertos na mesma pessoa: o masculino e o feminino.

António da Cunha Duarte Justo

© “A Fórmula Trinitária do Mundo e da Vida”, Kassel 2008

A MULHER DESPERDIÇA AS SUAS FORÇAS EM FAVOR

DO MUNDO MASCULINO

Equilíbrio das forças da extroversão e da introversão

António Justo

A mulher de hoje corre o perigo de se esgotar ainda mais do que ontem. Corre mesmo o perigo de desperdiçar a sua feminidade para aceder e dar resposta às necessidades dum mundo masculino e masculinizador que, em nome da igualdade e da técnica, se serve do Direito contra a Natureza para a dominar sem a respeitar. Tal como os agricultores se faziam proletários industriais na revolução industrial submetendo-se à disciplina da escola, também a mulher é hoje aquartelada e arregimentada para os campos de batalha, imprescindíveis às conquistas masculinas.

Sem a luta de competição os galos não teriam direito ao poleiro, a um lugar de relevo masculino, no galinheiro. Mobilidade, honra, violência, coragem, espírito de luta, gosto do risco, potência e corporalidade, concorrência, trabalho, auto-controlo, sucesso, pensar dedutivo e linear, são características mais masculinas, enquanto que a mulher tem mais compreensão, criatividade, intuição, realismo, dedicação, sentido de família, espírito protector, abertura, pensar indutivo e global. Se a mulher tem a vantagem de ser mais ligada ao ciclo da lua o homem está mais condicionado ao ciclo do sol. Naturalmente que as qualidades dum pólo condicionam também as do outro.

A mulher vê melhor ao perto do que ao longe e o homem vê melhor ao longe do que ao perto. Ele foi habituado à caça e ela à recolecção e ao cuidado dos filhos. A sociedade moderna exige dela cada vez mais actividades profissionais estranhas ou não adaptadas ao seu ser.

Continuamente interrompida e com milhentas coisas para fazer, a mulher não tem tempo disponível para si. A diversidade de afazeres leva a mãe à desconcentração e dispersão. Os deveres são de tal ordem que não lhe resta tempo para si. Também por isso, na velhice, com uma reforma mínima, tem de continuar a lutar pela sobrevivência. A dispersão de interesses, de obrigações e a quantidade de ocupações não deixam ser a mulher o que ela poderia ser. Ela é um espaço desprotegido com actividades de carácter operário fac totum. A sua força criativa dispersa-se. A sociedade exige dela uma vida distraída, uma vida de entremeio. Interlocutora e agenda de tudo e todos. Um sistema económico esfalfante, exige do empregado a concentração total na profissão e na actividade. Neste mundo masculino a mulher encontra-se muitas vezes dividida entre os dois lugares de trabalho: casa e emprego. O homem ignora, muitas vezes, o trabalho de casa, ou considera-o como esquisitice da mulher, de que se desobriga. Ele, pelo facto de tanto olhar para a floresta, não chega a notar as árvores mais próximas. Trata-se portanto de homem e mulher, para evitarem cair na parcialidade da visão da presbitia ou da miopia, integrarem, em si mesmos, os dois olhares.

Quanto menos necessidades temos, mais livres somos. Por isso o segredo da libertação começa aqui pela redução, nos vestidos, nos trabalhos, nas visitas, nas obrigações. Marta, Marta, Maria escolheu a melhor parte! Quantas vezes nos sacrificamos, para alimentar convenções ou hábitos frustrantes ou para agradar a alguém que também anda no mundo por ver andar os outros. A vida deixará de ser talvez tão cómoda para o homem mas passará a ter maior qualidade para os dois.

O equilíbrio está entre actividade e repouso, entre extroversão e introversão, entre força centrífuga e centrípeta. Alienação é a negação do próprio centro. Para amamentar é preciso primeiro alimentar-se a si mesma, encher os vazios da própria fome. Para isso precisa de criar um espaço em si, dum quarto só para si, dum tempo só para si, duma meditação para, imperturbada, se reencontrar e olhar para dentro de si e para aquilo que a determina à sua volta. Doutro modo a gritaria da vida, dos filhos, do marido, do dever e dos hábitos tornam-se tão fortes que não deixam espaço para a própria pessoa. Uma pessoa é vivida sem viver!

António da Cunha Duarte Justo

© “A Fórmula Trinitária do Mundo e da Vida”, Kassel 2008

antoniocunhajusto@googlemail.com