25 de Abril uma Estação na Via popular

25 de Abril uma Estação na Via popular

O Povo a acordar é Inverno a passar

António Justo

Um ar de Abril assome às ruas da nação

Num misto de vozes, gestos e cores, o povo unido

Marcha em filas ao ritmo da canção

Do quartel militar prás casernas do partido

“O povo unido jamais será vencido”…, gritava a cidade ao ritmo da marcha. ” Grândola Vila Morena…” cantava o povo que, por momentos, descobria as cores da vida nos passos da liberdade ao ritmo ordenado da canção. A alegria da união dançava nos corações. Era o Portugal colorido a vibrar.

No campo da pátria cheirava a Abril e as cores do arco-íris deslizavam, despreocupadas, pelas ruas. Era festa, a festa do povo a florir em cravos, rosas e papoilas. Um fluir de cores e vozes a acenar na pátria em flor. Por um momento, se acaba a noite; a esperança acorda; no alfobre do povo, brilha o dia.

O vermelho escuro, do sangue derramado no ultramar, ressurge e corre agora nos cravos das ruas a acenar. A vida pula na praça a cantar. Um misto de vozes e ritmos de paradas e de marchas populares ressoa cavo nos altos das colinas da cidade. É o sentimento de cores e vozes das ruas baixas nos altos a ecoar.

Quem gritava, cantava e acenava, aspirava a tornar-se povo mas o ritmo dos altos altifalantes “revolucionários” só conhecia população a acomodar!

Depressa a sombra do entardecer bate à porta do povo. O dia sem noite findou. A diferença voltou! Ao longe, logo se ouvem os clarinetes do toque a recolher às casernas dos partidos. A liberdade fica agora apiada ao ritmo da marcha dos partidos. No arame farpado do pensamento, o povo dividido, canta já desafinado. O dia acabou. É hora de recolher.

Nos andores dos revolucionários de Abril continuam a passar figuras de sorriso redondo a insuflar-se do sorriso e da ária duma população a definhar num gesto sonolento e amarelo. A foicinha da revolução ceifou-lhe as cores. Portugal de farda parda. O povo veste agora a cor do momento.

Os zangados de ontem tornaram-se nos contentes de hoje! À custa de novas zangas, novas opressões.

Mudar de filas, é ordem do dia, é a ordem da revolução! No andor da televisão, só os contentes acenam a sua cor, que não o colorido da nação. Continuam a fita do corta fitas na finta à nação.

O sol de Abril perdeu-se no nevoeiro da estação. A colonização, lá fora, acabou, mas, cá dentro, há muito que começou.


Portugal sem norte, na valeta

Marca passo, esquerda-direita

É massa em linha, sem visão,

Já em vias de rebelião!


Vinte e cinco de Abril

Filho ignoto da nação

Ninguém te quer acolher

Abril dos cravos no chão

Festa da conformidade

Portugal inda por fazer

António da Cunha Duarte Justo

Abril de 2011

antoniocunhajusto@googlemail.com

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SEMANA SANTA – O TEMPO DO ENCONTRO COM A REALIDADE

O Encontro profundo com o Outro transforma-nos

António Justo

Nos textos de Terça-feira santa, Jo 13,21-38, assistimos à cena em que Jesus apresenta o seu amigo traidor. “Um de vós me há-de atraiçoar.” Precisamente aquela pessoa em que Ele tanto confiava, Judas Iscariotes, o tesoureiro do grupo. Ele era quem mais tinha as ideias de Jesus na cabeça mas que andava com a revolução no coração. Judas um homem inteligente e bom deixa entrar em si as trevas. Abandona a Luz e não volta mais.

Tal como em situações do nosso dia-a-dia, logo se levanta um outro amigo, Pedro, manifestando o seu escândalo pelo que se está a passar! Jesus que o ama e conhece a essência da realidade humana e da natureza responde-lhe com doçura: Pedro, hoje mesmo, “antes que o galo cante, tu me negarás.” De facto, Pedro, como cada um de nós, negou a Luz três vezes, mas depois reconhecendo-se luz também voltou a ela.

Dois encontros com o Mestre de Israel, dois encontros com a Vida. Duas maneiras de estarmos na vida! Judas e Pedro negam Jesus. Em Judas Iscariotes e em Pedro manifestam-se partes da nossa identidade individual. Trazemos em cada um de nós João o amoroso, Madalena a confiante, Pedro o testemunhador e Judas o traidor, como os textos da Semana Santa nos mostram. Tudo fazendo parte duma realidade que se quer boa.

Judas não quer aceitar que Jesus aposte apenas na transformação individual como fundamento e meio de chegar à paz social. Não quer perder tempo investindo em processos de mudança que só, a longo prazo, prometem a paz e a justiça. Quer a justiça já e, segundo ele, esta adquire-se mediante insurreições populares. Judas, ao contrário de Jesus, acreditava na revolução violenta, na revolução lá fora, no levantamento do povo contra os romanos. Desconhece que o impulso que o guia é o mesmo que tem levado os povos, de revolução em revolução, a adiar a Humanidade e a protelar o desenvolvimento da História.

Desiludido de Jesus, Judas abandona o grupo dos discípulos, durante a noite. Na noite da vida, este homem bom, que só quer o bem do povo, ao afastar-se da luz passa a ser dominado pela lei das trevas. Nela, o amor e a compreensão dão lugar à hora do ódio e da vingança. Com Judas procuramos a via da solução que leva ao beco sem saída, como podemos ver no Iraque, no Afeganistão, na Líbia e na nossa maneira de governar e construir relações. Judas é a alternativa da vida que nos leva ao beco da guerra; encontram-se sempre muitas razões intelectuais para a fazer.

O encontro com o outro (Jesus), com o ser profundo das coisas, muda a vida a uma pessoa. O encontro verdadeiro muda-nos no sentido da luz ou da treva.

Uma vida no desencontro é uma vida em segunda mão. O desencontro acarreta más consequências, como nos mostra o texto de quarta-feira da paixão (Mt. 26,14-16).

Jesus pregou, consolou, curou mas o seu acto de salvação foi por ele sofrido, era um processo am mesmo tempo interior e exterior. Foi atraiçoado, vendido, crucificado. Não procurava fora o que não estava dentro dele. Neste processo realiza-se salvação. Não há soluções fora, a solução é a realização, e esta é processo vivencial e não uma solução que se vai buscar ao sótão das ideias!…

Na sua paixão, que é, em parte, a nossa paixão, torna-se visível a nossa parte escura, a nossa crueldade barbárica, de ontem e de hoje. A paixão de Jesus continua hoje no Afeganistão, na Líbia, no Japão, no meu país, na tua casa e na minha. Ontem como hoje sobressai em mim uma das personalidades: Pedro ou Judas.

Aquele que foi condenado e executado às portas de Jerusalém – é o nosso rei (rei dos Judeus). Ele morreu segundo a lei.  A lei possibilita a produção de armas com que outros são mortos, segundo a lei pessoas são perseguidas ou impedidas de viver.

Somos mais que espectadores da vida. Também Jesus não tinha ninguém que o defendesse. Todos o abandonam; na sua fuga seguem o medo das próprias sombras.

Maria unge Jesus com bálsamo em Betânia (Jo 12,1-11) e enxuga-lhe os pés com os seus cabelos. Com este gesto quer honrá-lo realizando o acto de unção como era costume na sagração dos reis e dos ungidos de Deus.

Maria, uma mulher, assume a função de coroar. Em representação da humanidade e da natureza, realiza este rito, como uma sacerdotisa, que reconhece, de antemão, a morte e ressurreição da vida em Jesus.

António da Cunha Duarte Justo

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Ouro nos Telhados das Igrejas e das Escolas

DINHEIRO A CAIR DO CÉU


António Justo

Aqui, na Alemanha, ao lado da minha casa em Kassel, fica a igreja Santa Teresa. A comunidade mandou colocar, no seu telhado, uma instalação de energia solar fotovoltaica. Embora aqui o sol seja geralmente envergonhado, a verdade é que a instalação consegue produzir tantos quilowatts que correspondem a uma entrada de 1.855 Euros por mês, paga pela rede pública à paróquia. E isto sem bênçãos de ninguém, nem favores especiais do céu. Pelo contrário, o sol que deu a menos aos alemães compensou-os com uma inteligência mais desanuviada. Sim, o céu é inteligente e democrático. Quando dá, dá para todos. Mas só recebe quem usa da inteligência!..

A Igreja católica Santa Teresa, embora pobre, em vez de se perder em discussões sobre a beldade ou fealdade dos painéis sobre o tecto, fez contas e viu que, com esse dinheiro, podia apoiar projectos sociais. E nos últimos três meses deste ano, já mandou 3.710 euros para pessoas atingidas pela catástrofe do Japão (através da Caritas Internacional) e 1.855 euros para apoio de necessitados na Roménia.

Se o telhado desta igreja rende 22.210 Euros num ano, quanto não renderiam os telhados das igrejas e das escolas de Portugal, do Brasil, de Angola, de Moçambique, etc., onde o sol é mais desavergonhado e brilha sem grandes mantos!

Como se vê, na Alemanha, até os telhados das igrejas fazem o bem!… E depois ainda há quem olhe para a Alemanha com inveja dizendo que é rica. Nós somos mais ricos. Temos mais sol. Só nos falta o guarda-chuva da disciplina!

O dinheiro cai do céu em nosso benefício e em benefício da ecologia e dos pobres.

António da Cunha Duarte Justo

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À Semana da Paixão segue-se a Restauração da Nação

A ALEGRIA DUM POVO PEREGRINO

À Semana da Paixão segue-se a Restauração da Nação

António Justo

O grande sábio da Idade Média, Tomás de Aquino, dizia: “Nada se consegue com êxito, a não ser que se realize com alegria!”

A atmosfera que se respira em torno do Estado e das instituições, na Europa e especialmente em Portugal é escura e depressiva. Fracasso, medo e frustração grassam no meio da população. O horizonte é curto e a visão fraca, não se descortinando já o sentido!

Nesta hora nacional ensombrada, em que estrangeiros vêem impor a Portugal a sua disciplina, será importante, mais que nunca, redescobrir o brilho do sol em nós e no nosso povo. O sol da alegria move a força da esperança tal como o raio de sol atrai o rebento. As estruturas tornam-se frias e pesadas, sem a alegria de membros que se saibam respeitados e apreciados.

A nação é um biótopo natural condicionado pelo seu clima envolvente; o biótopo cultural é codificado em sentimentos, costumes e mentalidade. Como tal, para viver, precisa do sol da esperança e da alegria de vida

Talvez, depois dum período de reflexão e de análise, o país encontre o seu sentido, não apenas num projecto político, mas numa realidade orgânica com um tecto metafísico cristão, onde todos os portugueses, crentes e não crentes, tenham lugar e se sintam em casa, protegidos dos assaltantes e das saraivadas da noite. Então, no sorriso do cidadão, brilhará o Sol da nação e a alegria será o sol a brilhar em cada irmão.

O povo tem andado ao som da música dos outros. Sem reconhecer nela a própria música, sente-se agora cansado e burlado. Procurou fora o que se encontra dentro. A alegria não se encontra na carreira, no sucesso nem na posição. Teresa de Lisieux dizia que “A alegria não se encontra nas coisas mas no íntimo da nossa alma”. Alegria é sorrir, apesar de tudo.


Na minha alegria encontra-se, de mistura, o meu carácter, as circunstâncias envolventes e a minha atitude perante a vida. Mesmo na adversidade há um contentamento interior a descobrir, longe do barulho das inquietações e dos regozijos. A alegria interior é relação; manifesta-se na relação pessoal e processa-se em diálogo de mudança. Se sentirmos com a natureza verificaremos um processo contínuo de mudança, da tristeza para a alegria, do inverno para a primavera, de incarnação para ressurreição. “Nada se cria e nada se destrói, tudo se muda” ensina-nos a física.

Às Trevas da Semana Santa segue-se o Amanhecer da Ressurreição

Para nos levantarmos e nos pormos a caminho, com optimismo, teremos de deixar de pintar o diabo nos outros. Deixaremos a inveja e o snobismo, para nos encontrarmos como povo e como nação de todos. No momento da metanóia descobriremos em nós o diabo que vemos nos outros, tornando-nos assim aptos a descobrir, em nós e neles, a divindade comum a tudo e todos. “Quem procura Deus encontra alegria”, dizia a experiência de Agostinho de Hipona, no seu peregrinar pelas sendas do mal e do bem! Então tornar-nos-emos na comunidade da alegria e, como ele, seremos o defensor do seu povo.

Nesta Páscoa de 2011, Jesus Cristo (JC) é protótipo e a realidade que integra o êxito e o fracasso, a matéria e o espírito, a humanidade e a divindade, num processo ascendente que resolve a visão bipolar e dialógica na realidade trinitária.

Em comunidade na Trindade antecipamos a Páscoa. Comunidade na Trindade significa, sempre a caminho, realizar o JC e com ele a sua presença. Então, a nação erguida, em sentimento de agradecimento da vivência do chamamento comum, participará na eucaristia universal a plasmar-se no universo, na natureza, e em cada um de nós. Não tenho problema de delegar em Cristo o que não consigo fazer no dia-a-dia. Sou não só instrumento divino, mas também parte da sua realização.

Então, de consciência tranquila, faço o que posso, só na obediência ao meu interior que reconhece também fora o JC encontrado. Isto cria paz e a alegria da ressonância com o todo numa relação vertical e horizontal. O JC torna-se a medida de todas as coisas. Não haverá superiores nem inferiores, governantes nem governados, crentes nem descrentes, mas só cidadãos a seguir o mesmo chamamento.

Então não abuso dos outros nem das coisas em meu favor. A minha alegria alimenta-se da tua, da nossa alegria! Ela cresce no serviço a ti, ao próximo. A alegria é a chave da realização.

Então, passamos a abraçar as pessoas com o sorriso; nele passamos a abraçar a natureza, num contínuo erguer de sol que tudo inebria.

Para Erich From “Alegria é o sentimento que se sente a caminho da auto-realização”. A realização de cada membro vai no sentido da ressuscitação. Ao encontrar o tesouro perdido no campo (Mt 13,44) entro na relação profunda com a natureza sentindo nela o coração do JC  a palpitar na continuação da experiência dos discípulos de Emaús (Lc 24,41); aqui, no encontro, na relação profunda acontece a alegria, num brilho de fé, que se torna no princípio interior da vida que transforma a vida e põe o mundo em comunhão. Surge uma atitude interior na experiência dos limites e, ao mesmo tempo, na experiência da presença de Deus como oferta. Realiza-se, simultaneamente, incarnação e ressurreição em processo de salvação, natal e páscoa a acontecer. Daí surge a alegria que se apega e testemunha. Como a Realidade Trinitária, a unidade plural, entramos em triálogo de uns com os outros celebrando e comungando a natureza inteira em JC, no mesmo chão da divindade. A fé torna-se em alegria que transborda tal como o amor de Deus transbordou na natureza.

Mas afinal quem é esse JC? Ele é a “água viva” que nos (Samaritana) apaga a sede de felicidade; é a “luz” que ilumina as trevas do nosso coração (cego); é a vida que nos (Lázaro) levanta da cova do medo e da morte; é a videira que faz correr em nós o elixir da felicidade; és tu, ele e eu a caminho. Na sequela Christi vivemos o equilíbrio, estamos em paz com Deus e com o mundo. Com ele e nele somos “o caminho, a verdade e a vida”.

António da Cunha Duarte Justo

antóniocunhajusto@googlemail.com

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Sem Instituições não haveria Memória nem Transmissão

O Homem é o Templo de Deus e a Comunidade o Lugar da Sua Presença

António Justo

Por todo o lado, na Europa, se respira um ambiente de desconsolo e de desilusão perante as diversas instituições. Este sentimento é fortalecido pelo narcisismo muito característico do nosso tempo. Esta mistura de desilusão, medo e narcisismo leva muitas pessoas a desvincularem-se de estruturas imprescindíveis para a vida orgânica social e individual.

No universo tudo se estrutura, tudo se organiza no sentido do mais simples para o mais complicado, no sentido do caos para a ordem. No reino vegetal, como no animal, tudo se ordena e desenvolve com forças centrípetas e centrífugas, rotativas e de translação numa complementaridade de forças, sistemas e organismos. Em tudo se descobre uma matriz comum à matéria e ao espírito, ao cosmo e ao indivíduo. Por trás da ordem há um chamamento que tudo impele num sentido aberto.

Indivíduo e comunidade fazem parte do todo, como a célula e o órgão fazem parte do corpo. Deus está onde jorra a vida, a vida em floração. A fé e a esperança é como que a resposta ao chamamento, o fundamento da comunidade. A fé liga a Deus que é comunidade e liberta-nos dos cadeados e amarras e crustas do dia-a-dia. É a chave de entrada para os outros. A vida experimenta-se em comunidade! Quem se encontra infeliz terá de procurar uma comunidade.

Os países, as organizações nacionais e internacionais procuram, de maneira orgânica responder ao chamamento! A Igreja Católica (Cristianismo) e o povo judeu são os símbolos mais visíveis e mais conseguidos de resposta ao chamamento.

A Igreja, tal como cada um de nós, é, ao mesmo tempo, santa e prostituta. Encontra-se a caminho de Deus. Caminho é um momento de si mesma.

Pedro, num momento de iluminação reconheceu em Jesus (na Realidade) o que os outros ainda não tinham reconhecido: a divindade, o Cristo. Envolvido, exclama: “Tu és o Messias, o filho de Deus”. O que tu confessas está em ti, diz Jesus. Jesus revela a quem atinge esse conhecimento: “Eu te digo: Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificará a minha Igreja, e as portas do Abismo nada poderão contra ela. Dar-te-ei as chaves do Reino do Céu; tudo o que ligares na terra ficará ligado no Céu e tudo o que desligares na terra será desligado no Céu.» (Mt. 16, 18).

Pedro, a Igreja, cada um de nós, trazem em si as trevas, pelo que, noutra ocasião Jesus disse a Pedro: «Afasta-te, Satanás! Tu és para mim um estorvo, porque os teus pensamentos não são os de Deus, mas os dos homens!».

Por aqui se diz que a realidade humana e natural traz em si a lei da contradição. A nossa missão é integrar os opostos. Por isso Pedro será não só sinal de perenidade mas também um “estorvo”. A pessoa, como a instituição, integra o aparentemente oposto, o divino e o natural, a virtude e o pecado, o tempo e a eternidade. Quem se fixa num só polo revela-se irreal e fantasioso. Passa a branquear o negro da sua face na negrura que procura fora, ou procura fora o que não vê dentro! Afirma em si e na realidade só uma estacão da vida sem reconhecer as outras.

O povo como o rebanho ganha expressão no seu chefe. A natureza também atingiu o seu auge no Homem. A comunidade traz-nos os outros e abre-nos para eles. Não nos definimos apenas pela individualidade mas por esta com as suas circunstâncias. Tudo é complementar.

A Igreja memoriza e simboliza a presença espiritual na natureza e na humanidade. É uma rocha feita de muitas pedras pequenas. O rochedo é Jesus Cristo.

No Rochedo temos muitas pedras formadas de areias. Não é tão importante a diferença entre pessoas e grupos. O que conta é o amor que as une no seguimento dum chamamento comum, cuja meta é a realização da natureza humano-divina, Jesus Cristo.

O Papado, aspecto exterior, deve ser respeitado tal como se respeita uma nação. No princípio éramos hordas, depois tribos, depois nação e civilização. O corpo místico de Cristo suporta diferentes estádios e diferentes consciências.

Se os cristãos se combatem uns aos outros é porque não perceberam as Bem-aventuranças e não se deram conta da natureza de Cristo em cada um presente. Estão chamados a amar não só os cristãos mas também o próximo.

É alegre ver, no mundo, tantas igrejas cristãs ao lado do Catolicismo. Mal a hora em que se descreditem umas às outras. Estarão a merecer a frase de Jesus: «Afasta-te, Satanás! Tu és para mim um estorvo, porque os teus pensamentos não são os de Deus, mas os dos homens!». Não compreendemos então a realidade da diferença e da união!

Essa realidade manifesta-se na cruz, por vezes ensombrada com a acentuação do sofrimento. Naturalmente, imagens são condicionadas socialmente. A meta é a vida e não o sofrimento.

O crucificado resume uma história de sucesso. A cruz é uma imagem da vida e da realidade. Nela abraçamos a humanidade e o universo. Nela se reúne e soluciona a contradição, o vivido e o não vivido em nós. Na cruz reúne-se a crença e a descrença, Deus e a sua ausência, como sintetiza o teólogo Anselm Grün ao constatar: “A cruz diz que tu és abraçado em todas as tuas contradições”.

Aceitar a cruz connosco, a cruz com a Igreja e a cruz com o outro num processo de renovação é parte do caminho a fazer. Então perceberemos que Igreja é Reino de Deus. A experiência de Deus em nós e na comunidade realiza-se na matriz da cruz e da Trindade, fórmulas da vida e duma natureza que é o Templo de Deus!

Passamos a viver onde Deus vive, em nós e no próximo, em nós e na natureza! Temos a vivência no mistério. “A coisa mais bela que podemos experimentar é o mistério. É a fonte de toda verdadeira arte e ciência. Aquele para quem essa emoção é um desconhecido, que não pode mais fazer uma pausa para admirar e ficar extasiados em temor, é tão bom quanto mortos: seus olhos estão fechados.” – Albert Einstein

A Igreja representa a sociedade a caminho. Sem Igreja não há esperança. Igreja é a fé que nos une! Sem Igreja não haveria memória nem transmissão.

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

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