ENSINO VOCACIONAL (PROFISSIONAL) – NAS PEGADAS DO ENSINO DUAL DE MODELO ALEMÃO

O Fomento Ensino Dual dificultaria a política do deita abaixo para poder saltar para cima

Por António Justo

O Estado português investe 4,5% do PIB nacional no ensino enquanto os países da OCDE investem em média 3%; apesar disso e do muito esforço o MEC colhe magros resultados em termos comparativos com outras nações. (1).

Em Portugal, o ensino da via única iniciou-se com a ideologização da sociedade portuguesa do 25 de Abril. Em 1974 o Regime de Abril (III República) extinguiu o ensino técnico e profissional, até então de grande qualidade, e, em grande parte, nas mãos do ensino católico privado. Ainda é conhecida a fama das Oficinas de S. José em Lisboa, do Colégio dos Órfãos no Porto, dos colégios de Izeda e de Vila do Conde e muitas escolas profissionais católicas, espalhadas pelo país que preparavam operários especializados e mestres de nome. O regime de Abril optou pela via única do liceu para todos (2) porque aposta mais na ideia do que na realidade.

Ao contrário do que acontece em Portugal, o ensino, na Alemanha, é estável, os professores são tratados com respeito não sendo incomodados no seu trabalho com intervenções contínuas da burocracia e as escolas não são instabilizadas no seu trabalho de comunidade educativa por um centralismo de estado desgastante e absorvente. O MEC em Portugal obriga o professor a desviar para a burocracia imensas energias que faltam depois para os alunos.

Escolha precoce da Via de Ensino na Alemanha?

Na Alemanha, o ensino é da competência de cada estado federado. Consta de Ensino Básico com quatro anos seguindo-se-lhe o Ensino Secundário de cinco a oito anos. A partir da quarta classe o aluno tem, normalmente, de se decidir por um dos currículos de estudos secundários: via industrial, via comercial ou via liceal: Hauptschule, Realschule e Gymnasium). Para a opção da via a seguir são tomadas muitas medidas acompanhantes de apoio ao aluno e de aconselhamento dos pais.

Parte dos partidos mais à esquerda critica o sistema de ensino alemão porque poderá levar a uma opção precoce da via escolar pelo aluno e considera isto como algo “contra a liberdade individual e igualdade de oportunidade”. Na realidade não se pode chegar a tal extremo porque, normalmente, o aluno é acompanhado de maneira muito individualizada e o sistema permite grande permeabilidade e osmose entre as três vias e os alunos do industrial e do comercial têm acesso às escolas superiores técnicas e à via universitária. Na Alemanha a opção por uma via de caracter mais profissional (comércio ou indústria) não é tão acompanhada de preconceitos de classe como acontece em Portugal.

 

O Sistema Dual alemão do Ensino Vocacional

O sistema dual de educação profissional é seguido na Alemanha, Suíça e Áustria. A dualidade vem do equilíbrio entre qualificação teórica (tempo lectivo escolar) e ensino prático (tempo de prática nas empresas) e que se administra simultaneamente. Deste modo a qualificação, geralmente adquirida depois de três anos, é de alto nível, seja a nível de conhecimentos profissionais teóricos seja a nível de competências práticas.

A política dual do ensino alemão desperta interesse e aplicação nos USA, Inglaterra e até no Brasil (em Portugal resume-se mais a acções de formação ad hoc (colaboração com Câmara de Comércio e Indústria Luso-Alemã).

O Ensino Dual, seria, como defendo desde 1980, um óptimo modelo a ser instalado em Portugal (isto pressuporia a formação de parcerias e a implementação de uma política de promoção de todas as empresas com mestres na sua organização e uma descentralização do ensino em favor das regiões (3). As escolas têm contrato com as empresas que oferecem serviço de profissionalização. As empresas com contracto têm benefícios fiscais compensadores do serviço prestado.

O ensino na Alemanha é muito estável não andando ao sabor dos ventos das ideologias nem das modas (isso dá-se, apenas a nível experimental, num ou outro biótopo cultural). Por isso a Alemanha sofreu muito com a harmonização dos cursos universitários segundo o Processo de Bolonha (4).

No ensino secundário é possível passar-se de uma via de ensino para as outras (dependendo isto da média das notas, do aluno e da vontade dos pais). A conclusão do Ensino Secundário Comercial de Nível I (10° ano ou Mittlere Reife) possibilita o seguimento do ensino vocacional (5) dual (profissionalização) no sector administrativo, industrial ou até liceal, ou também seguir o ensino profissional numa Escola Técnica (Fachoberschule) que, uma vez terminada (12° ano), dá acesso imediato ao Ensino superior Politécnico (Fachhochschule) e no caso de fazer mais um ano (12°+1) pode entrar em qualquer faculdade das universidades.

Quanto ao Ensino (diria) Industrial (Hauptschule), uma vez acabado o 9° ano, o aluno pode optar por seguir a Realschule (10° ano comercial) ou por um estudo dual em que frequenta durante três anos o ensino teórico na escola industrial e o ensino prático numa firma especializada na profissão que quer tirar (6).

Quem seguiu o Liceu (a via directa ao ensino académico) termina o ensino liceal Abitur (exame liceal final 13° ano) que possibilita a entrada em qualquer faculdade universitária (Há Estados alemães que tentam encurtar o ensino de 13 para 12 anos para não prejudicarem os alunos alemães em relação aos alunos de outras nações onde o ensino liceal é de 12 anos).

Vantagens e desvantagens

O ensino dual segue um ritmo mais adequado às qualidades intelectuais e às competências práticas do aluno que, ao chegar ao 9° e 10° ano de escolaridade, é confrontado com diferentes vias profissionais de opção já mais específicas (ensino dual industrial e comercial ou ensino liceal se a nota o permitir). Neste sentido os alunos já tiveram de fazer um curto estágio numa empresa antes de terminarem o 9° ou 10° ano. Estes alunos dos diferentes percursos podem escolher os currículos a seguir: ensino liceal ou ensino dual (frequência de metade do tempo semanal na escola e a outra metade no empresa que escolheu (ou ainda numa escola profissional especializada). Para tal é condição ter uma empresa que o aceite para o estudo prático no tipo de profissão de que a empresa disponha (7). A palete de diversificação é imensa com abertura também para os quadros altamente qualificados; o estado despende rios de dinheiro em diferentes modelos de apoio à formação profissional.

O ensino dual também pode apresentar desvantagens segundo se dá na província ou nas grandes cidades onde há mais ofertas de lugar de formação prática por parte das empresas com contratos. Os alunos do ensino dual recebem um reduzido “ordenado” pago pela empresa.

Uma opção por uma política de ensino mais igualitária (ensino de via única) teria o inconveniente de deixar muitos alunos para trás traumatizando-os em questões de repetição e de más notas ou teria como consequência  a diminuição da qualidade do ensino para possibilitar a obtenção de resultados igualitários para todos, vendo-se, por vezes, os professores obrigados a diminuírem o nível de objectivos anuais a atingir por turma para que todos os alunos possam obter resultados satisfatórios. Penso que a crítica da esquerda no que toca à precocidade da escolha e à possibilidade de filtragem social pode ter o seu risco, ao dar-se já a partir do quarto ano de escolaridade; em muitas escolas há o ciclo preparatório de dois anos a seguir ao quarto ano, o que resolve o problema da precocidade na escolha vocacional. Essa objecção torna-se irrelevante ou até inverosímil num assunto tão complexo e muito menos ainda na realidade porque o ensino dual se inicia depois do 9° ou do 10° ano.

Devo dizer que, da experiência que tive directamente em escolas alemãs (das três vias), a escolha do percurso é feito em concordância com os pais. Isto exige das escolas primárias uma maior ligação e relação entre pais e professores. Constato que a formação alemã ao ser mais realista e concreta não deixa tantos alunos na ilusão de um futuro construído em esperanças ideais e igualitárias inatingíveis mesmo numa sociedade pretensa justa. A prática alemã obriga o aluno a deparar-se com a realidade da vida e a tomar opções já aos 15-16 anos; assim os que escolheram a via profissional, quando chegam aos 18-19 anos já aprenderam a trabalhar, tendo um diploma na mão e muita experiência de vida.

Neste sistema há também aqueles que não atingem os objectivos por razões de biografia pessoal e pelo facto de virem de meios não conscientes da realidade que “saber é poder”. O Estado alemão oferece-lhes muitas medidas e alternativas de recuperação, prestando-lhes muito mais apoio do que aos que seguem a via liceal.

As objecções que tenho ouvido em Portugal contra o ensino vocacional dual têm mais a ver com uma mentalidade irrealista e desresponsabilizada, bastante comum em meios de esquerda que em nome do óptimo renunciam ao bom, preferindo uma orientação por uma via que embora igualitária dá menos oportunidades às classes desfavorecidas (abandono escolar ou medidas que muitas vezes levam apenas a empatar o tempo de obrigatoriedade escolar) e obriga os mais inteligentes e voluntariosos (também da camada social em situação mais precária) a uma velocidade de aprendizagem orientada pela mediania baixa. Os representantes do facilitismo, em nome das massas e de um humanismo coitadinho, enganam o povo transmitindo a ideia que a vida se ganha sem enfrentá-la de frente e sem a concorrência. A realidade é que, apesar de muita solidariedade e de compreensão pelos mais débeis, ninguém dá nada a ninguém (vive-se em estado de concorrência) e que a vida exige muito empenho e responsabilidade de cada um, não sendo nenhum paraíso de embalar até aos 18 anos. Isto só simplifica a vida aos políticos, que com a ideia do facilitismo fazem ofertas fáceis ao povo; este encara-se depois com um mundo cão ao despertar bruto para a realidade do mundo laboral sentindo-se então atraiçoado e abandonado vendo-se obrigado a trabalhar a vida inteira em condições inferiores às suas potencialidades por terem sido embalados até aos 18 anos.

A esquerda radical e a FENPROF são contra o sistema dual de ensino alemão apesar de saber que este é o ensino que praticamente dá mais oportunidades também aos socialmente mais débeis, não esquecendo os deficientes (escolas especiais).

A experiência de profissionalização na Alemanha vem já da idade média, tempo em que os artífices se organizavam em ruas (correeiros, ourives, etc.) para transmitirem e defenderem saber e interesses de alta qualificação e concorrência). A riqueza da Alemanha vem do seguimento e aperfeiçoamento contínuo da tradição laboral medieval onde o trabalho manual tem grande prestígio e levou famílias a aperfeiçoarem a sua empresa, durante séculos na mesma família; esta tradição fez da Alemanha uma nação de ponta em quase todos os ramos do saber e como tal a imitar. Doutro modo iremos mancando de ideologia em ideologia sem caminho próprio, procurando imitar projectos deste ou daquele mais aferidos a uma ideologia que ainda não abandonou o complexo de inveja em relação aos que sobem na sociedade (excepção feita para os próprios líderes, os promovidos da classe) e se compreende como tendo o monopólio do saber e da opinião. .

Problema do ensino em Portugal: estar demasiado condicionado por interesses ideológicos e corporativos e branqueamento de notas em benefício do ranking da escola

Pude observar o decurso da política do MEC durante 40 anos constatando uma política de ensino feita em cima dos joelhos e que abandona o ensino a agentes radicais a nível de partidos e sindicatos numa estratégia do deitar abaixo para poder saltar para cima. Uma esquerda esperta tenta tornar-se a mãe da cultura portuguesa apropriando-se, para isso, do sector da educação, que em Portugal parece não precisar de pai. Assiste-se a uma sequência de políticas de ensino baseado em actividades desgarradas. A política de ensino não é equacionada em termos de consenso interpartidário nem aferido às necessidades do país, por isso é dependente de quem é mais esperto e nas conversações de formação de governo que fica com a pasta da Educação. Por estas e por outras o Ensino torna-se por natureza inseguro e, por vezes ao agrado de bandeireiros que se satisfazem com operações ad hoc no terreiro, ao sabor do oportuno.

A OCDE vai dando orientações de aferimentos do ensino e aprendizagem para os Estados a nível internacional mas sem a eficiência pretendida e até com efeitos catastróficos porque provoca no MEC e nas direcções das escolas a preocupação de, para ficarem bem nas estatísticas, branquearem as notas através dos Conselhos de Turma, que, muitas vezes, mudam as notas dadas pelos professores, “como se estas fossem rebuçados”, para as escolas subirem no ranking nacional e internacional. O aluno nestas condições passa a não ser o centro dos interesses mas sim a fama da escola.

A missão de garantir a oportunidade de aprendizagens inclusivas para todos os alunos pressuporia um trabalho sério de inclusão das escolas e das empresas de cada região, condição que presumiria primeiramente a libertação do jacobinismo de Estado tão típico de um Portugal republicano autista que considera como concorrência desleal tudo o que se afigure contra o seu monopólio e a sua consciência de que ele é que é bom. Diria o monarquismo formal formatou, de forma petrificada e anacrónica o espírito republicano que traz a sociedade portuguesa à trela.

Falta uma visão real das necessidades do país. Os Programas de ensino e formação profissional, com cursos profissionalizantes, são mais vistos numa perspectiva de reparar as falhas do sistema de ensino de via única, numa intenção de melhorar as notas a nível de estatística. A preocupação é centra-se em evitar o abandono escolar e  o “chumbo nos exames” do que uma preparação séria de cidadãos sérios para a nação. O ensino profissional é mais visto como subsidiário e não como parte integrante e em termos de igualdade como entontece, em grande parte no sistema de ensino na Alemanha.

Uma ancoragem eficiente da formação profissional nos planos de enquadramento e de orientações do quadro do MEC pressuporia a elaboração de um contrato nacional entre Estado e empresas de modo a comprometer as comunidades escolares educativas com as empresas da região onde as escolas se encontram instaladas. O Ensino Dual não favoreceria a política do deitar abaixo para poder saltar para cima. Ele implicaria em primeiro lugar a libertação da estrutura MEC da ideologia e do centralismo autista e autocrático. Esta mentalidade impede o compromisso necessário com as realidades regionais in loco tornado impossível uma estratégia consequente que envolveria a inclusão, de parcerias, ao mesmo nível de olhar, entre o MEC, as autarquias, e as empresas do comércio e da indústria. O factor de maior impedimento à regionalização e democratização do ensino encontra-se no facto de as mentalidades que se encontram a nível dos altos órgãos nacionais se encontrarem repetidos nos oligarcas locais. O problema de Portugal é uma questão de educação e de uma filosofia de ensino ultrapassada e falhada! Em vez de uma concorrência humana e leal facilmente se perdem em atitudes sub-reptícias de inveja e de narcisismo alérgico a qualquer crescimento e competição.

Os interesses do MEC, das diferentes escolas, dos sindicatos e dos pais deveriam centrar-se na formação integral do aluno e na formação de cidadãos livres solidários e responsáveis, , capacitados para formar um Estado responsável em que a defesa de interesses individuais, particulares e comunitários se realizassem no respeito pelas organizações e pelo cidadão, à margem da inveja sub-reptícia de grupos que se afirmam e perpetuam a viver de ideias populistas baratas mas bem regadas pelo parasitismo com o Estado. Todo o sistema de ensino, ao atribuir notas de qualificação fomenta a concorrência e deste modo a injustiça da desigualdade de uma sociedade toda ela feita de desiguais mas que perante a lei não deveriam ser tratados como objectos quer em função da ideologia quer da economia. O resto é controvérsia importante para as elites irem vivendo à custa do povo e dela.

Neste sentido a FENPROF e os partidos em volta dela têm prestado um serviço medíocre a Portugal; em vez de se tornarem num corporativismo promotor da sociedade portuguesa tornam-se num seu mal maior ou menor. Quando Crato foi à Alemanha para tentar ver como funciona o ensino numa sociedade que em questões de economia dá lições a todos os países civilizados, logo em Portugal a FENPROF em representação da esquerda alinhada se levantou falando mal do intuito do ministro e do ensino na Alemanha. Não há ensino perfeito nem justo porque toda a pessoa é desigual e cada sistema ou ideologia que o fundamenta, mais que no Homem, está interessada no negócio com ele, dado as instituições se regularem por interesses e não por relações de amizade.

À Maneira de  de Conclusão

O discurso público da sociedade portuguesa em vez de passar o tempo a ocupar-se superficialmente dos temas que os Média disponibilizam, serviria a sociedade portuguesa se se ocupasse seriamente com temas como: o porquê de um sistema de educação (MEC) centralista alienatório, o porquê de Portugal não se alimentar a si mesmo e de o empresariado não ser suficientemente produtivo, o porquê de um sistema público viver em grande parte à custa dos empréstimos estrangeiros; o porquê da mentalidade que nos leva a tolerar tudo isto e a não levar a sério a corrupção instalada no sistema. Para isso é necessário um sistema de ensino que ensine mais a pensar para poder saber argumentar e não viver do enredo mesquinho de lutas aleatórias de inveja.

A implementação sistemática do Ensino Dual profissional em Portugal inverteria a política económica tradicional do estender a mão e o consequente adiamento popular cultural. O ensino profissional obrigaria a política a não perder os olhos da realidade, porque forçaria o país a conceber um ensino produtivo adaptado às necessidades do país e ao desenvolvimento internacional e não um ensino demasiadamente concebido em termos de assegurar posições ideológicas de interesses de corporações radicadas no Estado.

Atendendo às mãos em que se encontra, o MEC não haverá muito que esperar no que respeita à implementação do ensino dual profissional e à liberdade de ensinar. A máquina do poder está mais interessada em viver do controlar e do decidir sobre os conteúdos, os métodos, o pensar, a moral e os costumes dos portugueses do que em levar Portugal à frente no que toca a maior produtividade e à produção qualificada. A esperança virá de uma nova geração de portugueses menos corrompida menos autista e menos invejosa.

António da Cunha Duarte Justo

ENSINO VOCACIONAL (PROFISSIONAL) – NAS PEGADAS DO ENSINO DUAL DE MODELO ALEMÃO

  • (1) Parto da experiência de quarenta anos docência tida no ensino secundário em Portugal e no ensino secundário e universitário na Alemanha. Temos uma má política e uma má organização do ensino, apesar de muito bom trabalho que se tem feito nas escolas. A política de ensino manca porque tem sido feita em cima do joelho e como tal ao sabor das modas e das aragens políticas que se satisfazem no ver a sua bandeira desfraldada e a ser movida pelas emoções públicas.
  • (2) (https://www.publico.pt/sociedade/noticia/morte-aos-vocacionais-1733657). O MEC, além de assentar numa plataforma de conotação marxista, vive de intelectualices sem natural sentir e é muito determinado por um sindicalismo unilateral empenhado na luta em torno dos ordenados para os professores e em medidas políticas ideológicas (por ex. contra o ensino dual alemão) e não aferidas às necessidades reais dos alunos e do país.
  • (3)O sindicato da FENPROF anafado ao MEC, além de muitas virtudes tem impedido o desenvolvimento plural ao defender uma política contra as escolas católicas, ao declarar-se contra o sistema dual de ensino alemão possibilitador de alta eficiência que se vê no resultado da vida económica e cultural da Alemanha. Aposta na violência revolucionária negadora da discussão que vive bem de slogans como fascismo, imperialismo, capitalismo esquecendo que há muitas variedades neles tal como no slogan marxismo. Estão interessados em serem entendidos pelo povo tal com se faz muitas vezes em textos do jornalismo mais dirigidos à emoção do que ao conhecimento.
  • (4) Reorganização dos estudos superiores em todo o Espaço Europeu. A nova orientação é de caracter mais utilitarista.https://pt.wikipedia.org/wiki/Declara%C3%A7%C3%A3o_de_Bolonha
  • (5) Não acho adequada a designação de “ensino Vocacional” para designar o ensino profissional porque uma criança pode ter uma vocação especial e vê impossível a sua concretização numa profissionalização, por razões alheias à sua vocação (chamamento) e vontade.
  • (6) A diferenciação tripartida do ensino Secundário (com ciclo preparatório) em três vias, ensino industrial, comercial e liceal, faz lembrar o enquadramento do ensino em Portugal no tempo de Salazar.
  • (7) Conheci uma portuguesa que com o 10° ano da escola comercial conseguiu tirar o curso de enfermeira em três anos uma outra só conseguiu ingressar no curso dois anos mais tarde dado haver muitos concorrentes a essa profissionalização.

DO FUTEBOLÊS E DA CULTURA DA CONCORRÊNCIA REGRADA

O empate 3-3 de Portugal com a Hungria, no Campeonato Europeu de futebol, permite a Portugal jogar, nos oitavos de final, contra a Croácia, no próximo Sábado. Portugal tem jogado muito bem mas não tem tido grande sorte em termos de conseguir que a bola fure a baliza do adversário, como mereceria; talvez isto se deva à sua técnica de jogo que aposta mais na estratégia individual do que na grupal.

Neste campeonato de futebol, em vez de 16 equipas, participaram 24. Deste modo a tensão aumenta porque de cada jogo depende o avanço. Das 24 equipas foram excluídos 8 e 16 continuam na corrida para a vitória.

O Campeonato Europeu de futebol é mais que um acontecimento desportivo, mais que emoções ecoadoras em estádios e em ruas entulhadas; O Campeonato põe as culturas em contacto com as pantalhas da TV e com a deslocação de muitos fans.

Já por esta razão seria bom que no próximo Campeonato Europeu participassem as equipas de 32 nações.

Se bem observamos todo o gramado da política e da polis, torna-se evidente uma lei fundamental que tudo arrasta e leva à frente: a concorrência regrada. Outros diriam: a guerra ou a violência civilizada, sublimada no futebol.

No campeonato em que todos participamos, no jogo da vida, o ideal seria se o jogo se transformasse mais em festa dentro e fora do relvado! Uma questão de estratégia  mais regrada! Todos por um e um por todos.
António da Cunha Duarte Justo

DO FUTEBOLÊS E DA CULTURA DA CONCORRÊNCIA REGRADA

SEM A GRÃ-BRETANHA A UNIÃO EUROPEIA FICARIA ENTREGUE AOS NACIONALISMOS

 

A Influência de Organizações não-governamentais ganharia mais força

Por António Justo

Quinta-feira os britânicos decidem, através de referendo, sobre a saída ou permanência da Grã-Bretanha na União Europeia.

A Alemanha tem sido a grande aliada do Reino Unido no palco da EU. Em conjunto forçavam a economia livre e da concorrência remando contra o nacionalismo francês. Por vezes seguiam ao sabor de uma “política real” segundo o princípio os fins justificam os meios!

O Reino Unido movido por intenções nacionalistas pretende defender os rostos nacionais na EU; como grande potência tem conseguido para si regalias especiais perante a EU mas mesmo assim os britânicos estão descontentes. Por fim prevalecerá o pragmatismo próprio dos povos nórdicos e de que a Inglaterra é especial exponente. O Reino Unido prevalecerá na EU porque embora as ideologias sejam atraentes, sabem que estas não alimentam povo. Uma potência tem sempre possibilidade de condicionar os outros parceiros. Mas se a Grã-Bretanha saísse da EU o nacionalismo francês de Estado  teria mais facilidade de se impor à Europa porque a Alemanha ficaria mais isolada na defesa de interesses e estratégias nórdicas. Dar-se-ia um deslocamento de influências em direcção do sul.

No que respeita ao desenvolvimento da filosofia de Estado na Europa penso que se daria um atraso. A Crença de Estado francesa afirmar-se-ia então, sem grande concorrência, e influenciaria mais ainda os Estados periféricos latinos. O eixo da influência Alemanha-França acentuar-se-ia. A Europa tem-se encontrado, até agora, a ser influenciada pelos estados nórdicos na sua maneira de fazer economia e política.

Com o Brexit as crises aumentariam e a fúria legislativa da oligarquia de Bruxelas que era limitada pela Inglaterra e Alemanha passaria então a interferir mais na sociedade e na cultura. A nível de legislação na EU, a Influência da economia nórdica arrefeceria um pouco e aumentaria a influência de organizações não-governamentais que querem ver tudo mais regulamentado. A influência dos Verdes e a ideologia do género ganhariam mais força.

O Euro desvalorizaria e as economias dos restantes estados europeus sofreriam arrombamentos. A economia alemã não sofreria grande coisa porque a desvalorização do Euro seria compensada com as suas exportações; talvez sofresse um pouco na indústria automóvel.

Há uma certa insegurança nas empresas porque não se sabe que regras de cooperação surgiram até 2020, data de conclusão do Brexit. As empresas teriam de negociar de novo os contratos. A Alemanha e os britânicos arranjar-se-iam. O resfriamento da economia europeia enfraqueceria, mais os outros estados que a Alemanha. Esta, ordenada e disciplinada é demasiado forte pelo que não sofreria muito com qualquer eventualidade. O mundo das finanças tem andado apavorado, mas depois do atentado na Grã-Bretanha o grupo favorito em favor do Exit sofreu uma diminuição significativa passando para apenas 35%; isto provocou euforia no DAX. O Brexit provocaria muito desemprego especialmente com a saída de empresas dos países parceiros.

Um perigo grande para a EU seria se Bruxelas, para compensar os 56 milhões de consumidores britânicos, abrisse as portas à Turquia na qualidade de seu membro. As regiões periféricas iriam sentir ainda mais a concorrência da nova nação que passaria a ser mais populosa no grupo da EU.

Os britânicos estão fartos da demasiada regulamentação e não conformes com  uma política de portas abertas para refugiados e queriam, neste referendo, mostrar o seu descontentamento. As relações entre a Inglaterra e os Estados Unidos ainda se estreitariam mais.

David Cameron jogou com a democracia indo à pesca de eleitores quando fez a promessa do referendo. Agora sente-se em maus lençóis temendo o resultado do Brexit. O assassínio da deputada trabalhista Jo Cox, defensora da permanência do Reino Unido na União Europeia, provocou uma mudança radical nas perspectivas de voto vindo ajudar os defensores da continuidade na EU movendo também parte do eleitorado britânico que doutro modo ficaria em casa.

O Reino Unido só entrou em 1973 para o projecto da EU começado em 1958 como a Comunidade Económica do comércio livre e da livre circulação de pessoas.

A EU tem razão para temer a saída, por isso se empenha tanto em convencer os britânicos da derrocada que também significaria para eles uma tal decisão.

O crescente nacionalismo europeu, caso a Grã-Bretanha saísse receberia um grande impulso devido às forças anti EU que vêem os interesses nacionais mais bem defendidos fora da EU.

 

António da Cunha Duarte Justo

SEM A GRÃ-BRETANHA A UNIÃO EUROPEIA FICARIA ENTREGUE AOS NACIONALISMOS

A DIFERENÇA É UMA COMPONENTE DE VIDA E A CONSCIÊNCIA TAMBÉM

A propósito do Ataque ao Grupo gay

Por António Justo

O massacre do Estado Islâmico (Daesh) na discoteca gay em Orlando mata 50 pessoas e deixa 53 feridas; neste acto barbárico revela-se o ódio das cavernas contra a civilização. Pessoas inocentes morrem pelo facto de fanáticos não suportarem o direito à diferença na sociedade. Falta o respeito pela vida e a consciência de que a vida tem em cada pessoa o seu rosto. A vida é o sorriso de Deus na natureza a florescer em cada pessoa e em cada planta. Cada pessoa só tem uma vida disponível que, embora integrada numa sociedade, é única e dela. Porquê tanto ódio contra o sorriso de Deus?

Tolerância?

Na folhagem da imprensa e nos meios virtuais, vêem-se muitos comentários que, embora condenando o morticínio de Orlando, também permanecem prisioneiros do espírito dualista que o motivou. Muitas opiniões são equacionadas a partir do posicionamento de dois extremos de uma mentalidade que parte do princípio de que, para se ser por alguém, tem de se ser contra outros. Por vezes as partes contraentes na criticada só se diferenciam por terem uma imagem de inimigo diferente. Na falta de capacidade integrativa permanecendo-se no demonizar ou no idolatrar; e isto acontece porque só se aceita o perfeito ideal e neste caso os gays são os maus e a religião são os bons ou para outros a religião é a má e os homossexuais são os bons.

Porque não interessa a capacidade de discernimento fica-se pela vaga tolerância que não chega a atingir os foros do respeito, numa atitude de opinião tipo salpicão onde tudo cabe devido à elasticidade da tripa da indiferença elevada ao grau de consciência de posição superior.

O respeito por cada pessoa pressupõe a aceitação de ela ser como é, comportando também o respeito pela pessoa ainda não nascida; a aceitação da pessoa também contempla o respeito pela decisão tomada por cada um, o que não implica a renúncia a uma ética fundamental do respeito pela vida em toda a sua forma de expressão.

Na realidade factual e virtual, as pessoas tratam o partido oposto com os mesmos critérios que usam para condenar aqueles que injustamente são agressivos contra os homossexuais. O que falta é o bom senso numa cultura diferenciada mas inclusiva.

Tanto as opiniões como os afectos e as relações das pessoas devem ser respeitados desde que não se expressem de forma violenta. Por outro lado cada pessoa tem o direito a sustentar a sua posição sem ter de deixar ver tudo reduzido à papa da tolerância que tem mais a ver com o direito e a justiça do que com o respeito e a convicção. Para encontrarmos respostas de sustentabilidade para o futuro será necessário observar melhor o princípio da diferenciação na natura e o princípio da consciencialização na cultura.

Maneira de estar de cunho católico

Observei que adversários anticatólicos por conveniência se aproveitam deste acontecimento para atacarem de forma destrutiva também o catolicismo esquecendo-se que o que atacam é a sua imagem de catolicismo. Na sociedade actual é moda a afirmação de uma dogmática orgulhosa “superior” baseada num relativismo que se afirma contra todas as doutrinas ou instituições que tenham um ponto de vista próprio. (Reservam para si o direito de opinião própria que negam à instituição!)

No cristianismo, seja ele católico ou protestante a última instância da moral é a consciência individual. Só a pessoa é soberana independentemente do que uma instituição pense, recomende ou regule. Esta atitude garante perenidade ao cristianismo, porque nela se manifesta a consciência cristã de que tudo o que não é pela pessoa humana está condenado a desaparecer, além da douta sentença de que quem anda com Deus nunca se encontra sozinho. Esta liberdade e soberania da pessoa não a ilibam de responsabilidade em relação à comunidade nem da comunidade em relação a ela.

O problema de todas as instituições grupos ou agrupamentos é deixar-se levar pela enxurrada da rotina do dia-a-dia, que geralmente serve o poder e o domínio do mais oportuno e violento, fixando-se em medidas mais pedagógicas e didácticas, deixando na sombra a profundidade da própria doutrina e filosofia que é mais abrangente mas que, também, numa sociedade massificada e de massas, geralmente, não é contemplada. A ética católica não se deixa reduzir a uma expressão ou contexto histórico nem tão-pouco ao espírito do tempo; ela é de cunho pessoal tendo em conta também a comunidade como lugar da realização da individualidade.

Por isso a ética de cunho cristão é processual orgânica e dinâmica não se podendo reduzir a uma formulação intelectual nem a um discurso do sim-não; ela é viva e a sua expressão é resumida no JC, o protótipo do Homem como passado, presente e futuro; com ele caminha toda a criação e todo o discurso no sentido do Alfa para o Omega.

A maior dificuldade vem do facto das diferentes posições e opiniões se expressarem de forma provocadora e violenta.

Incoerência no proselitismo e na provocação

Os contraentes das opiniões não são simples ao lidar uns com os outros fazendo uso, por vezes, do proselitismo e da provocação na arena pública ou publicada. Em vez de aproximação ou de argumentação recorre-se à repulsa do outro (para cada um o diferente é o outro) e à opinião formatada sem espaço para a argumentação. Não é saudável a atmosfera em que se vive dado minorias em sociedade tentarem humilhar a sociedade que lhes deu o ser e se comportarem como senhores da melhor verdade e como tendo o rei na barriga. Mas também a sociedade maioritária deveria reagir à provocações com maior serenidade como reagem os pais perante o filho adolescente que se revolta para se encontrar e definir a si mesmo.

O cúmulo da ingenuidade seria querer impor a própria forma de vida através da provocação e da violência. A parte mais fraca quando tenta impor a sua forma de vida através da provocação e da violência deveria ser consequente e pensar que se a razão se impõe pela violência então a razão estará do lado de quem tem mais força, legitimando deste modo a ditadura das maiorias.

Cada comunidade de interesses deveria naturalmente procurar ser reconhecida num convívio das comunidades cujo fim é, na complementaridade, o alcance da felicidade; nem o trunfo da força nem o do moralismo relativista são meios adequados como argumento. Uma sociedade relativista, da moral do politicamente correcto, tem-se afirmado à custa de uma estratégia de confusão dos argumentos e deste modo tem reduzido a capacidade crítica das massas. A decadência vive da ambivalência e do deita abaixo, por isso são consequentes na sua luta contra o monoteísmo e o organigrama estrutural de formas de vida tradicional. É chegada a hora em que não se deve tratar de combater um totalitarismo da exactidão abstracta com um totalitarismo dos relativismos ou vice-versa mas de personificar o dia integrando o passado e o presente num futuro que embora manque à esquerda e à direita não se torne torto.

Vivemos tropeçando em nós e no tempo

 Vivemos num tempo narcisista que procura adquirir trunfos e viver da confusão e, como tal, grandes grupos da sociedade já não distinguem entre o público e o privado, entre o caótico e o ordenado, nem sequer o que é fundamental e o que é secundário: cada um quer fazer da sociedade o seu espelho e formatar a sociedade e as instituições à medida da sua opinião. Para isso exigem uma sociedade tão aberta que identifique a linha da sua demarcação com a fronteira do indivíduo.

O princípio da discriminação é inerente à capacidade do discernimento; o problema surge quando se fixa numa só anuência contra uma realidade que é processual e flui. Ao afirmarmos indiscriminadamente que uma geração é mais madura que a outra, que este ou aquele é que tem a culpa, já decidimos pela forma de discriminação negativa ou positiva, colocando-nos assim no tapete dos discriminadores (caso um momento processual do conceito se fixe em “preconceito” provocando uma sentença irreversível). O problema do jogo do empurra e a questionação da culpabilidade já foi mestralmente resolvido na resposta dada por Jesus aos espertos da sociedade que queriam ver uma mulher condenada por ter sido apanhada em falta flagrante contra a opinião dos doutores do saber e da lei: “Aquele que de entre vós está sem culpa seja o primeiro que atire a pedra contra ela” (Jo, 8, /), escreve no pó da realidade, o mestre.

O respeito pela vida leva a proteger as crianças da pedofilia e os não nascidos da morte prematura por aborto. É uma questão de atitude e de filosofia: o respeito e a admiração pela vida que compreende os excessos sem os aprovar. A ética não pode ser reduzida a valores limitados ao pragmatismo utilitário nem apenas à circunstância. Para lá de valores éticos de caracter racionalista e mecanicista há uma ética de responsabilidade criativa e orgânica. Não se trata aqui de estar de acordo ou em desacordo mas de nos encontrarmos todos no meio da vida com as suas inclinações e opções.

As inclinações e predisposições podem ser mórbidas (Freud) mas estas não devem ser aquelas que servem de orientação para a sociedade ou em nome da banheira da tolerância legitimar um relativismo superficial que igualiza todos os valores e deste modo não leve nenhum a sério, como se fosse possível em nome do intelecto negar o corpo e a massa cerebral ou como se se tivesse a impressão de ser tão intelectual ou espiritual e tão perfeito que pudesse afirmar-se sem o corpo, numa dimensão sem espaço nem tempo.

As pessoas confundem muitas vezes uma orientação sexual ou pessoal com uma opção. A opção é de caracter intelectual, de caracter mecanicista e artificial, geralmente estranha à vida que é orgânica. Uma sociedade demasiadamente demarcada pelo conceito de liberdade, que fomenta o individualismo absoluto, incorre na tentação de reduzir tudo a uma mera decisão de escolha como se a realidade fosse feita de sim ou não, ou de um momento só (visão momentânea) e não tivesse um caracter orgânico processual. A vida privada tem naturalmente uma outra abertura que não é possível viver totalmente no enquadramento social. Não é fácil manter a equilíbrio para se na ser vítima de uma ditadura da maioria nem da ditadura de minorias.

Tentativa de solução

É necessário um estado contínuo de presença, reflexão e análise das próprias ideias e opiniões, dado cada pessoa, cada geração, cada grupo precisar de um contexto ideário e de uma definição para poder dar expressão à própria existência e motivação (manifesta-se aqui a interferência ideal e orgânica da relação de identidade pessoal e da identidade comunitária ou social em que uma deve servir a outra). Geralmente o que se considera como normalidade não passa de uma visão rotineira e de aceitação do domínio do dia-a-dia e da vista curta e generalizadora de algo que é mais profundo e abrangente. O problema vem da implicação da relação entre indivíduo e grupo e da identificação da própria definição com a definição do grupo; muita agressividade vem dessa confusão que se expressa tanto no orgulho gay como no orgulho nacional. Entre o homo e o hétero está a objectividade da pluralidade e heterogeneidade da natureza. Na natureza porém coexiste pacificamente a regra e a excepção. O carvalho não se sente superior ao arbusto pelo facto de ter mais luz nem a faia se sente superior à floresta pelo facto de se sentir mais individuada em relação a ela.

O proselitismo e o exibicionismo, em voga, contra os valores da família, da nação e de Deus, embora não abdicando de se definir e identificar, rebela-se contra qualquer definição e identificação de forças de uma sociedade que consideram burguesa e querem ver destruídas. O problema das forças centrífugas de uma sociedade torna-se fatal quando estas, em vez de quererem corrigir exageros de uma moral, cultura ou religião demasiado centrípetas, optam pela sua destruição. Então a maioria sente-se provocada e reage também ela de maneira inadequada em vez de reconhecer que nela são necessárias tanto as forças centrípetas como as centrífugas. As energias centrífugas (progressistas) têm exagerado contra as forças centrípetas do passado. Por isso as energias centrípetas (conservadoras) reagem e se revelam de momento um pouco mais fortes. Sofre de contradição e de lógica quem quer, em nome do biótopo ideológico, destruir a ecologia cultural. O meio ambiente (população cultural) precisa da coexistência de diferentes biótopos humanos. Que seria da frase sem a palavra e que seria da frase sem o texto? Em nome da igualdade da palavra, da frase e do texto não podemos acabar com estes para reconhecermos só valor da letra!

As forças de resolução no caos são contra as forças ordenadoras na criação. Daí a necessidade de afirmadores e negadores se consciencializarem das forças que representam e que redemoinham no lago da própria existência e na realidade maior que é a Terra. Daí o problema de as forças primeiramente mencionadas se expressarem no budismo e no niilismo em voga e as forças ordenadoras se expressarem mais no cristianismo. A decadência é de inspiração relativista e como tal tenta conduzir uma cultura fértil ao Tohu-va-bohu (Jer 4,23) confundindo a realidade com a própria guerra, a verdade com o horizonte da sua vista (estado da confusão sem esperança em estado após uma guerra!). A tendência actual extremista que se expressa no islão na defesa do grupo contra o indivíduo nota-se o contrário no ocidente na luta do indivíduo por se definir contra o grupo; deste modo cai-se no vazio espiritual, como forma de liderança, na esperança de que a liberdade se identifique com a largura do deserto. Que cada um, no ocidente, lute pela própria definição e afirmação é totalmente legítimo e natural, mas obrigar a colectividade a ter de igualar a regra à excepção seria abdicar do pensamento honesto de desenvolvimento ordenado! A comunidade heterossexual deve viver em paz com os grupos homossexuais e estes com a heterossexual na aceitação da naturalidade de vida sem discriminar nem negar o direito natural à diferença mas estar consciente de que a diferença só tem expressão no grande bosque que é a sociedade e a cultura.

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e pedagogo

“Meditações Irreverentes” https://antonio-justo.eu/?p=3678

GOVERNO APELA À EMIGRAÇÃO DE PROFESSORES PORTUGUESES

Emigrantes usados como programa de ajuda ao desenvolvimento do país

António Justo 

 

António Costa, nas celebrações do dia de Camões, incitou os professores portugueses desempregados a emigrar. Repete assim em Paris o convite que Passos Coelho tinha feito em 2011 aos professores sem emprego. Deste modo tenta evacuar também os professores obrigados a sair do Ensino Privado.

Em nome da difusão da língua,  faz-se passar como nobre um apelo que não passa de um testemunho de incompetência do Estado português que tradicionalmente não consegue dar resposta às necessidades dos seus cidadãos dentro do próprio país.

Torna-se ainda mais doloroso para a alma portuguesa ver que são convidadas a sair pessoas que, em Portugal,  tanto investiram na formação e que contribuiriam para a elevação social portuguesa.

O mesmo Estado que não investe no fomento e rejuvenescimento da demografia nacional tem a falsidade de justificar a saída de portugueses jovens com o argumento do défice demográfico português (falta de crianças). Por outro lado devem os nossos jovens ir rejuvenescer e enriquecer outros países que para isso recorrem da imigração, preferencialmente, de pessoas formadas. Os países ricos compensam o défice demográfico com o fomento de imigração qualificada e países da periferia como Portugal envia os seus formados e sujeita-se a receber imigrantes que tem de formar! Quando estará Portugal disposto a acordar?

Outrora tudo se levantou em coro contra a atitude reprovável do antigo primeiro-ministro. Hoje que o primeiro-ministro pertence ao outro quadrante político e faz o mesmo apelo já a imprensa portuguesa se mantem moderada e até ousada ao querer considerar não oportunas as opiniões críticas independentes. A diferença: António Costa tem razão pelo facto de ser do outro quadrante político.

O cinismo é de tal modo exuberado que querem passar a impressão de fomentarem assim o ensino de Português no estrangeiro, quando a política desde 1989 tem sido no sentido contrário. Já nos anos 80 eu lutava para que as associações portuguesas no estrangeiro fossem incrementadas através do Estado no sentido de estas criarem cursos de português em regiões não centrais criando assim a possibilidade de emprego para professores e outros implementadores de negócios e cultura nas associações, mas tudo isto era visto como abstruso.

Conversa, muita conversa é o que o Estado tem oferecido aos emigrantes e a muitos dos seus representantes que se contentam e alegram  com o calor da proximidade de políticos nos encontros com eles.

Agora, a política parece esfregar as mãos por cada português que sai: é mais um a enviar remessas para a administração portuguesa poder gastar e é menos uma pessoa crítica em Portugal a protestar.

Deste modo as nossas elites continuam a adiar refinadamente Portugal, abusando dos emigrantes como programa de ajuda ao desenvolvimento do país enquanto o Estado continua sem emenda transformado em rampa de lançamento para os boys que o povo tem de alimentar.

O grande problema a resolver é o de uma visão meramente ideológica que parte de um Estado considerado intrinsecamente bom e de interesses corporativos fundamentados em tal ideário.

Enquanto o nosso estado se considerar como naturalmente bom e os interesses corporativos aninhados em torno dele continuarem a ter uma consciência de iluminados, Portugal continuará dividido e a marcar passo.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo https://antonio-justo.eu/?p=3671

 

Outro texto relativo ao tema:

Antigamente a escravidão, hoje a emigração

https://antonio-justo.eu/?p=1541