Diplomatas de Carreira defendem as suas Mordomias – Vice-Consulado de Frankfurt Vítima de Interesses duma Classe

Vice-Consulado de Frankfurt Vítima de Interesses duma Classe

Porque fecham Vice-Consulados e não Consulados

António Justo

Um consulado faz o mesmo trabalho que um vice-consulado. O chefe dum consulado é um diplomata de carreira, mais para representar do que para trabalhar. E isto com a agravante que, no consulado ele ainda sobrecarrega os outros funcionários com trabalho seu e ocupa um escritório. Um Vice-cônsul faz o trabalho dos dois mas mais modicamente e mais próximo do povo.


As despesas com um Cônsul português na Alemanha chegariam para manter um vice-consulado. Pelo que consta, um cônsul além do seu ordenado tem direito a um subsídio mensal de renda de casa entre 3.000 e 4.000 euros, e um subsídio de representação de 7.000 euros mensais. Um consulado tem o seu cônsul, um vice-cônsul e outros empregados. Se o Governo nomeasse, em vez dum cônsul de carreira, apenas um vice-cônsul residente no país do Posto consular, poderia empregar o subsídio de residência que gastaria com o cônsul no aluguer das instalações para um vice-consulado e os sete mil euros de representação poderiam ser aplicados produtivamente. A redução de dois consulados para vice-consulados, na Alemanha, disponibilizaria dinheiros suficientes para se manter os vice-consulados de Frankfurt e de Osnabrück . Um cônsul custa ao erário público pelo menos 15 mil euros por mês.


Diplomatas de Carreira defendem as suas Mordomias

O Governo encontra grande oposição ao seu plano de reestruturação e poupança nas embaixadas e consulados de carreira. Aí poderia o Estado poupar fortunas mas não parece ter poder contra a classe dos diplomatas. Estes querem manter a maior parte de postos de carreira preferindo acabar com os vice-consulados, porque nestes não são precisos diplomatas de carreira. Será que Paulo Portas não tem poder para emagrecer este gordo couto, ou será que o poder corrompe? Uma nação economicamente ajoelhada torna-se ridícula nas regalias que dá às suas mordomias de representação sem obter nada em contrapartida. Naturalmente que as embaixadas se prestam param se tornarem reservados de ilustres dos partidos.


De facto, o encerramento dum vice-consulado encontra o apoio do corpo diplomático porque o vice-consulado faz o mesmo trabalho dum consulado não precisando, para o efeito,  pessoal diplomático. Este opõe-se, por isso, à passagem de Consulados a vice-consulados. Sabe-se porém que, duma maneira geral, Vice-consulados servem melhor o público do que os consulados.

O MNE ao seguir à pressão dos diplomatas não toma a sério as medidas de poupança.


O Estado deveria fazer contas. A falta de assistência aos portugueses desmotiva o envio de receitas para Portugal, fomenta a naturalização alemã bem como a ida de pessoas idosas para Portugal. Tudo problemas complicados. É preciso emagrecer a máquina e aproveitar a reforma para salvar as instituições que funcionam bem. A crise é uma grande oportunidade para finalmente se tomar a sério o Estado e o povo. Se se poupam na reforma os senhores do olimpo, a credibilidade de Portugal, para resolver a crise, torna-se nula. Senhor ministro Paulo Portas, aproveite a oportunidade para ficar na história como um estadista valente. Heróis só são possíveis em tempos de crise, há que não deixar passar a oportunidade. É preciso arrumar com as teias de aranha que ainda restam no corpo diplomático. Diplomacia é boa se não for construída à custa de privilégios que afastam do povo e obstruam o melhor servir!


Como constatamos a vida é luta e muitos dos que lutam alcançam um lugar ao sol na sociedade. Os diplomatas defendem afincadamente os seus privilégios porque sabem disso. E o povo, ingenuamente, queixa-se em vez de se levantar e protestar com eficácia. Democracia corre o risco de se tornar num álibi para justificar o domínio dos que sempre dominaram e viveram demasiado bem à custa dos Estados e dos Povos!


António da Cunha Duarte Justo

Conselheiro Consultivo do Vice-Consulado de Frankfurt

antoniocunhajusto@googlemail.com



Encerramento do Vice-Consulado de Frankfurt e do Posto de Osnabrueck – Um Escândalo


Os gastos com os nossos ricos das Embaixadas e dos Ministérios são tabus

António Justo

O Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal determinou encerrar o Vice-Consulado de Frankfurt, e o Posto de Osnabrueck, já no próximo mês de Dezembro. O Posto de Frankfurt, tem uma vasta área geográfica que abrange três Estados federados da Alemanha.

Há dois anos o Consulado-Geral de Frankfurt foi reduzido a Vice-consulado para se possibilitar o Posto de Osnabrueck.

O argumento agora apresentado para extinguir o Posto de Frankfurt é a poupança. Também a poupança requer ser feita com inteligência e eficiência, ou segue-se o princípio de extinguir os locais onde se espera menos resistência política.

Deparamos com uma poupança atabalhoada que não contempla um programa racional de poupança eficaz nem pondera a possibilidade dum serviço à comunidade com menos custos. Delibera-se, autoritariamente, sem um plano eficiente de poupança racional a efectuar e sem uma estratégia como atingir os objectivos da poupança determinada mantendo o máximo de serviço à comunidade com a verba reduzida.

Facto é que não pode despedir o pessoal e a sua transferência vai criar grandes dificuldades às comunidades de portuguesas por ele servidas. Em Frankfurt, tal como noutras representações diplomáticas, poder-se-ia diminuir drasticamente os pesados encargos com aluguer de instalações e talvez com outras poupanças a nível interno de maneira a os funcionários continuarem a manter o serviço aos utentes. Podiam manter-se locais de serviço fazendo funcionários deslocar-se a outros postos carentes de pessoal… Frankfurt é uma zona rica e o centro das finanças da EU. Enquanto outros países procuram manter o contacto com este centro europeu, Portugal despede-se dele.

Porque não se diminuem as repartições onde moram os ricos começando pelas embaixadas e serviços altos do Estado? Almeida Garrett constatava já: “E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infância, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico?” Portugal poupa mal e nos lugares falsos.

Portugal paga 60.000€ mensais pelo aluguer do alojamento em Berlim

Portugal pretende manter o Brilho da Embaixada à custa de Serviços consulares. Embora possuindo um terreno em Berlim, o Estado português paga 29.894,93 euros de aluguer pelas instalações da Embaixada e 12.782,30 euros pela residência do Embaixador, num total mensal de 42.677,23 euros, como referia já o Portugal Post em 2008. Agora com a repartição de turismo a conta subiu, pelo que consta, para a 60.000 € mensais. Não se refira já os gastos com mensalidades a dignitários da Embaixada com ordenados mastodônticos e carros ao serviço, cujo trabalho poderia ser garantido com despesas módicas. De consciência embaçada, vivem bem nos seus guetos discretos e imperceptíveis à comunidade e à sociedade alemã, gastando o dinheiro que a Nação não tem.

Portugal para ser humano e moderno terá de racionalizar os gastos com a sua vaidade, com os que vivem para lá da barreira do povo e não apenas com os que trabalham directamente com ele. O povo já é demasiado pobre. A crise não se resolverá porque o problema está em manter os nossos ricos da sociedade e do Estado.

Se em tempos de guerra não se limpam armas, porque se não reduzem também os consulados de Hamburgo, Düsseldorf e Estugarda a vice-consulados? Mantinham-se os serviços sem nenhum prejuízo para a produtividade. Com o dinheiro poupado nestes cargos honoríficos improdutivos tapar-se-iam buracos sem abrir outros. Se um vice-cônsul é um trabalhador um Cônsul é um senhor! Estes justificam-se só a nível excepcional. O único critério da sua sustentabilidade deveria ser o que conseguem, em cifras, obter para Portugal.

Também não se conhece nada do que terão feito os cônsules de Estugarda, de Dusseldorf e de Hamburgo, o que, a seguir a mesma lógica, também estes deveriam ser reduzidos a vice-consulados, destinando-se as centenas de milhares de euros anualmente poupados na promoção das actividades associativas e cívicas em torno do consulado ou para os fins da poupança.

Fazer dos Consulados e das Embaixadas Casas da Porta Aberta de Portugal

Uma política de reestruturação consular e das embaixadas (destas ninguém fala!…) terá que assentar em dados científicos e numa política prospectiva que tenha em conta uma acção programática portuguesa a curto prazo para os próximos 10 – 20 anos. Os vice-consulados terão de se tornar em Centros da Porta Aberta, em Casas de Portugal onde se realizam as mais diferentes actividades.

Os funcionários dos postos deveriam ter competência para estabelecerem ligações comerciais e industriais com empresas alemãs de modo a cativar investimento para Portugal. Para isso o Estado português teria de saber o que quer, não se podendo limitar a medidas cosméticas, reagindo a interesses parciais instalados.

A economia e a cultura serão os determinantes do futuro. As Casas de Portugal terão de se tornar biótopos, viveiros de toda a vida das regiões onde se encontram os portugueses. Portugal não se torna caro com os funcionários que servem directamente o povo; Portugal é pobre pelos custos que tem com uma alta burocracia parasitária improdutiva.

Não chega criar “condições para responder às solicitações” dos utentes; é preciso antecipar-se a elas e aos instalados no sistema. Precisa-se dum novo perfil de pessoal das embaixadas e de postos consulares (verdadeiras Casas de Portugal). Apesar da “revolução” as embaixadas resistiram aos ventos da mudança.

Uma democracia, se de facto o é, deverá pedir contas aos seus representantes. Os Embaixadores, os conselheiros de embaixada, os cônsules, vice-cônsules, deveriam tornar público um plano bienal que mostre o programa a realizar concretamente por eles. Naturalmente que de dois em dois anos deveria ser apresentado um relatório do que fizeram ou deixaram de fazer e porquê. Assim a comunidade adulta poderia controlar o que os seus “servidores” fazem e intervir no sentido de se promover Portugal em vez de viver à custa dele. A comunidade civil tem o direito de saber o que os seus mais altos funcionários fazem. A um professor, que ganha um quarto ou até menos dum quinto do que muitos destes senhores recebem, exigem-se relatórios irracionais e àqueles deixa-se andar à vontade com relatórios internos feitos para contentar a administração e sem um mínimo de controlo de eficácia.

Como poderá Portugal permitir que pessoas ocupem cargos administrativos improdutivos e recebam do erário público mais de dois mil contos por mês sem apresentarem contas do que fazem à comunidade civil? É pena que a grande maioria suje a veste de alguns poucos. Isto escandaliza e torna ridículas as medidas que o MNE toma.

A reestruturação dos consulados terá de ser mais radical a nível de concepção, de estratégias, de perfil do pessoal e de excussão. Antes porém deveria começar-se pelas Embaixadas, verdadeiros absorvedores dos dinheiros públicos. Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros, não se deixe atemorizar pelos boys da sua casa grande. Não actuar é beneficiar a praga dos gafanhotos. Eles comem tudo e não deixam nada.

Todos estamos dispostos a contribuir para restabelecer a honra enxovalhada da nação. Queremos porém que os que nos conduziram a esta situação não sejam indulgenciados como continuam a ser.

(Envio este texto também ao Senhor Primeiro ministro e ao senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros.)

António da Cunha Duarte Justo

(Conselheiro Consultivo do Vice-Consulado de Frankfurt)

antoniocunhajusto@googlemail.com

Razões da Situação Precária de Portugal


O Narcisismo do meu País

António Justo

Portugal tem uma população muito trabalhadora mas economicamente ineficiente. O maior problema da sociedade portuguesa está no facto de ter uma classe média acomodada e presunçosa com falta de espírito empreendedor, geralmente colada ao Estado e a burocracias ineficientes.


Em nome do progresso, o povo foi submetido a um ritmo de mudança tal que perdeu a visão geral dos problemas, entrando num processo desorientação e numa despersonalização que se expressa no exagerado consumo de antidepressivos em relação a outros países. Encontramo-nos perante um país com um Estado cobaia sempre a importar novos conceitos mas sem tempo para os digerir nem para desenvolver conceitos próprios com base na própria experiência (isto pude constatá-lo durante 30 anos nas formações anuais do Ministério da Educação – uma semana por ano). A vida dura leva-o a sonhar: ir ao shoping, ver futebol não restando tempo para ler.


Enquanto países como a Alemanha se preocupam em receber imigrantes qualificados para as suas empresas, Portugal fomenta a emigração duma juventude sem lugar para ela na sociedade.


Como emigrantes, os portugueses, são bons camaradas e ao mesmo tempo amigos do pratão. Enquanto os portugueses no estrangeiro aforram, na terra gastam mais do que produzem. Os não emigrados, julgando que os “emigrantes” ganham o dinheiro sem suor, vêem-nos de resvés. A inveja não suporta outros de cara lavada.


A assimetria no desenvolvimento de maiorias e minorias fomenta a inveja. Uma política partidária narcisista tem acentuado o problema.


Enquanto na França há 1,99 crianças por mulher, na médias dos 27 países da EU 1,58, Portugal consegue, com 1,32 por mulher, ser na Europa, o país que menos filhos gera. Portugal ainda os poucos filhos que tem obriga-os a emigrar, não criando espaço económico para eles. Sangra-se. Paulo Morgado denuncia, com objectividade, Portugal com um Estado colosso como um polvo que tudo abafa não permitindo concorrência na vida económica e cultural portuguesa. “O mercado português ainda se move mais pela parte relacional do que pela competência”. Isto podemos constatá-lo desde a administração pública às Câmaras Municipais, onde há chefes de si mesmos (sem um mínimo de pessoal a administrar) com projectos artificiais (para colocar amigos).


O Estado não se tem preocupado com política familiar, castigando quem tem filhos; não se tem preocupado com o fomento de empresas pequenas e médias, aquelas que poderiam criar emprego e produção portuguesa. Cada um, onde está faz por si. Na arena pública da nação são constantes os discursos políticos; a discussão económica tem sido pouco séria, muitas vezes apresentada sob uma perspectiva de autodefesa ou de culpabilização dos outros. As empresas e o discurso cultural encontram pouco espaço na discussão pública.


A classe política, na sua incompetência da gestão pública, desqualificou-se ao deixar chegar o país à beira da insolvência.


A via para sair da crise será “o saber de experiência feito”

“Porque é sono o não saber”, constatava já Fernando pessoa.

As instituições não têm assumido responsabilidades. Os problemas políticos, sociais e económicos, são em geral discutidos nos Media sob uma perspectiva político-partidária, o mesmo se dando no parlamento. Nota-se falta de competência económica, no discurso nacional. Muito discurso é meramente teórico sem experiência adquirida nas empresas e nos laboratórios das universidades. Muitos dos assessores têm apenas um curso universitário e o cartão do partido. Perdemos o ideal que pautava os arquitectos dos nossos descobrimentos: “o saber de experiência feito”.


Seria esclarecedor da situação se se fizesse um estudo sobre a proveniência profissional dos deputados com acento no parlamento: quantos são empresários, quantos provenientes do serviço público, quantos ecónomos, engenheiros, juristas, pedagogos, médicos, etc. Assim se saberia os modelos de pensamento que dominam o parlamento. Daí se poderia concluir da sua competência económica e social. O jogo de xadrez do poder político cada vez descarrega mais figuras políticas na liderança de grandes empresas de relevo nacional. A objectividade cede a interesses encostados às burocracias. Um tal sistema fomenta um espírito providencialista e parasita. Um bom tema de doutoramento seria uma investigação séria sobre as grandes empresas nacionais e o número de quadros vindos da política.


Já chega de “português para inglês ver“. Em Portugal  Tudo fomenta um narcisismo latente na administração e na sociedade. O sistema fomenta a ascensão de pessoas narcisistas como se pôde verificar no currículo de Sócrates. Exagerado senso de auto-estima sob o substrato duma realidade deprimente. Ciumentos estão sempre prontos a dar a culpa aos outros e com dificuldades de relações pessoais autênticas concentram-se, por isso na sua carreira: os fins justificam os meios. Geralmente, pessoas que se encontram à frente do pelotão não sentem empatia pelos outros. Em vez da empatia têm um sentimento de grandiosidade sem limites. Querem admiração sem crítica, não se importando, a nível prático, com a exploração dos outros. O que conta é dinheiro, poder e prestígio. No mercado das opiniões, sentem-se vítimas colocando os outros no lugar do transgressor.


Vive-se uma vida ad hoc. Quem não produz mais que consome age contra a natureza! Já David Hume constatava que “não é a razão que nos orienta na vida mas o hábito”. Daí a necessidade de vozes da consciência nacional que chamem a atenção do perigo da inércia, o perigo dum hábito irreflectido em que tem vivido toda a nação: uns da cópia e os outros da imitação. Por isso a primeira exigência que se coloca a um cidadão formado é ser um cidadão céptico mas consciente de que a crítica esconde a desilusão. Não se pode continuar a viver segundo o lema: já que não se tem o que se quer, aceita-se o que se não quer. Na sociedade portuguesa por onde quer que nos movimentemos tropeçamos no narcisismo. As ondas do narcisismo que emanamos são tão perigosas como as ondas de radioactividade atómica.


A primeira república portuguesa rendeu-se ao estrangeiro, a actual também. O futuro está nas nossas mãos de cidadãos! Portugal ou acorda agora ou quando acordar já não é Portugal.


António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com



LÍBIA NAS PEGADAS DO IRAQUE


Vitória da Rebeldia mas não da Democracia

António Justo

A coligação rebelde – uma aliança paramilitar de 40 grupos díspares habituados a disparar para o ar (como as imagens têm mostrado) – acaba com um regime para instalar outro. É verdade que a rebeldia norte-africana unida apenas ao islão traz ventos novos mas não os ventos da democracia e dos direitos humanos como demonstram o Irão, o Iraque, o Kosovo/Albânia, o Afeganistão e outras sociedades onde a violência se espelha nos rostos e nos gestos da praça pública.


Para quem esteve atento, aos Meios de Comunicação Social ocidentais, estes, nos últimos sete meses, só apresentaram, imagens e entrevistas com os rebeldes; a voz dos fiéis a Kadhafi foi oprimida independentemente da maioria querer ou não a revolta. Amplia-se a voz de quem fala mais alto, a voz de quem serve os “nossos” interesses. O Ocidente manipula e determina assim, através dos Média, a opinião dos seus súbditos obrigando-os a ter a impressão que só está na ordem do dia a voz dos rebeldes. Encontramo-nos perante um sistema de lavagem cerebral refinada e o povo até pensa que tem uma opinião bem formada, pelo facto de viver em democracia. A má intenção, aliada à ingenuidade e à ignorância, pode muito.


Direitos humanos, liberdade e democracia são produtos sociais ocidentais ainda muito enfezados no próprio Ocidente. A sua concretização precisou de muitos séculos para se ir tornando realidade numa sociedade europeia de história muito conflituosa. O Ocidente não faculta aos árabes a sua luta paulatina pela conquista das suas liberdades. Interesses económicos, que não humanos, apoiam, conforme o estado do tempo, alternadamente, regimes que impedem a colonização interna do país em benefício dum colonialismo suave exterior. O preço são povos continuamente prostrados e violentados em nome de humanismo e democracia. Continuam, a ser povos subjugados por uma cultura prisão, que os põe ao serviço dos interesses mesquinhos de poucos.


Depois de 42 anos de domínio de Maomé al-Kadhafi, o seu poder corre pelas ruas. O seu paradeiro é a “tenda”, três dos seus filhos acham-se nas mãos dos rebeldes e o preço do petróleo baixa.


A Líbia parece juntar-se aos rebeldes sob a orientação do presidente do Conselho Nacional Provisório (Governo Provisório) Mustafa Abbdul Dschalil (antigo ministro do regime de Kadhafi).


Que será depois do ditador Kadhafi? Um lugar da anarquia, um alfobre de islamismos?


Anseios duma liberdade não realizada projectam-se sobre uma sociedade de grupos rebeldes unidos apenas pela mão forte e violenta dum Corão imprevisível. Liberdade e democracia não fazem parte da sua filosofia. Democracia é um produto ocidental, não oriental, tido como parte da colonização.


A América e a Europa ou são cegas ou querem enganar os seus cidadãos ao atestarem vontade democrática ao povo líbio, quando este luta por outras realidades, e o Ocidente, o que pretende é petróleo, querendo, para adquirir estabilidade para o negócio, impor ao mundo árabe um sistema de valores a este alheio.


Sociedades, sem partidos, sempre confiantes em caudilhos ou no poder militar, ainda não chegaram ao Renascimento europeu e menos ainda às lutas entre forças religiosas e forças seculares.

Os nossos políticos certamente que não têm conselheiros isentos em assunto de antropologia, de sociologia árabe nem de islão.

Por isso o Ocidente perdeu a guerra do Iraque sendo a emenda pior que o soneto; também sairá vencido da guerra do Afeganistão e terá que pagar bem caro, económica e culturalmente, as palhaçadas que se permite na África do Norte.


A Líbia encontra-se numa situação pior que o Egipto ou a Tunísia. Sem um exército e com uma sociedade tribal unida apenas pelo islão, a Líbia propõe-se mais à desmoronarão.


Profecias de al-Kadhafi

Kadhafi, como berbere, confessa: “Eu sou um combatente, um revolucionário a partir duma tenda… vivo no coração de milhões… morte, vitória é igual, nós não desistimos… Estas pessoas (os líbios) chegarão um dia à posição de levar esta luta à Europa e as vossas casas, escritórios e famílias tornar-se-ão alvos – legítimos alvos militares – tal como vós usastes as nossas casas como alvos…”. (extractos de citações do HNA, 23.8.11).


Um “eu” no nós, um nós no eu, constituem a força duma civilização que parece incompreensível ao ocidente. Esta confissão revela uma estratégia islâmica que só conhece vencedores e, no caso de fracasso, se alegra com o martírio, o último valor que esperam os guerreiros do Deus/Alá.


É muito cedo para se poder prever o caminho líbio. O deserto é grande e propício às mais diversas tendas. Uma sociedade com muitos canteiros de obras só com o cimento do Corão e da Sharia, mitigada por ideias e interesses contraditórios de berberes e migrantes, não constitui fundamento para esperanças aleatórias de liberdade e democracia. Pior ainda quando democracias ocidentais mitigadas pela corrupção se armam em exemplo para uma sociedade de corrupção estrutural?


O futuro próximo da Líbia não se adivinha melhor que antes, tal como aconteceu com o Iraque. A embriaguez do petróleo impede o Ocidente de ver e de pensar com clareza, prejudicando irremediavelmente o seu desenvolvimento bem como o desenvolvimento social dos árabes.


Restará à América e à Europa aguentar com os riscos e com os custos do estacionamento (“construtivo”!…) de militares da Nato na Líbia. Em nome da comunidade internacional e de “medidas humanitárias” enganadoras, a política justificar-se-á, abdicando do bom senso.


O Ocidente oferece aqui mais uma oportunidade à estratégia de al-Qaida na sua guerra contra a economia ocidental.


O papel da Europa e dos USA é deprimente. Na sua arrogância não tomam o islão a sério nem os seus representantes. Confundem o desejável com o praticável. A mudança não é possível com coacção. Nos Media usa-se a palavra-chave democratização como capa da corrupção, da censura e da violência.


A distância da Líbia à democracia está na proporção da distância do Corão aos direitos humanos.

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

Europa em Ebulição – Magmas Culturais e Económicos


Tumultos na Inglaterra – Erupções do Grau Cinco na Escala de Richter

António Justo

Por toda a Europa há sublevações nas camadas fracas da sociedade. Os arroteamentos levados a efeito pelos exploradores do planeta revelam-se destruidores de meio e ambiente, não tanto pela mudança climática originada mas pelo desequilíbrio provocado nos biótopos naturais, culturais e económicos.

Nos bairros pobres das cidades respira-se uma onda de insatisfação, na Bolsa garça a tempestade e na política a incapacidade. As irregularidades climáticas e sociais parecem fazer parte dum mesmo fenómeno: perturbação crónica de identidade na sociedade e no cidadão.

Depois dos tumultos surgidos na Inglaterra, o Primeiro-ministro David Cameron proclamou querer “reparar o colapso moral da sociedade partida”. Como se a tarefa dum povo inteiro pudesse ser resolvida por um governo ou partido!

Esta enxurrada de violência causou a morte a cinco pessoas, provocou prejuízo de milhões de Euros e deixou uma ânsia na sociedade, que se pergunta: onde e quando surgirá o próximo tumulto? Este é certo. Por toda a Europa há tensões, explodindo, aqui e acolá, os problemas sociais provocados por um capitalismo predatório e por uma política “multicultural” ingénua e alienatória.

Tudo consequência de sociedades partidas com posições contraditórias que se afirmam à custa do povo e das instituições dos Estados. Países, sem uma filosofia de Estado coerente e sem tecto metafísico, encontram-se a saque de elites cuja estratégia se reduz a um sistema de competição ideológica e de produtos: mercantilismo guiado por um pragmatismo altivo! A pilhagem torna-se ordem de acção; à disposição encontra-se o povo e a cultura nacional. Para as elites chegam as palavras mágicas, “democracia”, “trabalho”, “competição” e “opinião”. Para dar consistência a estas criam leis e impostos, como substitutos duma ética reguladora da vida. A desintegração progride.

Os exércitos do futuro receberão novas tarefas, como vanguarda da polícia. Esta passará a proteger apenas os interesses dos beneficiados do Estado. O inimigo deixou de estar fora das fronteiras, vivendo agora dentro delas!… O povo tornou-se suspeito para os governantes e já não se sente em casa na própria nação (O seu biótopo natural/cultural é sistematicamente destruído). Tem de estar sempre em estado de alerta como se fosse um apátrida ou um desertor. Os mercenários do turbo-capitalismo e seus acólitos apoderaram-se do seu tecto, não sente dores de consciência pela crescente sociedade precária.

Violência atrai violência

Todo o mundo parece chocado com a brutalidade das imagens que passam na TV e com a incapacidade do Estado para reagir adequadamente. Em vez disso, governo e oposição dão-se as culpas um ao outro, só para distrair o povo da procura de soluções.

À juventude (autóctone e migrante) são roubados o interesse e a vontade. Esta não tem oportunidades, só pode reagir, ao receber um ordenado que não lhe chega para viver ou ao bater às portas do Estado. Os serviços sociais são tão vantajosos como os empregos. A inteligência deu lugar à esperteza!

A integração foi negligenciada. A multicultura tem sido imposta de cima. A máquina de sociólogos e de peritos em criminologia procura descrever o caos em via. Limita-se a explicar o fenómeno porque uma diagnose exacta sobre as causas seria dolorosa para todos, além de exigir a coragem de se ir contra os credos propagados pelos detentores do poder e da opinião.

Na sociedade, domina, cada vez mais, um sentimento de impotência perante as multinacionais do petróleo, da energia e do gás, bem como perante a carga dos impostos impostos pelo Estado, carga esta que tende a asfixiar os trabalhadores e a destruir a classe média, cada vez mais reduzida aos funcionários superiores do Estado e seus detentores.

Um Estado sem competência nem perspectivas só pode fomentar o medo e violência. Os avisos claros duma sociedade doente e em ebulição são claros. Os passados tumultos de França, as revoltas anuais de Maio em Berlin e Hamburgo, e agora os tumultos na Inglaterra são o indício claro duma sociedade em franca autodestruição.

O rastilho já se encontra nas grandes metrópoles. Qualquer faísca os pode acender!

O trabalho de casa que as nações não fizerem hoje ficará para a sociedade de amanhã. Os nossos filhos e netos ver-se-ão obrigados a revoltar-se contra um Estado saqueado, um meio-ambiente destruído, lixo atómico e os destroços duma cultura desalmada.

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com